![Avistamentos também em Fernando de Noronha 1 4bcd5312dd74b36eb83fcb0cd9c824db1528404795](/manutencaowp-content/uploads/2022/12/4bcd5312dd74b36eb83fcb0cd9c824db1528404795.jpg)
Formado por 21 ilhas e ilhotas com aproximadamente 26 km², o arquipélago de Fernando de Noronha é o topo de uma cordilheira vulcânica com quatro quilômetros de profundidade. Apesar de ser um belíssimo paraíso turístico, tem infraestrutura limitada, justamente para garantir a preservação do meio ambiente. Diariamente, é autorizada a entrada de apenas 420 turistas, que são alojados em um pequeno hotel e nas 70 pousadas, classificadas de acordo com suas instalações e estrutura de apoio. O convívio familiar é um dos fatores mais marcantes na região, fazendo com que o visitante se sinta verdadeiramente à vontade. O contato com a natureza intacta é único, tornando inesquecíveis os momentos passados em perfeita comunhão com o meio ambiente.
Ao todo, são 16 praias na ilha principal, classificadas de acordo com a localização geográfica, como pertencentes ao “mar de dentro” ou ao “mar de fora”. O lado da ilha que está voltado para o continente é o “de dentro”, sendo o que se volta para o Atlântico, o “de fora”. É nesse cenário de inigualáveis belezas naturais, razoavelmente distante do continente, em que o Fenômeno UFO se manifesta de maneira intensa há décadas — talvez séculos. Os casos ocorrem por toda a ilha principal, bastando, para confirmar isso, que se converse com seus habitantes. Uma boa caminhada pelas praias de Noronha permitirá esse contato. Aliás, a melhor forma de conhecer o local é através de caminhadas. Mas, por questões de segurança, os passeios dentro do Parque Nacional Marinho, criado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), só são permitidos com a companhia de um fiscal.
O procedimento é adotado para que não ocorram acidentes com os turistas dentro do arquipélago, que abriga animais e plantas selvagens — como o arbusto conhecido na região como Burra Leiteira, que produz um látex cáustico que provoca graves queimaduras. A Ufologia não expõe o frágil ecossistema a qualquer risco, seja pela ação dos visitantes extraterrestres com suas incursões, que são regulares, seja pela atividade dos pesquisadores, que para lá se dirigem em busca de novos casos.
Ilhas repletas de lendas folclóricas
Mesmo assim, para manter a região preservada, 70% da área do arquipélago foram transformados em parque ecológico em 1988. Nessa extensão de terra monitorada está a Baía dos Golfinhos, lugar ideal para observar, além de estranhas luzes no céu, os golfinhos rotatores, do gênero Stella longirostris — espécie só é encontrada em alto-mar.
Tais animais saltam em volta do próprio corpo e chegam a dois metros acima da superfície. Um dos melhores horários para vê-los é por volta das 06h00, quando entram na baía e é possível observá-los saltando sobre as águas. Se tiver sorte, tanto durante o nascimento e pôr do Sol, quanto durante as noites estreladas, o observador poderá também ver uma manifestação ufológica luminosa — como a Alamoa, lenda típica da ilha [Veja box]. Os turistas que vão a Noronha apreciam, além das belezas naturais, monumentos arquitetônicos como a Fortaleza Nossa Senhora dos Remédios. O local serviu de brigada dos holandeses em 1629 e de morada para três mil soldados durante a Segunda Guerra Mundial. A ilha também foi usada como presídio em vários momentos da história brasileira, abrigando inclusive exilados no governo de Getúlio Vargas.
“A Ufologia não expõe o ecossistema a qualquer risco, seja pela ação dos visitantes extraterrestres com suas incursões, que são regulares, seja pela atividade dos pesquisadores, que para lá se dirigem”
“A fantasia, fonte de ficção e de mitos, tem o sentido de fabricar espíritos e deuses”, dizia o poeta e escritor Carlos Drummond de Andrade. Mas por que o homem tem o hábito de criar histórias, necessidade ou prazer? Napoleão Barroso Braga, jornalista e historiador, afirma que essa atitude humana é uma tentativa de defesa. Entre os animais, o comportamento é guiado pelo instinto, quase sempre o de sobrevivência, o que dá origem a modalidades sociais e divisões de castas, como acontece entre as formigas e as abelhas. Já entre os humanos — dotados de inteligência e raciocínio lógico —, é permitido inventar, o que nos tempos mais remotos da humanidade contribuiu para o surgimento das lendas. Na avaliação da historiadora Maria José Borges Lins e Silva, tais criações nada mais são do que mecanismos de defesa do homem na tentativa de explicar fenômenos e fatos inexplicáveis.
Histórias repletas de simbolismos
Transmitidas de geração a geração, as históricas fantásticas vão ganhando contornos regionais e sofrem constantes adaptações. No arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo, reconhecido pelas belezas naturais, até mesmo os turistas mais céticos se encantam com as histórias místicas repletas de simbolismos. A região é o cenário de uma das lendas mais populares do Brasil, como a citada Alamoa, também chamada de Mulher de Branco. A história surgiu no século XVII, em meio à ocupação holandesa. Moradores do arquipélago contam que se trata de uma fada que, descontente com a invasão humana do lugarejo até então inexplorado, resolveu se vingar. Para tanto, aparece aos homens como uma mulher extremamente sedutora, que os atrai à encosta da Porta do Pico — no Morro do Pico, um dos principais cartões postais da ilha, com 330 m de altura. Lá chegando, transforma-se em uma caveira aterrorizante, que empurra a vítima serra abaixo.
Conforme os ilhéus, até 50 km de distância da Porta do Pico é possível avistar estranhas luzes não identificadas nas noites mais calmas — a Alamoa é uma delas. O termo é uma adaptação da palavra alemã ou “alemoa”, corruptela para o gênero feminino, segundo explica a pesquisadora Maria José. Para os habitantes de Fernando de Noronha, a assombração só pode ser germânica, devido à sua aparência alourada. Mais recentemente, a fada também passou a ser chamada de Mulher de Branco, e ao ser vista até pelas mulheres, como conta a doméstica Maria Zenilda, que testemunhou uma aparição logo que chegou à região, há 27 anos, essas se assustam. “Ela estava toda de branco, era bem baixinha e usava um chapéu bem grande. Eu estava deitada na rede quando ela apareceu. Fiquei louca para falar e saber o queria, mas não consegui. Senti falta de ar. No outro dia, quando fui contar a história, me falaram que aqui existe a Mulher de Branco. Daí entendi o que tinha visto”.
Como em outras lendas, a Alamoa também é descrita como um ser místico que traz sorte ou azar e divide opiniões. Alguns acreditam na versão da fada maligna — porém, outros acham que se trata de uma boa entidade. Zenilda, que crê na segunda hipótese, descreve empolgada e com riqueza de detalhes a aparição. Ela acredita que o contato com a Mulher de Branco mudou sua vida para melhor. Ainda assim, lamenta não ter tocado a aba do chapéu da Alamoa, o que, segundo uma versão da lenda, traria sorte. “Tudo poderia ter sido muito melhor. Pena que não consegui”. Nancy Veríssimo, moradora e empresária da região, acredita na existência da entidade mesmo sem nunca tê-la visto. Para ela, a semelhança dos relatos de quem diz já ter se deparado com a Alamoa atesta a veracidade das aparições. “Ela vem sempre nos passar alguma mensagem para melhor a entendermos”, afirma. Mas para tanto, conforme Nancy, é preciso que a testemunha acredite que o contato ajudará a propagar coisas boas. “Se você procurar entender a mensagem, vai perceber que ela veio trazer coisas boas, mas se a pessoa não tentar tirar algo de bom disso tudo, o contato acaba sendo negativo”, explica a moradora e empresária.
Limites de compreensão
Também são comuns no arquipélago relatos de avistamentos de estranhas luzes diurnas ou ao amanhecer e anoitecer, como o do guia turístico José Oliveira da Silva, morador de Noronha há 18 anos. “Estava na Praia da Caíra, às 05h00, esperando o peixe chegar, quando vi uma luz no céu do tamanho de uma bola. Ela subia e descia, crescia e diminuía, como se estivesse dançando. Depois de certo tempo, o clarão desapareceu sem deixar rastro”, lembra. Wallacy Albino, consultor da Revista UFO e um dos primeiros ufólogos brasileiros a pesquisar a casuística ufológica de Fernando de Noronha, afirma que tais ocorrências são comuns na região e despertam o interesse dos moradores e turistas que visitam o arquipélago.
Em seu artigo Discos Voadores em Fernando de Noronha [Ver edição UFO 063, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], Albino já descrevia que “é difícil encontrar alguém que reside no local há anos sem que tenha uma única experiência para contar”. Para vários estudiosos, a lenda da Alamoa surgiu como uma forma de os moradores descreverem observações de UFOs e seres extraterrestres, com suas limitações de compreensão do fato e carregadas de simbolismo folclórico e superstição. São diversos os moradores, segundo Albino, que relatam detalhadamente fenômenos ufológicos acontecidos nas ilhas. Entre eles está o garçom Cícero Acioli. Ele conta que estava em um bar na Praia do Cachorro, com mais alguns moradores e turistas que visitavam o arquipélago, em uma noite de Natal, quando o vocalista de uma banda de forró apontou para o céu e disse que estava caindo uma chuva de meteoros.
Claridade fora do comum
Acioli já havia visto outras chuvas de meteoros, mas nenhuma semelhante àquela. Segundo ele, as luzes faziam evoluções rápidas e sincronizadas no céu, como se formassem uma esquadrilha. “Elas não se cruzavam, como acontece nas quedas de meteoro. Estavam todas alinhadas e o mais incrível é que não caíram, mas cruzaram o céu e desapareceram”, descreveu a testemunha. Noronha conta com diversas características naturais que favorecem o avistamento de tais fenômenos, como a visibilidade sem obstáculos de 360 graus do horizonte. O arquipélago tem apenas 20% de seu território habitado e possui uma iluminação precária, o que facilita a visualização de qualquer ponto luminoso movendo-se no céu. “Talvez por isso seja tão comum ouvir relatos de pessoas que dizem ter visto luzes sobrevoando a ilha, entrando e saindo do mar, além de casos envolvendo a Alamoa”, explica Albino.
Anderson Ricardo da Silva, radialista e integrante do Projeto Tamar [De preservação das tartarugas marinhas], diz que quase todos os dias é possível avistar UFOs no céu de Noronha, geralmente a partir das 22h00. “E não é só uma que aparece, mas várias luzes que dão a impressão de terem sido colocadas em lugares estratégicos do céu, como se cada uma tivesse seu ponto de observação. Em qualquer praia dá para ver pelo menos duas ou três delas durante à noite. Essas luzes têm o formato de um disco na horizontal e ficam piscando nas cores azul e branca”, contou o radialista.
Um interessante caso ufológico em Noronha ocorreu com Paulo Francisco de Assis, no verão de 1996 para 97. Assis avistou, por volta das 22h45, juntamente com quatro amigos, um objeto esférico nas cores laranja, vermelho e azul, que subia e descia em trajetória circular até quase tocar a superfície do oceano. “Nós achávamos que aquele estranho objeto estava em contato com o mar ou observando alguma coisa”, afirmou a testemunha. Segundo ela, o UFO não transmitia som algum e permaneceu visível por cerca de uma hora. “O objeto subia até sumir de vista, como se fosse em direção ao espaço. Mas de repente voltava em uma rapidez que não podíamos acreditar”, concluiu. Casos como o de Assis não são raros e muita gente no arquipélago tem fatos idênticos ou semelhantes para narrar, como o senhor João Cardoso. Contou ele que, em uma madrugada de 1991, levantou para ir ao banheiro quando, ao olhar em direção à Praia da Conceição, observou duas circunferências no céu com uma claridade fora do comum.
“Em qualquer praia de Noronha dá para ver pelo menos duas ou três luzes não identificadas durante à noite. Essas têm o formato de um disco na horizontal e ficam piscando nas cores azul e branca”
“Pareciam dois holofotes gigantes acesos no céu. Eram fluorescentes, estavam parados e, ao mesmo tempo, clareavam o mar como se fossem duas enormes tochas do tamanho de duas luas cheias. Brilhavam tanto que faziam o mar ficar espelhado. Nunca havia visto nada parecido com aquilo”, afirmou Cardoso. Os objetos permaneceram visíveis durante cinco minutos, quando a testemunha pensou em acordar sua família para ver o que estava acontecendo, mas as esferas já começavam a sumir. “As luzes foram se apagando lentamente como se uma capa escura estivesse passando por cima daquela claridade, até que de repente sumiram”, finalizou.
Estranhas luzes no horizonte
O jovem Fábio Trajano Flor, que reside em Fernando de Noronha desde 1986, também tem uma história interessante a narrar. C
ontou ele que, em uma noite de 1989, por volta das 22h00, estava com seu primo pescando quando apareceu sobre eles um objeto enorme. “Nós não sabíamos o que era aquilo. Apenas vimos que era redondo e que tinha várias luzes nas cores amarela, branca e verde na parte de cima, e uma vermelha incandescente na parte de baixo. Além disso, aquilo não fazia ruído algum”, declarou o jovem, que acrescentou que no local estavam também mais dois casais do Rio de Janeiro passando férias — que observaram o objeto pairando sobre os rapazes. Trajano e seu primo saíram correndo da água em direção à praia e, depois de certo tempo, o UFO foi em direção à Pedra do Pico, o ponto mais alto da ilha. “Aquilo desapareceu em um piscar de olhos”.
Fenomenologia complexa
Adriano Mendes Araújo também passou por uma estranha experiência. O rapaz disse que costuma andar muito pela ilha e, em certo dia, por volta das 19h20, conversando com alguns amigos em cima do Morro do Francês, todos puderam observar uma pequena luz branca e bastante brilhante a baixa altitude. “Estava um pouco acima da linha do horizonte, por isso podíamos observá-la sem ter que levantar nossas cabeças. De repente, ela começou a se movimentar muito rapidamente. Subia e descia, além de pairar em linha reta para frente e para trás em uma velocidade incrível”, declarou. Naquela tarde, recordou Araújo, ventava muito e como a luz não ia embora depois de certo tempo, ele e seus amigos começaram a ficar com medo. “Alguns resolveram sair do local, quando então aquilo desapareceu”, afirmou.
O Morro do Francês é um local privilegiado de Noronha, assim como a Pedra do Pico. Nesses pontos é comum a observação de estranhas luzes entrando e saindo do mar, caracterizando atividades submarinas por parte dos UFOs que rondam o local. Araújo é uma das muitas pessoas que teve experiências na região. Vale ressaltar que essa parte do oceano, voltada para o lado do tal morro, é a mais profunda. “Aquilo foi uma coisa fantástica, como nunca havia visto. De vez em quando ainda subo no morro para ver se volto a presenciar a tal luz, mas até agora não consegui vê-la de novo. Mesmo assim, continuarei indo lá até observar novamente o fenômeno, pois sou uma pessoa muito curiosa”, exclamou esperançoso.
Também no Morro do Francês teve contato com algo inusitado o empresário Élcio Rodrigues da Silva, que tem um serviço turístico na ilha. Há cerca de um ano, juntamente com alguns amigos, Silva viu uma estranha luz no céu, por volta das 24h30. “Era como uma luz fluorescente que pulsava e se deslocava de um lado para o outro, sempre fazendo o mesmo movimento, indo da esquerda para a direita e vice-versa”, descreveu. Ele também disse que de repente a luz começou a acelerar bem rapidamente, foi sumindo no céu até ficar bem fraca e distante, voltando em seguida a se movimentar para baixo e para cima. “Tudo durou cerca de 15 minutos, até que uma amiga começou a ficar com medo e pediu para que fôssemos embora. Portanto, não pudemos ver como aquela luz desapareceu”.
Mistérios da ilha
Esses são apenas alguns depoimentos obtidos entre os moradores de Noronha, que representam uma grande quantidade de fatos inusitados testemunhados por homens e mulheres simples que vivem a centenas de quilômetros do continente e, de certa forma, isolados do resto do Brasil. Suas histórias são repletas de emoção, que se confunde com a sensação de se viver em um paraíso como aquele. O ufólogo Wallacy Albino recomenda que uma pesquisa mais completa e aprofundada seja feita no arquipélago, “objetivando coletar mais informações sobre avistamentos e, quem sabe, abduções de ilhéus por seres extraterrestres”.
Fernando de Noronha guarda ainda outro impressionante enigma, o paredão abissal, resultante das erupções vulcânicas e variações climáticas. Suas características instigam cada vez mais mergulhadores a explorar os mistérios submersos da ilha. Eles são unânimes em afirmar que o arquipélago é o melhor local do Brasil para a prática de mergulho. “É pura emoção e adrenalina mergulhar em Noronha. Como se já não bastasse a beleza, ainda há as histórias dos moradores e dos pescadores. Para quem se interessa por Ufologia, é como realizar uma viagem igualmente cósmica”, descreve Albino. O historiador Napoleão Barroso Braga diz que o arquipélago por si só já representa quase um mito geológico, geo-histórico e social, com lendas e episódios “emanando” pelo ambiente. O arquipélago é resultante do último vulcanismo que aconteceu no Brasil há aproximadamente 12 milhões de anos.
Hoje se sabe também que Noronha é um dos locais mais privilegiados do globo para se fazer observações de objetos voadores não identificados — e não apenas palco de vários momentos importantes da história brasileira. A ilha ficou abandonada pelos portugueses por mais de dois séculos. “Aqui sempre se viveu muito isolado. Os negros diziam que estavam fora do mundo. Eles não se sentiam no planeta porque o mundo só chegava através de navios que traziam cartas e comida, tudo o que mais precisavam na época”, conta a historiadora Maria José. Por ser afastado dos grandes centros, o arquipélago foi usado no século XVIII como presídio para condenados a longas penas. Foram eles que construíram a maioria dos monumentos e o sistema viário que interliga vilas e fortes. Na época, Noronha tornou-se o maior sistema fortificado do Brasil, habitado apenas por homens. “A escuridão, o isolamento e o erotismo foram fatores que fizeram os ilhéus criarem a Alamoa. Qualquer clarão, estrela cadente ou fenômeno luminoso que aparecia no céu era transformado em história”, explica Maria José. Inclusive, claro, as visitas de UFOs.
Registros históricos de observações
Há no momento um esforço por parte de pesquisadores do Grupo de Estudos Ufológicos da Baixada Santista (GEUBS), do qual Albino é presidente, de se compilar os registros históricos dessas observações, partindo inclusive dos depoimentos dos antigos homens que cumpriram pena no local. A luz de lampião, segundo a historiadora, só chegou a Noronha com os italianos, na Praia da
Conceição, e foi recebida como se fosse mágica por aqueles homens que estavam isolados no local havia pelo menos 20 anos. Já a energia elétrica, que chegou ao local em 1929, não pôde ser utilizada de forma satisfatória por um bom tempo, pois o consumo era restrito devido ao alto custo e, posteriormente, com o objetivo de se evitar o racionamento, durante a Segunda Guerra mundial. Novamente, condições de iluminação precária propiciam a observação de fenômenos luminosos à noite. “A imaginação humana, com todos esses acontecimentos, aliada à falta de conhecimento, é capaz de transformar qualquer luz em uma Alamoa”, conclui a historiadora.
Superstição e ignorância popular
No passado, os Estados Unidos chegaram a erguer na região uma base militar, com a qual esperavam conter os nazifascistas que avançavam para a América do Sul. Há documentos militares da época da ocupação norte-americana no local que relatam com abundância os avistamentos. Nada desses fatos históricos, no entanto, se compara às inúmeras lendas do arquipélago com possível conotação ufológica — tão comuns também em outras partes do Brasil. Envolvem relatos de luzes voando e clarões fixos no céu, feixes que perseguem e até queimam pessoas e criaturas que chupariam sangue de suas vítimas — como o chamado chupa-chupa —, entre outros.
Os casos são incontáveis, como relata o folclorista Paulo de Carvalho Neto, em sua obra O Povo do Espaço [Código LIV-001 da Coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO dessa edição e no Portal UFO: ufo.com.br], indo desde o Arroio Chuí ao Amapá, do interior do Acre ao Rio de Janeiro. “Não há uma única localidade do país que não tenha um acervo relativamente rico de lendas folclóricas. E uma boa parte delas é originada da observação mal compreendida, por nossos antepassados, de naves e seres não terrestres”, declarou o estudioso, um dos mais renomados de sua área no Brasil. Os estados recordistas em tal modalidade de lendas — que o autor batizou de “folclore espacial” — são Minas Gerais, Amazonas e Pará.
Saindo um pouco de Noronha e indo a outro extremo do país, na fronteira entre Brasil e Paraguai temos, por exemplo, um objeto voador esférico e com luz esbranquiçada, voando baixo próximo a picos e morros, chamado pelos moradores como Enterro de Solano Lopes, em uma alusão ao ditador paraguaio do século XVII que travou sangrenta batalha com Brasil e Argentina, a Guerra do Paraguai. Para os observadores, a luz seria o espírito dos mortos no conflito, de ambos os lados, voltando ora para atormentar os que vivem nas localidades, ora para guardar supostos tesouros enterrados pelos militares do país vizinho, que teriam saqueado as fazendas do então Mato Grosso em sua carreira Brasil adentro.
Um espírito muito bondoso
Já a observação de uma luz difusa e avermelhada, exalando odor de enxofre e voando a baixa altitude, é chamado em muitas partes do Brasil — e até fora dele — de Saci Pererê. A história acabou se incumbindo de transformar a observação em um negrinho perneta fumando cachimbo. Assim como na lenda da Alamoa, de Fernando de Noronha, a superstição e a ignorância popular acabaram transformando uma observação inusitada em uma caveira ou mulher de branco. Em Minas Gerais, noutro exemplo de lenda com origem ufológica, uma sonda não tripulada avistada próxima de pequenos riachos é chamada de Mãe d’Água — e se vista rondando paredões rochosos, passa a ser a Mãe d’Ouro. No primeiro caso, seria uma espécie de espírito indicando a existência de riquezas na água, como diamantes e outras pedras preciosas. No segundo, apontaria jazidas do minério, que, para muita gente, é indicação clara de que tal espírito é por demais bondoso — e muitos que veem tais fenômenos se sentem abençoados.
No Pará, um ser não identificado, semelhante a um astronauta e observado perto de rios, é chamado de Boto e deu origem a milhares de histórias de inseminação de lindas mulheres residentes à beira dos mesmos. Já no interior do Estado, no Alto Xingu, os índios caiapós chamam até hoje um misterioso visitante que chegou do espaço em uma “canoa” e portava uma clave que dava choques — a kop — de Bep-Kororoti. E tais histórias se repetem insistentemente em nosso rico folclore. Em Noronha não haveria de ser diferente. Esses são apenas alguns dos inúmeros relatos que podem ser encontrados em todo o país. O ufólogo, folclorista e historiador Antonio Faleiro, consultor da Revista UFO, explica que diariamente fenômenos extraterrestres são erroneamente classificados como lendas do folclore brasileiro, como é o caso do M’boi-Guaçu, muito presentes na literatura do Rio Grande do Sul.
Outra lenda muito popular é a do Boitatá, que, segundo Faleiro, é apenas uma nova versão para descrever o avistamento de um UFO, usada muito mais comumente na Bahia. “Algumas testemunhas desse tipo de ocorrência nos informaram terem visto sombras escuras que ficavam pairando sobre o local onde estavam. Nesse tipo de caso, acreditamos que o UFO esteja às escuras, talvez apagado, daí não ser vista luz alguma. E o fato de aparentemente aumentar de tamanho possivelmente está relacionado à lenta aproximação sobre as testemunhas. Seu tamanho também oscilara, para menor, com sua ascensão ao espaço”, afirma o estudioso. Ele é autor de UFOs no Brasil, Misteriosos e Milenares [Código LIV-010 da Coleção Biblioteca UFO, idem] e um dos primeiros ufólogos brasileiros a reconhecer na Alamoa de Fernando de Noronha a ação de possíveis naves de origem não terrestre.
Ainda em Minas Gerais, segundo Faleiro, há a lenda do Carro Fantasma, que constantemente era visto de madrugada nas estradas dos municípios do interior, principalmente por motoristas de caminhões que partiam cedo para a coleta de leite nas fazendas. Com outras denominações, o mesmo mito está presente em vários outros estados brasileiros. Os condutores eram seguidos por “faróis” luminosos nas estradas, que inexplicavelmente desapareciam — daí o fato de considerá-los como fantasmas. No entanto, as bolas de fogo ou luzes estranhas são tão comuns que a população rural já as incorporou à paisagem noturna. “Aquilo era Mãe d’Ouro, que tinha a missão de mostrar tesouros enterrados em topos de serras”, relatam os moradores rurais.
Veículos de fabricação extraterrestre
Para os estudiosos, como Faleiro, tais objetos são UFOs mui
to iluminados, semelhantes a bolas de fogo. “Eles vêm voando na direção de uma serra, pousam e desligam sua iluminação. Daí fica a impressão de que se enterraram serra adentro”, explica. O pesquisador diz ainda que a diversidade não prejudica a compreensão do fato, mas ao contrário, ajuda a entendê-lo. Os recentes estudos por parte de ufólogos de todo o mundo e a difusão de livros e informações referentes ao Fenômeno UFO permitem que cada vez mais pessoas conheçam a Ufologia e possam melhor analisar os fatos simploriamente classificados como lendas.
Além de Fernando de Noronha, outras áreas do vastíssimo litoral brasileiro são igualmente ricas em mistérios que podem ser interpretados como integrantes do Fenômeno UFO. A conclusão não é precipitada e tem fundamento na análise cuidadosa das circunstâncias das observações consideradas folclóricas, que em detalhes precisos coincidem com relatos já identificados pela Ufologia como sendo de veículos espaciais de fabricação extraterrestre. Por essa razão, a casuística recém identificada no arquipélago passa agora por uma compilação e comparação com a do resto do país e de outras nações, apontando para fascinantes descobertas. Sim, aliens também visitam Noronha.
A misteriosa Alamoa de Fernando de Noronha
Por Maria José B. Lins e Silva
Uma luz estranha de tom lívido ilumina a torre cônica que ficava em frente à guarita da sentinela. Com olhos arregalados e boca seca, o sonolento soldado que fazia a guarda naquela noite de sexta-feira encarava a fantástica visão. À sua frente e a curta distância, envolvida em um halo de luminosidade, uma mulher inteiramente nua iniciava um bailado erótico. A pele era clara e translúcida. A loura cabeleira lhe atingia os joelhos. Ela dançava sacudindo os cabelos que ora envolviam, ora desvendavam bruscamente seu corpo. Os olhos, de um azul-marinho — como as águas que cercam a ilha — tinham uma mirada fixa, como a das serpentes, brilhantes de lascívia. Toda a fortaleza estava em silêncio. Era uma noite escura, de nuvens carregadas e ameaçadoras. O mar, lá embaixo, na Baía de Santo Antonio, apresentava uma fosforescência inusitada.
Quando um relâmpago clareava, o gigantesco vulto do pico surgia na paisagem, como uma sentinela vigiando a Noronha. A massa de pedra vulcânica tinha um ar de mistério e de tragédia, que durante séculos envolvera o arquipélago. A sentinela tremia de medo e de desejo, atraído pelo feitiço da dança e dominado pela necessidade de mulher que avassala os homens que habitam Fernando de Noronha. Os que ali moravam, soldados, sentinelas, pescadores — que constituíam a mescla variada dessa sociedade à parte, com moral própria, derivada da solidão ou do fatalismo de uma vida difícil — conheciam a lenda.
A Alamoa, como era chamado o fantasma, há muitos anos assombrava as noites tempestuosas de sextas-feiras. Loura e nua, com a fosforescência e a maldade nos olhos, surgia ante o jovem como a encarnação do desejo sexual, do sonho desses homens sem mulheres. Na terra morena dos trópicos, a mulher branca e loura, vinda de outras plagas, trazida na lembrança dos primeiros descobridores e na repressão sexual dos marujos europeus, representava o exotismo excitante das francesas e das alemãs: sereias que propiciavam requintados prazeres.
As mães aconselhavam os rapazes que não saíssem à rua naquelas noites perigosas, pois a malvada Alamoa poderia enlouquecê-los de amor e depois, matá-los de terror. Ela os fascinava. Levava-os ao Pico, o grande palácio de pedra, com sua porta secreta. E quando a vítima fremente ia abraçá-la, a linda e sedutora mulher se transformava em um esqueleto de órbitas faiscantes, apavorando os jovens que se atiravam no oceano ou se despedaçavam nos arrecifes. A dança continuava em um colear de cobra que se preparava para o bote. Atração e repulsa, amor e medo. O jovem soldado vacilou antes de se atirar na direção da irresistível sereia. Seu corpo pedia a entrega, com toda a força da sua ardente mocidade. Seu espírito relutava, tolhia o gesto, lutava contra a magnética força da loura criatura.
Pobre soldado, enredado nas teias de uma mágica figura. De repente, o apelo se torna tão forte que ele, pobre mortal, carente e ansioso vai, lentamente, caminhando na direção da fascinante imagem. Ela recua. Ele avança. Sua luz o envolve. Suas mãos longas e pálidas se estendem. Em um último chamamento acontece o inevitável abraço. Gelado e aterrador contato, que silencia o arroubo apaixonado e eriça-lhe os cabelos. Nesse instante, o clarão de um raio ilumina toda a fortaleza e o encanto se esvai! O soldado cai no solo, desmaia livre, enfim, pelo milagre da luz, da teia de encantamento que quase lhe custa a vida.