
Por todo o mundo temos ruínas que testemunham a habilidade, conhecimento, capacidade artística e de engenharia das civilizações extintas. Muitas vezes, para nós, humanos modernos, as obras dos antigos parecem quase impossíveis de ter sido feitas, já que, até onde sabemos, vivemos o pico do conhecimento tecnológico humano e não conseguiríamos — ainda que tentássemos — reproduzir os feitos arquitetônicos de nossos antepassados.
Mas isso, claro, até onde sabemos. E há muito que desconhecemos sobre os povos que vieram antes de nós, sobre suas capacidades, conhecimentos técnicos e, principalmente, sobre como esses conhecimentos foram desenvolvidos. Em alguns sítios arqueológicos ainda é possível vermos algum tipo de progressão de técnicas, mas em outros a sensação que temos é a de que, de repente, um povo se instalou ali e começou a erguer monumentos com alto conhecimento de engenharia, implicando também em um bom conhecimento de matemática, física e geometria.
E o que torna tudo ainda mais interessante é que quanto mais recuamos no tempo, mais sofisticadas e primorosas vão ficando as construções, como nos mostra o sítio de Gobekli Tepe, na Turquia. O mesmo acontece na América do Sul, mais especificamente na região andina, onde as ruínas desafiam todas as explicações oficiais sobre sua origem. E ainda assim a arqueologia se recusa a aceitar que, talvez, algo extraordinário tenha acontecido em nosso planeta há alguns milênios — algo que veio das estrelas.
Caral e seus mistérios
Situado a aproximadamente 200 km ao norte de Lima, no Peru, há um local de tirar o fôlego de qualquer um que se interesse por arqueologia: a cidade-estado de Caral. Suas ruínas foram descobertas em 1905, mas somente em 1949 os pesquisadores perceberam que ali se encontrava uma majestosa cidade. Em 1965, uma fotografia aérea feita por Paul Kosok, um dos estudiosos que visitara o local em 1949, revelou a extensão do sítio, evidenciando um conjunto de grande complexidade arquitetônica. Na época o lugar ainda era conhecido como Chupacigarro Grande e embora o estado extremamente desgastado das ruínas de pedra indicasse que eram muito antigas, não se conseguiu determinar o quanto. O relato de Kosok foi publicado no livro Life, Land and Water in Ancient Peru [Vida, Terra e Água no Peru Antigo. Long Island University, 1965].
Em 1975, pesquisadores peruanos liderados por Carlos William começaram a mapear o sítio, no Vale de Supe, e já então se desconfiava que aquelas ruínas poderiam ser muito mais antigas do que se dizia — e que a cidade poderia ser contemporânea das civilizações egípcia, chinesa e mesopotâmica. Então, em 1997, devido a descobertas feitas no local, chegou-se à conclusão de que o complexo urbano tinha mais de 5.000 anos. Foram realizadas 42 datações por radiocarbono nos Estados Unidos, fixando o início da existência da cidade em 3.000 a.C. e seu declínio por volta de 1.800 a.C., quando a cidade parece ter sido abandonada repentinamente.
A arqueóloga e antropóloga peruana Ruth Shady, que redescobriu o sítio arqueológico e começou a escavá-lo em 1996, identificou outros 18 assentamentos do mesmo período distribuídos ao longo de 40 km. Todos eram próximos ao litoral no Vale do Supe, tinham as mesmas características arquitetônicas, compartilhavam as mesmas tradições e constituíam uma rede grande e bem organizada de comunicação e comércio, na qual Caral exercia o papel central. Foi Ruth que terminou por batizar Chupacigarro Grande como Caral para a destacar de outros três locais que tinham todos o mesmo nome, apenas sendo diferenciados pela orientação geográfica ou tamanho. Ela rebatizou também todos os locais que hoje são conhecidos como Caral, Chupacigarro, Miraya e Lurihuasi, que são os nomes indígenas dos povoados próximos. Aliás, na língua quéchua, Caral significa presentear, indicando que era uma cidade dedicada ao serviço de oferendas religiosas aos deuses. De fato, foram encontrados diversos objetos feitos de pedra, ossos e madeira usados em práticas religiosas. Entre eles, adornos e flautas feitos com ossos do gigante pássaro Condor.
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