Na missão primária, que terá duração de 23 meses, o Curiosity deverá explorar uma montanha isolada de Marte, a Aeolis Mons, também conhecida como Monte Sharp, no centro da Cratera Gale, que tem aspectos muito interessantes, segundo os técnicos da agência. Monte Sharp, com incríveis 5,5 km de altitude — o Aconcágua, no Chile, tem 6,9 km, e o Everest, no Himalaia, tem 8,9 km —, contém sedimentos e outras características que podem auxiliar a escrever dois bilhões de anos de história marciana. Essa é a idade da própria Cratera Gale, com impressionantes 154 km de extensão e que se acredita que tenha sido gradualmente preenchida por detritos — primeiro levados pela água, que no passado esteve presente na superfície de Marte, e depois carregados pelos ventos.
Gilbert Levin, professor da Universidade do Arizona, foi em 1976 o responsável por um dos experimentos biológicos da missão Viking, outra que fez grandes peripécias em Marte, que só agora serão ultrapassadas pela Curiosity. Ele tem falado bastante da nova missão. Um dos experimentos que comandou — que agora assume nova dimensão com a atual missão — envolvia submeter uma amostra de solo a um nutriente com marcação radioativa, e a liberação de gases detectada indicaria a existência ou não de vida em Marte. Na ocasião, sem o raio laser da Curiosity, várias amostras foram aquecidas pela Viking, mas a NASA diz que nunca se detectou qualquer emissão que indicasse sinal de vida.
Levin protestou. Mas, agora, com equipamentos imensamente mais sofisticados, o rover que está neste instante cavando buracos em Marte pode surpreender. Seus sistemas de detecção de emanações gasosas estão a anos-luz dos que a Viking possuía, em sua missão de mais de três décadas. Isso sem falar que a Curiosity pode fazer checagens simultâneas com vários instrumentos e usando diversas técnicas. “Se houver algum sinal de vida em Marte, nós descobriremos”, disse o próprio presidente Barack Obama, um dos entusiastas do programa espacial, mas que tem o dedo na tesoura que corta orçamentos. Levin está atento.
Mas, uma nova missão em Marte faz ressuscitar velhas suspeitas. A primeira delas é: caso vida em estágio mais avançado do que óbvios micróbios — havendo água na superfície marciana e abaixo dela, e há, isso é quase evidente — for descoberta no planeta, isso será revelado ao mundo? Este é o temor de estudiosos e conspiracionistas de todos os naipes, que argumentam, não sem razão, que já foram encontrados bem mais do que vestígios de que Marte tenha abrigado uma civilização no passado. “Marte tem ruínas de construções colossais de uma antiga civilização que lá viveu”, diz o mais ruidoso deles, o norte-americano Richard Hoagland, que também trabalhou para a NASA.
Entre cientistas, Levin é um dos que continuam afirmando que a Viking de fato descobriu vida em Marte em 1976 — não a de construções e arranha-céus de vidro, mas a microbiótica — e acusa seus colegas de ignorar ou esconder os fatos. “O Curiosity pode confirmar isso”, afirma. Bem, isso é o de menos, porque um dos sensores do rover é o Analisador de Amostras de Marte, capaz de detectar elementos necessários à química da vida em vários estágios de suas combinações, e nada escapará dele. Mas o que querem os ufólogos é bem mais do que saber da existência de amebas e protozoários no nosso vizinho. As negações já começaram, e é o próprio Levin que afirma que os envolvidos na missão Curiosity dizem que seu objetivo não é a busca por vida, mas por seus constituintes. O futuro próximo talvez mostre a verdade.