Para a comunidade científica, a revelação da primeira imagem real de um buraco negro foi festejada com fogos. Já para o público em geral, o feito histórico da ciência moderna foi encarado com declarações decepcionadas nas redes sociais e muitos memes, tudo porque a foto dada com borrada não se parecia com Gargantua, o buraco negro do filme Interestellar [2014], tido como uma representação cientificamente fiel de como seria um artefato deste tipo, se conseguíssemos vê-lo.
O feito notável foi realizado por uma equipe internacional de mais de 200 astrônomos, incluindo cientistas do Observatório Haystack, do renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), que capturou as primeiras imagens coordenando o poder de oito principais observatórios em quatro continentes, para operarem juntos como um telescópio único e virtual do tamanho da Terra. Foram anos de pesquisa e experimentação com imagens computacionais e modelagem para unir petabytes de dados de telescópios em uma única imagem.
Em uma série de artigos publicados no Astrophysical Journal Letters, a equipe revelou quatro imagens do buraco negro supermassivo no coração da Messier 87, ou M87, uma imensa galáxia dentro de um aglomerado de galáxias. Este buraco negro encontra-se a 55 milhões de anos-luz da Terra. Todas as quatro imagens mostram uma região central escura rodeada por um anel de luz que parece torto, sendo mais brilhante de um lado do que do outro.
Einstein estava certo
Einstein, em sua Teoria da Relatividade, previu a existência de buracos negros na forma de regiões infinitamente densas e compactas no espaço, nas quais a gravidade é tão extrema que nada, nem mesmo a luz, pode escapar. Por definição, estes artefatos são invisíveis, mas se um buraco negro é cercado por um material emissor de luz, como plasma, as equações de Einstein previram que parte desse elemento deve criar uma “sombra” ou um contorno ao redor, também conhecido como “horizonte de eventos”.
Com base nas novas imagens da M87, os cientistas acreditam que estão vendo pela primeira vez a sombra de um buraco negro na forma da região escura no centro de cada imagem. A Teoria da Relatividade prevê que o imenso campo gravitacional fará com que a luz se curve em torno do buraco negro, formando um anel brilhante em torno de sua silhueta — e também fará com que o material circundante orbite o objeto próximo à velocidade da luz. O anel brilhante e desequilibrado nas novas imagens oferece uma confirmação visual desses efeitos, ou seja, o material direcionado para o nosso ponto de vista enquanto ele gira em torno parece mais brilhante do que o outro lado.
A partir dessas imagens, os teóricos e modeladores da equipe determinaram que o buraco negro descoberto tem cerca de 6,5 bilhões de vezes a massa do Sol, com uma incerteza de 0,7 bilhões de massas estelares. Pequenas diferenças entre cada uma das quatro imagens sugerem que um artefato está girando em torno do buraco negro na velocidade da luz. “Esse buraco negro é muito maior do que a órbita de Netuno, e Netuno leva 200 anos para dar a volta ao Sol”, diz Geoffrey Crew, pesquisador do Haystack. “Com o buraco negro M87 sendo tão grande, um planeta em sua órbita iria contorná-lo dentro de uma semana e estaria viajando perto da velocidade da luz”, concluiu.
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