No final 2009, em fase adiantada de sua campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) pôde incorporar aos êxitos já alcançados na liberação de documentos ufológicos pelo Governo Brasileiro um volumoso pacote com novos papéis e fotografias que revelam em detalhes o funcionamento do órgão que a Aeronáutica criou, em 1969, em plena Ditadura Militar, para pesquisar a presença alienígena em nosso país, o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani). O novo lote de documentos não veio diretamente do Governo, como resultado do referido movimento — que já produziu a abertura de mais de 4.000 páginas. Ele foi cedido por um empresário que, mesmo sendo civil, foi recrutado para atuar no Sioani até seu fechamento, em 1972, quando manteve para si importantes arquivos com o propósito de que viessem a se tornar públicos um dia.
Em 2001, esse autor contatou o empresário e dele recebeu uma caixa com impressionantes 1.310 páginas de antigos arquivos produzidos pelo Sioani em seus processos investigativos. Com elas estavam também 28 croquis e desenhos — inclusive coloridos — de naves alienígenas observadas em várias partes do país, 64 fotos de testemunhas e locais de avistamentos e 137 páginas de dossiês também coloridos, tudo material oficial resultante da ação investigativa daquele órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), que, durante sua curta existência, de 1969 a 1972, ocupou as instalações do IV Comando Aéreo Regional (COMAR 4), no bairro de Cambuci, na capitalpaulista. A entidade, como se sabe hoje, nunca foi realmente secreta, mas reservada, e tinha em seus quadros tanto militares quanto civis, como é o caso de nossa fonte.
Forte vontade pessoal
Os documentos entregues pelo empresário foram conservados por esse autor até 2009, quando então, por solicitação dos membros da CBU, foram repassados à entidade para que pudessem compor o volumoso acervo de arquivos já liberados pelo Governo Brasileiro registrando a manifestação ufológica em nosso país [Veja edição UFO 158, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. A decisão de oferecer o calhamaço à CBU se deu para cumprimento da vontade pessoal de nossa fonte, que reconhece sua grande importância e significado para a Ufologia Brasileira. “Quero que essas informações sejam conhecidas e que esse material seja estudado pelos ufólogos brasileiros”, disse. As pastas não constavam das liberações governamentais feitas até então — talvez porque, por estarem nas mãos de um civil, o Governo não tinha como liberá-las.
Por sugestão do conselheiro especial da Revista UFO, Fernando de Aragão Ramalho, uma cópia do material doado pelo referido empresário também foi enviada ao Arquivo Nacional, em Brasília, para que venha a servir como mais um elemento de pressão sobre o Governo, a fim de que libere novas pastas sobre UFOs e revele por completo o envolvimento militar nas pesquisas ufológicas no país. “Os questionamentos quanto à razão desse material ter sido mantido longe do conhecimento da Comunidade Ufológica Brasileira por tanto tempo já não pesam mais. O que importa agora é tirar proveito estratégico desse acervo para fins de mais abertura ufológica em nosso país”, declarou o coeditor da Revista UFO, Marco Antonio Petit, um dos artífices da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, ao lado do editor A. J. Gevaerd.
Chegar até esses impressionantes documentos não foi fácil. Em 1997, o empresário em questão, que os possuía desde o fechamento do Sioani, foi indicado pelo próprio chefe operacional do Sioani na época em que a entidade estava ativa, o major-aviador Gilberto Zani de Mello. Foi Zani quem informou que ele teria aquele calhamaço em seu poder. O encontro com o empresário se deu no interior de São Paulo, quando ele informou que recebera os documentos diretamente do major-brigadeiro José Vaz da Silva, fundador do Sioani, mas que estava cedendo apenas parte do que lhe fora confiado por ele. “Uma outra quantidade de documentos hoje está com um ufólogo do Paraná”, disse o homem sem informar a identidade daquela pessoa. Tal ufólogo paranaense ainda não decidiu ceder os documentos em seu poder para a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já — e com isso priva a Comunidade Ufológica Brasileira de conhecer seu conteúdo.
“Esqueça meu nome”
Na ocasião do encontro com o empresário, ele também descreveu em detalhes o funcionamento do Sioani e, embora tenha dito que resolveu entregar o acervo “para conhecimento da sociedade e preservação da memória da pesquisa ufológica oficial empreendida pelo órgão”, pediu a esse autor que não revelasse sua identidade, pelo menos por enquanto. “Esqueça meu nome e não me procure mais”, falou.
O calhamaço é impressionante e pode ser baixado em formato PDF do Portal da Ufologia Brasileira, o site da Revista UFO [Veja como em box nesta matéria]. Ele contém relatórios de inúmeros casos pesquisados pelos militares e ufólogos civis do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), que visitavam locais de avistamentos em vários estados do país — especialmente São Paulo — e entrevistavam testemunhas de casos que hoje compõem a história da Ufologia Brasileira. Nossa fonte nada cobrou e nem pediu pelos documentos. Ela teria participado ativamente das ações realizadas pelo órgão, que ocorriam quase sempre com o envio de grupos de três ou mais integrantes para levantamento de casos.
Acho essa liberação de documentos ufológicos pelo Governo uma iniciativa ótima para todos, pois levará a uma abertura de forma global também na mente dos indivíduos. Aprendi muito tendo participado do Sioani
Ainda segundo o empresário, as amostras recolhidas em cenários de acontecimento de casos ufológicos investigados pelo Sioani eram encaminhadas para análise em laboratórios especializados, e muitas vezes seguiam para um endereço não sabido em Brasília. Ele confirmou que o assunto era considerado de suma importância para Vaz da Silva e para o alto Comando da Aeronáutica, e que o trabalho no Sioani era desenvolvido com metodologia científica, seguindo regras específicas na condução das entrevistas com testemunhas — que chegavam a ser submetidas a exames psiquiátricos por um oficial médico da Força Aérea Brasileira (F
AB).
Hoje se sabe até que alguns integrantes do Sioani participavam de reuniões periódicas com militares de outros países para troca de informações, tanto que parte do material gerado pelo órgão era traduzida para o inglês e encaminhada para centros de pesquisas ufológicas estrangeiros. Para que se tenha ideia do que representava a existência de uma entidade como o Sioani no Brasil, naquela época, basta que se compare sua atuação com a forma como a presença alienígena na Terra era tratada pelo governo norte-americano e outros. Em 1969, enquanto em nosso país era lançado esse organismo oficial, aberto e responsável de pesquisas ufológicas, nos Estados Unidos era inaugurado o Projeto Livro Azul [Blue Book], para fazer exatamente o contrário, ou seja, negar a existência dos UFOs.
O funcionamento do Sioani
Entretanto, em que pese que as impressionantes 1.310 páginas desses arquivos e mais dezenas de imagens, fotos e desenhos sejam hoje parte do movimento que pede abertura ufológica no país — e assim do conhecimento de toda a Ufologia Brasileira —, faltava revelar a identidade de nossa fonte e colher dela uma entrevista que pudesse esclarecer ainda mais o funcionamento do Sioani, a partir de alguém que dele tomou parte e seu único integrante vivo atualmente, assim como saber o que pensa sobre a presença alienígena na Terra esse homem privilegiado — que teve a rara oportunidade de participar de investigações ufológicas realizadas oficialmente por um governo, especialmente em uma época em que outros tentavam negar a presença alienígena na Terra.
A lacuna que faltava
Finalmente, após algum trabalho de convencimento, a fonte de documentos ufológicos antes secretos, que registram a forma como o Governo Brasileiro lidava com a questão nos anos 60 e 70, resolveu vir a público. Isso ocorreu em 24 de junho de 2011, justamente na data em que se comemora o Dia Mundial da Ufologia, em sua residência no interior de São Paulo. Foi lá que o empresário, hoje aposentado, recebeu esse autor e sua esposa, Margareth Orlandi, para conceder essa entrevista exclusiva à Revista UFO. Seu nome é Acassil José de Oliveira Camargo e tem 78 anos. Ele não apenas foi um dos mais ativos investigadores do Sioani como atuou como desenhista oficial da equipe de militares, por seu talento artístico.
Seu dinamismo, inteligência e especialização em sociologia foram determinantes para a realização de muitas pesquisas empreendidas pelo Sioani na época. “Foi uma experiência marcante, que felizmente agora pode ser de conhecimento de todos”, diz. Camargo hoje se dedica integralmente à pintura de arte abstrata por meio de figuras geométricas — suas premiadas obras têm sido exportadas para vários países. Último integrante vivo de um dos mais complexos e bem estruturados organismos governamentais de pesquisa ufológica em todo o mundo, ele não tem receio de falar o que viu nas atividades do Sioani. “Os tempos são outros e hoje o que importa é a transparência”.
Bacharel em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia de Itapetininga, onde também fez pós-graduação, Acassil José de Oliveira Camargo é hoje proprietário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Tatuí, no interior de São Paulo, onde reside. Tornou-se especialista em administração escolar e em metodologia de ensino superior, foi vereador e chegou a exercer a presidência da câmara municipal de sua cidade, em 1972. Extremamente ativo, foi ainda diretor do jornal Integração e ocupou vários cargos no aeroclube local. Em abril do ano passado, algumas de suas obras foram exibidas no Espaço de Exposições do Centro Cultural Municipal de Tatuí. Eram pinturas e também esculturas em argila representando pessoas ilustres de sua cidade. Enfim, agora se sabe de onde vem o talento que produziu os únicos desenhos coloridos de UFOs já produzidos por um governo, revelados pela Revista UFO em sua edição 158 e reproduzidos aqui. Vamos finalmente à entrevista.
Homem à frente de seu tempo
Antes da oficialização do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) pela Força Aérea Brasileira (FAB), em 1969, o senhor já pesquisava o Fenômeno UFO? Eventualmente. Tive contato com a testemunha de um caso de avistamento de OANI [Os militares do Sioani cunharam e usavam a expressão “objeto aéreo não identificado” para designar os UFOs, daí derivando o nome da entidade] em forma de luz ocorrido em Tatuí, com o engenheiro agrônomo Armando Pittinelli. O fato se deu em 1955 e o doutor Pittinelli, naquela época, realizava um importante trabalho na cidade, promovendo o desenvolvimento da agricultura na região, vindo a falecer em 1991, aos 77 anos.
De quem partiu a ideia de criar o Sioani e quando se deu sua oficialização? O órgão foi idealizado pelo brigadeiro José Vaz da Silva, que era um homem bem à frente de seu tempo, considerado inteligente e de vanguarda. Em 1968, o major-aviador Gilberto Zani de Melo, que chefiou o Sioani, já realizava pesquisas esparsas em algumas cidades do interior de São Paulo. Mas foi somente em 1969 que ele foi oficializado com o objetivo de investigar e pesquisar cientificamente o fenômeno dos objetos aéreos não identificados.
Onde se localizava o órgão e por que o local escolhido? O escritório funcionava na Praça Professor Oswaldo de Vincenzo 200, no bairro Cambuci, em São Paulo. É ali que fica até hoje o IV Comando Aéreo Regional (COMAR 4), que foi escolhido como sede porque o brigadeiro Vaz era seu comandante na época e a ideia de pesquisar os OANIs partiu dele — o Sioani nunca teve sua localização alterada até o encerramento dos trabalhos.
Por que o senhor foi escolhido para participar da entidade? Foi por causa de sua habilidade com desenhos? Na verdade, não foi por causa de minhas habilidades artísticas, mas devido ao meu conhecimento de sociologia — hoje sou bacharel e pós-graduado em ciências sociais. O desenho de discos voadores foi agregado à pesquisa depois. Além disso, a família do major Zani era da minha cidade, Tatuí, e eu tinha bom relacionamento com ele e com o brigadeiro Vaz.
O senhor era militar ou civil? E quem realizava o credenciamento do pessoal que participava do Sioani? Eu era e continuo civil, e fui o primeiro Ipoani da entidade, que era a sigla da designação dada aos investigadores e pesquisadores de
objetos aéreos não identificados do Sioani, geralmente pessoas de cultura universitária que participavam diretamente nos trabalhos da entidade. Minha carteirinha era a de número um e quem fazia os credenciamentos do pessoal do Sioani era o próprio major Zani.
Mais de 100 casos pesquisados
Como funcionava o Sioani e como eram suas normas? Quantas pessoas havia lá? Essas informações e detalhes estão no primeiro Boletim Informativo do Sioani, editado e liberado pela Força Aérea Brasileira (FAB) em 1969. Eu ajudei a compilar aquele informativo e também editei o segundo boletim com vários dados estatísticos dos casos pesquisados até então [Veja como baixar esses documentos nestas páginas].
Aproximadamente quantos casos foram pesquisados durante a existência do Sioani? Foram mais de 100 casos pesquisados desde sua oficialização até o encerramento das atividades.
Quais os materiais e equipamentos utilizados na época para as investigações de campo? Nós usávamos máquinas fotográficas, um magnetômetro e um contador Geiger, equipamentos de infravermelho e de ultravioleta, dentre outros.
Qual era a relação da central de operações com as unidades do Sioani, chamadas de Núcleos de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Nioani)? E como esse órgão de pesquisa enxergava os grupos ufológicos e pesquisadores independentes naquela época? O primeiro Nioani também surgiu em Tatuí e a relação desses núcleos com a central era muito amigável. O sistema era aberto e os grupos e pesquisadores credenciados eram vistos como colaboradores e parceiros.
Além de sociólogo, o senhor tinha outras atribuições dentro da equipe? Participava de reuniões no Brasil e exterior? Havia troca de informações e materiais com entidades estrangeiras? Eu ajudava na elaboração de croquis durante as entrevistas com testemunhas e na confecção dos boletins informativos. Na verdade, fazíamos de tudo um pouco, pois o contingente destacado para as tarefas era pequeno. Em relação às reuniões no exterior, eu participei de algumas a pedido do ministro da Aeronáutica, mas foram após o encerramento do Sioani. Trocávamos informações sobre o assunto com a França, que estava avançada nas pesquisas, e, dos Estados Unidos, com o Projeto Livro Azul [Blue Book] — que estava sendo encerrado por não ter detectado percentual de credibilidade relevante nos casos analisados para sustentação do programa. Assim, após uma dessas reuniões, no retorno ao Brasil, aconteceu que a pesquisa aqui também começou a esfriar.
Observação psiquiátrica
Como eram realizadas as entrevistas com testemunhas de casos ufológicos? Era empregada alguma técnica para detectar fraudes? As pesquisas iniciais com entrevistas eram realizadas geralmente por quatro pessoas: o major Zani, eu e mais dois militares. Em uma segunda abordagem, agora para pesquisa complementar, o tenente médico João Edney Carvalho Ribeiro tomava parte dos trabalhos aplicando à testemunha um questionário de observação psiquiátrica. Durante a elaboração dos croquis eu utilizava a técnica de confeccionar detalhes incorretos nos desenhos apresentados ao observador, para ver qual tinha sido a atenção dele em relação ao OANI avistado. Geralmente, quando a história era mentirosa, a testemunha não prestava muita atenção nos detalhes e acabava dizendo que o desenho com formas diferentes que eu fiz era igual ao que ele descreveu — o que era um forte indício de que a testemunha estava inventando o caso. Por outro lado, quando a testemunha insistia na correção do desenho, apesar de eu apresentar várias versões do OANI até a obtenção do croqui final, essa atitude evidenciava maior credibilidade na narrativa da ocorrência.
Como era feita a coleta de amostras e as análises e evidências físicas, tais como fotos, filmes, solo, vegetação, fragmentos etc? As fotografias eram encaminhadas para análise dos especialistas. E quanto à coleta de amostras de solo nos locais de pousos, éramos nós mesmos que as realizávamos sem usar luvas ou qualquer técnica mais aprimorada. O material era depois encaminhado para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP). Às vezes, era encaminhado para laboratórios nos Estados Unidos.
Em 1969, em Lins e Jales, no interior de São Paulo, uma nave deixou marca de pouso em forma de círculo, e no local nunca mais nasceu grama. Quais foram os resultados das análises daquele solo, encomendadas ao ITA? Nunca soubemos dos resultados, pois os relatórios não passavam pelas nossas mãos.
Qual foi a cidade ou localidade que mais teve relatos de avistamentos de OANIs durante o funcionamento do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani)? Creio que foi Lins, onde dezenas de casos foram relatados.
Ainda em Lins, às 21h00 de 07 de outubro de 1968, cerca de 400 alunos, professores e diretores do Instituto de Educação 21 de Abril viram uma bola de fogo cruzar o céu da cidade. Houve algum outro caso que o senhor pesquisou envolvendo tantas testemunhas, como esse? Não. Esse é o único de que me lembro.
E qual foi o ano de maior incidência de fenômenos ufológicos, segundo os registros do Sioani? Seguramente foi 1969. Mas me lembro de que no ano anterior a imprensa divulgou dezenas de ocorrências de OANIs no interior de São Paulo — o aumento dessas aparições também colaborou para a oficialização do órgão.
Avistamentos em aeroportos
Houve algum incidente pesquisado pelo Sioani envolvendo aviões e OANIs? Não me recordo de nenhum, somente de casos de avistamentos sobre pistas de aeroportos, de OANIs próximos ao solo nesses locais. Mas, eram pouquíssimas ocorrências.
Enquanto o senhor esteve no Sioani, viu algum OANI ou viveu alguma experiência que gostaria de relatar? E durante as vigílias realizadas pela equipe de militares, alguma vez foi avistado ou documentado algum OANI ou tripulante? Infelizmente eu não vi nada. Apesar de participarmos de várias vigílias noturnas em várias cidades, nós não observamos e nem registramos qualquer fenômeno. As pessoas nos relatavam que viam muitas luzes, mas até sabermos o que realmente eram aqueles fenômenos, a história é outra. Lembro-me de que fui com dois militares à cidade de Alexânia, em Goiás, onde um oficial do Exército [O então general Alf
redo Moacyr de Mendonça Uchôa] disse terem surgido luzes naquela localidade, mas também lá nada vimos durante a vigília noturna que realizamos [Na Fazenda Vale do Rio do Ouro].
Durante os anos em que o senhor esteve pesquisando com o Sioani, qual foi o caso que mais o impressionou e por quê? Foi um fato ocorrido em Piracicaba, também no interior de São Paulo, pela riqueza de detalhes do OANI observado. Mas, pessoalmente, não acreditei nesse caso, pois a imaginação da testemunha era muito fértil. Porém, me impressionei por causa dos detalhes do OANI que ela descreveu.
Houve ocorrências de fenômenos ufológicos na sua cidade, Tatuí, pesquisados pelo Sioani? Sim. Lembro-me de um caso de avistamento de luzes lá. Ocorreu em uma madrugada de 1968 na Praça da Cadeia, entre a Rua José Bonifácio e a Rua Coronel Bento Pires. Na ocasião, duas testemunhas [Orlando Paulino da Cruz e o vigia José Carlos Molitor] viram um OANI ovalado de cor verde-azulada. Segundo sua descrição, o OANI era do tamanho de um Karmann Ghia e causou apagão nas imediações no momento da observação. O tenente Carvalho fez um relatório de observação psiquiátrica sobre uma das testemunhas [José Molitor].
Em 1969 havia rumores de que o fenômeno às vezes demonstrava hostilidade contra humanos. O senhor esteve em Goiás em outra ocasião, juntamente com o major-aviador Gilberto Zani de Mello, para pesquisar um caso acontecido em agosto de 1967 com o capataz de uma fazenda, que teria sido atingido por um raio verde e morrera de leucemia em poucos dias [Caso Crixás]? O que há de verdade sobre esse episódio? Sim, eu estava na equipe chefiada pelo major Zani, em 1969. Lembro-me de que o fazendeiro ficou muito bravo e incomodado com a nossa presença. Mas as investigações confirmaram que o capataz já era leucêmico antes do episódio.
Houve alguma ocorrência pesquisada pelo senhor no litoral paulista? Algum caso envolvendo a Base Aérea de Santos, por exemplo? Sim, tanto em Santos quanto em Itanhaém, o primeiro em 1961 e o segundo na década de 50. Mas, envolvendo a Base Aérea de Santos, eu não me lembro de nenhuma ocorrência.
Informações restritas
O Governo tinha conhecimento e acesso às pesquisas e aos relatórios produzidos pelo Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani)? Não, eles eram totalmente restritos à Força Aérea. Nosso órgão de pesquisa era subordinado ao ministro e os resultados eram encaminhados para o Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER). Todavia, os boletins gerados com regulamentos, orientações e resumo estatístico das ocorrências pesquisadas eram enviados para algumas instituições e para nossos colaboradores. Havia determinação para que qualquer conclusão ou mesmo comentário sobre as pesquisas só pudessem ser feitos pela chefia do órgão.
Houve algum tratado de cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos para a pesquisa ufológica? Ou algum outro país trocou informações sobre o assunto com a Força Aérea? Sim. Além dos Estados Unidos, a França também tinha interesse em trocar informações sobre o tema conosco.
Por que, afinal, o Sioani encerrou suas atividades em 1972? Isso ocorreu devido à troca do comando do IV Comando Aéreo Regional (COMAR 4), quando o brigadeiro José Vaz da Silva, fundador do órgão, saiu. Ele temia que o novo comandante não tivesse simpatia com o assunto e que, talvez, descartasse todo aquele material de pesquisa acumulado. Assim, o brigadeiro Silva solicitou que tudo fosse retirado e guardado, para sua preservação e por considerar importante.
Hoje, o que o senhor pensa das pesquisas realizadas pelo Sioani e qual é sua posição sobre o Fenômeno UFO? Aquela foi uma ótima oportunidade de aprendermos mais sobre o assunto, pois na época tivemos o privilégio de conversar e trocar ideias com os melhores especialistas de várias áreas científicas. Pessoalmente, acredito que a maioria dos casos ufológicos relatados pode ser explicada, pois existem muitos fenômenos naturais que confundem as pessoas — e ainda mais naquela época, quando fazíamos as pesquisas, pois as testemunhas tinham pouca instrução e algumas chegavam até a inventar histórias.
Que tipo de explicações o senhor acha que esses casos podem receber? Só para exemplificar, os cientistas Michael Persinger e Brian Preire comprovaram que os movimentos das placas tectônicas, falhas geológicas e abalos sísmicos emitiam gases quentes ionizados que produziam fenômenos luminosos que eram confundidos com OANIs [Teoria denominada Tectonic Strain Theory of UFOs ou Teoria de Tensão Tectônica para os UFOs, que levou Persinger a afirmar, em 1960, que 90% dos casos de terremotos
eram acompanhados por depoimentos de avistamentos ufológicos].
O que o senhor pensa sobre a atual liberação de documentos governamentais antes secretos sobre discos voadores, tanto no Brasil quanto em outros países? Acho essa liberação ótima para todos, pois levará a uma abertura na mente dos indivíduos de forma global. Aprendi muito participando do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani). Tive que aprofundar meus conhecimentos em matemática, física, química, astronomia, meteorologia, dentre outras ciências. Afirmo que vale a pena a liberação para a população de documentos oficiais de pesquisas ufológicas realizadas pela Força Aérea Brasileira (FAB). Essa transparência fará com que outras pessoas sejam despertadas para o estudo desse intrigante tema.
Baixe os documentos da Aeronáutica
O Revista UFO disponibiliza em sua área de transferência de arquivos (FTP) todos os documentos secretos da Aeronáutica obtidos através de liberações oficiais, vazamentos e de doações, como as de Acassil Camargo. Você pode baixá-los neste endereço: ufo.com.br/documentos