Pesquisa britânica foi feita com telescópio no Chile. Estudo pode revelar segredos de outros astros duplos.
Parece filme de terror. Mas é só astrofísica. Uma estrela morta-viva vai sugando pouco a pouco a vida de um astro companheiro, até matá-lo também. Esse cenário trágico foi acompanhado ao vivo por um grupo britânico de astrônomos, e suas conclusões podem revelar vários detalhes até então misteriosos sobre como evoluem as estrelas “casadas”. Logo de cara, vale o alerta: é a primeira vez que um fenômeno como esse é observado na história da astronomia.
Antes de mergulhar no caso em questão, vamos a alguns fatos básicos da vida no Universo. Para começar, explicando o que são as estrelas. Tratam-se basicamente de grandes bolas de gás hidrogênio. Por conta do tamanho, a pressão em seu interior é tão violenta que faz com que os átomos de hidrogênio comecem a grudar uns nos outros, transformando-os em hélio e gerando copiosas quantidades de energia. Por isso elas brilham e conseguem manter seu tamanho, a despeito da gravidade.
Enquanto há hidrogênio no núcleo da estrela, elas seguem suas vidas. Mas quando acaba a “gasolina”, elas não produzem mais energia “para fora” e com isso colapsam, implodindo sob o efeito de sua própria gravidade. É o que vai acontecer com o Sol em mais uns 7 bilhões de anos. Após implodir, ele vai se tornar uma anã branca – um cadáver estelar, que brilha somente pelo calor que sobrou de sua vida pujante, mas não produz mais energia.
Grande parte das estrelas vive em “pares”. No caso em questão, um dos astros observados pelo grupo liderado por Cristopher Watson, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, era justamente uma anã branca. Ela estava acompanhada por uma estrela normal, que seguia sua vida normalmente, até encontrar a morte por ação de sua vizinha morta.
A estrela normal girava ao redor da anã branca numa distância perigosa – a gravidade da anã fez com que a massa da vizinha começasse a migrar em sua direção, formando um disco de destroços. E o processo de canibalismo cósmico prosseguiu até um ponto em que a estrela “viva” ficou pequena demais para seguir queimando hidrogênio. Sem mais nem menos, ela se apagou, tornando-se uma simples anã marrom, tão morta quanto sua vizinha.
O objeto foi descoberto pela Pesquisa Digital Sloan do Céu e então observado em detalhes pelo grupo britânico usando o VLT (sigla para Telescópio Muito Grande) do ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile. Os resultados foram divulgados na edição desta semana do periódico científico americano “Science”, e os cientistas estão apostando que seus estudos vão ajudar a entender alguns mistérios antes inexplicáveis sobre o comportamento de objetos desse tipo.