
Nada como aguardar, pacientemente, as lições do tempo. Quando estamos respaldados pela realidade, o tempo e sua lenta sabedoria conduzem à verdade, seja ela qual for.
Minhas declarações a respeito dos fatos referentes ao Vôo 169 foram muito contestadas. O Ministério da Aeronáutica foi um grande omisso em todos os momentos. Já que a sua contribuição — liberando dados colhidos pelo CINDACTA — poderia esclarecer de forma conclusiva se eu estava errado ou não.
Aquele que nega a verdade acaba enredando-se em sua própria teia de frágeis argumentos. Assim aconteceu com o Ministério da Aeronáutica, que enfrentou na noite de 19 para 20 de maio de 1986, uma das maiores ondas ufológicas, se não a maior, já constatada em nosso país (13). Tantas foram as testemunhas diretas, ligadas ou não ao meio oficial, que o próprio ministro da Aeronáutica, brigadeiro Otávio Júlio Moreira Lima, julgou necessária uma explicação a todos os brasileiros. Em suma, o clima emocional que tomou conta de toda a cúpula da Força Aérea Brasileira quebrou um típico comportamento da área militar, o de sonegar, de qualquer forma, informações de natureza ufológica. Um ministro de Estado foi à televisão e ali, publicamente, para milhões de brasileiros, prometeu uma severa investigação e posterior divulgação dos seus resultados.
Naquela noite, por volta das 19h30, começaram a ser observados estranhos objetos nas proximidades do aeroporto de São José dos Campos (SP), em grande quantidade e com características nitidamente ufológicas. Parte do fenômeno também foi registrada no Brasil Central, obrigando ao acionamento, por parte do Centro de Operações Militares de Defesa Aérea (COMDA), de nada menos do que seis aeronaves supersônicas. Da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, decolaram aparelhos F-5E, na tentativa de interceptar os objetos observados na região de São José dos Campos. Da Base Aérea de Anápolis, em Goiás, decolaram aeronaves Mirage, em direção aos UFOs que percorriam o espaço aéreo do Brasil Central.
Um dos melhores trabalhos analíticos desse insólito acontecimento foi realizado por um militar, o Capitão Basílio Baranoff (14), da reserva da Força Aérea Brasileira, o qual, nas primeiras páginas de seu longo e minucioso relatório sentiu a necessidade de expor, com clareza, o seu posicionamento: um forte ceticismo perante o meio oficial. Baranoff, que trabalha na cidade de São José dos Campos como consultor técnico, apesar de reconhecer as dificuldades no sentido de obtenção da prova oficial, resolveu apostar nas declarações do ministro da Aeronáutica, para o que montou um registro cronológico de todos os fatos. Seu trabalho tem toda a metodologia típica dos precisos relatórios militares, isento de emoções, frio e rigorosamente técnico. Infelizmente, seu esforço foi inteiramente perdido: o ministro da Aeronáutica deve ter refletido melhor e chegou à conclusão de que havia falado demais!…
Entretanto, segundo o Capitão Basílio Baranoff, até o próprio presidente José Sarney foi alertado a respeito do que acontecia nos céus brasileiros. Se a preocupação do Ministério da Aeronáutica chegou a esse ponto é porque há muitos fatos sonegados ao público. Um presidente, em qualquer país deste mundo, jamais será alertado pelos seus ministros se não houver um risco à segurança nacional. De onde partiu a decisão de não mais falar ao público sobre os acontecimentos da noite de 19 de maio de 1986? Decisão pessoal do brigadeiro Moreira Lima? Ou do próprio presidente da República, José Sarney?
Na ocasião, os radares do CINDACTA ficaram saturados, ou seja, foram completamente tomados por pontos não identificados. Nada menos do que vinte e um pontos foram registrados nas telas. As aeronaves que partiram para a interceptação apenas confirmaram uma situação mais do que evidente por todas as forças aéreas do mundo inteiro. Ninguém conseguiu interceptar um UFO até a presente data, uma vez que isso significa alcançá-lo e depois, pela ameaça armada, fazê-lo aterrissar em algum ponto qualquer. Os jatos supersônicos lançados ao encalço dos vinte e um UFOs correram um risco muito grande, pois, de perseguidores passaram a perseguidos. Um dos pilotos, capitão Viriato, tripulando uma aeronave Mirage, viu-se cercado por nada menos de treze UFOs.
Os fatos, porém, não ficaram restritos ao dia 19 de maio. Dez dias mais tarde, na mesma região houve nova revoada de UFOs. Entre dez a onze objetos não identificados foram percebidos pelos radares do CINDACTA sobrevoando a cidade de São José dos Campos. Um deles, com base em estimativas do radar de São Paulo, teria o tamanho de um Boeing 727. Prudentemente, talvez obedecendo ordens do ministro da Aeronáutica, e quem sabe até mesmo do presidente da República, os caças à jato permaneceram em terra, mesmo porque, a experiência já havia mostrado, seria inútil a tentativa de interceptação.
Em 1982, pouco tempo depois do Vôo 169, eu voava com destino a Belém do Pará quando fui procurado, na cabine de comando do aparelho, por uma pessoa de nome Flávio. Este demonstrou-me ser egresso da Força Aérea Brasileira, onde fora controlador de vôo no radar do CINDACTA. Fiquei surpreendido ao dizer-me o visitante que fazia parte de um grupo de pesquisas ufológicas sediado em Belém e, pasmem, ligado ao 1º COMAR (Primeiro Comando Aéreo Regional, do Ministério da Aeronáutica). Tal grupo era composto de oficiais, sub-oficiais, sargentos e especialistas-técnicos em diversas áreas, como fotografia, Filmagem e topografia. O acervo ufológico seria dos mais importantes e de âmbito nacional. Mensalmente, o grupo reunia-se num local conhecido como Enseada do Sol, no desaguadouro do Rio Amazonas. (15)
No farto material que possuíam, constavam fotos incríveis e filmes Super-8, com noventa minutos de duração. Os filmes estariam respaldados em laudos de laboratórios idôneos. As fotos e filmes mostravam naves extraterrenas que apareciam voando sobre o Rio Amazonas, bem como aves menores saindo de outras maiores e fazendo uma espécie de reconhecimento aéreo. Em suma, muito mais do que qualquer ufólogo poderia esperar de militares.
Flávio disse-me também ser portador de um convite especial em nome do Ten-Cel. Hollanda (16), do 1º COMAR, para que eu comparecesse a uma reunião naquele Comando, onde estariam presentes os oficiais que participavam do grupo de pesquisas ufológicas. Para tanto, bastaria que eu avisasse a data de meu próximo vôo para Belém, quando seria convocados os militares pesquisadores. Aceitei, sem pestanejar, o convite. Senti que havia muita sinceridade nas palavras de Flávio.
No dia marcado para a reunião, encontrei o grupo numa sala reservada do 1- COMAR. Fui recebido pelo major Hollanda, o qual afirmou que ele e seus colegas haviam acompanhado, de perto, a divulgação do Incidente do Vôo 169. Somente não ajudaram em razão da farda e da reserva natural, no meio militar, para esse tipo de assunto. Logo após, fui assombrado com o recebimento de três volumes, cada um deles com cerca de dez centímetros de altura, com um verdadeiro manancial de material ufológico. Fiquei perplexo! Extremamente organizados, estavam os volumes numa seqüência cronológica de avistamentos. Tinham, para cada registro fotográfico, todos os dados técnicos do objeto da foto, como distância, abertura do diafragma, luminosidade, fotômetro etc. Vi fotos de UFOs pousados nas margens de rios, numa verdadeira mostra de competência no trabalho de pesquisa de campo.
A minha felicidade não ficou somente naquela maravilhosa oportunidade. Ali não tive somente a oportunidade de examinar um farto material ufológico. Ao final da reunião, tive a surpresa de ouvir: “Além da farda, existe o zelo do caráter e da dignidade humana assim como o senhor o fez. E não poderíamos deixar de tranqüilizá-lo neste conflito de opiniões. Existe em Brasília outro grupo de pesquisas bem mais documentado do que o nosso. Possuem um arquivo especial, com as gravações insólitas que o radar do CINDACTA pode captar. Entre tantas, está o seu episódio, gravado desde 60 milhas de Belo Horizonte. Houve depois um comentário de que o operador só resolveu nos comunicar quando o objeto aproximou-se já a 8 milhas, imaginando que poderia ocorrer um conflito de tráfego, o que ele tinha de preservar…” (17)
Somente em 1986, através da revista UFOLOGIA NACIONAL & INTERNACIONAL, resolvi contar o que vi e ouvi na sede do 1º COMAR. Não se trata de uma traição, como muitos possam imaginar. Se vivemos em um país que tem na liberdade de expressão e pensamento um preceito constitucional, é dever de cada um não esconder dos demais fatos dessa natureza. Tive de comentar, ainda que brevemente, os incidentes do dia 19 de maio de 1986, para, após, contar o que presenciei no 1º COMAR. Tenho a certeza absoluta de que o brigadeiro Moreira Lima sabe muito mais do que revelou. Se existe em Brasília um grupo de pesquisas bem mais aparelhado do que aquele que conheci em Belém, certamente o ministro da Aeronáutica deverá tê-lo diretamente sob suas ordens.
Depois da instalação de um sistema de controle de vôo e defesa aérea, praticamente nada escapa ao crivo dos controladores. Tudo está gravado e tudo segue para análise, se for necessário. Portanto, quando um ministro da Aeronáutica, em meio a um clima emocional onde surgem testemunhas do quilate do coronel Ozires, ex-presidente da Embraer e, na ocasião, presidente da Petrobrás, pilotos que dizem ter sido cercado por inúmeros UFOs e registros fotográficos que não podem ser contestados, cala-se profundamente, depois de uma promessa pública de divulgação dos resultados, o silêncio é muito mais expressivo do que longos relatórios…
Até hoje não surgiu qualquer espécie de informação técnica convincente a respeito do Vôo 169. Não é mais necessária. O próprio brigadeiro Moreira Lima já disse tudo por intermédio de seu silêncio. Se a Força Aérea Brasileira caia-se depois de um verdadeiro incidente, que foi o de São José dos Campos, esperar que ela se manifeste por causa de um fato envolvendo uma aeronave civil, ainda que conduzindo cento e trinta pessoas, é completa perda de tempo. O caminho para a verdade, infelizmente, não passa pelos canais oficiais.
O triste disso tudo e que os militares conseguiram apenas uma meia-verdade. O radar permite o acompanhamento completo de um UFO, desde o momento em que ele penetra em nosso espaço aéreo. A estrutura das forças armadas permite localizar, graças aos seus recursos técnicos, os locais de pousos. Mas, como disse antes, 6 apenas uma meia-verdade. Faltam, aos militares, o relato singelo de testemunhos bem mais importantes do que aqueles fornecidos pelas fitas de gravação do CINDACTA. Nosso país é pródigo em relatos de seqüestros, as chamadas abduções, que os militares certamente desconhecem, já que não foi notada a presença, em momento algum, de seus investigadores nos casos mais importantes e conhecidos internacionalmente.
Resta, então, darmos mais tempo aos militares da Força Aérea Brasileira para que suas explicações tornem-se mais incoerentes. Quando isso acontecer, saberemos, definitivamente, que os fatos estão escapando ao seu controle. Talvez, nessa hora, eles nos procurem!
Detalhes do incidente de 20/05/89:
Após a detecção dos UFOs pelos radares de solo, inclusive os do CINDACTA, vários caças a jato foram lançados ao seu encalço. Num desses jatos, o capitão Armindo Souza de Freitas (30 anos à época), da Base Aérea de Anápolis (GO), seguiu um dos objetos, depois apelidado de “eco-radar”. O UFO fazia zig-zag em sua tela e desapareceu instantaneamente, à altíssima velocidade.
Quando desapareceu o “eco-radar” que o cap. Armindo perseguia, este foi alertado pelo tenente Hugo Nunes de Freitas, chefe do controle de vôos do CINDACTA que seu caça a jato tinha a companhia de 13 outros UFOs (ou “ecos-radar”), postados bem atrás de sua aeronave. Seis objetos estavam do lado direito do Mirage, 7 estavam do lado esquerdo. Mas nada se observava visualmente.
No meio da confusão, já não sabendo mais se “estão perseguindo ou sendo perseguidos pelos UFOs, o tenente Kleber Caldas Marinho (25 anos à época), da Base Aérea de Santa Cruz (RJ), decolou em direção à São Paulo — epicentro das ocorrências. No caminho, perseguiu um UFO por 15 minutos, que desapareceu instantaneamente em direção leste. Antes de sumir, o UFO mudou sua coloração de verde para vermelho.
(Comentários do artista plástico Rodval Matias, autor destas ilustrações)
Agradecimento
Agradeço a todos os ufólogos brasileiros e estrangeiros, pesquisadores anônimos e sensitivos, que me distinguiram neste evento, nos convites, na procura pelos meios de comunicação, no apoio em todos os momentos difíceis dessa jornada para levar a Ufologia aos seus devidos níveis de inteligibilidade; agradeço a toda essa nossa Humanidade desprotegida da verdade; aos diretores de todos grupos de estudos ufológicos, pela possibilidade de participar dos simpósios e de todos os congressos realizados, como também pelo envio de seus boletins de pesquisas — que muito me serviram nesta obra.
Agradeço à imprensa em todas as suas áreas de operação, pelo profissionalismo sério na cobertura da notícia e o enquadramento do assunto ufológico dentro da perspectiva da ciência convencional, do conhecimento indiscriminado e do plano das concepções pessoais em todos os níveis onde possa existir o interesse pelo esclarecimento.
E agradeço, finalmente, ao Senhor Supremo por ter eu aqui chegado; agradeço aos “irmãos fraternos do Universo” toda luz em minha mente, que me fez entender o que permanece mistério para muitos e esta infinita emoção em ter estado tão próximo de “suas fronteiras”, a ponto de observá-los e ter sido possível o enlace de seus elos luminosos com a minha mente pouco evoluída — e que encanto daqueles que comigo estavam e puderam maravilhar-se no colorido da fraternidade.