Felicito, com uma ressalva a seguir, a Superinteressante por ter tratado com inédita e necessária seriedade do tema UFO em sua edição de setembro, número 323, por meio do artigo O Arquivo X Brasileiro, do excelente jornalista Salvador Nogueira. O texto está surpreendentemente bom para uma publicação que não é especializada no assunto, mostrando casos excepcionais de registros que comprovam a existência indiscutível do Fenômeno UFO. Notei apenas pequenos deslizes aqui e ali, como, por exemplo, o fato de que foram liberadas 4.500 páginas de documentos ufológicos antes secretos da Força Aérea Brasileira (FAB), e não 2.600, como afirma Nogueira.
A ressalva se faz, no entanto, por ter o autor solenemente ignorado em seu texto que toda esta documentação oficial somente está liberada e disponível hoje no Arquivo Nacional, em Brasília, onde Salvador e a Nação podem consultá-la, graças a muito esforço de um grupo dedicado de pesquisadores do Fenômeno UFO no país, que em 1997 compuseram a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e, por meio dela, em 2004, lançaram a campanha nacional UFOs: Liberdade de Informação Já, baseada no documento Manifesto da Ufologia Brasileira, que pede ao Governo a liberação de tudo o que nossas Forças Armadas colheram sobre o assunto desde os anos 50.
A campanha foi exitosa desde o princípio, tendo os membros da CBU, ainda em maio de 2005, sido convidados pelo Comando da Aeronáutica para conhecer e examinar os documentos secretos cuja liberação reclamavam, o que ocorreu na sede do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra). Dois anos depois, em 2007, ainda aguardando que os documentos exibidos fossem liberados à Nação, o que até então havia ficado apenas na promessa, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) voltou à carga com a emissão de um novo documento, desta vez o Dossiê UFO Brasil, que finalmente fez com que os arquivos começassem aos poucos a ser liberados.
Entre 2007 e 2010, as mencionadas 4.500 páginas de documentos ufológicos antes secretos, majoritariamente da Aeronáutica, foram entregues à sociedade como resultado da referida campanha dos ufólogos brasileiros. Mas deve-se ressaltar, com ênfase, que nem de longe eles são todos os documentos produzidos pelas Forças Armadas sobre ocorrências ufológicas no país. Há mais, muito mais. Em vista disso, a CBU fez novas ações em dezembro de 2012, durante o IV Fórum Mundial de Ufologia, realizado em Foz do Iguaçu pela Revista UFO, e emitiu novo documento, agora a Carta de Foz do Iguaçu, que pede a entrega dos segredos restantes da Aeronáutica e também a participação da Marinha e do Exército no processo, que ainda não se dispuseram a abrir seus arquivos sobre o tema.
É excepcionalmente alvissareiro acrescentar a este relato que a Carta de Foz do Iguaçu foi recepcionada em janeiro pelo Ministério da Defesa e resultou, de maneira inédita em todo o mundo, na convocação dos membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) para uma reunião singular com representantes das Forças Armadas naquele órgão, para que se pudesse pela primeira vez expor os objetivos dos pesquisadores. Isso ocorreu em 18 de abril e, na ocasião, o secretário do Ministério, doutor Ari Cardoso de Matos, falando pelo ministro Celso Amorim, deixou claro que tratará de implantar um grupo de trabalho misto entre ufólogos civis e militares para lidar com a questão dos discos voadores no Brasil, exatamente como a CBU vem pedindo em sua campanha e por meio de todos os seus documentos, desde o princípio. É isso que aguardamos agora.
Por fim, o Brasil poderá, dentro em breve, ser o sexto país da América Latina a ter um organismo oficial de pesquisas ufológicas, a exemplo do que já ocorre no Uruguai (desde 1979), no Chile (1997), no Peru e Equador (2002) e na Argentina (2011). Na verdade, nosso país voltará a ter uma entidade assim, uma vez que foi o pioneiro no mundo a estabelecer um programa governamental de pesquisas ufológicas, ainda em 1954, por iniciativa militar, e na frente de todas as demais nações do planeta.
Quando isso ocorrer, será devido à persistência e à obstinação da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), que nunca mediu esforços para alcançar tal objetivo. Todas essas informações estariam inteiramente à disposição de Superinteressante, caso se desejasse, como, aliás, já estiveram em edições passadas, para que o artigo de Salvador Nogueira fosse substancialmente mais completo e mostrasse aos seus leitores que não se chegou com facilidade à abertura ufológica e que o esforço empreendido neste sentido valeu à pena.