Usando uma inovadora câmera na astronave Cassini, os cientistas capturaram imagens de um cinturão de radiação dentro dos anéis de Saturno e ainda tem mais claro o quadro da gigantesca magnetosfera do planeta, de acordo com um relatório de meio-ano da astronave publicado no Journal Science. A fotografia A mostra a imagem de um átomo neutro enérgico (ENA) capturada pela câmera de nêutron e íon, parte do Instrumento de Imageamento da Magnetosfera (MIMI) da astronave Cassini, quando a Cassini passou pelos anéis de Saturno. O esquema (B) ilustra o processo pelo qual estes átomos do cinturão externo de radiação de Saturno povoam o cinturão de radiação interno de baixa altitude.
A astronave Cassini entrou na órbita de Saturno em julho de 2004, iniciando um estudo de quatro anos do sexto planeta do Sistema Solar. Entre os 12 instrumentos científicos da astronave está o Instrumento de Imageamento Magnetosférico (MIMI) desenvolvido pelo Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (APL) que os cientistas usam para estudar o ambiente de partículas energéticas carregadas em Saturno e obter imagens da magnetosfera do planeta dos anéis.
“Toda vez que mandamos um instrumento novo ao espaço, revelamos novas visões dos objetos que estudamos”, diz o doutor Stamatios Krimigis, investigador chefe para o experimento MIMI. Neste tempo, afirma Krimigis, o instrumento MIMI permitiu aos cientistas visualizar o invisível para ver, em uma imagem, o plasma e a radiação que cinge o ambiente de Saturno. Descobrir que os cinturões são mais intensos no lado escuro do planeta, que há um inesperado cinturão de radiação dentro do anel “D”, o quarto anel principal mais próximo à tênue atmosfera superior do planeta e que há uma sopa virtual de íons que derivam da dissociação da água, devido, provavelmente, à radiação que incide nos anéis.
Estas imagens foram capturadas durante a inserção na órbita de Saturno com a câmera MIMI que mede a distribuição tridimensional, velocidades e composição da magnetosfera e íons interplanetários nas regiões onde os fluxos de íons enérgicos são muito baixos. Também fornece uma visão global da emissão enérgica neutra dos protoplasmas quentes na magnetosfera de Saturno, medindo a composição e as velocidades desses íons enérgicos para cada pixel da imagem.
“Descobrindo várias partículas enérgicas, discriminando-as de acordo com a energia e amontoando-as, a câmera pode obter imagens remotas da distribuição global destas partículas”, diz doutor Donald Mitchell, da APL, que conduz a equipe científica da câmera. Usando a INCA descobrimos, também, um cinturão de radiação em um lugar onde nenhuma astronave pode entrar, nos anéis do planeta, diz o doutor Ed Roelof, da APL, co-investigador da equipe MIMI. “Nunca soubemos da existência deste cinturão, mas nós o vimos e pudemos determinar algumas de suas propriedades e características”.
As propriedades dos cinturões de radiação principais estão, talvez, entre os mais significativos resultados, diz doutor Doug Hamilton da Universidade de Maryland, que conduziu a equipe do instrumento que mede a composição. “Ele abrange, principalmente, oxigênio e produtos de água”, diz. “Isso é, provavelmente, o resultado do bombardeamento do planeta dos anéis e das luas frias pela radiação apanhada no campo magnético de Saturno. E por este bombardeamento, a água é liberada e ele se torna carregado”.
De acordo com Krimigis, a habilidade para visualizar a magnetosfera de um planeta permitirá aos cientistas monitorar melhor o tempo espacial. “Isto beneficiará a ciência e, no caso da Terra, pode conduzir para espaçar as previsões do tempo dando pré-avisos de tempestades eletromagnéticas que no passado romperam as comunicações elétricas incapacitando as redes de energia”.