Nosso país reúne uma grande coleção de importantes episódios ufológicos, e entre eles o mais famoso e internacionalmente conhecido é, sem dúvidas, o Caso Varginha. Ocorrido em janeiro de 1996 naquela cidade de Minas Gerais, o evento é muitas vezes comparado ao Caso Roswell, uma vez que envolveu a queda de uma nave, a captura de seres não humanos e uma forte interferência do Exército Brasileiro.
Incessantemente pesquisado desde o princípio, a ocorrência ainda está cercada de mistérios, polêmicas e acobertamentos, indicando que, muito embora as autoridades insistam que nada de extraordinário tenha acontecido, a verdade é outra. Varginha esconde segredos que ultrapassam os debates simplistas, a negação dos céticos, as dúvidas dos pesquisadores e a exploração da mídia — há segredos impactantes envolvendo o episódio e alguns deles são mortais.
As investigações em busca da verdade sobre o que aconteceu naquele distante janeiro de 1996 nunca pararam e, em 2009, este autor juntou-se à pesquisa, em busca de novas testemunhas que tenham participado dos acontecimentos, ainda que apenas em algum seguimento deles. Desde então, em minhas várias visitas à cidade, percebi que pessoas que tiveram algum envolvimento com o caso ainda demonstravam receio de revelar o que sabem, com medo de sofrer algum tipo represária por parte das autoridades militares. Mesmo já tendo se passado mais de duas décadas da eclosão dos fatos, o medo persiste, mostrando o quanto as Forças Armadas pressionaram e assustaram a população.
Testemunha ocular
Se fôssemos colocar em porcentagem aquilo que conseguimos descobrir sobre o que houve na cidade em 1996, poderíamos dizer que conhecemos apenas um terço dos fatos, ou seja, ainda há muito para vir à luz. Por exemplo, em nossas viagens para pesquisar o caso, conhecemos em 2014 um vendedor de 51 anos chamado Marco Pedreira, que reside em Varginha desde que nasceu e, portanto, conhece bem a cidade. Pedreira aceitou colaborar com as pesquisas e concedeu uma entrevista contando o que viu.
Segundo ele, em 20 de janeiro de 1996, data na qual três meninas, as primeiras testemunhas, disseram ter visto um ser estranho em um terreno baldio, por volta das 16h00, quando passava de carro pelo Jardim Andere e notou uma movimentação estranha por parte de militares do Exército e do Corpo de Bombeiros. Pedreira parou o veículo e foi conversar com um dos homens que cercavam parte da rua com cones de trânsito. Aqui vale lembrar que o bairro foi o epicentro dos acontecimentos do Caso Varginha.
Ao perguntar ao soldado o que havia acontecido e a razão daquela movimentação toda ao lado do matagal que dividia o Jardim Andere do Bairro Santana, Pedreira teria sido informado pelo militar que os soldados estavam capturando um animal estranho, sobre o qual nem mesmo ele tinha maiores informações. Em seguida, o homem pediu à testemunha que retornasse a seu veículo. Quando se aproximava do automóvel, Pedreira ouviu um tiro vindo do matagal, de onde, minutos depois, viu sair alguns militares com uma rede carregando algo que ele não soube identificar — a testemunha também relatou que os militares colocaram o “material” que carregavam em um dos caminhões camuflados do Exército, parado no canto do matagal, com sua parte traseira virada para o fundo da mata. O homem, então, entrou em seu carro e foi embora.
Pedreira nos relatou também que, semanas após o incidente, foi ao velório de Marco Eli Chereze, o soldado do serviço secreto da Polícia Militar de Minas Gerais que capturou uma das criaturas sobreviventes da queda do UFO por volta das 17h30, do dia 20 de janeiro. Um dos fatores que chama a atenção foi a testemunha ter observado, ao se aproximar do caixão durante o breve velório de Chereze, em suas próprias palavras, que, “parte do corpo do militar estava esverdeado”, o que lhe causou estranheza. Pedreira também disse que “foi tudo muito rápido e logo o caixão foi conduzido para o destino do enterro”.
O que se supõe que tenha ocorrido é que no momento em que Chereze tentava capturar um dos seres tenha havido algum tipo de luta corporal para imobilizarem a criatura, que provavelmente resistia aos soldados. De acordo com o levantamento feito pelos pesquisadores, Chereze teria colocado o ser no banco de trás de seu Fiat Prêmio e, junto ao seu companheiro de serviço, o cabo Erick Lopes, recebido ordens de seus superiores para levar a criatura para o Hospital Regional do Sul de Minas, situado no centro de Varginha. Talvez, no embate com a captura, o rapaz tenha se ferido e os ferimentos tenham causado um quadro de infecção generalizada, conhecido como septicemia, o que justificaria as manchas esverdeadas vistas pela testemunha no corpo do militar, algo que não é incomum nesse tipo de mal.
Morte misteriosa
Ainda assim, é difícil compreender como um soldado de 23 anos, forte, saudável e de porte atlético, como Marco Eli Chereze — que havia inclusive passado nas últimas provas e testes físicos e mentais para servir como sargento da polícia —, pôde falecer em meros 26 dias e até hoje se desconhecer a verdadeira causa do óbito. Se o militar faleceu de septicemia, o que a desencadeou?
As principais informações que temos vieram de Marta Tavares, irmã do policial morto, que afirma que Chereze participou da captura e que as autoridades brasileiras estavam escondendo da população — e da própria família — o que realmente havia acontecido ao rapaz. A testemunha acredita que seu irmão foi contaminado por uma substância desconhecida transmitida pela criatura, e que isso teria atacado seu sistema imunológico, levando-o à morte. Marta disse não entender porque a Justiça demorou 13 meses para liberar o laudo da autópsia do rapaz, e quando o fez, veio faltando a segunda página do documento.
Tentando entender essa parte do caso, decidi procurar o médico Cesário Lincoln Furtado, responsável por atender o soldado 20 anos antes. Furtado nos recebeu com muita cordialidade em seu consultório, dispondo-se a responder a algumas questões sobre a doença de Chereze. Ao marcar o encontro, informei ao médico que realizava a entrevista para a Revista UFO e também para o documentário 701, The Movie [701, O Filme] que será lançado nos Estados Unidos em 2018. James Fox, diretor da película, se interessou em vir ao Brasil para entender e documentar melhor o que realmente se passou em janeiro de 1996. A seguir, veremos a entrevista realizada com o doutor Furtado.
Voltando 20 anos no tempo, relembrando o período em que o senhor teve contato com o soldado Marco Eli Chereze, o que pode nos relatar sobre o evento?
Bem, quando o rapaz foi atendido no Hospital Bom Pastor, apresentava febre alta e dores nas costas, sendo que seu estado evoluiu rapidamente para um quadro de septicemia, o que ocasionou sua transferência para o centro de tratamento intensivo (CTI). Apesar de termos usado os melhores an
tibióticos intravenosos disponíveis na época, o rapaz não resistiu e faleceu em menos de 48 horas.
Conversando recentemente com Marta Tavares, irmã do soldado, soube que ela teria aberto um processo judicial para apurar a morte de Chereze, alegando que os profissionais que cuidaram dele também foram responsáveis pelo falecimento. Gostaria que o senhor comentasse sobre esse episódio.
Sim, ela entrou com um processo contra todos os médicos que cuidaram do irmão, achando que havia sido um caso de negligência médica e que ele teria sido malcuidado. Mas não foi nada disso. Ele realmente foi internado com um quadro extremamente grave de infecção, atípico para um rapaz tão jovem, e isso o levou a óbito em pouquíssimo tempo. Não havia nenhum tipo de recurso para cuidar daquela infecção além dos remédios que ministramos, e tudo indicava que as defesas do organismo do rapaz já estavam bem prejudicadas. Com certeza, foi isso o que causou sua morte. Quanto aos processos, eles não deram em nada porque ficou provado que o paciente foi muito bem tratado e que foram utilizados os principais recursos que tínhamos na época — o problema estava no sistema imunológico do rapaz, que não respondeu ao tratamento.
Marta Tavares também afirma que o irmão estava muito bem de saúde e que era um rapaz atlético, que fazia diversos tipos de exercícios e que por isso estranhou uma infecção matá-lo em tão pouco tempo. O senhor pode acrescentar algo à essa afirmação?
Sim, ele era saudável e rígido, porém pegou uma infecção que evoluiu de forma drástica em poucas horas. Isso é característica de pessoas que têm problemas imunológicos. Porém, em todos os meus anos como médico nunca vi algo parecido. Foi um caso muito raro para todos nós. Os dois diagnósticos que fizemos para avaliar o sistema imunológico do rapaz mostraram infecção urinária e pneumonia. Essas são doenças comuns, que não levariam uma pessoa de 23 anos, forte e saudável, à morte. Mas o caso dele evoluiu para uma septicemia seguida de óbito em menos de 48 horas após a internação. Não é comum. O mais interessante é que a cultura de urina que fizemos mostrou uma bactéria sensível ao antibiótico que ele estava tomando, o que torna tudo ainda mais difícil de explicar.
O senhor saberia dizer se o soldado Chereze chegou com algum ferimento, como arranhões, por exemplo, ao local de atendimento? Se sim, saberia dizer como surgiram tais ferimentos?
Bom, segundo a irmã dele, os ferimentos foram adquiridos durante uma operação de captura, quando ele teria sido atingido por algo. Mas essas são as palavras da irmã do paciente. Eu só conheci o rapaz e sua história a partir do momento em que ele deu entrada no hospital, quanto então Marta relatou essa história. Não conheço absolutamente mais nada. O restante da história eu sei apenas pela televisão, como todo mundo. Nem eu e nenhum médico de minha equipe sabemos algo além disso. Não tivemos nenhuma nova informação.
O senhor saberia dizer se Chereze chegou a ser transferido de hospital?
Sim. Ele passou primeiro pelo pronto atendimento, foi transferido para o nosso hospital e posteriormente para o centro de tratamento intensivo (CTI) de outro hospital. Ele foi atendido por outros médicos também, como você pode imaginar. Eu e minha equipe de residentes o atendemos e fizemos todo o acompanhamento de seu quadro, até a transferência para o centro de tratamento intensivo.
Durante esses 20 anos desde o Caso Varginha ouvimos várias vezes a especulação de que o senhor teria recebido algum tipo de ameaça por parte das Forças Armadas por colaborar com os ufólogos. Essa informação procede?
Eu nunca sofri ameaça alguma. Outras pessoas se dizem ameaçadas, mas eu nunca passei por isso.
Quanto à história divulgada pelos pesquisadores da época, sobre o envolvimento das Forças Armadas na captura de seres extraterrestres em Varginha, qual sua opinião? O senhor acredita nessa possibilidade?
Sim. Vou lhe responder não como médico, mas como um cidadão comum. Se a maioria da sociedade acredita na história, acho que eu também tenho que acreditar, correto?
Para encerrarmos, eu gostaria de saber se o soldado Chereze pode ter adquirido a infecção que o matou durante as quase 48 horas que ficou internado sob os cuidados do senhor e de sua equipe. Isso seria possível?
Veja, em medicina nada é impossível, mas o caso dele foi totalmente atípico, anômalo e não encontramos uma explicação satisfatória para o que aconteceu. E ainda temos toda essa história da captura de um ser estranho… Nos exames que fizemos, o paciente não apresentou os quadros de baixa imunológica habituais como, por exemplo, baixa de glóbulos brancos ou AIDS, doença que na ocasião era bastante comum. Nós fizemos os exames, mas eles deram negativos, ou seja, ele não tinha nenhuma doença habitual detectável — demos a ele os remédios mais fortes que tínhamos, esperando uma melhora, mas ele piorou assustadoramente com os medicamentos e morreu pouco tempo depois.
A pesquisa continua
Ao sair do consultório do doutor Cesário Lincoln Furtado, percebi que havia muitos pacientes esperando para serem atendidos por ele, o que justificava sua pressa. A certeza que ficou é a de que algo muito sério aconteceu com aquele jovem soldado e que não há uma explicação sólida para sua morte. Para este pesquisador, não há dúvidas quanto ao envolvimento de Marco Eli Chereze na captura de umas das criaturas. Neste ano de 2017 o Caso Varginha completou 21 anos e nós ainda acreditamos que com o tempo mais testemunhas surgirão, e nós continuaremos nossas pesquisas na cidade em busca de novidades que revelaremos conforme forem surgindo.