Ao fim de 14 anos capturando imagens fantásticas e surpreendendo cientistas que estudam o planeta Júpiter, a sonda Galileo irá terminar sua missão neste domingo, quando será lançada a mais de 174 mil km/h em direção ao planeta para uma explosão com sua atmosfera. De acordo com a Nasa, a estratégia da explosão é necessária porque o combustível está esgotado e a sonda não conseguirá apontar sua antena na direção da Terra ou ajustar sua trajetória durante a queda. A razão para o impacto ocorrer em Júpiter é o perigo da sonda contaminar uma das luas do planeta, a Europa, que tem sua superfície coberta de gelo, com micróbios vindos da Terra e perturbar o desenvolvimento de futuras vidas no local. Por isso, a sonda irá colidir e explodir com a atmosfera de Júpiter, o maior planeta de todo o Sistema Solar. Na explosão, qualquer forma de vida que estiver junto à sonda irá se desintegrar devido à velocidade do choque. De acordo com o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), dr. Roberto Boczko, essa será a primeira vez que uma espaçonave será lançada em direção a um planeta com a finalidade de manter a asseptividade. “Os especialistas acreditam que a temperatura atingida será suficientemente grande para conseguir matar qualquer forma de vida que esteja na espaçonave apesar de todo o processo de esterilização pelo qual ela passou antes da decolagem”. A explosão está prevista para as 17h50 (horário de Brasília) de domingo. Os cientistas acreditam ainda que a espaçonave de três toneladas conseguirá coletar e enviar algumas informações até seus últimos momentos. O fim da Galileo será como uma morte para os projetistas. Orçada em US$ 1,4 bilhão e pensada pela primeira vez em 1977, a Galileo foi uma das mais proveitos e satisfatórias missões já realizadas pela Nasa. A Galileo está em atividade seis anos a mais do que o inicialmente planejado. As descobertas e os avanços foram muitos, proporcionalmente aos problemas surgidos. Poucas equipes de controle de vôo tiveram de lidar com uma espaçonave que necessitasse de tamanha atenção e engenhosidade. Devido aos problemas enfrentados desde o início, alguns cientistas dizem que a Galileo foi de fato uma nave muito guerreira e corajosa. No site da missão há diversas informações sobre a Galileo, incluindo todas as etapas, dados da espaçonave, desenhos das rotas e imagens realizadas. O mais curioso é um contador regressivo, que marca quantos dias, horas, minutos e segundos faltam para o fim da Galileo. Galileo – a missão Lançada ao espaço em 1989 depois de um longo atraso causado pela perda do ônibus espacial Challenger em uma explosão, em 1986, a missão do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), em Pasadena, na Califórnia, demorou seis anos para chegar a Júpiter, localizado a cerca de 800 milhões de quilômetros da Terra. O vôo foi feito por uma rota tortuosa, devido à potência limitada do propulsor-foguete original. Já no Espaço, a antena principal do aparelho, que transmitia imagens e dados de Júpiter e de suas quatro maiores luas em direção à Terra, não se estendeu corretamente para fora da nave. A improvisação foi feita com antenas menores. Em 1995, um novo problema. A Galileo sofreu defeitos em um gravador de dados científicos ao entrar na órbita de Júpiter, prejudicada pelas repetidas ondas de intensa radiação vindas das margens radiativas do planeta. Muitos aparelhos e artefatos foram danificados, alguns substituídos ou apenas improvisados. Mesmo assim, os engenheiros conseguiram, quase sempre, reprogramar o software e superar os problemas. As descobertas Cientistas consideram que a viagem da Galileo foi uma das missões de exploração planetária mais bem-sucedidas já realizadas. A sonda produziu uma série de descobertas enquanto circulava por Júpiter por 34 vezes. Galileo foi a primeira nave espacial a observar a atmosfera de Júpiter com uma sonda. Mesmo assim, acredita-se que ainda hoje nem todas as informações sobre a expedição tenham sido divulgadas pelas agências e institutos que trabalharam junto ao projeto Galileo. Para Boczko, as primeiras informações obtidas pelas sonda são captadas e trabalhadas apenas pelos envolvidos. Anos depois, quando os dados estão reunidos e atualizados, eles são, então, divulgados para o resto da comunidade científica para que sejam avaliados. “Por isso, ainda estamos num período onde boa parte dos dados ainda não foram completamente publicada. Temos de esperar as informações que estão sendo elaboradas a partir dessas instituições”, garante. Foram estudadas mais profundamente as luas Ganymede, Callisto, Europa e Io, que não têm nenhuma semelhança entre si. Ganymede não só é a maior das luas do Sistema Solar como é também maior que os planetas Mercúrio e Plutão. Através da Galileo, descobriu-se que Ganymede tem um forte campo magnético, até então não cogitado. A gélida Callisto parece ser o objeto com maior incidência de crateras já registrado no Sistema Solar. Io borbulha com erupções de inúmeros vulcões. Os fluxos de lava são mais quentes do que qualquer coisa vista na Terra nos últimos dois bilhões de anos. Europa foi a lua objeto de maior discussão e admiração pelos cientistas. Nas passagens de Galileo, a aparência da crosta congelada de Europa sugere que o gelo esteja encobrindo um imenso oceano. Com isso, diversos cientistas se perguntaram se poderia existir vida lá. Para Boczko, o entusiamo é aceitável porque “a lua Europa é o único astro do Sistema Solar que possui água na forma líquida. E como nós sabemos que água é fundamental para o aparecimento e para a manuntenção da vida, é possível que haja debaixo dessa capa alguma forma de vida”. Ele diz ainda que a exploração desse oceano ainda não é possível devido a asseptividade e não à tecnologia desenvolvida na Terra. “As agências e estações que estudam Astronomia têm tecnologia e aparelhagem para furar essa água e descobrir se há vida ou não. O problema é que esse aparelhos podem levar algum tipo de vida microscópia para o local fazendo com que não se saiba se a vida surgiu lá ou foi levada da Terra”, afirma. Para as expedições futuras, Boczko acredita que em breve serão desenvolvidas formas que garantirão uma assepsia superior e mais eficiente do que a utilizada atualmente. “Futuramente, com essa tecnologia, uma sonda poderá furar o oceano da lua Europa, estudar a vida lá existente e não contaminar a região”, conta. Curiosidades Nome: Galileo, Journeu to Júpiter, em homenagem ao cientista Galileo Galilei Nome original: Missão experimental na órbita de Júpiter Planejamento e desenvolvimento: 12 anos Origem da idéia: outubro de 1977 Custo total: US$ 1,4 bilhão Lançamento ao espaço: 18 de outubro de 1989, no Space Shuttle Atlantis Peso da espaçonave: 03 toneladas Viagem entre planetas: 06 anos Viagem ao redor de Júpiter: cerca de 08 anos Distância total percorrida (do lançamento à colisão): 4,631,778,000 quilômetros (2,878,053,500 milhas) Chegada a Júpiter: 07 de dezembro de 1995 Número de voltas ao redor de Júpiter: 35 Primeiro passeio ao redor da Terra: 08 de dezembro de 1990 Segundo passeio ao redor da Terra: 08 de dezembro de 1992 Primeiro passeio a Vênus: 10 de outubro de 1990 Primeiro passeio ao redor do asteróide Ida: 28 de agosto de 1993 Combustível utilizado (se contar as viagens de ida e volta): 925 Kg Imagens feitas pela sonda: cerca de 14 mil Dados coletados: mais de 30 Gigabytes Pessoas envolvidas: mais de 300 pessoas Principais descobertas: avanços no Sistema Jovian, que incluem o planeta Júpiter e quatro grandes luas – Ganymede, Callisto, Europa e Io – e mais 61 outros satélites. Velocidade da sonda no lançamento em direção a Júpiter: 174 mil km/h Fim da missão: 17h50 (horário de Brasília) do dia 21 de setembro de 2003