“Olhei para cima e vi aquilo sobre mim. Já tinha ouvido as pessoas me descreverem como era o tal ‘aparelho’, mas nunca tinha visto um pessoalmente. De repente, em plena luz do dia, lá estava aquilo, enorme e poucos metros acima de minha cabeça, zunindo e emitindo uma luminosidade de grande intensidade e de cores belíssimas”. Com essas palavras a médica psiquiatra Wellaide Cecim Carvalho descreveu a observação que fez de um objeto voador não identificado na rua principal da Vila de Colares, no lado norte da ilha de mesmo nome, num fim de tarde em 1977, inesquecível para ela. Na ocasião estava acompanhada de três outras testemunhas – uma das quais desfaleceu ao ver o artefato. Doutora Wellaide era então uma médica jovem, com apenas 21 anos e especialização em sanitarismo, que acabara de se graduar e ter como seu primeiro emprego o cargo de médica e diretora da Unidade de Saúde da ilha, uma construção relativamente bem equipada situada no centro da vila, a apenas uns 150 m da praia fluvial que a banha. Apesar de bastante jovem, Wellaide formou-se com distinção e foi alçada ao seu primeiro cargo ainda na faculdade, por méritos acumulados.
Ela preferia ter sido engenheira automobilística, mas abraçou a medicina por sugestão do pai, e o fez com determinação. No entanto, nada do que aprenderia durante seu curso na instituição de ensino a prepararia para o que iria encontrar em seu primeiro emprego, na referida ilha, a 96 km de Belém. Tendo assumido o cargo logo no primeiro semestre de 1977, a doutora Wellaide passou rapidamente à condição de personagem de grande relevância na localidade – Colares tinha, na época, cerca de 10 mil moradores. Formava com o prefeito, o juiz, o padre e o delegado do local o time de autoridades a quem as pessoas recorriam em quaisquer circunstâncias. Mas era ela quem resolvia todas as principais questões de saúde da ilha, atendendo desde crianças até idosos. “O que mais tínhamos em Colares eram pacientes atacados por arraias”, diz a médica, que prestou socorro a indivíduos com mais de 30 picadas do animal, comum nas águas daquela região.
Cambaleante e apática — A partir de julho daquele ano, com poucas semanas no cargo, a médica se surpreendeu ao receber na Unidade Sanitária um grupo de pessoas – duas delas carregavam uma terceira, cambaleante e apática, visivelmente afetada por algo. Era Claudomira da Paixão, uma moça de pouco mais de 20 anos que apresentava um quadro atípico e novo para a médica. Sem conseguir ficar em pé nem falar, pálida e em estado de choque, a paciente tinha uma intensa e profunda queimadura em seu tórax, numa área que ia desde pouco abaixo do seio esquerdo até o ombro, e da lateral do peito até a região central, o que se chama de hemitórax na medicina. No pescoço ainda havia duas pequenas perfurações, semelhantes a picadas de algum inseto. O que mais chamou a atenção da doutora Wellaide é que a pele da vasta região queimada já estava totalmente necrosada, indicando que o ferimento teria ocorrido pelo menos há uns 3 ou 4 dias. Mas não. Segundo os familiares que a carregavam, o fato tinha acontecido poucos minutos atrás.
“Estávamos todos juntos quando vimos aquilo descer e iluminar tudo. De repente, ela foi atacada e a gente não conseguiu fazer nada, nem se mexer, para acudi-la. Em pouco tempo o ‘aparelho’ foi embora e ela já estava queimada. Daí a gente a trouxe pra senhora ver”. Foi isso o que declararam os acompanhantes da enferma. Mas a história não fazia nenhum sentido para a doutora Wellaide. O que era o tal artefato? Como poderia ter imobilizado as testemunhas, a ponto de impedir que socorressem quem estava sendo atacado? E, por fim, qual era o objetivo daquele ataque? A médica chegou a considerar todas as hipóteses, desde alucinação coletiva das testemunhas, delírio, até eventual ação de animais e aves predadoras. Mas nada justificava o que ela via com seus próprios olhos. A pele da moça pôde ser removida com certa facilidade, apesar da dor intensa. Por baixo dela permanecia carne viva. Medicada, Claudomira foi para casa amparada pelas mesmas pessoas que a trouxeram. Depois disso sua vida “desandou”, como dizem naquela região os indivíduos que foram acometidos pelo chupa-chupa, que constatam com tristeza que suas vidas simplesmente se deterioram.
O relato acima é um exemplo típico do tipo de ação do referido fenômeno, que nas ilhas e regiões ribeirinhas do litoral fluvial do Pará recebe também outras denominações: aparelho, luz vampira, luz diaba, coisa etc. Hoje em dia, com o arrefecimento dos casos – pelo menos em número e intensidade – outra designação implica o chupa-chupa, uma expressão folclórica específica daquele Estado: a lenda da Matinta Pereira. É muito raro encontrar algum morador de toda aquela vasta região que não tenha uma história própria ou que não conheça a de outra pessoa referindo-se a tal lenda. Assim como era quase impossível, nos anos 70 e 80, encontrar alguém nas ilhas de Mosqueiro e Colares que não tivesse sido atacada pelo chupa-chupnem conhecesse alguém que o fosse. Não se trata de exagero. Pelo contrário. A situação na região ficou tão grave que cerca de 5 dos 10 mil moradores abandonaram a ilha entre julho de 1977 e março de 1978.
Vidas arruinadas — “As pessoas simplesmente iam embora, com medo, pavor de serem atacadas, pois todos viam as luzes, ouviam os ruídos que elas emitiam e os militares da Aeronáutica que estavam lá para proteger o pessoal, nada faziam de efetivo”, declarou à Revista UFO a doutora Wellaide. A ilha foi quase abandonada, restando aos poucos moradores suas atividades rotineiras. E mesmo estas estavam prejudicadas. Num local como aquele, com uma significativa vocação rural, ninguém mais pescava e nem sequer plantava. Eles ficavam trancados em suas casas, muitas vezes juntava-se várias famílias numa única residência, com medo dos ataques. Chegou a faltar comida. A médica relata que quando o fenômeno chupa-chupa teve início, principalmente após julho de 1977, os ataques eram predominantemente noturnos, com raros casos antes das 21h00. “De repente, conforme os dias iam passando, aquelas máquinas e seus tripulantes ficaram mais ousados e os ataques passaram a acontecer também ao anoitecer, no centro do vilarejo”.
Com a gravidade dos fatos aumentando e as pessoas indo embora, a médica também acabou pensando na possibilidade. “Ora, até o delegado já tinha partido”, disse, r
eferindo-se ao senhor Olímpio de Almeida Souza, que partiu da ilha quando a situação se complicou. Mas foi dissuadida a permanecer na ilha pelo então prefeito Alfredo Bastos Filho, que implorou por sua presença lá, garantiu sua segurança e até determinou que ela nunca saísse só pela ilha, nem de noite, nem de dia. A doutora Wellaide residia a poucos metros do seu local de trabalho, e ainda assim ia sempre acompanhada para lá e para cá. Quando teve o primeiro contato, descrito acima, seus acompanhantes a tudo observaram. “Estávamos no meio da rua quando aquele objeto veio sobre nossas cabeças. Foi uma loucura. As pessoas que estavam nas casas gritavam através da janela e pedindo para que corrêssemos, mas eu não poderia fazê-lo e deixar minha secretária desfalecida lá”. Wellaide também confirma que os militares da Operação Prato que estavam acampados na praia poucos metros à frente, também lhe davam instruções para que fugisse.
A Amazônia tem um acervo estimado de casos que iguala o de todo o país
Semanas depois deste fato a médica teve num novo incidente, e também estava acompanhada. Desta vez foi mais ao anoitecer, mas o caso teve as mesmas características do primeiro, incluindo a apreensão de ser uma possível vítima do chupa-chupa, o que felizmente não ocorreu. Ao todo ela teve três contatos imediatos com o fenômeno, sendo que, no terceiro, estava sozinha. Tal fato ocorreu numa madrugada de outubro de 1977, quando dirigia seu Fusca pelos 6 km da estrada, então não pavimentada, que unem a Vila de Colares ao porto fluvial da parte sul da ilha, onde se pega a balsa para, numa rápida travessia sobre o Rio Guajará-Mirim, se chegar à Vila de Penhalonga, de onde se vai para Belém. Esse foi o contato mais aterrador da médica sanitarista, que a essa altura já tinha atendido mais de 50 pacientes atacados pelo chupa-chupa – sempre com as mesmas características.
Criatura de cabelos encorpados — Eram 04h00 quando a doutora Wellaide resolveu ir a Belém buscar mantimentos e provisões para a Unidade Sanitária que dirigia. Pretendia sair cedo para poder retornar rápido às suas atividades. “Naquela época os ataques eram diários – às vezes mais de um por dia – e eu não podia me ausentar por muito tempo”. De repente, no breu da noite, seu automóvel estancou repentinamente sob uma luminosidade intensa e amedrontadora. “Era algo que estava a alguns metros acima do Fusca, que eu não podia ver. Aquilo refletia uma luz que inundou o carro e iluminou tudo em volta”. Ela descreveu que a chave do veículo ainda estava no contato e na posição de funcionamento normal. Além do motor do carro parar, as luzes também cessaram. A experiência durou alguns minutos e o Fusca, tão misteriosamente quando parara, voltara a funcionar. A médica completou o resto do percurso até a balsa em disparada, chegando lá atônita e pálida.
O proprietário da embarcação teve que manobrar seu carro para que ela pudesse seguir viagem. “Quando aquilo ocorreu, não tinha para onde correr e fiquei ali rezando e pedindo para que nada me acontecesse. Não vi o formato do objeto, mas tenho certeza de que era semelhante ao que já vira antes”. Ela estava certa. Testemunhas depois confirmaram ter visto o mesmo fenômeno. Hoje se sabe, com a contribuição de doutora Wellaide, que todos os ataques que foram feitos na ilha e nas demais áreas da região litorânea fluvial do Pará partiram de um equipamento definido e bastante peculiar. Quando saiu da ilha para outro emprego, a doutora Wellaide contabilizou mais de 80 pessoas atendidas pessoalmente por ela, na Unidade Sanitária ou em suas próprias residências – e todas, sem exceção, descreviam o elemento agressor como sendo um artefato cilíndrico, com cerca de 3 a 4 m de base por 10 a 12 m de altura. Na parte superior do mesmo havia uma janela através da qual era possível se ver duas criaturas – “de cabelos encorpados e longos”, segundo a médica.
O aparelho agressor também tinha três anéis coloridos paralelos embaixo e em cima de sua fuselagem, de tons bem incomuns e vibrantes. O UFO emitia um zumbido ensurdecedor, semelhante ao de uma máquina de costura sem lubrificação. Ao primeiro sinal desse barulho os moradores já saíam correndo para se refugiar onde pudessem, sem sucesso. “No auge do chupa-chupa, as pessoas já estavam trancadas em suas casas às 14h00, pois os objetos chegavam cada vez mais cedo. Invadiam as ruas de Colares e penetravam em janelas e portas abertas, por brechas de paredes e telhados de sapé”. A doutora Wellaide relatou que partiu do próprio prefeito da cidade a iniciativa de pedir à população que batesse em latas e panelas para tentar afugentar os artefatos, igualmente sem resultado. Até mesmo café forte e fogos de artifícios foram oferecidos pela prefeitura aos cidadãos, para que não dormissem e tentassem avisar aos demais quando os objetos se aproximavam. Nada disso, no entanto, surtia efeito. “Crianças, jovens, mulheres, velhos, todo mundo, enfim, tinham um pavor mortal da manifestação das luzes”. No início do segundo semestre de 1977, eram um ou dois ataques por semana.
Situação incontrolável — Depois, lá por outubro do mesmo ano, eles ficaram diários e chegou a haver mais de três investidas no mesmo dia. Foi nessa época, compreendida entre setembro e dezembro, que a Força Aérea Brasileira (FAB) realizou na região a Operação Prato, pois no começo de 1978 as coisas já estavam em situação incontrolável. Sobre este fato, aliás, durante a entrevista que concedeu a este autor em 15 de agosto, que será reproduzida em nossa próxima edição, a doutora Wellaide fez uma revelação muito importante. Segundo ela, não foram apenas 10 ou 15 homens que compuseram a missão militar na ilha, mas mais de 30. “Cheguei a contar 33 militares, todos trabalhando em conjunto e sob ordens do coronel Uyrangê Hollanda [Na época, capitão]. Não tinham qualquer identificação nem nomes, mas seus uniformes tinham as tradicionais patentes”.
Quando os ataques se intensificaram, em poucas semanas Colares ficou deserta. Ninguém plantava, ninguém pescava. Estávamos quase
passando fome
– Wellaide Cecim Carvalho
A médica, que mais tarde chegara a ser secretária municipal de Saúde de Belém e subsecretária de Saúde do Pará, entre muitos outros cargos de relevância, relatou também que os integrantes da Operação Prato, ao contrário do que se sabia antes, levaram para Colares e instalaram em suas praias – em especial a central, defronte à vila, e a Praia do Machadinho, na região oeste – uma grande quantidade de equipamentos e até mesmo radares. De acordo com sua descrição, confirmada por outras fontes, quando os aparelhos detectavam algo emitiam uma sirene que ecoava pela ilha, alertando os moradores e assustando a todos. “Houve épocas em que a sirene tocava o tempo todo o só se via os militares correndo para lá e para cá. Parece que nem eles sabiam o que fazer”. Os homens comandados pelo coronel Uyrangê Hollanda tentavam auxiliar a população, em geral aconselhando, mas até obrigando os moradores a irem e permanecerem em suas casas, para não serem atacados.
Perfil de um suicida — Os oficiais da FAB foram até truculentos no trato com os ribeirinhos de Colares. “Eles não eram de muita conversa e já chegavam mandando e ameaçando. Mas nunca era o Hollanda quem fazia isso, e sim seus comandados que davam as ordens e pressionavam o pessoal da Unidade Sanitária a tentar dissimular a gravidade da situação aos pacientes atacados”, relata. Sobre o coronel Uyrangê Hollanda, a doutora Wellaide tem boas lembranças. “Ele parecia ser muito gentil, mas era uma pessoa distante e um pouco circunspecta. Não foi surpresa que tenha se suicidado, pois ele tinha o perfil de um suicida”. Mas se o comandante da Operação Prato era polido no trato com os moradores e a equipe da médica, seus comandados não eram nada amigáveis. Eles tentaram inúmeras vezes, inclusive com ameaças, intimidar o pessoal do posto de saúde, em especial a doutora Wellaide, a princípio sugerindo-lhe e depois determinando que desse qualquer desculpa à população, inclusive a de que tudo não passava de histeria.
Em certa tarde, um grupo de militares foi à casa da doutora Wellaide, que já estava recolhida, e a entregou uma caixa de um medicamento muito forte, capaz de dopar e causar sonolência e dormência. “Tome, dê isso a todos os seus pacientes e faça-os acreditar que os ataques são de predadores, de russos ou americanos, do que quiser. Mas não fale nada de chupa-chupa”, determinaram à médica. Sua reação, em sintonia com seus demais atos de coragem a frente da pequena Unidade Sanitária de Colares, foi imediata. “Não aceito suas ordens e não vou ministrar essa droga a ninguém. Não sou militar e não tenho que obedecê-lo. E vão embora daqui”. Sua atitude de bravura a levou a ser ainda mais respeitada pela população e pelos militares. “Eu via que o Hollanda me observava, respeitando minhas posições, embora à distância”. Isso é verdade. Quando entrevistei o coronel Uyrangê Hollanda, junto do co-editor Marco Antonio Petit, em junho de 1997, o próprio demonstrou nutrir grande respeito pela médica. Talvez por isso, em tempos de ditadura – como eram aqueles em que se vivia sob o regime do Ato Institucional Número 5, o famigerado AI-5 –, ela não sofreu muitas sanções.
A única punição efetiva para sua recusa em atender aos interesses militares foi o afastamento da função de médica e diretora da Unidade Sanitária de Colares. “Eles queriam que eu perdesse meu cargo também, mas consegui que a determinação fosse anulada e acabei me mantendo no Sistema de Saúde do Pará, onde estou até hoje”. Correntemente, a doutora Wellaide é uma das 18 psiquiatras de todo o Estado, vivendo uma rotina estressante que inclui atender pacientes em clínicas da capital e do interior, num ritmo de vida alucinante. “Nunca mais retornei a Colares, mas voltei a encontrar muitas pessoas que atendi lá, gente que teve sua vida desgraçada após ser atacada pelo chupa-chupa”. Esse é um ponto crucial da questão. Todos os ufólogos, jornalistas, militares etc com que a Revista UFO teve contato para tratar do fenômeno são unânimes em afirmar que suas vidas desandaram.
Efeitos colaterais dos ataques — Uma testemunha que fosse exposta ao chupa-chupa teria problemas de saúde eternamente. Enfraqueciam demasiadamente, perdiam a qualidade de vida e o vigor, ficavam vulneráveis a qualquer tipo de doença e viviam enfermos. Embora o fenômeno não atacasse, como se sabe agora, graças às declarações da doutora Wellaide, crianças abaixo de 12 a 14 anos, nem idosos acima de 70 a 72 anos, todas as pessoas nas demais faixas etárias apresentavam o mesmo problema em suas vidas – e não apenas fisicamente, mas emocional e psicologicamente também. “Depressão, angústia, insônia, desespero etc eram sintomas comuns a quem fosse atacado”, conta a médica. Essa afirmação é convergente com o que se sabe de outras fontes. O próprio coronel Uyrangê Hollanda, mentor e comandante da Operação Prato, foi acometido de severa depressão, muita angústia e solidão, fatos que resultavam numa grande tristeza e que o levaram a se suicidar em 02 de outubro de 1997, poucos meses após conceder à Revista UFO sua histórica entrevista.
“Minha teoria é a de que os seres por trás do chupa-chupa estavam, além de sangue, extraindo outra coisa das pessoas e animais que atacavam. Para mim, eles estavam sugando sua energia vital. Mas para qual finalidade, não sei. Talvez porque precisassem dela para suas atividades, para fazer funcionar suas naves, sei lá. O fato é que as pessoas atacadas eram literalmente sugadas”. Não é natural que se escute isso de uma médica, e menos ainda de uma que tem o brilhante currículo e a experiência da doutora Wellaide. Por isso, e em face de tantas outras evidências, é bom que se dê ouvido a tal teoria. Ela experimentou na pele a sensação de ser observada por olhos invisíveis, não humanos. Embora não tenha sofrido ataques – o que nos leva a questionar o porquê de ter sido poupada –, esteve no centro de três intensos e aterrorizantes episódios com as mesmas luzes vampiras da Amazônia.
O relato da médica é de valor descomunal para a Ufologia. Em raras ocasiões, antes, se teve contato com um profissional que, em meio às suas atividades, fosse envolvido de maneira tão profunda e desconcertante com acontecimentos ufológicos. A doutora Wellaide teve a sobriedade de
manter-se a par dos fatos sem sucumbir à tentação de deixar a área, bem como a capacidade e humanidade de atenuar o sofrimento das vítimas sem se deixar atingir pelas pressões militares. Além disso, teve o cuidado de examinar os casos um a um com o rigor que a medicina exige. A partir de um determinado número de casos – ela contabiliza mais de 20 –, a médica passou a realizar exames laboratoriais nos pacientes. “Isso porque estava praticamente confirmada a tese de que as pessoas tinham parte de seu sangue extraído pelo chupa-chupa”.
Extração da energia vital — Comparando os exames de sangue de algumas das vítimas – que por sorte tinham feito exames anteriores, que constavam em suas fichas médicas –, Wellaide concluiu que todas, sem exceção, tinham perdido algo entre 25 e 30% de seu sangue. “A contagem de hemáceas e de glóbulos brancos dava um resultado espantoso”. Portanto, se antes dessas declarações o termo chupa-chupa era visto com preconceito por parte de certos segmentos da Ufologia (e por todos os da ciência acadêmica), eis agora uma forte razão para se levar a sério o que se acredita ser o objetivo principal dos tripulantes das máquinas que operavam no Pará: extrair sangue e, segundo nossa entrevistada, energia vital das pessoas. Mas como tal extração era feita? Também nesse ponto há uma unanimidade: todas as testemunhas que viram seus familiares e amigos sendo atacados, e até mesmo esses (pois não perdiam a consciência enquanto eram paralisados), descrevem que os objetos agressores emitiam um feixe de luz grossa, que variava de 20 a 60 cm de diâmetro, na direção das pessoas. Dentro desse raio havia outro, bem mais fino, que algumas pessoas descreviam como uma luz intensa e, outros, como um artefato plástico ou metálico que era efetivamente o elemento perfurante e de sucção.
Pelo que tudo indica, o feixe maior tinha a intenção de paralisar a vítima, que permanecia consciente e vendo tudo que ocorria, sem poder falar ou mesmo gesticular geralmente com uma dor excruciante. E o menor, dentro do primeiro, seria o canal através do qual o sangue era extraído. Muitas testemunhas contam que viram com clareza tal raio de luz no momento em que tocava a lateral do pescoço das vítimas, aparentemente produzindo os dois orifícios paralelos que eram visíveis nas pessoas. Até mesmo animais, como perus, cães, carneiros e galinhas, passavam por este ritual de sucção. “Através de perfurações no pescoço é possível a uma pessoa atingir os principais canais de circulação de sangue do corpo humano, as artérias, e rapidamente extrair grandes quantidades de sangue, sem muito esforço”, declarou o médico cirurgião Mauro Natel de Oliveira, de Campo Grande (MS), consultado pela Revista UFO.
Então, finalmente, as peças vão formando o quebra-cabeça. Cada vez fica mais claro ver que quem quer que estivesse por trás do fenômeno chupa-chupa, no Pará e mesmo noutros estados, estava atuando com um objetivo bastante claro: remoção de sangue, pelo menos, e talvez até de outros fluídos corporais. E para fazê-lo, o modus operandi consistia no uso de um feixe paralisante e outro de sucção. Some-se a isso que todos os casos de ataque bem sucedidos – pois havia aqueles em que, coisa rara, as vítimas conseguiam escapar –, eram perpetrados por naves cilíndricas como as descritas há pouco, que tinham pelo menos dois tripulantes visíveis através de uma janela. Não há notícia em nenhum lugar do mundo algo sequer semelhante ao que tenha algum dia ocorrido. Como não há ainda, infelizmente, uma estimativa disponível que nos dê conta de quantos casos efetivamente aconteceram no Brasil. “Creio que uma boa porcentagem da população de Colares sofreu os ataques”, finaliza a doutora Wellaide.
Ameaças e confisco de fotos — Além da médica, sua equipe e dos militares da Operação Prato, outra categoria profissional esteve intimamente ligada aos eventos que marcaram a onda do chupa-chupa: a imprensa. E nessa categoria se destacam, principalmente, os jornalistas paraenses Carlos Augusto Serra Mendes e Biamir Siqueira, além do repórter fotográfico José Ribamar dos Prazeres, todos do extinto O Estado do Pará. O primeiro, curiosamente, não teve qualquer observação nem mesmo contato com os objetos voadores não identificados, em Colares ou qualquer outro local. Mas foi o grande responsável pela veiculação de informações regulares sobre os fatos que aconteciam no interior do Pará, que de outra forma seriam totalmente desconhecidos dos moradores da capital, Belém, e do resto do país. Já Ribamar foi o autor de algumas das mais belas e impactantes fotografias do chupa-chupa de que se tem notícia e Siqueira teve vários contatos, alguns aterradores. Ribamar já faleceu, após receber vários prêmios jornalísticos, mas deixou como legado suas maravilhosas imagens, a maioria em preto e branco, dos aterradores vampiros de sangue.
Carlos Mendes nos recebeu para uma entrevista em Belém, em 13 de agosto, e mostrou ser um “acervo humano” de tudo o que se refere ao fenômeno e à Operação Prato, e com um detalhe importante: ele tem versões próprias e bastante genuínas para descrever e explicar muitos dos fatos que envolveram os acontecimentos das décadas de 70 e 80. A começar pela expressão chupa-chupa, que para ele vem de um caso bem diferente do que se tem como certo. “O termo refere-se ao fato de que no interior do Pará, onde há muitas festas, que vão até a madrugada, é comum num certo ponto do embalo os casais partirem para uma agarração mais violenta, resultando em chupadas no pescoço de um e de outro”. Essa é uma explicação nova para o curioso apelido do Fenômeno UFO na região, mas não invalida a hipótese de sucção de sangue. “De forma alguma. As pessoas apenas usam o termo chupa-chupa porque, além da extração do sangue, há também as marcas no pescoço, tal como aquelas que os casais deixam”, complementa.
A população batia panelas na esperança de afugentar as luzes vampiras
A contribuição de Mendes para o entendimento do fenômeno vai muito além disso. Ele viveu na pele, então como um jovem jornalista durante a época da ditadura, a forte pressão que os militares lhe faziam para que arrefecesse a publicaç&a
tilde;o de suas matérias sobre o chupa-chupa. Ele era constantemente seguido quando ia às áreas atacadas e mesmo em Belém, quando fazia a cobertura de fatos que nada tinham a ver com Ufologia. “Eles sabiam quem eu era e me acompanhavam o tempo todo, e eu tinha conhecimento de quem eles [os militares] eram, pois viviam observando a ação da imprensa”, diz. Mendes chegou a conhecer o coronel Uyrangê Hollanda em rápidos e objetivos encontros, através dos quais identificou um homem forte e opressor, determinado e ditador, muito diferente daquele Hollanda que a Ufologia Brasileira passou a conhecer após a entrevista histórica que a Revista UFO fez com ele, há 8 anos. “O capitão Hollanda [Na época] era um homem muito difícil, uma pessoa muito autoritária. Ele era praticamente inacessível, inabordável”, declarou.
Perseguição aos jornalistas — Esta faceta da vida do coronel Uyrangê Hollanda não era de todo desconhecida, pois, afinal, o Brasil vivia um regime ditatorial com denúncias de violação aos direitos humanos básicos e até mesmo de tortura de supostos comunistas e contraventores, e ele era um militar do então temido Serviço Nacional de Informações (SNI). Mas não se tinha, até então, uma idéia tão precisa sobre a vida do personagem mais importante da história da Ufologia Brasileira, antes da Operação Prato. Hollanda, quando visitado por este autor e o co-editor Marco Antonio Petit, em seu apartamento em Cabo Frio (RJ), para a referida entrevista, mostrou ser um homem dócil e afável, mas triste e deprimido, com muita saudade e arrependimento do passado. No entanto, era dono de uma memória brilhante e vivaz, de rara capacidade. Quem o conhecesse nesse período, certamente não conseguiria reconhecer nele a figura autoritária descrita por Mendes. Tão autoritária que chegou a ameaçar as redações dos jornais paraenses na época do chupa-chupa e até a confiscar fotos e negativos de repórteres.
O fato foi narrado pela primeira vez pelo jornalista Mendes e dá uma idéia da dimensão que chegou a ter a operação militar. Já seria uma grande revelação saber, pela doutora Wellaide, que a missão empregara mais de 30 homens, e agora vinha do relato de Mendes determinados aspectos de sua realização. Pois Mendes conta que, em meados do segundo semestre de 1977, durante o ápice da Operação Prato, o coronel Uyrangê Hollanda foi à redação do extinto O Estado do Pará, no qual trabalhava junto a Ribamar e Siqueira, e determinou que lhe entregassem todas as fotos e negativos do chupa-chupa em poder do periódico. E ainda advertiu os profissionais para que tivessem muita cautela ao publicar novos fatos sobre o mistério que rondava as ilhas de Mosqueiro e Colares.
“Foi uma ameaça muito forte e intimidadora”, declarou Mendes, que afirmou que seu chefe de redação cedeu às pressões dos militares e entregou ao coronel todo o material requisitado. “Ora, obter aqueles documentos visuais não foi uma coisa fácil. Pelo contrário, o Ribamar teve um trabalho danado para conseguir fotografar as naves. Foi muito frustrante ter que entregar aquilo tudo, mas não havia nada que pudéssemos fazer”. Com essa revelação, o jornalista acaba de proporcionar à Ufologia Brasileira uma oportunidade de reparar um erro que vem sendo repetido como verdadeiro há muitos anos – o de que todas as fotografias conhecidas da Operação Prato, muitas vezes publicadas em UFO, tenham como origem os fotógrafos militares. Isso não é verdade e hoje sabemos que pelo menos três das imagens mais conhecidas foram feitas pelo repórter fotográfico José Ribamar dos Prazeres, a quem devemos fazer justiça.
Partiu também de Mendes a revelação de uma grande quantidade de novos fatos, além de dados sobre ocorrências antigas, que contribuem para a formação de uma figura mais completa para o quebra-cabeças que foi a onda chupa-chupa e sua investigação militar na Amazônia. O profissional, que há mais de 20 anos atua no O Liberal, de Belém, sendo que há 10 é correspondente de O Estado de S. Paulo, é um homem para ser levado a sério. Um dos mais respeitados e premiados jornalistas paraenses, já foi ameaçado de morte outras vezes por fazer denúncias de todos os tipos em seu Estado, que vão desde trabalho escravo a desvio de verbas por políticos. Tendo contraído poliomielite aos dois anos, anda com alguma dificuldade. Mas sua condição não o impediu de ir várias vezes aos epicentros em que o fenômeno se manifestava, na tentativa de observá-lo e registrá-lo. “Numa vez, fiquei cinco noites sobre o teto do mercado de Colares, defronte a prainha, esperando o ‘bicho’ aparecer, mas nada aconteceu”, resigna-se.
Mais uma lacuna preenchida — Algumas pessoas que acompanharam o entusiasmo do jornalista, sabendo de sua condição física, chegaram a aludir a hipótese de que, justamente por causa dela, os agressores por trás do fenômeno chupa-chupa não o viam como um candidato em potencial aos ataques. Se é razoável fazer tal correlação entre a enfermidade da infância de Mendes e o fato dele não ter tido nem mesmo uma observação distante, numa época e local onde os fatos eram diários, isso só uma pesquisa aprofundada poderá revelar. Por enquanto, pelo menos, há de se atribuir a uma grande falta de sorte do homem de impressa, de estar onde tudo acontecia, menos quando estava ele presente. “Talvez eu seja um pé frio, não sei. O fato é que, pelo menos, pude conversar com muitas testemunhas do fenômeno e colher depoimentos impressionantes, que publiquei mesmo sofrendo pressão dos militares”.
Certamente, não fosse seu valoroso e esforçado trabalho, muito pouco saberíamos sobre a onda chupa-chupa. O jornalista Mendes foi, com certeza, o repórter que melhor e mais de perto acompanhou os fatos. E suas declarações sobre a ação dos militares começam a suprir uma lacuna que antes estava aberta. Muito faltava saber sobre a atividade dos integrantes da Operação Prato, em especial do coronel Uyrangê Hollanda. E mais ainda de sua história pregressa, da qual só tínhamos informação de que fora um destacado e brilhante militar na Selva Amazônica. Com o preenchimento da lacuna por Mendes, a Ufologia Brasileira pode ter uma figura mais clara para examinar. A longa entrevista que Mendes concedeu à Revista UFO será integralmente publicada durante a série Dossiê Amazô
;nia, que ora se inicia. Nela se verá com nitidez que o fenômeno chupa-chupa é no mínimo muito mais amplo, complexo e grave do que se supunha até agora, sendo que o número de avistamentos e as conseqüências dos ataques aos moradores ribeirinhos atingem um volume assombroso e nunca estimado antes. Suas causas e efeitos também têm um significado que, se antes era desconhecido, hoje pode ser compreendido.
Os jornalistas que cobriam os fatos foram ameaçados pelos militares da FAB e alguns tiveram material fotográfico confiscado
– Carlos Mendes
A contribuição do jornalista Mendes também permite compreender que a Operação Prato, conduzida sigilosamente pela Aeronáutica, em contra-partida, foi muito mais completa do que imaginávamos até então, atingindo resultados que ignorávamos. “O que os militares fizeram nas ilhas de Mosqueiro e Colares, no município de Vigia, na Baía do Sol e em muitas outras localidades do Pará é algo sem precedentes e que precisa ser conhecido por toda a sociedade”, declara o jornalista. Foi sua noção de responsabilidade em levar os fatos ao conhecimento público que o fez entrevistar a doutora Wellaide em janeiro deste ano, publicando em O Liberal a matéria Aeronáutica Obrigou Médica a Mentir sobre o Chupa-Chupa. Pouca gente sabe, mas o texto de Mendes, reproduzido no site da Revista UFO e acompanhado de outro, da autoria deste autor, foram o estopim para que a Força Aérea Brasileira (FAB) deixasse sua posição de sigilo e contactasse os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), que lançou a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, convidando-os para o encontro histórico ocorrido em 20 de maio passado [Veja edição UFO 111].
Esferas militares superiores — As acusações do repórter em seu artigo fizeram com que a Comunidade Ufológica Brasileira retomasse o debate sobre a Operação Prato e se indignasse com a continuada manutenção de seus arquivos sob sigilo, vindo a apoiar a campanha e conduzi-la ao seu sucesso. Mendes tem mostrado em seus textos, assim como na entrevista concedida à Revista UFO, que o envolvimento dos militares com o fenômeno foi bem além de tudo o que já se falou até hoje. Resta a ele e à esta publicação responder a uma questão igualmente crucial sobre a missão militar, que até hoje foi pouco aventada pelos ufólogos – a que envolve o brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, uma figura quase mítica do meio militar brasileiro, que na época era o comandante do I Comando Aéreo Regional (I COMAR), de Belém, e hoje é reverenciado com o batismo de uma das mais modernas avenidas da cidade com seu nome. Segundo o coronel Uyrangê Hollanda, o brigadeiro tinha muito interesse por Ufologia e até acreditava em UFOs, tanto que, procurado pelas comunidades ribeirinhas atacadas pelo chupa-chupa, determinou a criação da Operação Prato.
O que não se sabe é se ele teve envolvimento pessoal com o fenômeno e se chegou a tomar parte em alguma das diligências da missão militar. Tal informação seria crucial para determinar certos fatos a respeito da razão que faz a Força Aérea Brasileira (FAB) manter seu silêncio, apesar da recente – e restrita – abertura que fez em 20 de maio. Sim, porque uma coisa é um capitão e um grupo de militares engajarem-se numa atividade oficial de investigação ufológica na selva, o que por si só é algo espantoso. E outra bem diferente é saber que o comandante de uma das maiores instalações da Aeronáutica no país, um brigadeiro com trânsito livre entre as altas esferas militares de Brasília, também testemunhou o fenômeno e atestou sua gravidade. Para este autor, é muito improvável que um homem em sua condição, ainda mais sendo interessado por Ufologia e com vasta cultura, se furtasse de tomar um helicóptero para vencer os meros 96 km que separam o I Comar do palco das mais intensas e relevantes manifestações de inteligências extraterrestres que já se viu em nosso planeta, a Ilha de Colares.
A Aeronáutica perseguia jornalistas e mentia às vítimas atacadas
Características dos avistamentos — Se muito se deve ao jornalista do extinto O Estado do Pará, que na época foi o principal veículo de informação sobre o chupa-chupa, outro tanto a Ufologia Brasileira tem de débito com o biomédico Daniel Rebisso Giese, integrante do cada dia mais volumoso segmento de ex-ufólogos. Foi Rebisso quem, ainda nos anos 80, ainda ufólogo, primeiro tratou da manifestação das luzes que sugavam sangue na Amazônia. Hoje afastado da pesquisa dos discos voadores e proprietário de uma livraria em Belém, Rebisso contabiliza já ter recebido dezenas de jornalistas especializados ou não em Ufologia para entrevistá-lo sobre os fatos ocorridos no litoral fluvial do Pará. “É importante que se diga que o que ocorreu aqui não tem nada a ver com delírios ou alucinações. Aquela gente de Mosqueiro e Colares foi mesmo atacada por algo genuíno e extraterrestre”, declarou.
Rebisso escreveu, ainda em 1991, o livro Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular], em vias de ser atualizado e relançado pela Coleção Biblioteca UFO. Na obra, o biomédico faz um relato pormenorizado do que já se sabia até então sobre os mistérios do local. Ao contrário do que declara a doutora Wellaide, no entanto, Rebisso apurou que foram vários os tipos de objetos presentes na área durante a fase dos ataques. O mesmo foi relatado pelo coronel Uyrangê Hollanda, que chegou a descrever até um “modelo esportivo” de UFO, que era sempre visto e motivo de grande frustração ao militar, que não conseguia registrá-lo em fotos e filmes. Sobre isso, o ex-ufólogo Rebisso é claro: “A casuística ufológica da época era intensa e muitos casos foram registrados, envolvendo vários tipos de naves. Mas as que atacavam as pessoas eram as cilíndricas, como as descritas pela doutora Wellaide”.
De fato, desde que lançou sua obra, há 14 anos, até os trabalhos mais atuais sobre a onda chupa-chupa, se tem noção clara de que muita coisa incomum aconteceu na localidade. Coube a ele dar a seus colegas o conhecimento de muitos fatos que ocorriam desde a região da Baixada Maranhense, já próxima a São Luiz, até o chamado Baixo Amazonas, nos arredores de Santarém, no sul do Estado do Pará. O fenômeno pode ter se espalhado por uma área ainda maior, mas faltam mais dados a respeito. Estima-se que o Amapá também tenha sido atingido, assim como o norte do que é hoje o Estado do Tocantins. No entanto, não há registros de casos similares em Mato Grosso, mas há vários no vizinho Amazonas. Lá, no Arquipélago de Anavilhanas, a 70 km de Manaus, a capital, este autor encontrou casos que se assemelham ao chupa-chupa, descritos
por testemunhas e ufólogos.
No referido arquipélago fluvial, precisamente na remota Vila de São Tomé, às margens do Rio Negro, pudemos constatar episódios até então inteiramente desconhecidos de ataques do chupa-chupa, raramente registrados no Amazonas, que demonstram a abrangência das manifestações. Ao entrevistar os nativos do local, constei uma diversidade de casos que espantam, desde objetos noturnos, vistos quase diariamente, até naves estruturadas em operação pela mata densa. Um fato interessante é o do pescador Nailson Araújo de Moraes, que afirmou ser freqüente a observação de estranhas luzes no céu. “Elas passam de um lado para o outro e piscam muito. Mas nunca descem e em questão de segundos desaparecem”, declarou. Ao contrário de outras testemunhas, ele não sabe se se trata do chupa-chupa. “Acredito que aquelas luzes são aparelhos com pessoas ou seres dentro”. Já a senhora Luzia Nascimento de Moraes, residente no mesmo local, teve contato com um estranho ser no quintal e dentro de sua casa. Luzia acredita que o que viu era, sim, o chupa-chupa, embora já tivesse observado diversas luzes no céu, geralmente à noite. Mas nada podia ser comparado ao que aconteceu naquela ocasião.
Contatos viram lendas — “Eram cerca de 23h00 e eu estava na cozinha quando vi uma forte luz no mato, que se aproximava rapidamente. Tive muito medo. Em seguida surgiu inexplicavelmente um homem, que logo foi entrando em minha casa”, declarou. Segundo a senhora, o indivíduo era baixo, magro, forte e aparentava uns 30 anos. Tinha algo na cabeça que parecia um chapéu e estava vestido como um soldado. Após passar por ela rapidamente, o estranho ser teria subido no telhado da residência, de onde foi possível ouvir um barulho semelhante ao de uma máquina de costura – idêntico ao que se ouve nos casos paraenses. Nesse momento, Luzia e seu marido saíram da habitação para observar o que estava acontecendo. “O cidadão entrou em um aparelho branco e brilhante, acima da casa, que tinha janela”.
O que ocorreu aqui não tem nada a ver com delírios ou alucinações. Aquela gente das ilhas de Mosqueiro e Colares foi mesmo atacada por algo genuíno
– Daniel Rebisso Giese
Através da janela do artefato foi possível observar na nave outro homem, exatamente igual ao que esteve em sua moradia. Luzia e seu marido ficaram apavorados com o acontecimento e, assim que o estranho objeto com os dois seres desapareceu, foram para a casa de sua mãe, onde passaram a noite. Quando perguntei se tinham sentido medo do acontecido, a senhora, já com seus mais de 60 anos, garantiu que não. “Aqui na mata a gente vê muita coisa estranha, mas igual aquilo eu nunca tinha visto”. O objeto assemelhava-se aos que caracterizaram a onda chupa-chupa, exceto pelo fato das manobras de tal criatura, que subiu pelas paredes da residência como se não houvesse gravidade. Dona Luzia, seu marido e muitos conterrâneos daquela região já tiveram várias experiências do gênero.
Onde quer que ocorram, os fenômenos instigam o surgimento de lendas e mitos folclóricos, que muitas vezes são disseminados e recebem curiosos aditivos ao longo do tempo. Por exemplo, hoje, em Colares e em vastas áreas do litoral fluvial e marítimo do Pará, está bastante arraigada a lenda da Matinta Pereira, que em tese aponta para uma ligação com o Fenômeno UFO, em especial o chupa-chupa. A lenda, como qualquer outra do folclore brasileiro, pode ser interpretada à luz de fatos específicos, desde que devidamente filtrados. No caso da Matinta, diz-se tratar ora de uma velha, ora de um pássaro ou de ambos juntos, que teriam uma intensa cabeleira branca e passam voando à altura da copa das árvores, sempre assoviando de maneira estridente e pedindo tabaco. Acredita-se que dar o fumo à velha aplaca sua ira e impede que ela ataque a pessoa assombrada. “Muita gente tem fumo de rolo em casa aqui no Pará, para dar a Matinta, quando ela passa”, declarou o taxista Antônio da Silva, de Belém. Como ele, muita gente leva a sério as histórias da velhinha.
Visagens e assombrações — Um curioso estudo sobre essa e muitas outras lendas amazônicas pode ser visto na obra Visagens e Assombrações de Belém [Edição particular, 1985], do renomado folclorista Walcyr Monteiro, jornalista e presidente do Centro Paraense de Estudos do Folclore. Visagem é o termo que se usa no Pará e em quase toda a Amazônia para se descrever a observação de algo sobrenatural – tal como lendas. É diferente de uma aparição ou de uma assombração, segundo Monteiro, que têm outras características. “A aparição acontece quando uma ‘alma do outro mundo’ surge para fazer o bem, enquanto a visagem é aquela ‘alma’ que só mete medo. Já a assombração, além de meter medo, deixa a pessoa com um ‘encosto’, precisando procurar tratamento”, descreve Monteiro. “E o encantamento acontece quando uma pessoa é ‘flexada’ por bicho e se transforma em um ser encantado por sete anos”, arrebatou o escritor.
Um estudo das narrativas folclóricas da região pode trazer importantes subsídios à Ufologia [Veja UFO 75]. De qualquer forma, a figura de uma velhinha bondosa não faz muita justiça à Matinta Pereira. Ela tem mesmo é jeito de bruxa. Mas se sua aparência é grave e amedrontadora, suas atitudes é que são impressionantes – ou melhor, os atos da entidade que os caboclos e moradores da Amazônia acreditam ser a tal Matinta. Entre eles está o de paralisar suas vítimas e impedir que pensem de maneira clara. Os atacados relatam que sentem cansaço e dores no corpo quando são vitimados pela imagem, que parece “ler” seus pensamentos revirando suas mentes. Não raro, as vítimas descrevem queimaduras e até ferimentos com alguma gravidade. Tudo isso é atribuído à tal velhinha do folclore, cuja cabeleira grande e branca seria, na verdade, uma interpretação popular que se faz de uma máquina voadora desconhecida.
Agora já se sabe que a Operação Prato envolveu militares graduados
A analogia faz sentido. Entre as pessoas que entrevistei em Colares está o operador da balsa que, ainda nos dias de hoje, faz a traves
sia entre a Vila de Penhalonga, próxima de Santo Antonio do Tauá, e a Ilha de Colares. “Essa Matinta Pereira me deu uma canseira dias atrás”, disse o rapaz, um caboclo forte de uns 30 anos de idade. Ele contou que estava dormindo na rede da varanda de sua casa quando ouviu o estridente assovio. “Era uma mistura de apito com o barulho de uma máquina de costura chiando alto”. Tentou correr mas não conseguiu. Em segundos já estava completamente envolto numa luz intensa e esbranquiçada que o impedia de se mexer. “Não vi de onde vinha a luz, mas sei que era da Matinta Pereira. Eu não conseguia pensar direito, porque parece que aquilo estava dominando meus pensamentos”. O jovem ainda declarou que, quando a suposta velhinha foi embora, sentiu imenso cansaço, sono e moleza no corpo, que se prolongaram por mais de uma semana.
Seria a tal lenda uma versão moderna da interpretação que os moradores do local fazem do chupa-chupa? É amplamente sabido que o folclore brasileiro tem entre suas lendas muitas que surgiram a partir da observação, por nossos ignorantes e supersticiosos antepassados, de veículos voadores e seus tripulantes. Boitatá, Mula-sem-Cabeça, Saci Pererê, Mãe d’Ouro, Fogo Corredor, Virgem de Branco e Navio Fantasma são algumas das mais conhecidas. Some-se a elas, agora, a lenda da Matinta Pereira, que é vivamente lembrada por moradores de vastas áreas do Pará e a quem se atribui o poder de exaurir a energia das pessoas através de sua paralisação com raios de luz. A diferença mais visível que se encontra entre a descrição da Matinta e a do chupa-chupa é que a primeira, pelo menos aparentemente, não suga sangue das pessoas, apenas lê e domina seus pensamentos, segundo descrevem as vítimas. Isso só já seria motivo para colocar a lenda em destaque nos estudos ufológicos. Uma pesquisa a respeito de tais tradições do folclore paraense, relacionando-as a UFOs, pode ser vista em UFOs no Brasil, Misteriosos e Milenares [Coleção Biblioteca UFO 2002. Código LV-10 do encarte Suprimentos de Ufologia desta edição], de nosso consultor Antonio Faleiro, de Passa Tempo (MG).
Entendendo o fenômeno no Pará — Muitos estudiosos do chupa-chupa acreditam que o fenômeno arrefeceu nestes mais de 25 anos que nos separam do ápice da onda. Outros afirmam que ele simplesmente desapareceu e que a casuística manifestada nos locais antes atingidos assumiu suas características habituais, com análises e contatos esparsos e quase nada de ataques. Já há os que crêem que o chupa-chupa mudou de formato, por ter atingido – ou talvez não – seus resultados e os objetivos dos agressores. Os defensores dessa tese revelam que sangue, pelo menos na escala com que era retirado das pessoas, já não é mais tão necessário aos seres que, então, agora se concentrariam na observação das vítimas e eventuais abordagens mais incisivas para algum propósito desconhecido. Este autor, por outro lado, crê que as três vertentes podem ser fundidas para que se entenda o que se passa hoje nas áreas anteriormente atingidas.
As pessoas continuam vendo fenômenos impressionantes na ilha, e quando isso acontece, elas vêm me contar. Sempre que é possível, a gente deixa elas falarem na rádio e alertar mais gente sobre os casos
– Hilberto Freitas
Acredito que, de fato, o fenômeno arrefeceu. Certamente, ele não tem mais a intensidade nem a hostilidade de antes. Felizmente. Mas também é visível que ele apresenta mutações, no sentido de que as entidades que tripulam as máquinas buscam algo mais do que apenas sangue ou o que quer que procuravam antes – até mesmo energia vital, segundo a doutora Wellaide. Quem sabe os ataques em massa tenham cessado porque se chegou aonde se pretendia, talvez porque os agressores se compadeceram de suas vítimas. Ou porque, hoje, em novos tempos, seria inadmissível e até impossível para tais algozes continuar a submeter aquela sofrida população aos ataques que antes eram freqüentes. Os meios de comunicação atuais teriam um poder de disseminação dos fatos muito maior do que antes, assim como nossos militares de hoje não permitiriam que os fatos continuassem a se repetir. Essas são questões abertas à discussão.
Avistamentos ainda são freqüentes — No entanto, é fato concreto que os fenômenos ufológicos das ilhas de Mosqueiro e Colares, em especial, mas também de toda aquela vasta área quase selvagem do litoral fluvial do Pará, continuam a ocorrer freqüentemente. E se não têm a hostilidade e a intensidade verificadas durante a Operação Prato, também não apresentam características casuísticas comuns, como as que encontramos em qualquer parte do país. Os fatos naqueles rincões são muitíssimo mais impactantes, profundos e significativos. Somando-se esta conclusão às novas revelações que trouxemos do Pará para os leitores da Revista UFO, fica clara e evidente a necessidade de se instalar um trabalho renovado de investigação dos casos, com novas visitas aos pontos atingidos, a começar pela Baixada Maranhense e culminando na região do Baixo Amazonas, passando por pelo menos 10 ilhas da extensa área. Isso será um trabalho cansativo, extenuante até, mas imensamente importante, e iniciará dentro de pouco tempo.
Fonte de consulta — Uma prova clara de que os fatos, pelo menos em Colares, continuam espantando ufólogos e desafiando explicações científicas está nos depoimentos de dois personagens bastante conhecidos na região, o radialista e oficial da Marinha Mercante Hilberto Freitas e o ex-camioneiro e locutor José Rodrigues. Freitas é superintendente da Rádio FM Rosário, comunitária, que funciona em Colares mas atinge uma vasta área na faixa de 104,9 MHz, e referência no local quando o assunto é discos voadores. A emissora tem em sua programação um evento semanal exclusivo sobre Ufologia e temas afins, o Além da Imaginação. Através dele, Freitas esclarece a população sobre os fatos que ela vivencia e, ao mesmo tempo, serve de fonte de consulta a todos que precisam de informações. “Recebe