
Não é incomum encontrarmos na literatura ufológica casos de pessoas que alegam ter viajado ao espaço em discos voadores e até ido a outros planetas, assim como são relativamente comuns, em especial nos anos 50 e 60, nos depararmos com histórias de indivíduos que sustentam ter feito amizade com extraterrestres. Estes são os casos específicos dos norte-americanos Daniel Fry e Truman Bethurum, que, cada um a seu tempo, relatam impressionantes — se verdadeiras — aventuras espaciais. Vamos tratar do repertório de ambos neste texto, a começar com Fry, que bem poderia ser definido como um “caroneiro espacial”, a julgar pelo que relata. Depois falaremos de Bethurum, que alegava ter tido nada menos do que 11 encontros com um ser do planeta Clarion. Vamos a Daniel Fry.
Ele era o que os norte-americanos chamam de self-made man. Nascido em 1908, Daniel Williams Fry, órfão de pai e mãe com apenas nove anos de idade, criado até a maioridade pela avó materna, desde cedo demonstrou inclinação para as ciências, especialmente a química, tornando-se técnico em explosivos e foguetes ou bombas voadoras. Desde 1949 trabalhou na Aerojet General Corporation, apontada na época como uma das maiores fábricas de motores para foguetes do mundo. Receando ser desacreditado, visto que ele mesmo chegava a duvidar daquilo que vivenciara em 04 de julho de 1950, só quatro anos depois decidiu vir a público. Naquela data, disse que se encontrava de serviço em White Sands, na famosa Estação Experimental de Projéteis de Foguetes do Novo México. Encerrado o expediente, preparava-se para regressar a Las Cruces, cidade próxima dali, onde se instalara, mas perdeu a última condução e se viu obrigado a pernoitar em White Sands. Às 20h30, como não conseguia ler devido ao calor, saiu do barracão para um passeio nos arredores.
O deserto silencioso se estendia em todas as direções. A Lua ainda não tinha surgido no céu pontilhado de estrelas. Repentinamente, uma estrela pareceu sumir. Logo, outras duas, próximas da primeira, também desapareceram, como que obstruídas por um corpo maior. E só quando esse corpo se aproximou é que ele distinguiu uma massa escura, silenciosa, que descia em velocidade decrescente. “O meu primeiro impulso foi correr, mas eu tinha muita experiência com foguetes e explosões. Não é bom correr de um projétil até que se esteja bem certo da sua trajetória”. O objeto pousou como uma pluma, sem nenhum choque ou solavanco, a uns 20 e poucos metros do local de onde se achava. “O único som produzido foi o da areia e dos cascalhos sendo comprimidos pelo peso do objeto, que tinha uns 15 m de diâmetro na parte mais larga e uns cinco metros de altura”.
“Superfície como de metal polido”
Aproximando-se, contornou o esferoide achatado nas partes superior e inferior. “A sua superfície prateada, com reflexos violáceos, era como a de metal polido. Não se via nenhuma abertura, nem juntas, nem rebites”. Cautelosamente, passou um dedo pelo disco, alguns poucos graus mais quente do que a temperatura ambiente — o metal era incrivelmente liso, como uma pérola. Mas quando ia apalpá-la com a palma da mão, uma voz advertiu bruscamente: “É melhor não tocar no casco, companheiro, ele ainda está quente!” Fry tomou um susto e recuou, tropeçando e estatelando-se no chão. Ouviu um som que soava como uma risada abafada e novamente a voz, desta vez em tom amigável: “Tenha calma, você está entre amigos”. Ele se levantou sacudindo a areia e retrucou, meio aborrecido, certo de que falava com algum compatriota: “Você bem que podia abaixar o volume de sua voz. Não havia razão para explodir assim”. A voz hesitou por um ligeiro instante: “Explodir? Ah, sim, você quer dizer que o aviso foi muito alto. Desculpe, mas você estava quase se matando e não houve tempo de regular os controles”. Por mais inverossímil que pareça o diálogo, Daniel Fry perguntou à voz se a nave era radioativa. Eis o que ouviu:
“Não. Eu disse que estava quente porque não tive tempo de pensar em outra palavra mais apropriada na sua língua. A superfície do aparelho tem um campo em torno dela que repele todas as outras matérias. Esse campo é muito poderoso a distâncias moleculares. Você, na verdade, não chegou a tocar o metal: a sua mão foi conservada a uma pequena distância pela repulsão. Você deve ter notado como o metal parece liso e escorregadio. Esse campo é que diminui tremendamente a fricção do ar quando é necessário viajar em altas velocidades na atmosfera”.
O contatado retrucou: “Mas como é que eu podia me matar? E que história é essa de não ter tido tempo de pensar em minha ‘língua’? Você fala como um americano”. A voz esclareceu dizendo que, em primeiro lugar, Fry não morreria imediatamente, mas dentro de alguns meses. A sua pele exposta por algum tempo a esse campo de força produziria o que chamamos de anticorpos no sangue. “Esses anticorpos são absorvidos pelo fígado, que vai ficando intumescido e congestionado. Basta um minuto de contato para causar morte certa. No seu caso creio não haver grande perigo, se bem que você sinta mais tarde alguns efeitos”. Quanto à segunda pergunta, a voz esclareceu que não era um americano. “O fato de você pensar que eu o seja me alegra, pois vejo que o meu esforço, nesses últimos dois anos dos seus, tiveram sucesso. Na verdade, eu ainda nem pisei no seu planeta. Isso ainda levará pelo menos mais quatro anos, até que eu esteja adaptado à sua atmosfera, à sua força de gravidade e imunizado contra as bactérias”.
Formiga subindo em árvore
O suposto ser do espaço, que por sorte falava inglês com um perfeito sotaque ianque, revelou a Fry, entre outras coisas, que um de seus objetivos era determinar a adaptabilidade dos homens da Terra a novas concepções e procurar mentes suficientemente receptivas. Fry não entendia por que justamente ele fora escolhido, havendo ali cientistas mais capacitados. A voz insistiu que ele se encaixava no perfil e que a ida dele ao local não fora por acaso. A propósito, elucidou-o: “Eles avançaram muito e terão muito que retroceder. Um homem avançado no caminho da ciência é como uma formiga subindo em uma árvore: ela sabe que está subindo, mas não tem uma visão total do tronco principal. O resultado é que se perde por galhos secundários e terá de fazer muitas voltas até chegar ao cimo das árvores.
Muitas vezes, chega ao extremo de um pequeno galho e pensa que já terminou a escalada. As verdades fundamentais são sempre simples e compreensíveis desde que sejam vistas da exata perspectiva. A ciência terrestre terá que voltar ao galho em que está encalhada e encontrar o tronco principal”.
O contato desses seres conosco dependeria de uma completa adaptação de seus corpos às condições terrenas de vida e a cessação de quaisquer perigos de guerra entre as duas maiores potências, pois eles não estavam aqui “para assistir ou estimular uma guerra de extermínio”. Necessitavam de recursos naturais que existiam em abundância em nosso planeta — os quais só seriam levados se houvesse uma cooperação, de parte a parte, pacífica e voluntária. A conversa ia fluindo até que, a certa altura, Fry foi convidado a adentrar no disco, apenas um “aparelho de carga”, com uma pequena cabina para passageiros, dirigido por controle remoto de uma nave-mãe a 15.000 km de altitude, no qual se encontrava o ser com quem falava. O aparelho havia sido mandado à superfície para recolher amostras da atmosfera da Terra, principalmente bactérias, para a produção de antitoxinas.
A superfície do UFO tem um campo em torno dela que repele todas as outras matérias. Esse campo é muito poderoso a distâncias moleculares e diminui tremendamente a fricção do ar quando é necessário viajar na atmosfera
Entrementes, uma parte da curvatura inferior recuou e correu para o lado. Um tanto amedrontado, mas, tremendamente curioso, Fry entrou e se viu em uma cabine de três metros de comprimento, 2 m de largura e 1,8 m de altura. A espessura do casco era de 10 cm. As paredes, encurvadas, não tinham cantos e havia quatro assentos anatômicos, de linhas modernas, dispostas em fila dupla e de frente para a porta. Na parede traseira havia uma caixa com um tubo e lentes, semelhante a um projetor de cinema, da qual saía uma luz difusa, não muito brilhante, mas que iluminava uniformemente a cabine. Assim que a porta se fechou, a voz anunciou que iria proporcioná-lo uma viagem de ida e volta à Nova York que não duraria mais de meia hora. Calculando a distância do percurso, concluiu que para tanto seria necessária uma velocidade de 13.000 km/h. Como que adivinhando as preocupações de Fry com a tremenda aceleração que o disco voador o submeteria, a voz o tranquilizou, dizendo que nada sentiria.
Poderoso campo magnético
Nessa altura, Fry se deu conta de que na verdade a voz chegava diretamente ao seu cérebro. Foi por meio de transmissão mental, portanto, que a voz o inteirou da tecnologia por trás do disco: “Na parte superior está uma espécie de acumulador diferencial. Entre os dois polos desse acumulador há elétrons em liberdade e em quantidades muito além do que você possa imaginar. O mecanismo de controle permite que esses elétrons fluam por dois anéis de força que estão no topo do aparelho. Como você sabe, um elétron em movimento cria um campo magnético. A tremenda massa de elétrons produz um poderosíssimo campo magnético. Desde que a direção e a amplitude dessa massa possam ser controladas por qualquer um dos anéis ou em diversas direções por um só anel, podemos produzir um campo em oposição ou em conjunção com qualquer campo magnético”.
A voz continuou: “Todos os corpos em movimento no aparelho têm campos magnéticos em torno deles. A mesma força que acelera o veículo atua sobre tudo o que esteja dentro dele. Nosso último limite de aceleração é o limite da energia disponível para criar campos magnéticos. A aceleração e as manobras bruscas não serão sentidas”. Em poucos segundos, Fry vislumbrava as luzes da cidade de Las Cruces. O céu tornou-se muito mais escuro, as estrelas mais brilhantes e a superfície da Terra, vista da estratosfera, apresentava uma fosforescência esverdeada. A velocidade ascensional, importa acrescentar, era de 2.400 m/s.
Durante o passeio, a voz continuou a esclarecê-lo acerca de vários assuntos, chegando a corrigir a fórmula de Einstein. Para ela, um dos principais obstáculos para o mais rápido desenvolvimento da ciência terrestre é que os seus cientistas ainda não compreenderam completamente a unidade da matéria e energia. “A fórmula de Einstein, descrevendo quantitativamente a equivalência da matéria e energia é correta matematicamente, mas conduz à conclusão errônea de que a matéria é conversível em energia e vice-versa. A verdade é que matéria e energia são aspectos da mesma unidade. A gravidade a que estamos acostumados é pouco mais da metade da Terra”.
Essa seria a principal razão da demora daqueles seres em nos contatar e se tornarem seres terrestres. “Se saltássemos agora e deixássemos a proteção das nossas naves, a força da gravidade causaria sérios danos aos nossos órgãos e pereceríamos em poucos dias. Isso não é uma hipótese: nós sabemos que é verdade porque já o tentamos algumas vezes. Nas nossas aeronaves, podemos controlar a força de gravidade para o grau a que estamos acostumados. E, aumentando-a pouco a pouco, estamos tentando adaptar nossos corpos”. Quando estiverem prontos, disse a voz, seres extraterrestres procurarão por pessoas que possam lhes ajudar a eliminar o grande abismo que há entre sua cultura e a nossa. Mas não usarão a força para impor a sua presença — eles só desembarcariam em massa quando tivessem certeza de que seriam bem recebidos. “Nós temos aprendido muito acerca da geografia e das línguas faladas na Terra. Quanto à sua história, nem tanto, porque os homens não pensam muito em termos de passado. Conhecemos a história de suas antigas civilizações muito melhor do que vocês”.
Nações ancestrais em choque
A voz revelou que os seus ancestrais vieram originalmente da Terra: “Eles construíram um grande império e desenvolveram uma poderosa ciência no continente que vocês denominam de Lemúria. Paralelamente, havia outro império no continente da Atlântida”. Eles eram rivais em matéria de ciência. Amigos a princípio, tornaram-se adversários com o decorrer dos anos. Em alguns séculos, teriam ultrapassado até mesmo o estágio de desenvolvimento em que estamos agora. Eles também teriam aprendido a inverter a massa em torno do eixo de energia. “Assim, era inevitável que as duas nações entrassem em choque e se destruíssem, como estão fazend
o hoje as duas maiores potências da Terra”. A conversa encerrou-se neste ponto — a voz não contou como emigraram da Terra nem para que planeta foram. Resta acrescentar que a viagem se prolongou até Nova York, cujas luzes Fry contemplou a uma altitude de 30 km. O regresso a White Sands se efetuou com extraordinária rapidez, pois o oxigênio, dentro do disco, não era suficiente para muito tempo. Ao fim da excursão, seu cicerone disse chamar-se A-Lan, prometendo voltar um dia. Já do lado de fora, o atônito viajante assistiu a partida do disco voador. Vejamos sua descrição:
“A porta se fechou atrás de mim. Dei alguns passos e voltei-me. Uma faixa horizontal de luz alaranjada apareceu na parte central do disco e ele subiu verticalmente como se tivesse sido lançado por uma catapulta. O deslocamento quase me atirou ao solo. A luz passou do laranja ao violeta antes de sumir no espaço. Ali sozinho no deserto, entrei em depressão. Meu trabalho, toda a minha vida, pareciam ter perdido a significação. Eu agora sabia o quanto éramos atrasados e pequenos diante do universo”.
A fórmula de Einstein, descrevendo a equivalência da matéria e energia é correta, mas conduz à conclusão errônea de que a matéria é conversível em energia e vice-versa. A verdade é que matéria e energia são aspectos da mesma unidade
Se fosse verdade a história de Fry, ele seria o primeiro caroneiro moderno de uma nave interplanetária, pois as viagens de Adamski ocorreram posteriormente. O mérito deste último, de qualquer forma, foi o de ter sido o primeiro a divulgar tais contatos, o que certamente impeliu Fry a fazer o mesmo e a escrever um livro intitulado The White Sands Incident [Incidente de White Sands]. De acordo com Hugo Rocha, autor de O Enigma dos Discos Voadores ou a Maior Interrogação de Nosso Tempo [Editorial Lisboa, 1959], “se fantasiosas, as sensacionais revelações de Daniel Fry deixam-nos perplexos quanto à cultura científica deste e, em especial, quanto ao seu critério em relação às teorias einsteinianas”. Rocha diz que sabemos que os modernos autores de ficção científica fornecem engenhosas explicações acerca das suas naves interplanetárias, de tal modo que chegam a parecer autorizados cientistas. E completou: “Certo é, também, que nenhum desses ficcionistas, dignos continuadores de um Verne, um Laurie ou um Wells, se atreveu, até agora, a afirmar que as suas mirabolantes narrativas são, afinal, a expressão da verdade”.
Entre 1955 e 1965, Daniel Fry publicou diversos livros sobre suas experiências, como Mensagens de A-Lan Para o Mundo [A-Lan’s Message to the World], Degraus Para as Estrelas [Steps to the Stars] e A Curva do Progresso [The Curve of Development]. Por sua trajetória, sofreu um contratempo quando Leon Davidson insinuou um vínculo entre os nomes A-Lan — o do suposto alienígena — e Allen Dulles, então diretor da CIA. Para Davidson, Fry tinha sido objeto de um complicado estratagema engendrado por essa agência de espionagem que o enganara fazendo-o acreditar em discos voadores. Em 1977, o contatado se lançou na política como candidato à vice-presidência dos Estados Unidos pelo Partido Universal. Sua plataforma política era extravagante — ele oferecia um programa de economia baseada nos sistemas sociais e políticos de outros planetas, nos quais o dinheiro havia sido abolido.
Homem comum, história fantástica
Mas se esta impressionante história é contada por Fry em detalhes, não menos curiosa é a que nos revela Truman Bethurum, que alegou ter tido nada menos do que 11 encontros com Aura Rhanes, um ET de Clarion. Cheio de saúde, alegre, olhos vivos, com a pele queimada de quem passava a maior parte do tempo trabalhando ao ar livre, Bethurum era um homem comum que não possuía uma educação refinada, nem uma elevação muito acentuada de espírito, embora também não fosse rude. Era simplesmente um tipo simples, bom sujeito, simpático, estabanado, com quem decerto não se podia discutir filosofia. Ele nasceu em 1898 na Califórnia, em uma zona de mineração de ouro onde seu pai andava em busca de fortuna. A fortuna não veio, e na adolescência Bethurum era ajudante na oficina de ferreiro do pai. Depois disso trabalhou em vários ramos, até no de materiais bélicos. Casou-se, teve duas filhas e divorciou-se. Casou-se novamente em 1945 e passou a trabalhar na construção de estradas e reparo e manutenção de máquinas.
Pois foi esse homem, um trabalhador próspero que nada indicava ser um sonhador, visionário ou desequilibrado, que despontou para o cenário ufológico com uma história fantástica. Na convenção de discos voadores em Monte Palomar, compunha o trio que monopolizava as atenções, juntamente com George Adamski e Daniel Fry. Enquanto aquele era o “místico” e este o “técnico”, Bethurum era o “social”. Nas 11 vezes em que disse ter se encontrado com entidades provenientes do espaço, se manteve coerente com a sua personalidade, restringindo-se a questões corriqueiras em torno de aspectos essencialmente humanos, o que confere à sua narrativa um tom intimista e desconcertante. No primeiro encontro, anterior cronologicamente ao de Adamski e posterior ao de Fry, Bethurum encontrava-se trabalhando na abertura de um túnel ao longo de uma rodovia em Santa Bárbara, na Califórnia. O sindicato local ordenou uma greve e ele se viu temporariamente parado, até que um velho amigo, Whitey Edwards, telefonou-lhe convidando-o para trabalhar na construção de outra rodovia em Mórmon Mesa, perto de Las Vegas.
Truman Bethurum Hesitou porque o deserto distava muito de sua casa em Redondo Beach, além do que, naquela época do ano — junho de 1952 —, fazia um calor infernal. Mas Edwards não lhe deu chance de recusar e, no dia seguinte, foi buscá-lo. Em pouco tempo, os encarregados da preparação do pavimento adiantaram as suas partes, ao passo que os do leito da estrada se atrasaram. Disso resultou que os primeiros ficaram sem ter o que fazer. Bethurum ficou encarregado da manutenção do material mecânico, devendo deixar tudo em ordem para o dia seguinte. Às vezes trabalhava 12 horas seguidas, e não raro tinha de permanecer no deserto com as máquinas até que os carros-tanque que iam buscar água no Rio Muddy chegassem na manhã seguinte.
Homens baixinhos de fora da Terra
Foi na noite de 27 para 28 de junho que ele se viu, pela primeira vez, às voltas com o disco voador. Havia terminado o trabalho e saíra à cata de conchas, pois aquela zona, pelo que lhe disseram, havia sido, séculos antes, o leito de um oceano — sua mulher colecionava conchas e ele queria dar-lhe algumas de presente. Depois de algum tempo, sem ter achado nada, voltou para o seu vagão disposto a tirar uma soneca. À meia-noite, o deserto havia refrescado e ele dormira por cerca de uma hora, quando foi despertado por um rumor como o de várias pessoas falando em volta. Levantou-se e viu uns oito ou 10 homens, baixinhos, de 1,50 m de altura
. Até aí, nada havia de extraordinário, mas ficou curioso sobre quem era aquela gente — não pareciam anões, mas homens desenvolvidos, apenas um pouco mais baixos do que o normal.
O contatado começou a ficar intrigado, porque, além de não entender uma palavra do que falavam, usavam uma espécie de uniforme e um boné pontudo, preto, com uma faixa branca no alto. O cabelo dos que estavam sem boné era preto e cortado rente. Todos vestiam jaquetas e calças cinza-azuladas. Suas faces eram azeitonadas e as peles, sem rugas ou cicatrizes, como se tivessem sido esticadas sobre os ossos. Tão logo Bethurum saiu do vagão eles o rodearam, observando-o em silêncio e com ar de curiosidade — um deles se adiantou e pronunciou algumas palavras em uma língua estranha. Bethurum sacudiu a cabeça indicando que nada havia entendido. O alienígena então se expressou em inglês, desculpando-se por não ter falado em seu idioma. Querendo demonstrar amizade, Bethurum estendeu-lhe a mão, e foi aí que seu coração começou a dar pulos — avistou um UFO que devia medir uns 90 m de diâmetro e parecia feito de aço polido. Circundando-o, havia um arco de bordas agudas de uns 60 cm de largura. O disco não estava pousado no solo, mas flutuando a cerca um metro de altura.
Enquanto apertava a mão dos homenzinhos, que pareciam estar se divertindo muito com isso, uma série de perguntas vinha à sua mente. “De onde vinham eles? Quais suas intenções?” Perguntou se podia falar com o comandante e o primeiro a lhe dirigir a palavra respondeu: “Naturalmente”. E segurando o seu braço direito, conduziu-o ao aparelho. Ele era uns 30 cm mais baixo e devia ter uns 25 kg a menos do que Bethurum, porém era mais forte. Da porta, na parte superior do disco, aliás, a única abertura visível, desceu uma escada com um só corrimão. O contatado deu uns 15 passos em um corredor e chegou a um compartimento. Aí é que seu espanto cresceu — o comandante era uma mulher linda de pele morena, olhos castanhos e cabelos pretos, curtos e ondulados. Um tipo latino. Era ainda mais baixa do que os homens e não usava maquiagem.
Uma mulher no comando do UFO
A comandante da nave alienígena vestia uma blusa preta e uma calça vermelha, confeccionadas com materiais respectivamente semelhantes ao veludo e à lã. Estava de pé apoiando as mãos sobre uma larga e bojuda mesa ou escrivaninha. Ela sorriu e o encorajou: “Fale, meu amigo”. Bethurum perguntou, hesitante: “Você é de algum país europeu ou asiático?” Ela respondeu que era uma viajante interplanetária que só recentemente havia descido em nosso solo. Fez com que se sentasse em um banco ou divã que contornava a cabine, forrado com um tecido ou pelo marrom.
O diálogo entre Bethurum e a formosa comandante prosseguiu quase sem que ele precisasse exprimir em palavras o que pretendia, pois “a mulher tinha uns olhos que pareciam ver e entender tudo, inclusive as perguntas que eu ainda não havia formulado”. Ela explicou que, em matéria de fé, seu povo venerava uma chamada Suprema Sabedoria, onipotente e onisciente. Mas a conversa acabou, a sedutora comandante prometeu nova visita e o disco voador partiu. Pela manhã, Bethurum contou o sucedido ao seu chefe e este relatou o fato aos demais trabalhadores — a turma avaliou que ele apenas sofrera de insolação, nada mais. No máximo admitiram que aqueles seres, se é que haviam aparecido ali, eram russos. Antes de dormir, o desacreditado Bethurum escreveu um bilhete em seu quarto de hotel, em Overton: “Se eu for achado morto é porque o meu coração não aguentou a terrível emoção de ter visto e entrado em um disco voador”. As gozações da turma não o demoveram de reportar o caso aos jornalistas.
Uma extraterrestre avó
Na noite de 03 para 04 de agosto, Truman Bethurum viu uma luz verde-azulada parecida com um meteoro descer a cerca de 800 m a leste de onde encontrara o disco pela primeira vez. Rumando para lá ele se deparou novamente com o aparelho e os homenzinhos. Por ocasião desse segundo encontro, Bethurum, agora mais calmo, perguntou à comandante de onde vinha. Ela respondeu provir de Clarion, um planeta desconhecido dos habitantes da Terra, situado no lado oculto da Lua — então um dos lugares apontados como origem de criaturas de outros mundos. “Pelo visto, ou nós temos dois satélites girando ao redor da Terra à mesma velocidade, ou ela quis dizer que vivia no hemisfério oculto da Lua”, especulou Bethurum, que quis saber a respeito da vida de lá. “Nós não temos os aborrecimentos que vocês têm aqui”, disse a comandante com sua voz firme, alta e musical. “Não temos doenças, nem médicos, nem enfermeiras, nem sofrimento, nem classes sociais”.
Assim que o disco partiu, Bethurum notou que seu relógio novo havia parado, tal como o velho no primeiro encontro, não voltando a funcionar. Pela manhã, ele tornou a contar o sucedido ao chefe Whitey Edwards e resolveu escrever à mulher, pedindo que viesse ao seu encontro — ela se recusou alegando não estar disposta a enfrentar o calor do deserto. O disco retornaria pela terceira vez na madrugada de 18 de agosto. Bethurum, enfim, se lembrou de perguntar o nome da gentil comandante, e Aura Rhanes era a sua graça. Duvidando do que via, pediu permissão para tocá-la e desabafou, falando-lhe a respeito de sua vida, sua neta, suas filhas e sua mulher. Aura revelou-lhe que também era avó, apesar de parecer jovem.
Marte é habitado, industrializado e sua atmosfera é semelhante à da Terra. Os cientistas terrenos se enganam ao negar que certos orbes não têm vida. Provavelmente, se vivessem do espaço, também diriam que a Terra é inabitada
Deixando os assuntos pessoais de lado, a comandante tratou de assuntos propriamente espaciais. Disse que desciam aqui para coletar dados e renovar os tanques atmosféricos. As luzes coloridas emitidas pelos discos deviam-se ao oxigênio e a outros gases presentes na atmosfera. Os discos avistados na Terra se originariam de pelo menos quatro mundos diferentes. “Marte é habitado, altamente industrializado e sua atmosfera é semelhante à da Terra. Os cientistas terrenos se enganam ao negar que certos orbes não têm vida. Provavelmente, se vivessem em outro corpo celeste, também diriam que a Terra é inabitada. Isso porque, até que se esteja relativamente próximo de um planeta, não se pode discernir nenhum sinal de vida nele. A atmos
fera forma uma espécie de lente distorcedora. O que se vê é uma reflexão, uma miragem da verdadeira superfície”.
Aura Rhanes comandava uma tripulação de 32 homens, cada qual incumbido de uma função. Lamentando o atraso da Terra, observou com pessimismo: “Mas, por tudo que eu posso ver sobre o futuro deste planeta, a água em seus desertos será apenas a de lágrimas”. Após o terceiro encontro, Bethurum tentou convencer seus companheiros a passarem as noites no deserto junto com ele, mas ninguém aceitou a proposta. À iminência de um quarto contato, ocorrido na noite de 25 de agosto, o construtor de estradas muniu-se de um caderno de notas, uma caneta esferográfica e uma máquina fotográfica do tipo caixão, mas a conversa não trouxe nada de especial. Quanto a tirar fotografias, a comandante objetou: “Eu sei que você quer levar uma prova aos seus amigos, mas a foto mostrará apenas uma mulher. Não provará nada”.
Causa estranheza que Bethurum não tenha solicitado permissão para fotografar o engenho voador por fora, perdendo uma excelente oportunidade de registrar o disco — que não parecia designado a desempenhar qualquer outra missão senão a de visitar o privilegiado contatado. Truman Bethurum indagou a respeito do peso do disco, e em tom de brincadeira Aura mandou que o levantasse: “Não é muito pesado. Experimente”. Ele meteu o ombro esquerdo embaixo do aparelho, que se moveu ligeiramente para cima. Os homenzinhos riram da cena. A camisa que Bethurum mandou lavar, voltou dois dias depois com um pedaço faltando, como se corroído por um ácido, justamente a parte que havia apoiado no disco.
Desaparecendo no vazio
Na tarde do dia seguinte, 26 de agosto, Bethurum almoçava em companhia de seu chefe Whitey Edwards em um restaurante de Glendale quando, para seu espanto, no outro extremo do recinto estavam uma mulher e um homem — eram Aura Rhanes e um de seus comandados. Edwards, que tantas vezes ouvira as descrições de Bethurum, não ficou menos abismado. Combinaram que ele sairia e ficaria esperando para segui-los do lado de fora. Bethurum achegou-se à mulher e perguntou: “Desculpe-me, mas nós não nos conhecemos?” Ela respondeu delicadamente com um não. “É que a senhora me lembra muito alguém que encontrei em Mórmon Mesa”, insistiu. Ela deu de ombros. Bethurum retornou à sua mesa e, minutos depois, os dois tomaram o caminho da porta. A garçonete imediatamente aproximou-se de Bethurum e disse que “aquela senhora pediu-me para lhe dizer que o conhece, que sente muito e que a resposta às suas perguntas é sim”.
Bethurum pagou rapidamente a conta e correu para fora, mas já não havia nenhum sinal deles. Dirigiu-se a Edwards: “Onde estão eles? Por que não os seguiu?” Desconcertado, seu chefe assegurou-lhe: “Eles não saíram. Sinceramente, não vi nenhuma alma passar por essa porta”. O contatado escreveu novamente à sua esposa, desta vez contando-lhe tudo. Ela decepcionou-o, dizendo que na melhor das hipóteses considerava aquilo uma brincadeira de mau gosto — e na pior, que o calor o afetara a ponto de querer provocar-lhe ciúmes narrando encontros com uma bela mulher misteriosa. A história se espalhara entre os moradores das cidadezinhas próximas, alimentando boatos infundados. Muitos acusavam Bethurum de ter compactuado com agentes secretos russos ou grupos subversivos armados. Justamente ele, um sujeito descompromissado, alegre e sociável, começava a tornar-se solitário, deprimido e preocupado.
O disco de Clarion não parou de vir à Terra, pousando em Mórmon Mesa. Nas noites de 05, 06, 16 e 23 de setembro, 02 e 12 de outubro e 02 de novembro, Bethurum voltou a encontrar-se com a comandante Aura Rhanes, sem que obtivesse uma só prova. Certa feita, perguntou-lhe por que ele, um simples mecânico, fora escolhido. Ela explicou sorrindo: “Bem, assim são as coisas. Nós procurávamos um lugar para aterrissar em segurança e aconteceu de você estar por perto”. Ante o receio de Bethurum de que os visitantes fossem confundidos com mandatários de potências estrangeiras inimigas, a prodigiosa comandante replicou: “Nós não temos medo do seu povo, mas não queremos ser forçados a fazer-lhes mal. Nós sabemos como agem as multidões quando veem e ouvem coisas que não compreendem. O medo e o pânico produzem efeitos perigosos. Por outro lado, o seu povo nem imagina os poderes que controlamos”. Em demonstração, Aura Rhanes fez desaparecer, como que por prestidigitação, a lanterna elétrica de matéria plástica que Bethurum colocou sobre a mão espalmada.
Mensagem de caráter feminista
Em uma ocasião, Truman Bethurum estava em uma cadeira de barbeiro em Las Vegas quando viu passar na rua uma mulher que, sem dúvida, era a comandante do disco. Saiu pulando feito louco, mas não a alcançou. Para tirar a limpo a afirmativa de que eles podiam entender e falar todas as línguas da Terra, Bethurum pediu a uma moça de Glendale que escrevesse um bilhete em francês e mandou que a comandante o respondesse. Aura Rhanes rabiscou nessa língua uma mensagem de caráter feminista: “As mulheres chinesas prendem seus maridos com correntes, caso não possam prendê-los com o amor”.
Conforme Bethurum, os discos — chamados de “rodas ocas” — eram feitos com metais extraídos de Marte e se deslocavam por força magnética. Em Clarion, as estradas eram macias, e, tal como aqui, havia igrejas e escolas. Os habitantes desse planeta tinham a faculdade de ver através de paredes opacas. A viagem de Clarion à Terra durava dois dias dos nossos e a razão dessas visitas nunca ficou muito bem esclarecida. No oitavo encontro, Aura Rhanes disse a Bethurum que a Terra não oferecia quase nada de interessante aos povos alienígenas, ao menos até o advento da energia atômica, por sinal muito mal empregada: “Se vocês explodirem a Terra, vai haver muita confusão no espaço ao redor”. Por isso andavam nos vigiando.
Os encontros com Aura Rhanes terminaram simultaneamente ao trabalho de Truman Bethurum no deserto — aliás, a tempo de escapar de ser linchado por um grupo de exaltados. Sua esposa continuava não querendo ouvir falar naquela história, mas foi graças a ela que atraiu a atenção de jornalistas e aficionados
, conheceu George Adamski e participou da convenção de discos voadores no deserto [Veja texto anterior desta edição], ficando tão famoso que até a esposa passou a apoiá-lo. Escreveu um livro, ou melhor, emprestou os elementos para que um escritor fantasma — Mary Kay Tennison, de Los Angeles — o escrevesse, já que seus recursos literários eram bastante limitados. Assim surgiu A Bordo de um Disco Voador [Aboard a Flying Saucer]. Em 1956, Bethurum anunciou que a comandante agora o visitara em sua própria residência em Prescott, orientando-o a fundar uma seita chamada Santuário do Pensamento, a qual deveria congregar os que aderissem aos ensinamentos do povo de Clarion.