O projeto, liderado pelo professor Hakan Kayal, especialista em tecnologia aeroespacial, busca reduzir o estigma que historicamente silencia os aviadores em relação a esses tipos de avistamentos.
“Muitos pilotos preferiram permanecer em silêncio por medo de serem considerados loucos”, explicou Kayal em entrevista ao Der Spiegel . “Queremos mudar isso.”
Embora o sistema de coleta de dados esteja operacional há apenas alguns dias , Kayal destaca o apoio do órgão regulador alemão, o Luftfahrt-Bundesamt, que disponibilizará oficialmente um link para o novo escritório em seu website. O pesquisador espera que isso incentive as equipes a relatarem sem medo. O termo “OVNI” foi deliberadamente evitado devido à conotação pejorativa que adquiriu. Em vez disso, a equipe se refere a UAPs (fenômenos aéreos anômalos não identificados), seguindo a terminologia adotada por organizações internacionais como a NASA.
Kayal observa que já foi contatado por pilotos da companhia aérea nacional Lufthansa, que relataram fenômenos luminosos e manobras impossíveis para qualquer tecnologia aeronáutica conhecida, como objetos viajando a velocidades extremas e em trajetórias incompatíveis com aviões, drones ou balões. Ele também se lembra do depoimento público do ex-piloto-chefe da mesma empresa, Werner Utter, que só ousou se manifestar após sua aposentadoria.
Origem não humana
O objetivo imediato é documentar esses fenômenos e tentar entender sua natureza com a ajuda de dados de satélite, meteorológicos e de controle de tráfego aéreo. Mas o professor vai além: ele não descarta que uma fração desses OVNIs possa ter origem inteligente e não humana.
“Não devemos mais ignorar ou ridicularizar essa possibilidade”, alertou. “Nos Estados Unidos, a questão já começou a ser levada a sério, e até a NASA pediu mais coleta de dados com instrumentos especializados. Estamos diante de uma mudança de paradigma.”
Prof. Dr.-Ing. Hakan Kayal. Crédito: Universidade de Würzburg.
No âmbito europeu, Kayal cita a França como pioneira com sua organização GEIPAN, que atua há décadas dentro da agência espacial CNES. Essa organização reconheceu que aproximadamente 3% dos casos investigados não podem ser explicados, mesmo após análises exaustivas. Para Kayal, essa pequena porcentagem pode ser fundamental para a descoberta de fenômenos físicos ainda desconhecidos, semelhantes a como os “sprites vermelhos” (descargas elétricas na atmosfera superior) foram ignorados por anos até serem confirmados pela ciência na década de 1990.
Embora reconheça que muitas observações poderiam ter explicações convencionais, o pesquisador ressalta que fenômenos semelhantes aos atuais têm sido relatados há mais de 50 anos, muito antes da existência de drones avançados. Ele também ressalta que radares civis e militares frequentemente filtram objetos com baixa velocidade ou comportamento incomum, de modo que muitos UAPs podem simplesmente estar passando despercebidos.
A herança pesada
Olhando para o futuro, Kayal sonha em instalar câmeras nas cabines de comando com a permissão das companhias aéreas e das autoridades — ou até mesmo desenvolver pequenos satélites com sensores especializados, capazes de detectar movimentos aéreos não convencionais, com o apoio de inteligência artificial. “Alguns dados que poderiam nos interessar nem sequer estão sendo registrados pelos sistemas atuais”, alerta.
Por fim, o professor lembra que a desinformação gerada durante a Guerra Fria quando programas como o U-2 eram acobertados a todo custo contribuiu para a criação de uma cultura de zombaria e silêncio em torno dos avistamentos. “Isso deixou um legado difícil de superar, mas é hora de olhar para o céu com olhos científicos e mente aberta”, concluiu.