Não há como fugir da polêmica quando o assunto é Ashtar Sheran. Caso partamos da premissa de que o badalado comandante espacial é real, encontraremos uma legião de pessoas prontas para nos chamar de fantasiosos, loucos e mais vários outros adjetivos desagradáveis. Quando escolhemos o outro lado, o que nega e combate os fãs de Ashtar, toparemos com outra legião de pessoas que nos qualificará da mesma maneira. Presos por ter cão, presos por não ter. Em se tratando de Ashtar, qualquer posicionamento absoluto é complicado. A razão disso reside em uma coisa simples, mas que se transforma num verdadeiro Everest quando se tenta ir além dela: há provas de que ele exista? Há provas de que seja uma ilusão? A resposta, senhores, é um claro e definitivo não. Antes que alguém se irrite diante desta afirmação e queira compará-la com a eletricidade que não se vê, porém existe, deixemos claro que embora não a vejamos, podemos provar que a eletricidade existe. Podemos fazer o mesmo em relação à Ashtar?
Ashtar Sheran é uma questão de crença e quando se trata da fé das pessoas, o assunto fica um tanto complicado. Não é possível analisar o coração de cada um e extrair dele as razões que levam alguém a crer ou não em algo. Por que as pessoas acreditam que Jesus, Buda, Maomé, santos, anjos, milagreiros, benzedeiras, ou que o papa Francisco, faça milagres? A resposta é simples: o ser humano tem necessidade de acreditar em algo superior a ele mesmo. Todos nós, de uma forma ou de outra, temos fé em algo. Alguns em Deus, outros na ciência, outros ainda em Ashtar Sheran. Como não dá para discutir fé, algo totalmente irracional e ligado ao subconsciente de cada um, o que podemos discutir e analisar são os amálgamas culturais e sociais que moldam nossa forma de ver o mundo e, portanto, formam nossas crenças.
Não cabe aqui iniciar uma longa discussão sobre a formação ancestral do código simbólico que rege nossas crenças, até porque isso já foi feito em outro artigo [Veja UFO Especial 33, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Mas podemos pegar a figura do comandante Ashtar, sua forma de comunicação e os alegados preceitos que apregoa e tentar, a partir disso, compreender melhor a figura intrigante. Para tanto, importará neste momento a origem histórica do tal ser, se foi George van Tassel ou Herbert Victor Speer o autor do primeiro contato, ou se tudo isso não passa de uma disparatada maluquice. Aqui trataremos da crença em Ashtar e por que as pessoas acreditam que um ser de tamanha força cruze o universo para nos visitar e alertar sobre os perigos que oferecemos a nós mesmos.
Ashtar, o galã das estrelas
Loiro, alto, forte, olhos azuis, heroico, bondoso, sábio, paternal, poderoso, messiânico. Não, não estamos falando de um príncipe encantado ou de Jesus Cristo. Falamos de Ashtar Sheran, o bravo comandante-chefe da Frota Extraplanetária da Confederação Intergaláctica da Grande Fraternidade Branca Universal, que teria sob suas ordens uma frota de mais de 500 naves. Nelas, haveria seres de vários lugares do universo, todos trabalhando em conjunto para pregar a paz e o entendimento entre os povos. O interesse deste guardião estelar teria recaído sobre nosso planeta quando, nos idos de 1950, começamos a testar e fabricar artefatos atômicos em nosso planeta. Ashtar, segundo alguns, seria o responsável por nos livrar dos perigos da radiação e manter limpa nossa atmosfera. Mas sua incansável missão não para por aí. Há quem diga que o comandante também resgata aqueles que estão “prontos” — e entenda-se por prontos aqueles que, dentre nós, multidão de pecadores, conseguiram purificar sua alma dos pecados.
Não é possível tratar da figura de Ashtar Sheran em termos absolutos de bem e mal, assim como não é possível quantificar a fé. O que é possível fazer é tentar compreender o que nos faz acreditar em um salvador da humanidade
Sem querer polemizar, mas já o fazendo, poderíamos alegar que a concepção do que seja pecado é puramente cultural e muda de país para país ao longo do tempo, mas esta não é a questão aqui. O que gostaríamos de ressaltar são as inúmeras coincidências que existem entre a missão e a condição de Ashtar Sheran com outras duas figuras fortes dentro de nossa cultura. Uma, a do bravo comandante. Outra, a de Jesus Cristo. Força e sabedoria. Direcionamento e retidão. Certeza e bondade. Proteção e salvação. Seria coincidência que sejam estas exatamente as coisas que nosso mundo mais precisa? Estaríamos projetando nas distantes estrelas aquilo que deveríamos tratar de fazer nós mesmos? Teríamos criado uma figura mítica e imputado a ela a responsabilidade que nos cabe? A resposta não será dada por este pequeno artigo, mas sem dúvida é uma questão intrigante sobre a qual todos deveriam refletir. O conforto da alma e a realidade do mundo.
Ashtar e o nosso futuro
Nossa espécie marcha para a aniquilação. Detestamos de tal forma aquilo que nos tornamos e a civilização que construímos e que vivemos apregoando seu fim. Profetas e pastores do apocalipse se multiplicam mundo afora, assustando e arregimentando seguidores com os mais variados propósitos. Programas de TV, filmes, livros, revistas e mais uma enxurrada de informações nos bombardeiam diariamente, indicando que o fim está próximo. A espécie humana, contudo, teimosamente recusa-se a acabar. A Terra recusa-se a explodir, os polos a se inverter, o cinturão de fótons a nos alcançar. O que há conosco? Por que não acabamos logo de uma vez?
As profecias do fim são muito mais antigas do que supõe a maioria das pessoas e remontam há milênios antes de Cristo. Ainda assim, continuamos aqui. A incômoda sensação que repousa em nossa alma, porém, é a de que estamos seguindo pelo viés errado da evolução, que a vida não era para ser o que fazemos dela. Que por algum motivo desconhecido escolhemos trilhar o caminho da opressão e da desgraça, ao invés daquele que nos conduzia à ventura e harmonia. O peso desta sensação que existe em cada um de nós, quando vemos as imagens das desgraças que nós mesmos criamos, é tão terrível e insuportável que precisamos, para continuarmos vivendo, de algo ou alguém que nos dê certeza de que nem tudo está perdido. No imenso cosmos que nos abriga e que não está lá fora, mas em torno de nós, alguém nos ama, alguém nos estende a mão, alguém ouve nossos lamentos de tristeza e corre em nossa ajuda. Sempre foi assim, desde os deuses do vulcão, e sempre será assim, até o dia em que finalmente, esgotados, nos voltarmos para nós mesmos e percebermos que não há heróis salvadores, nem comandantes
cibernéticos que possam fazer por nós aquilo que nós mesmos não pudemos: compreender que ninguém pode salvar quem não quer ser salvo.
Não é possível tratar da figura de Ashtar Sheran em termos absolutos de bem e mal, assim como não é possível quantificar a fé. O que é possível fazer, isso sim, é compreender que o que nos faz acreditar em um salvador da humanidade é nossa incapacidade de lidar com os efeitos de nossa falta de juízo. Não nos ajuda a sensação de que podemos fazer o quisermos neste planeta porque sempre haverá alguém de prontidão para limpar a sujeira que produzirmos. Bem ao contrário, nos dá a sensação de que no final das contas a responsabilidade não é nossa. Ledo engano. As pessoas morreram nas guerras apesar de suas crenças, ou até por conta delas. Pestes e doenças mataram milhões, ainda que as pessoas suplicassem, desesperadas, a ajuda dos céus. Desgraças naturais ainda insistem em destruir e desdenhar de nossos edifícios, cidades e construções. A natureza, muito mais sábia que qualquer um de nós, obedece ao eterno ciclo de modificações que se espalha por todo o universo.
O segredo talvez não esteja na fé infantil de que alguém nos pegará no colo e nos embalará para que a inextinguível e complexa regra que diz caber a cada ação uma reação nos atinja. Mas talvez esteja no amadurecimento de todos nós e em nossa mudança de atitude em relação ao mundo em que vivemos. A natureza não nos castiga. Ela existe além de nós e nós somos parte dela. Nosso planeta é um ponto desprezível do cosmos e ele não desmontará apenas porque algum dia a Terra deixe de existir. Talvez, se não ficarmos pelo caminho, alcancemos um estágio de compreensão tal que, o que quer que seja a divindade, ela possa nos brindar com as chaves que decifrarão nossa existência. Nesse dia, nossa fé deixará de ser o choro infantil de crianças apavoradas e passará a ser, isso assim, o degrau de nossa evolução. Ashtar Sheran agradece.
Onde está, afinal, o bem e o mal nesta questão?
Ashtar Sheran é uma figura ímpar e cativante dentro do contexto ufológico. Classificá-lo a priori como uma entidade do bem ou do mal, é uma atitude simplista. A pergunta que melhor cabe é se tal ser traz em seu âmago os atributos e é realmente completo o bastante para representar tanto o bem como o mal. O bem e o mal são conceitos antitéticos [Opostos] arraigados na psiquê humana e que se manifestam e se fazem representar das mais diversas formas, nas mais variadas épocas e culturas. O que Ashtar pode eventualmente representar, pode ser entendido de formas diferentes por pessoas diferentes. O correto seria indagar às próprias pessoas que juízos de valor fazem dele. Entenda-se
aqui por pessoas vocês, caros leitores.
Estímulos externos
Um bisturi tanto pode salvar uma vida, se corretamente manuseado por um perito cirurgião, quanto tirar uma, se colocado nas mãos de um assassino. Daí que as mensagens de Ashtar Sheran podem gerar diferentes resultados, dependendo da índole daqueles que as interpretam e as aplicam em termos práticos. As maneiras de como encaramos as mensagens dependem de nossa própria visão de mundo e são inerentes às reações de nosso inconsciente ante os estímulos externos. Portanto, em meio a tantas incertezas, não seria mais produtivo perguntar se o bem ou o mal em questão aqui não estaria dentro de nós mesmos? E que eles estão em nossa própria capacidade de entendê-los, diferenciá-los e direcioná-los corretamente?– Vanderlei D\’Agostino