O senhor Urandir Fernandes de Oliveira apareceu no cenário ufológico brasileiro há três anos dizendo que mantinha contato com tripulantes de discos voadores, que já tinha passeado diversas vezes em suas naves espaciais e que os seres extraterrestres lhe teriam dado poderes paranormais. Assim, dentro das possibilidades, passamos a acompanhar os acontecimentos e a verificar o que haveria de concreto em suas ousadas afirmações.
No entanto, nada – absolutamente nada – pudemos descobrir de fato. Em março deste ano, o editor de UFO A. J. Gevaerd, juntamente com uma equipe da TV Educativa de Campo Grande (MS), acompanhando as atividades do suposto contatado em sua propriedade rural, descobriu que Urandir estava se utilizando de canetas laser para realizar truques que se assemelhassem a manifestações de UFOs.
Em seu “show”, era ajudado por vários asseclas e ainda afirmava para as 65 pessoas que lá estavam (e que pagaram pelo espetáculo), que as luzes eram sondas ufológicas (sic). Isso foi devidamente registrado em UFO 52, de julho passado. Logo depois disso, o programa Brasil Verdade, da Rede Bandeirantes, passou a divulgar que um grande paranormal iria participar do programa todas as quintas-feiras, criando-se uma expectativa entre os telespectadores.
Quando o tal paranormal foi revelado, tratava-se de Urandir, é claro. Assim, logo de imediato, Gevaerd, este autor e outros colegas entraram em contato com a produção do programa, para informar fatos que eram de conhecimento dos ufólogos. Como resultado, acabei sendo convidado a ir a uma edição do programa. Fui até a emissora, mas não cheguei a participar, apenas fiquei observando o que se passava.
A produção do Brasil Verdade já havia criado um clima mágico em torno de Urandir, que era acompanhado por vários de seus seguidores e asseclas em suas apresentações. No entanto, não só nesse programa de abertura, mas também naqueles exibidos nas semanas posteriores, o que pudemos ver foi apenas um punhado de truques infantis que Urandir realizava em frente às câmeras.
Assim, novamente, Gevaerd, este autor e mais cinco colegas escreveram artigos em UFO 54, de outubro passado, esclarecendo os leitores e o público leigo sobre as inverdades cometidas por este alegado contatado. Evidentemente, tais artigos acabaram sendo do conhecimento dos integrantes do programa e, para minha surpresa, em 16 de outubro de 1997, o senhor Wilton Franco apareceu ao vivo no Brasil Verdade convocando-me, muito gentilmente, a fazer um teste com o Urandir.
Convite ou desafio? – Franco não usou tom de desafio, mas de um educado convite, e disse que poderia escolher um estúdio a meu gosto, chamar outras pessoas que quisessem me acompanhar, inclusive a Imprensa. Por isso, no dia seguinte, liguei para a produção do programa e conversei com a jornalista Claudia Cristina, a quem garanti que aceitava o convite e que iria formalizar isso por escrito. Assim, em 20 de outubro de 1997, enviei por fax uma carta aceitando oficialmente o chamado, tornando a repetir o fato no dia posterior, para garantir que receberiam o fax.
Nos dias subseqüentes, por diversas vezes, telefonei para a produção, mas ninguém sabia me informar se os dois faxes chegaram às mãos de Wilton Franco. Isso fez com que eu remetesse nova carta ao diretor do programa, em 28 do mesmo mês. Desta vez por Sedex e com a garantia do aviso de recebimento (AR) dos Correios. Nesta correspondência citei duas datas que poderiam ser usadas para o possível encontro com Urandir: 1° ou 08 de novembro de 1997.
Ocorreu, entretanto, no programa de 30 de outubro, que Urandir disse no ar que no próximo final de semana estaria em Campo Grande para fazer palestras. Ora, o próximo fim de semana envolvia o dia 1° de novembro, ou seja, essa foi uma forma indireta de ele dizer que não aceitaria o convite na data estipulada… E quanto à outra data, nada falaram, nem ele, Franco ou os apresentadores, seja no programa, seja por outros meios. Mesmo assim, uma semana depois disso, a mesma jornalista Claudia Cristina telefonou-me dizendo que Franco queria que eu participasse ao vivo do Brasil Verdade, ao lado das apresentações de Urandir, ao que eu disse não. Informei à ela que tinha aceito o convite dentro das condições que me foram propostas pela direção do programa e que estava convocando algumas pessoas e escolhendo um local.
Susto – Disse também que estava aguardando uma data por parte do “contatado”, na qual este pudesse se submeter ao teste. Foi solicitado que o encontro se desse num fim de semana, porque várias das pessoas que estavam sendo convidadas para participar moram noutros Estados e todas trabalham durante a semana. O próprio jornalista Roberto Garcia, da produção do Brasil Verdade, já havia me dito que poderíamos gravar em um final de semana sem problemas.
Assim, aguardei mais uns dias e novamente Claudia me telefonou, desta vez dizendo que Wilton Franco estava pedindo a relação das pessoas que iriam fazer parte do encontro a ser ocasionado pelo convite que ele havia feito. No dia seguinte, 11 de novembro, enviei a relação com os 13 nomes – vários dos quais já haviam aceitado e outros ainda estavam sendo contatados. Essa relação de pessoas também foi enviada por fax e por Sedex. A apresentação de tais nomes deve ter deixado Franco e Urandir assustados, simplesmente pelo que se sucedeu em 20 de novembro. Alguns dos indivíduos relacionados em minha carta e fax já são velhos conhecidos de Franco. Para minha surpresa, e também de Gevaerd, no programa desse dia, toda a equipe do Brasil Verdade, assim como Urandir, distorceram completamente os fatos.
Logo no início do segundo bloco, a apresentadora doutora Rose perguntou a Urandir se ele havia recebido um desafio de algumas pessoas e como estava tal situação. Oras, até então ninguém havia feito desafio algum a Urandir. Foi Wilton Franco quem me convidou e Urandir quem aceitou. Isso foi falado ao ar e ao vivo, para todo o Brasil.
Tiroteio – Depois de se referir ao assunto, atendendo à pergunta da apresentadora, Urandir alegou: “Não tenho que provar nada a ninguém e muitos cientistas já provaram meus poderes” (sic). Em seguida, Urandir passou a acusar Gevaerd, de forma direta, e também a mim, indiretamente, como fraudadores da Ufologia e como participantes das manobras mundiais de acobertamento militar do assunto pelos governos.
O que é mais grave é que, num certo instante, Urandir declarou que estaria em Campo Grande em 02 de dezembro e que teria recebido duas ligações telefônicas ameaçando-o de levar tiros “…se eu aparecesse por lá”. Então, referindo-se a Gevaerd e a mim, e respondendo a uma vaga pergunta da doutora Rose, disse: “Não sei se foram eles que fizeram isso…” (sic).
A postura de Urandir em cair fora de tal situação dessa maneira, inventando até telefonemas com ameaças de morte, foi uma maneira covarde de fugir do debate. Isso é caso de polícia e muitos já viram essa história antes: todas as quintas-feiras, o Brasil Verdade está mostrando uma versão moderna do velho programa O Povo na TV, em que Franco (então diretor) e Lengruber (seu paranormal protegido naquela época) tive
ram sérios problemas com a polícia e a justiça, envolvidos em processos de curandeirismo e charlatanismo. É lamentável.
Lista de nomes dos ufólogos e especialistas convidados para testar o suposto contatado Urandir Oliveira, que depois de consentir num desafio do programa Brasil Verdade, fugiu do debate:
Claudeir Covo, São Paulo (SP)
A. J. Gevaerd, Campo Grande (MS)
Reginaldo de Athayde, Fortaleza (CE)
Rafael Cury, Curitiba (PR)
Antonio Faleiro, Passa Tempo (MG)
Jair Soares, Campo Grande (MS)
Marco A. Petit, Rio de Janeiro (RJ)
Dr. Artêmio Longhi, São Paulo (SP)
Oscar Quevedo, São Paulo (SP)
Luciano Stancka, São Paulo (SP)
Ronaldo Kauffmann, São Paulo (SP)
Lúcio Barbosa, Campo Grande (MS)
Ubirajara Rodrigues, Varginha (MG)
Aguardamos que ele reconsidere e se submeta ao teste.