Logo após a realização das concorridas Audiências Públicas sobre Abertura, de 29 de abril a 03 de maio, em Washington, houve nos círculos ufológicos da internet um movimento incomum por parte de pesquisadores, entusiastas e até mesmo de pessoas que raramente se interessam pela questão dos discos voadores. Todas se motivaram a congestionar a rede mundial de computadores diante de declarações bombásticas de que pelo menos dois extraterrestres estariam trabalhando para o governo dos Estados Unidos, que partiram de uma pessoa de alta credibilidade e atingiram em cheio a Comunidade Ufológica Mundial. Durante dias, sites sobre Ufologia de todo o globo alcançaram picos de visitação e vídeos refletiram no Youtube o interesse de muita gente sobre o que se afirmou — somente o site da Revista UFO teve mais de 30 mil consultas sobre o assunto.
Mas, afinal, o que há por traz de tão fantásticas afirmações e quem é o ex-ministro de Defesa do Canadá Paul Hellyer, a pessoa que as proferiu publicamente? E mais: podemos acreditar nelas e tirar algum proveito deste momento incomum para a Ufologia Mundial? Uma análise da questão se faz necessária, pois, como se sabe, é sonho de todo ufólogo ou simpatizante do assunto ver o dia em que uma ou mais autoridades governamentais venham a público confirmar a existência de seres inteligentes extraterrestres nos visitando — e, imagine então, se alegarem que eles já estão entre nós. Seria certamente uma euforia sem tamanho se tal anúncio se desse por meio de um comunicado oficial partindo de um ou de vários países, ou, quem sabe ainda, por meio de um porta-voz da ONU com a confirmação coletiva do fato por parte de todas as nações da Terra.
Abertura ufológica necessária
Ufólogos de todo mundo têm trabalhado intensamente para que isso um dia ocorra e em muitos países já podem ser vistos interessantes resultados de campanhas públicas que pedem a liberação de informações e documentos arquivados como sigilosos, secretos e outras denominações diferentes pelas respectivas forças armadas, dependendo da nação. Um exemplo que devemos ter em alta conta é o movimento brasileiro UFOs: Liberdade de Informação Já, conduzido desde 2004 pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) por meio da Revista UFO. Dentre seus mais vistosos resultados, que não são poucos, está a recente reunião dos integrantes da CBU com representantes do Exército, Marinha e Aeronáutica ocorrida em 18 de abril na sede do Ministério da Defesa, em Brasília, com intermediação de seus altos funcionários [Veja artigo nesta edição]. O encontro, como se sabe, é uma reação das autoridades à Carta de Foz do Iguaçu, emitida durante o IV Fórum Mundial de Ufologia, ocorrido naquela cidade no ano passado.
O evento inédito de abril iniciou oficialmente um canal de comunicação entre os ufólogos brasileiros e nossas Forças Armadas, que certamente trará resultados animadores para a comunidade ufológica nacional e até internacional, visto o número e a qualidade de casos de avistamentos de discos voadores e contatos com tripulantes em nosso país nas últimas décadas. Mas, obviamente, o Brasil não é o único país a fazer tal pressão frente às autoridades constituídas — muitas nações também o fazem e nos últimos anos cresceram iniciativas para que tenhamos acesso a arquivos que provam definitivamente que governos dos cinco continentes estão cientes de que o Fenômeno UFO é real. Quando isso ocorrer por completo, teremos a confirmação de que boa parte da casuística global é algo que simplesmente não se pode explicar em termos terrestres, seja pelas características das manobras das naves observadas, seja pelas suas eventuais interações com nossos aviões comerciais ou militares, apenas para citar alguns exemplos.
Uma dessas iniciativas, e que teve grande repercussão na mídia, foi a que aconteceu em Washington há dois meses, quando dezenas de pesquisadores reconhecidos internacionalmente e testemunhas altamente qualificadas, como ex-militares de vários países, sentaram-se diante de uma bancada de ex-congressistas norte-americanos para darem seus pareceres e depoimentos sobre a questão. De quebra, demandaram o reconhecimento da materialidade do Fenômeno UFO por parte do governo dos Estados Unidos e, por consequência, também pelos de outras nações — o ponto mais alto do evento foi a requisição de que uma discussão sobre o assunto seja realizada em breve na Assembleia Geral da ONU, o que ainda está para ser confirmado [Veja artigo nesta edição].
Figuras que falam e assombram
Como se viu na vasta cobertura internacional que recebeu, vários ufólogos emprestaram seus nomes às Audiências Públicas sobre Abertura, dando alta credibilidade ao evento e muitas vezes deixando os congressistas fascinados com suas declarações. O Brasil esteve representado pelo editor da Revista UFO A. J. Gevaerd e pelo conselheiro especial da publicação Wilson Picler, que, além de mostrarem o que tem sido feito no país para se alcançar a abertura ufntes às Audiências como também da numerosa quantidade de veículos de comunicações de vários países que lá compareceram. Trata-se de Paul Hellyer, político e hoje divulgador ufológico canadense que teve sua vida profissional iniciada em 1949 ao ser eleito, então com 26 anos de idade, para o Parlamento de seu país. A partir de então, mesmo com tenra idade, Hellyer se dedi
cou exclusivamente à atividade governamental, navegando entre cargos nos poderes Legislativo e no Executivo de seu país, chegando finalmente a ocupar a importante pasta do Ministério da Defesa canadense entre abril de 1963 e setembro de 1967, no auge da Guerra Fria. Portanto, é alguém que se deve ouvir.
Para surpresa de muitos que até então não conheciam seu ativismo ufológico, Hellyer afirmou com todas as letras que não apenas somos visitados por diversas raças extraterrestres como algumas delas têm atuado em conjunto com os norte-americanos
O histórico profissional de Sir Paul Hellyer já seria algo para fazer saltar aos olhos de quem o assiste fazer uma defesa pública e apaixonada — ainda que com seu tom de voz invariavelmente calmo e agradável — da necessidade de reconhecimento e liberação de informações secretas sobre o Fenômeno UFO. Pois Hellyer tem agido assim há anos, abraçando a causa ufológica de forma gradualmente mais firme e resoluta, pouco se importando se seus colegas políticos terão alguma reação ou não. “Até torço para que tenham, mas que seja uma reação positiva de reconhecimento de que este é um assunto extremamente sério”, disse em sua conferência em Washington, no referido evento. Mas lá ele foi além, muito além disso. Para surpresa de muitos que até então não conheciam seu ativismo ufológico, Hellyer afirmou com todas as letras que não apenas somos visitados por diversas raças extraterrestres como algumas delas têm atuado secretamente em conjunto com o governo norte-americano.
Papai Noel não existe
Durante seu espantoso depoimento, do alto de seus dois metros de altura e enorme credibilidade acumulada ao longo de décadas de vida pública ilibada, Hellyer fez um paralelo entre a humanidade terrestre e nossas crenças infantis. “Para toda criança chega o dia em que ideias e fantasias como Papai Noel acabam e vem a realidade. O mesmo deverá acontecer à humanidade um dia, quando a existência de seres inteligentes de outros orbes será confirmada sem sombra de dúvidas. E, mais do que isso, que tais formas de vida estão nos visitando e interagindo conosco”, defendeu. Embora tal conceito tivesse sido colocado por todos os outros participantes das Audiências Públicas sobre Abertura, ainda que com palavras diferentes, coube a Hellyer garantir que, baseado em suas fontes, essa já é uma realidade escondida da sociedade por autoridades de vários países, em especial as dos Estados Unidos.
Quando um ufólogo fala, é uma coisa. Mas quando é o ex-ministro de um país de primeiro mundo a se manifestar, é outra. E para que possamos entender e analisar melhor suas declarações, vale aqui um pequeno resumo de como Sir Paul Hellyer entrou para o mundo ufológico. Tendo ocupado vários cargos no Legislativo e Executivo de seu país, chegando a ser titular da importante pasta da Defesa, ele teve acesso a inúmeros registros ufológicos provenientes das Forças Armadas canadenses e de outras nações, especialmente dos Estados Unidos, Inglaterra e França, mas também de outros países da Europa. Lembremos aqui que isso se deu durante a Guerra Fria e o Canadá, integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), tinha acesso a tudo que acontecia também nos céus europeus.
Paul Hellyer teve que lidar com muitos relatos que chegavam ao Ministério da Defesa e gosta de se referir a um em especial, ocorrido na década de 60, quando uma frota de objetos não identificados atravessou vários países da Europa e colocou em estado de alerta as Forças Aliadas, que pensaram serem artefatos de origem soviética. “Por sorte ou providência divina”, segundo suas próprias palavras, “os objetos mudaram de rumo e desapareceram, acalmando os exaltados ânimos militares de então”. No entanto, até muito tempo depois, Hellyer não se dedicou a pesquisar tais avistamentos e não via aqueles aparelhos como sendo de origem extraterrestre, embora achasse o assunto interessante. Seu foco na ocasião era a unificação das Forças Armadas canadenses, processo que demandou muito tempo e esforço de sua parte. Porém, a ideia sempre permaneceu em sua mente para um dia estudá-la mais a fundo.
Militância ufológica
Foi assim que, em 2005, já afastado de suas funções públicas, Hellyer leu a famosa obra de Philip Corso The Day After Roswell, traduzida e lançada no Brasil como Dossiê Roswell [Educare, 1998. Código LIT-009 da Livraria UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Tal leitura foi como um gatilho para o início de sua militância ufológica. A partir de então ele leu tudo que podia sobre o assunto, teve encontros com ícones da pesquisa ufológica mundial, testemunhas civis e militares. Tais leituras e contatos o deixaram definitivamente convencido de que estamos sendo visitados por outras inteligências cósmicas e que informações vitais sobre isso estão sendo escondidas do público pelas autoridades.
Embora ele não se considere ufólogo, desde aquele ano já deu inúmeras palestras, entrevistas, participou de encontros e até escreveu livros sobre o tema denunciando o acobertamento do assunto perpetrado pelos governos, em especial o norte-americano, tais como Light at the End of the Tunnel: A Survival Plan for the Human Species [Luz no Final do Túnel: Um Plano de Sobrevivência para a Espécie Humana, Canadian Press, 2010]. Somando-se a este pequeno histórico também é importante examinar suas declarações em um contexto maior e mais analítico. Mesmo antes de se dedicar à divulgação do Fenômeno UFO, Paul Hellyer sempre foi um crítico da política norte-americana quando esta trata o Canadá com estratégia colonialista — ele sempre demandou que seu país tivesse um posicionamento mais independente em relação ao seu vizinho do sul. Essa determinação foi se expandindo com o tempo, tornando-o um crítico da política de grandes potências econômicas mundiais com relação aos países menos afortunados.
O que Hellyer afirmou são informações que recebeu de terceiros, algumas das quais contestadas pela própria comunidade, a exemplo dos fatos alardeados por Corso sobre engenharia reversa e colaboração entre extraterrestres e o governo dos Estados Unidos
Mas Sir Paul Hellyer transcendeu ao cenário político, não se limitando a condenar o domínio econômico-fin
anceiro que tais países usam para manter seus próprios interesses em detrimento da situação dos demais. Ele logo expandiu suas críticas a questões ambientais e ecológicas, cobrando das grandes corporações ações efetivas para frearmos o aquecimento global, entre outros efeitos do uso indiscriminado das atuais fontes de energia. Caiu, portanto, como uma luva para sua forma de ver o mundo essa possível colaboração secreta que ele acredita que forças extraterrestres estariam emprestando à nossa sociedade planetária. Além de ser adepto das afirmações de Corso e outros, de que muito de nossa atual tecnologia advém de engenharia reversa de naves alienígenas e acordos de colaboração entre extraterrestres e governos, Hellyer viu o que parece ser o óbvio — se tais seres têm tecnologia para viajar anos-luz até aqui, certamente têm condições de nos ajudar a evitarmos maiores danos à natureza além daqueles que já fizemos até hoje.
A importância da credibilidade
Cabe aqui, portanto, uma análise mais crítica e realista de suas afirmações. Tendo em mente que elas são originadas de fontes já amplamente conhecidas pela Comunidade Ufológica Mundial — exceto oficiais norte-americanos cujos nomes não foram revelados por ele, mas que confirmariam tais realidades —, é importante fazer uma ponte entre sua militância política e ambiental e suas afirmações sobre o Fenômeno UFO. Quem não teria a resposta para seus sonhos se realmente tais supostos conluios entre extraterrestres e governos estivessem realmente acontecendo? Não seria a solução para tudo se esses fatos viessem à tona e tais tecnologias alienígenas fossem empregadas para solucionar nossos problemas atuais e futuros? Muitos diriam que a visão de Hellyer é uma combinação de conspiracionismo com messianismo técnico-ufológico, mas este autor não iria tão longe assim. Vejamos a razão.
Várias vozes têm surgido recentemente alegando que as afirmações do ex-ministro podem ser um “tiro no pé” da Ufologia por sua excentricidade e falta de comprovação efetiva — ou, ao menos, seriam um tiro certeiro nas atuais iniciativas de se liberar informações classificadas. As críticas vêm do fato de que se tem trabalhado no cenário ufológico com informações, digamos, mais fáceis de serem digeridas por autoridades civis e militares a quem a Comunidade Ufológica Mundial pretende atingir, como os ex-congressistas das Audiências Públicas sobre Abertura, além da comunidade científica em geral. Tais informações incluem detecções de UFOs em voo por radares, observações deles a curta distância por parte de militares altamente preparados e treinados, testemunhos extremamente qualificados dentro de seus contextos etc. Sob este ângulo de análise, a declaração de que há pelo menos dois ETs trabalhando para o governo dos Estados Unidos soa fora de contexto.
Porém, o que Hellyer afirmou são informações que ele recebeu de terceiros, algumas das quais contestadas dentro da própria comunidade, a exemplo das informações alardeadas por Corso sobre engenharia reversa e colaboração entre extraterrestres e o governo dos Estados Unidos. Há quem diga que tais declarações, muitas vezes consideradas alarmistas e fantasiosas, podem ser consideradas “fogo amigo” quando se trata da desclassificação de informações secretas por parte dos governos. Bem, embora não seja a intenção deste artigo entrar no mérito de tais afirmações, é possível que tenhamos aqui uma oportunidade rara para conseguirmos resultados ainda mais efetivos nessa busca incansável de confirmação sobre a natureza do Fenômeno UFO.
Ponto e contraponto
Com todo o respeito aos ufólogos sérios atuando nos quatro cantos do mundo, quais são as chances de encontrarmos entre eles alguém com as credenciais de Sir Paul Hellyer? Tudo bem que ele divulgue principalmente conceitos e informações que recebe de terceiros e que use tais conceitos e informações para balizar suas lutas políticas e ambientais. Mas quantos fazem o mesmo entre nós foram ministros da Defesa de uma das maiores potências do planeta? Quantos ufólogos tiveram acesso direto e irrestrito a relatos de avistamentos ufológicos por parte das forças armadas de seu país, ainda mais estando em posição de comando? Quantos ufólogos podem ter a penetração nos meios legislativos e executivos de grandes potências, como Paul Hellyer tem? Estas são indagações pertinentes e que neutralizam a eventual excentricidade de suas afirmações.
O alvoroço causado na Comunidade Ufológica Mundial e na mídia internacional devido às suas declarações em Washington certamente dá motivos para se pensar duas vezes antes de responder às questões acima. Talvez Hellyer seja um sonhador já em idade avançada, querendo um futuro socialmente mais justo para as próximas gerações. Talvez seja um combatente feroz que aproveitará suas credenciais e histórico para ajudar a finalmente termos acesso a tudo pelo que temos lutado há décadas. De qualquer forma, podemos e devemos respeitar alguém que, após passar por tudo que passou em sua vida pública e privada, venha colocar sua reputação em risco por um ideal, por uma causa. Independente do que possa decorrer de suas declarações nos últimos anos, Sir Paul Hellyer, assim como alguns poucos expoentes da Ufologia Mundial, deve servir de exemplo e espelho para o que é realmente ser um vencedor. É deixar para trás eventuais posições de um homem grande para se tornar um grande homem, firme em suas convicções e sem medo de mostrá-las.