Material originário do Sistema Solar interior aparece no pó do cometa, que se formou a uma grande distância do Sol. A presença dessas partículas é um mistério
Análises detalhadas da primeira amostra de cometa a ser trazida para a Terra estão demolindo algumas antigas crenças sobre como esses corpos celestiais gelados se formam.
Os cientistas esperavam que os grãos microscópicos dos cometas contivessem, principalmente, poeira interestelar – partículas que flutuam pelo Sistema Solar, tendo vindo de estrelas antigas, já mortas.
Em vez disso, encontraram uma inesperada mistura de material primordial, como se o Sistema Solar tivesse virado do avesso. Partículas do Sistema Solar interior de alguma forma migraram para a área além de Plutão, onde se misturaram, congelaram e deram origem aos cometas.
“As pessoas imaginam que os cometas se formam em total isolamento, o que não é verdade”, disse o pesquisador Don Brownlee, principal investigador da missão Stardust. Ele estima que até 10% do material nos cometas pode vir do Sistema Solar interior.
Uma série de artigos científicos detalhando os resultados da missão Stardust serão publicados na edição desta semana da revista Science, e serão apresentados na reunião da União Geofísica Americana.Uma cápsula, trazendo milhares de minúsculas amostras do cometa Wild 2 retornou á Terra em janeiro, depois de girar em torno do Sol para capturar amostras de pó interestelar, e de cruzar com o Wild 2 para recolher parte de seu material.
Cientistas referem-se ao Wild 2 como uma cápsula do tempo congelada, porque contém material preservado de pouco depois da formação do Sistema Solar, há 4,5 bilhões de anos.
Como o material do Sistema Solar interior pode ter ido parar nos cometas é um mistério. Brownlee diz que o processo de formação do sistema provavelmente foi caótico e instável, permitindo que partículas quentes do interior flutuassem até bilhões de quilômetros, rumo aos limites da esfera de influência do Sol.