Durante mais de 40 anos, uma das formas mais comuns para que um indivíduo fosse considerado louco consistia em dizer ao seu psiquiatra que tinha tido um contato com seres estranhos que desceram de um UFO. Já durante a década de 50, os profissionais de saúde mental, especialmente nos Estados Unidos, passaram a mostrar-se inclinados a aceitar o ponto de vista condutivista, segundo o qual as pessoas que manifestassem comportamentos estranhos – como falar de UFOs ou de outras coisas “irreais” – eram consideradas como personalidades mal ajustadas à sociedade. O tratamento psiquiátrico aplicado a estes indivíduos estava destinado, em grande parte, a induzir um comportamento de acordo com as normas sociais. Ainda que o condutivismo tenha decaído hoje em dia, sua influência ainda se sente através dos ridículos desenhos que geralmente são feitos pelos caricaturistas dos jornais e revistas sobre as testemunhas de observações ufológicas. Os terapeutas também foram desencorajados a expressarem publicamente seu interesse a respeito de tais temas, devido ao fato de que a maior parte dos especialistas não é capaz de manter discussões sérias sobre qualquer tipo de fato paranormal ou mesmo do Fenômeno UFO.
A causa deste triste estado de coisas – as histórias de abusos perpetrados há tempos sobre as testemunhas de UFOs por parte de profissionais da saúde mental (incluindo terapia de choque elétrico e administração de drogas psicotrópicas e outros tratamentos evidentemente inadequados) – tem sido tema freqüente de revistas e boletins informativos especializados em Ufologia. Também não é para menos: até há bem pouco tempo, em muitas cidades se chegava ao ponto de internar em sanatórios pessoas que apresentavam perturbações e traumas após terem vivenciado experiências chocantes a bordo de UFOs.
Os abusos de profissionais de saúde mental sobre testemunhas de UFOs são graves e incluem até terapia de choque elétrico, de drogas psicotrópicas e outros tratamentos inadequados. Até pouco tempo, chegavam ao tempo de internar em sanatórios pessoas perturbadas depois de experiências chocantes dentro de UFOs
Dada a completa ausência de respostas para o Fenômeno UFO por parte dos profissionais da saúde mental, as testemunhas deste tipo de manifestação – normalmente traumatizadas – tenderam a reunir-se em grupos de apoio e de debate que freqüentemente passaram a ser atacados pela imprensa como seitas que empregavam técnicas de controle mental destrutivas. Durante anos, na Califórnia, por exemplo, alguns grupos atraíram setores marginais ao assunto, prometendo-lhes contatos com os “irmãos do espaço”, como definiam os ETs a seu gosto. Na última década, em conseqüência, aumentou consideravelmente o número de pessoas interessadas em ouvir médiuns que se diziam “canais extraterrestres” e que teriam, segundo eles próprios, a capacidade de receberem informações provenientes diretamente dos ETs…
Testemunhas Abduzidas – No entanto, durante os últimos 5 anos, houve também um significativo crescimento no número de pessoas que passaram a contar abertamente terem tido experiências de abdução forçada em suas casas, freqüentemente relacionadas a experiências físicas dolorosas que atribuem a exames médicos feitos por extraterrestres em suas naves ou em seus próprios dormitórios (as chamadas “abduções de dormitório”). Algumas mulheres afirmam, inclusive, que lhes foram extraídos fetos que carregavam no ventre, os quais só puderam ver posteriormente, mostrados por seres estranhos que afirmavam ser seus pais adotivos.
Se tais histórias tivessem sido contadas durante os anos 50, teriam provocado reações de imensa desconfiança. Mas, nos anos 80 e 90, geralmente provocavam intensa curiosidade, tanto no âmbito profissional como público. Para a Ufologia, evidentemente, despertam o que há de mais profundo em termos de pesquisa das origens e intenções dos alienígenas.
Os fantásticos acontecimentos do gênero, especialmente os passados nos últimos 3 anos, parecem indicar que a relação entre profissionais de saúde mental nos EUA e as testemunhas/vítimas de UFOs está começando a mudar radicalmente. Uma minoria profissional com excelente reputação começou a deixar de supor automaticamente que as testemunhas de UFOs fossem loucas e passou a analisá-las adequadamente, muitas vezes tratando-as. Além disso, esses profissionais – muitos renomados nacionalmente – começaram a discutir publicamente os tipos de terapias que ministraram nas testemunhas que sofrem de traumas e outras dificuldades psicológicas resultantes de experiências do tipo contato imediato com UFOs ou abdução por ETs.
Discussão Científica Sobre UFOs – Alguns desses terapeutas estiveram ajudando as testemunhas durante décadas, enquanto que outros foram levados só recentemente ao diálogo público sobre o significado destas experiências misteriosas e altamente controversas. Nos EUA, no entanto, o surgimento de uma série inédita de conferências sobre o tratamento e investigação das experiências de traumas anômalos [Editor: Treatment of Anomalous Traumas, TREAT], organizadas pela psiquiatra Rima Laibow, doutora em Medicina, serviu como ponto inicial para uma nova e gigantesca onda de interesse profissional pelas testemunhas/vítimas ufológicas. Especialistas de vários campos da Medicina, Psicologia, Psiquiatria e outros reúnem-se nesses fóruns para discutir cientificamente como tratar esta nova modalidade de pacientes.
O primeiro evento do gênero, que teve lugar em Fairfield, Connecticut, em maio de 1989, recebeu o nome de Conferência sobre o Tratamento e Investigação das Experiências de Traumas Anômalos (informalmente conhecida apenas por Treat I). Depois desse conclave foram realizados os Treat II e III, que tiveram lugar respectivamente em fevereiro de 1990, no Instituto Politécnico e na Universidade Estadual de Blacksburg, na Virgínia, e em março de 1992, na Universidade do Kansas, em Kansas City. Como se vê, o tratamento dado ao assunto é tão sério que as reuniões são feitas em ambientes acadêmicos. Desde seu início, estas exposições têm sido notáveis não só por serem as primeiras conferências científicas e periódicas deste tipo, mas também por terem atraído cientistas e leigos bem informados, provenientes de várias disciplinas.
Além do mais, como resultado de suas viagens e encontros com cientistas da ex-União Soviética, a doutora Laibow conseguiu receber a visita de um grupo de estudiosos russos para participar do último encontro da série, e estes contribuíram significantemente com as discussões sobre os traumas dos abduzidos. Em seguidas viagens à Europa, Ásia e países da extinta URSS, Rima Laibow estará tentando fazer mais contatos que permitam expandir a rede de cientistas e terapeutas que trabalham com as vítimas do Fenômeno UFO. Tudo isso visa a responder melhor e o mais adequadamente possível as necessidades das pessoas que, lit
eralmente aos milhares em todo o mundo, hoje encontram-se desajustadas socialmente após terem sido usadas em experiências alienígenas.
Rima Laibow, hoje o maior nome em terapia para abduzidos no mundo, descreveu em um dos eventos Treat seu primeiro contato com uma paciente que apresentava um quadro de experiência pessoal anômala, de onde surgiu seu interesse pelo assunto. Segundo a médica, sua paciente tinha visto a capa do primeiro livro de Whitley Strieber, que mostra o rosto de um ET do tipo cinza (com cabeça grande e cinzenta e olhos oblíquos, grandes e negros), e ficou extremamente impressionada, “A paciente sentiu que parte daquilo que estava na capa do livro estava também em sua cabeça, e isso lhe incomodava”, disse Rima. “Não sabia como trabalhar com isto, porque se tratava de uma paciente demonstravelmente não psicótica que dizia coisas que previamente eu supunha serem psicóticas”, completou.
Pessoas Psicóticas – “No entanto, a mulher era normal, apenas passando por uma fase de distúrbios que eu deveria descobrir como surgiram e como isolá-los”, continuou a médica, aturdida com seu primeiro contato com o mundo da Ufologia. A seguir, a contatou o estudioso Budd Hopkins, bem conhecido investigador e autor ufológico de Nova York [Editor: autor do livro Intruders, publicado no Brasil com o nome de Intrusos e sobre o qual foi produzido o filme de mesmo nome, distribuído no país pela Abril Vídeo], afim de informar-se sobre o assunto, e começou a tratar algumas das pessoas que inicialmente tinham recorrido a ele em busca de ajuda. A princípio, tentou buscar um enfoque neutro ou light, sem prejuízos aos problemas das vítimas, aplicando a hipnoterapia e outras técnicas psicoterapêuticas padrões para ajudá-las a lutar nos traumas produzidos pelas lembranças fragmentadas e inconscientes de terem sido abduzidas para bordo de UFOs.
Além disso, a Dra. Laibow descobriu que muitas pessoas que tiveram experiências ufológicas também experimentavam fenômenos psíquicos paranormais, como sonhos premonitivos e outros tipos de clarividência, curas espontâneas e inclusive bilocação – “o que pode ser bastante aterrorizante para quem os vive”, disse.
Assim, mediante o desenvolvimento, durante os últimos 3 anos, do conceito de experiência de trauma anômalo, como identificá-lo, analisá-lo e curá-lo, a Dra. Laibow passou a chamar a atenção de seus colegas médicos e outros cientistas de saúde para o fato de que era plenamente possível enfocar os caso das testemunhas/vítimas ufológicas (e seus problemas psicológicos), sem a necessidade de tomar qualquer posição pública a respeito do Fenômeno UFO – se são reais ou objetos misteriosos. Isso tranqüilizou boa parte dos profissionais, que foram agregando-se à área, pois essa atitude os eximia da necessidade de expressarem-se sobre o fenômeno em si.
O que importava era tratar as vítimas. Assim, a Dra. Rima sempre foi taxativa em dizer que psicólogos e psiquiatras não se interessam pela cor ou forma de um UFO, nem se eles existem ou não. Apenas querem tratar pessoas que afirmam ser portadoras de traumas produzidos por essa fenomenologia.
Trauma Anômalo – O termo experiência de trauma anômalo deriva de observações realizadas durante o tratamento de cerca de 100 pessoas durante os últimos 5 anos. Esses pacientes especiais contam histórias de experiências abdutivas por parte de tripulantes de UFOs que compartilham entre elas várias características perturbadoras. Primeiramente, é importante que se enfatize que estas pessoas não apresentam qualquer psicopatologia definida importante, segundo a Dra. Laibow. Pelo contrário, dão a impressão de estarem manifestando sintomas do que parece ser uma desordem do tipo de stress pós-traumático (SPT). E de acordo com os critérios padrões, não é possível a alguém ter desenvolvido um SPT sem que tenha sido assaltado por alguma forma de stress produzido por acontecimento relevante em certo nível. Noutras palavras: os abduzidos são pessoas normais que apresentam tão somente sintomas de estarem perturbados em decorrência de algum acontecimento realmente chocante em suas vidas.
A síndrome do stress pós-traumático alcançou o domínio público e os meios de comunicações norte-americanos nos anos 70, como resultado da atenção dada aos veteranos da guerra do Vietnã. Muitos deles mostravam dificuldades impressionantes de adaptação à vida civil, como conseqüência da repetida vivência de cenas retrospectivas de dias estressantes durante a guerra do Vietnã. Como resultado dos conhecimentos obtidos a partir do tratamento de tais indivíduos, o SPT transformou-se numa síndrome médica reconhecida e incluída nos manuais de diagnóstico padrão usados pelos médicos dos EUA. Segundo a Dra. Laibow, sua intenção é estimular as investigações daqueles aspectos da experiência humana onde parece haver um SPT sem causa conhecida. As testemunhas/vítimas de UFOs, ao que parece, encontram-se nesta categoria.
Uma minoria de profissionais com excelente reputação começou a deixar de ver as testemunhas de UFOs como loucas e passou a analisá-las, tratando-as adequadamente. Esses profissionais começaram a discutir publicamente os tipos de terapias que estão ministrando nas testemunhas que sofrem de traumas e dificuldades psicológicas resultantes de experiências de contatos imediatos com UFOs ou abdução por ETs
O que distingue a Dra. Laibow da maioria dos terapeutas norte-americanos que agora trabalham com pacientes ufológicos é, em primeiro lugar, sua vontade de ouvir o que estes têm a dizer. Esta profissionalização do interesse nos conflitos das pessoas que tiveram experiências com os UFOs não está acontecendo, no entanto, sem sua dose de problemas e de debate político. Esses problemas centram-se, em boa parte, ao redor da questão do papel que devem assumir os investigadores ufológicos que tomaram para si a função terapêutica com respeito às testemunhas/vítimas ufológicas, antes que os terapeutas propriamente ditos entrassem no campo de seus estudos, e ainda que não sejam oficialmente profissionais de saúde mental.
Conflitos Com Ufólogos – Durante as últimas 3 décadas, ainda que tenham havido algumas exceções notáveis, a tarefa de responder as necessidades das testemunhas de UFOs recaiu em grande parte sobre os ombros de indivíduos entregues a esta tarefa por conta própria, sendo normalmente pessoas de fora da comunidade de profissionais de saúde mental. Esses indivíduos – os ufólogos – fizeram praticamente todo o trabalho de base para que no futuro, que está se verificando hoje, cientistas de todos os campos pudessem dar continuidade ao seu trabalho. Mesmo que a grande maioria desses abnegados ufólogos não tivesse qualquer formação científica. E há ainda um grande número dessas pessoas em constante atividade na coleta de dados de ocorrências ufológicas de todos os tipos – especialmente
as de graus elevados, como as abduções. Assim, é natural que, ao verem profissionais e cientistas (que antes estavam completamente ausentes) entrarem na área de suas dedicações, estes vão sentir-se tolhidos.
Na última década, por exemplo, o trabalho de Budd Hopkins (que, além de ser ufólogo, fez uma notável carreira como pintor e escultor) recebeu muita atenção pública. Seus livros Missing Time e Intruders influenciaram consideravelmente outros investigadores ufológicos dos EUA e de todo o mundo, particularmente devido às descrições do uso que ele faz da hipnose regressiva no trabalho com testemunhas que a ele recorrem. Além disso, durante anos, Hopkins organizou encontros de grupos de apoio de testemunhas/vítimas de UFOs (pessoalmente, ele prefere o termo “abduzidos por seres estranhos “) na cidade de New York. Nas sessões desses grupos, os participantes são incentivados a compartilhar suas experiências e a oferecerem uns aos outros mútuo apoio emocional.
Hopkins tornou-se, num certo sentido, em símbolo das investigações e das terapias leigas nos EUA, com relação aos UFOs. Merecidamente, como vários outros ufólogos, de vários outros setores de manifestação da fenomenologia ufológica. Outro participante ativo da comunidade ufológica profissional, o doutor em Medicina David Gotlib, depois de dar-se conta da grandeza dos traumas anômalos, introduziu em seu meio um boletim especializado que é distribuído mensalmente para os profissionais de saúde mental, investigadores ufológicos e leigos interessados em compreender não só o Fenômeno UFO, mas também outras áreas da experiência humana fora das categorias existentes e de explicação racional.
“Enquanto que a experiência do estabelecimento de uma comunicação com os colegas interessados no fenômeno da abdução foi estimulante, a tentativa de fazer-lhes ver o quão importante era esse estudo e engajá-los no mesmo foi decepcionante”, disse o Dr. Gotlib a respeito de seu relacionamento com colegas que insistem em desprezar os traumas causados por experiências ufológicas. No último Treat, o médico desabafou e disse que deveria haver total integração entre ufólogos não especializados em Medicina e os terapeutas ou profissionais credenciados para tratarem as vítimas. “Os ufólogos merecem o respeito da comunidade médica por terem, durante décadas, sido as únicas pessoas que trabalharam neste assunto com seriedade e desinteresse”, disse o Dr. Gotlib.
Discussão e Ruptura – A esse respeito, a Dra. Laibow tomou posição contrária, afirmando que somente os profissionais de saúde mental, com credenciais apropriadas, deveriam trabalhar com testemunhas e pessoas abduzidas por UFOs. As discussões, como se vê, estão cada vez mais acaloradas e prometendo rupturas breves e graves entre ufólogos e terapeutas. O que seria uma lástima, já que, se alheios ao que se passava durante décadas e décadas, agora que profissionais capacitados são atraídos para analisarem o Fenômeno UFO, seria uma pena que seus egos estivessem acima de seus interesses profissionais. Os ufólogos merecem ocupar o lugar que sempre tiveram, pois são eles quem fazem o trabalho duro e difícil de garimpar os testemunhos e fornecer dados para os cientistas.
Gotlib é um defensor implacável dessa posição, apesar de ser médico (e reputadíssimo em sua cidade). “Semelhante posição” – disse ele à Dra. Rima – “exclui pessoas como Budd Hopkins ou o Dr. David Jacobs, um professor de cultura popular da Universidade do Temple, na Filadélfia, que faz trabalhos de hipnose com muita gente que acredita ter sido abduzida por seres estranhos, e só por não terem as tais credenciais apropriadas…”
Pacientes e Amigos – “Pretender que só os profissionais credenciados devam atender a este tipo de trabalho não faz sentido e é uma terrível ingratidão a pessoas como Hopkins, Jacobs e centenas de outras, que ao longo dos anos, na falta de profissionais por perto, deram tudo de si para tratarem como podiam os abduzidos. E não o fizeram como pacientes, mas como amigos “, disse Gotlib no último Treat, desafiando frontalmente a matriarca Rima Laibow. Não se deve simplesmente descartar pessoas como estas e tantas outras que, anonimamente, em praticamente todos os países do globo, dedicam suas vidas à análise do Fenômeno UFO. Mais ainda, terapeutas como a Dra. Laibow devem lembrar-se que ainda não há profissionais de saúde mental em número suficiente para lidar com todo o quadro de manifestação do Fenômeno UFO, caso os ufólogos sejam afastados. Além disso, muitos poucos profissionais levam a sério este campo de investigação. Como resultado dos desentendimentos durante as conferências do Treat, o Dr. Gotlib e outros terapeutas e cientistas simplesmente deixaram de participar destes encontros. O que é uma pena, igualmente.
Como ocorreu em outras áreas da comunidade ufológica norte-americana, parece inclusive que este esforço de introduzir um nível superior de escrutínio científico nos mistérios das experiências ufológicas desembocou numa nova fragmentação do setor. Por exemplo, em janeiro de 1993, o Dr. David Jacobs e o autor Budd Hopkins organizaram a 1ª Conferência Nacional sobre Fenômenos Anômalos, em Chapell Hill, na Pensilvânia, uma espécie de dissidência do grupo que freqüenta o Treat. Como descreveu o Dr. Gotlib na edição de fevereiro de seu boletim, a informação mais importante revelada na conferência foi a que anunciou que Hopkins e Jacobs tinham recebido um donativo de nada menos do que 200 mil dólares para levarem a cabo uma enquete de massa que determinaria até que ponto o fenômeno das abduções por ETs poderia estar amplamente compreendido pela sociedade norte-americana.
Pretender que só os profissionais da área médica possam trabalhar com abduzids é uma terrível ingratidão a pessoas como Budd Hopkins, David Jacobs e centenas de outros ufólogos que, sem conhecerem Medicina, deram tudo de si para tratarem os abduzidos. E não o fizeram como pacientes, mas sim como amigos
A tendência nos EUA é de concentrar-se nos aspectos traumáticos das experiências de contatos imediatos com alienígenas, e há uma nítida distinção entre investigadores e profissionais de saúde médica. Mais ainda, a forma c
omo esse assunto é encarado neste país difere radicalmente da maneira como o mesmo é absorvido noutros países mais familiarizados com as tradições espirituais esotéricas, com os fenômenos espiritualistas e com as investigações parapsicológicas. Parece que, nos EUA, age-se muito materialisticamente em relação ao assunto, esquecendo-se o que é mais importante: o bem-estar das vítimas de abusos de extraterrestres, pessoas que se multiplicam da noite para o dia, em proporções alarmantes.
Pensamentos Polarizados – Os pontos de vista em desacordo, quanto às formas de tratamento dos abduzidos, foram simplesmente mencionados mas não debatidos nos últimos eventos Treat. Por outro lado, parece haver uma aceitação tácita e explícita, no meio ufológico norte-americano, da interpretação que Budd Hopkins e David Jacobs fazem do fenômeno das abduções. Segundo esta forma de pensar, por mais que os terapeutas ligados ao assunto se arrepiem com o âmago do Fenômeno UFO, estes tendem cada vez mais a reconhecer que os ETs são reais, que as experiências de abdução devem ser aceitas literalmente e que tratam-se fundamentalmente de episódios traumáticos para quem as vivencia.
Mais que tudo isso, está nascendo um consenso de que qualquer crescimento espiritual pessoal e incidente das vítimas desses casos é possivelmente um mero reflexo de uma supressão dos sentimentos traumáticos. Um abafamento de suas dores. Os doutores Laibow e Gotlib tomaram posições públicas distintas, que os transformam – gostem ou não – em luzes na escuridão a guiar alguns dos pensamentos e sentimentos polarizados que caracterizam o debate sobre o Fenômeno UFO nos EUA e, por conseqüência, em todo o mundo. O Dr. Leo Sprinkle, renomado psicólogo em Laramie, Wyoming, cujo trabalho com abduzidos é pioneiro em todo o globo, tendo iniciado-o há quase 20 anos, tem um posicionamento de grande expressão neste contexto. Sprinkle, funcionário da Universidade do Wyoming, também trata de pessoas que acreditam terem tido experiências de contatos imediatos com UFOs e ETs. Ele mesmo admite que viu alguns UFOs entre 1949 e 1966.
Há mais de 14 anos Sprinkle realiza a conhecida Conferência Anual das Montanhas Rochosas Sobre Investigações Ufológicas, um evento do qual participam estudiosos, contatados e interessados, num clima de total congrassamento e imersão no paradisíaco cenário das Rochosas americanas. Até hoje o evento continua tendo lugar em Laramie, sempre sob os auspícios do Instituto de Estudos de Contatos com UFOs. Atualmente dedicado quase integralmente às suas pesquisas, o Dr. Sprinkle leva com um suave senso de humor o seu trabalho, desenvolvido a partir de sua intensa formação autoditada sobre o Fenômeno UFO. O estudioso declarou que um de seus primeiros contatos com testemunhas de contatos imediatos com UFOs aconteceu em 1966, quando foi convidado a comparecer a um programa de TV em rede nacional sobre Ufologia, da rede NBC.
Abduções Clássicas – “Nessa ocasião, entrevistei os abduzidos clássicos Betty e Barney Hill, sobre os quais John G. Fuller escreveu em seu livro The Interrupted Journey”, disse. “Impressionaram-me tanto com sua sinceridade e narrativa que me pareceu serem gente muito inteligente e articulada. Em hipótese alguma estavam forjando uma estória ou mesmo alucinando sobre algo irreal”, completou. Em parte como resultado dessa experiência, o Dr. Sprinkle começou a trabalhar como assessor do Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos (NlCAP), que teve papel fundamental no estabelecimento da Ufologia em todo o mundo.
Foi a NICAP quem levou a cabo uma enquete junto aos seus 250 membros, na qual foi medido seu dogmatismo com base em um teste psicológico padrão. “Os resultados foram surpreendentes”, explicou Sprinkle. Essa experiência conduziu-o a realizar uma das primeiras enquetes ufológicas públicas e globais jamais empreendidas sobre o assunto, com resultados ainda mais emocionantes e encorajadores. Tais resultados o convenceram de que as testemunhas poderiam beneficiar-se em muito das mesmas técnicas de consulta que ele empregava com estudantes de sua universidade. “Pudemos ver, através da análise dos questionários preenchidos, como realizei com estudantes, que muitas pessoas tiveram experiências com UFOs e não sabiam disso. Muitas ainda eram ansiosas e nervosas, como resultado de seus traumas, ao ponto de duvidarem de seu próprio estado mental”, publicou Sprinkle em uma revista recente.
O Dr. Sprinkle parece ser um dos poucos psicoterapeutas nos Estados Unidos que aceita a idéia de se estabelecer um contato psíquico com nossos visitantes extraterrestres, e não está nem um pouco interessado na divisão dos ETs entre os populares “cinzentos malvados” e “louros benevolentes”, como sempre se quer classificá-los. A idéia de fazer com que as testemunhas/vítimas se encarreguem de suas próprias vidas é essencial no enfoque do Dr. Sprinkle. Como membro e ex-presidente da Sociedade Americana da Hipnose Clínica, o Dr. David B. Cheek é um dos praticantes mais renomados da hipnoterapia médica e forense dos Estados Unidos, além de ser o herdeiro do legendário Dr. Milton H. Erickson. Cheek concorda com Sprinkle, em posição diametralmente oposta à da maioria dos estudiosos da questão das abduções, e provocou um efeito revolucionário sobre toda uma geração de terapeutas através da introdução da idéia de resposta ideomotora.
Erickson declara que o corpo humano pode revelar informações dos níveis mais profundos da mente mediante simples sinais, tais como os movimentos dos dedos. O Dr. Cheek foi mais além e afirma ainda que, dessa forma, é possível ter acesso a informações em nível pré-verbal da mente. Os sinais digitais ideomotores, certamente, poderiam ter aplicações tremendas na tentativa de se ajudar as testemunhas/vítimas de ETs a recuperarem lembranças bloqueadas por trás de seu medo e ansiedade. Cheek vai ainda mais além e diz que, “além da abdução que a pessoa relata, podem haver outras coisas muito mais profundas em suas mentes, que estão submersas em níveis mais impenetráveis da memória”.
Níveis profundos de Memória – Outra idéia renovadora do Dr. Cheek é a de que há uma forte semelhança entre as experiências dos abduzidos e as das pessoas que experimentam a possessão por outro espírito, como num caso de transe mediúnico. Havendo testemunhado pessoalmente cerimônias espíritas no Centro Espírita Allan Kardec, em São Paulo, o Dr.
Cheek chegou à conclusão de que 75% dos pacientes que o visitam procurando auxílio sofreram em um ou outro momento de sua vida um trauma que reduziu sua aura de proteção até o ponto em que um espírito desencarnado pudesse ter acesso e, dependendo do caso, talvez até já tivesse entrado em seu corpo. Ainda que esta idéia seja ousadíssima e inusitada, talvez chegue a ser útil aos terapeutas. Está claro, de qualquer forma, que a introdução do conceito de sinalização ideomotora aos participantes da conferência Treat enriqueceu a discussão sobre os usos e possíveis perigos da hipnoterapia, já que aquele conceito parece permitir a possibilidade de se ter acesso aos níveis profundos da memória das testemunhas, sem afetar a integridade de seu conteúdo.
O Fenômeno UFO continua sendo um mistério multifacetário que resiste às tentativas mais brilhantes de ter suas profundezas sondadas. O contato com o fenômeno parece ter um contexto de situações que vai da profecia inspirada as ilusões paranóicas de quem se transformou em testemunhas de seus estranhos contatos
A maioria dos investigadores e ufólogos que trabalham com testemunhas durante anos tende a centralizar-se no nível verbal de seus relatos, sendo que um debate sobre a corrupção das lembranças das testemunhas/vítimas termina sempre com resultados não conclusivos. Certamente, o Fenômeno UFO continua sendo um mistério multifacetário que resiste inclusive as tentativas mais brilhantes e coordenadas de se sondar suas profundezas. O contato com o fenômeno parece extrair todo um contexto de situações que sempre houve e haverá, começando pela profecia inspirada e terminado com as ilusões paranóicas das pessoas que se transformam em testemunhas de seus estranhos contatos e demonstrações.
Para sermos justos com as gerações anteriores de profissionais de Medicina, é compreensível que, em seu desejo de viver num mundo racional, esses tenham rechaçado como malucas muitas das pessoas que afirmavam terem vivenciado experiências ufológicas. Sobre a base desse fundo social, o fato de que um número crescente de psicoterapeutas nos EUA estejam dispostos a reunir-se com seus colegas numa intenção de criar uma nova atmosfera de trabalho, bem mais aberta ao tratamento dos traumas experimentados pelas testemunhas/vítimas de ETs, é nada menos do que histórico – e, com certeza, nos revelará interessantes surpresas no futuro.