Fui pressionada pela Aeronáutica a convencer as pessoas atingidas pelas luzes conhecidas por chupa-chupa de que elas estavam sendo vítimas de uma alucinação coletiva e que aquilo que elas viram nunca existiu”. Quem afirma isso, após ler a reportagem publicada na edição de 08 de janeiro de O Liberal, é a médica Wellaide Cecim Carvalho, que na época era a diretora da Unidade Sanitária de Colares. Ela atendeu cerca de 80 pessoas atingidas pelas luzes misteriosas. A reportagem se refere ao fenômeno que mobilizou e apavorou as comunidades de Colares, Vigia, Santo Antonio do Tauá, Mosqueiro e Baía do Sol, todas no Pará, no final de 1977 e primeiro trimestre de 1978.
“Quem teve contato com as primeiras pessoas agredidas pelo chupa-chupa fui eu. Apesar de na época ter apenas 22 anos e de ser extremamente cética, comecei a perceber alterações inexplicáveis para a medicina. As queimaduras na pele das vítimas eram geralmente no pescoço e no hemitórax, acompanhadas de dois pequenos furos paralelos, como se fossem mordidinhas, mas que na realidade não eram”, explica Wellaide Carvalho. Doutora em saúde pública e psiquiatra, a médica observa que após 60 dias de ocorrências diárias, que ultrapassaram mais de 120 casos, ela começou a produzir relatórios para a coordenação da Secretaria Executiva de Saúde (Sespa). Foi aí que aconteceu algo que ela não esperava: foi proibida pela tal Secretaria de admitir que algo estranho estivesse acontecendo.
“Mas, por eu ser uma pessoa muito fiel àquilo que vejo e não àquilo que escuto, continuei falando, mesmo correndo o risco de ser demitida, porque na época não era concursada”, declara a médica, que concedeu a seguinte entrevista a este repórter de O Liberal. Ela acha que as autoridades públicas não acreditavam no fenômeno, e mesmo que o tivessem visto não acreditariam. “Nem sequer foram me visitar. Fui eu quem descobriu que as pessoas atingidas pelas luzes perdiam hemácias. Sempre fui perfeccionista na minha profissão, desde aquela época. E quando observei que perdiam sangue, isso foi em função de uma pesquisa que eu fiz para saber porque as pessoas eram acometidas de extrema astenia, apatia e até inapetência, porque não podiam andar. Fiz inúmeros relatórios para o então secretário de Saúde na época”. Confira:
Carlos Mendes — Quem era o secretário de Saúde do Pará na época?
Doutora Wellaide — Era o doutor Manoel Ayres. E o meu superior imediato na Sespa era o doutor Luiz Flávio Figueiredo de Lima, que proibiu que eu falasse, comentasse ou concordasse com a população sobre o chupa-chupa. Só que, você sabe, qualquer pessoa – e não precisa ser médico para saber –, uma queimadura só resulta em necrose da pele após 96 horas. E as queimaduras das vítimas das luzes apresentavam necrose da pele imediata, cinco minutos após o acontecido.
Carlos Mendes — Qual é a explicação que a senhora encontrou para isso?
Doutora Wellaide — Aí é que é a história. Eles – os seres que pilotavam os objetos luminosos – não poderiam ser russos, como se dizia. Porque por mais avançada que fosse sua tecnologia na época, ninguém seria capaz de produzir queimaduras num ser humano daquela forma.
Carlos Mendes — Como psiquiatra, a senhora acredita que as pessoas foram vítimas de uma histeria coletiva?
Doutora Wellaide — Isso foi o que a Aeronáutica me solicitou a vida inteira para que eu dissesse. Mas não existiu histeria coletiva e muito menos alucinações visuais coletivas. A psiquiatria prova que não. Você pode ter problemas místicos coletivos, nos quais as pessoas se suicidam em massa. Mas ninguém pode ter o mesmo delírio, a mesma alucinação visual, auditiva ou sinestésica, ao mesmo tempo e em locais diferentes.
Carlos Mendes — Quem pediu que a Aeronáutica investigasse o caso?
Doutora Wellaide — Já que ninguém me socorria – pelo contrário, pediam que eu me calasse –, o prefeito da Ilha de Colares na época, Alfredo Ribeiro Bastos, foi quem solicitou a presença da Força Aérea Brasileira (FAB). Veio também do Paraná o então presidente do Centro de Investigações e Pesquisas Exobiológicas (CIPEX), o biomédico, ufólogo e filósofo Daniel Rebisso Giese. Eu e ele escrevemos em parceria o primeiro livro sobre o assunto, Vampiros e Extraterrestres na Amazônia [Edição particular, 1988]. Quem também pediu ajuda foi o padre de Colares, Alfredo de La Ó, já falecido, que era médico otorrinolaringologista.
Carlos Mendes — O que mais a magoou nesse caso do chupa-chupa?
Doutora Wellaide — Foi o fato de eu estar com 22 anos e ser diretora da unidade sanitária de Colares, mas ter pessoas na minha frente que precisavam ser pesquisadas, para se saber porque estavam inapetentes e porque não conseguiam andar ou falar. Foi procurar nos arquivos os últimos exames de hemograma daquelas pessoas e comparar com os atuais, para descobrir que eles estavam com baixíssimas taxas de hemácias e de hemoglobina. Nenhum objeto poderia causar necrose de pele por queimadura tão imediata. O terceiro fator foi a alopécia, que é a queda definitiva e a impossibilidade de nascimento de pêlos por toda a vida. As pessoas atingidas nunca mais tiveram pêlos nascidos no local das queimaduras.
Carlos Mendes — Quando a Aeronáutica apareceu finalmente na região?
Doutora Wellaide — Só depois de 90 dias do nossos pedidos, quando Colares estava assustada e esvaziada, que a FAB deu o ar de sua graça. E como vivíamos numa época de ditadura, os militares me chamavam diariamente, para que eu convencesse a comunidade de que as pessoas estariam sofrendo alucinação coletiva. Ma eu me recusava.
Carlos Mendes — Diante dessa pressão dos militares do serviço secreto da Aeronáutica, o que a senhora fez?
Doutora Wellaide — Eu me neguei a atender-lhes. Sempre os questionei e lhes disse que os desobedeceria. Eu discordo dos militares quando eles dizem em seu relatório que eu temia ser ridicularizada – eu não me importava com isso. Já dei entrevistas à TV Liberal e à TV Cultura, a emissoras de televisão dos Estados Unidos e da Europa, mesmo na época sendo funcionária da Sespa, ainda não concursada. Não tinha receio. Apesar de cética, o que eu vi tenho certeza absoluta de que era verdadeiro. Não sei o que era, mas que era verdade, isso era.
Carlos Mendes — A senhora também viu os seres do espaço, assim como o capitão Uyrangê Hollanda, que chefiava a Operação Prato?
Doutora Wellaide — Eu vi num dia, às 17h00, uma nave a 50 m de altura e em plena rua principal de Colares. Dentro dela havia um ser com 1,20 a 1,30 m. Iss
o aconteceu na hora em que eu me deslocava para a unidade sanitária para atender uma criança que tinha quebrado a clavícula e eu ia fazer imobilização. Fiquei totalmente à mercê deles – dos seres – , porque a nave estava tão baixa que eu via o brilho do metal que a revestia. Não tinha a forma discóide, mas de um cone ou cilindro. Seu trajeto era elíptico. Às 17h00 você não pode ser enganado pela visão. Pode até delirar ou alucinar, mas antes de mim, quantos teriam alucinado ou delirado?
Carlos Mendes — Alguém morreu após ser sugado pelas luzes dos UFOs?
Doutora Wellaide — Duas pessoas que eu transportei para o Hospital dos Servidores, em Belém, morreram. Eu as levei no meu carro. Só que, quando foi fornecida a declaração de óbito, eles [Os funcionários do hospital] colocaram “causa desconhecida”, mesmo com as queimaduras, os orifícios e os exames comparativos. Ou seja, é muito fácil neste país você se esconder.
Pessoas humildes e comuns — Como se sabe hoje, a Operação Prato coletou depoimentos daqueles que avistaram e foram atacados pelas luzes misteriosas. Pescadores, trabalhadores rurais, pessoas humildes e comuns atingidas pelos objetos foram entrevistadas pelos militares da Aeronáutica, entre novembro de 1977 e o primeiro trimestre de 1978. O que elas narraram faz parte do relatório da operação, documento da Aeronáutica assinado pelo capitão Uyrangê Hollanda, cujo conteúdo foi obtido por O Liberal [Veja cerca de 200 páginas no site da Revista UFO, no endereço: ufo.com.br/documentop.php]. Confira abaixo alguns trechos do relatório final da Força Aérea Brasileira (FAB):
Caso 1 — Nome: Adelaide Pereira da Silva, 37 anos, analfabeta. Local e data: Colares, 21h00 de 16 de outubro de 1977. Descrição: Percebeu que o quarto de sua residência foi iluminado por uma luminosidade avermelhada que se espelhava por todo o interior da residência. Estando com as portas e janelas fechadas, entreabriu a janela e avistou um corpo luminoso de coloração azul muito forte que se movimentava lentamente pouco acima das árvores próximas (30 m). Sentiu dor intensa nos olhos e amortecimento em todo o corpo, permanecendo com a sensação durante vários dias.
Caso 2 — Nome: Maria Celeste Pereira da Silva, 20 anos, alfabetizada. Data: Sua visão do UFO ocorreu às 22h00 de 18 de outubro de 1977. Descrição: No mesmo instante em que sua mãe Adelaide percebeu a luminosidade que invadiu o interior da residência, sentiu dor intensa por todo o corpo, como se fosse fortemente comprimida. Sentiu também amortecimento a partir dos pés, calor intenso difuso desde o ombro direito até a cabeça. Julga ter sido atingida diretamente no lado direito do corpo por um foco de luz de cor avermelhada.
Caso 3 — Nome: Maria Francisca Furtado, 30 anos, instrução primária. Data: Por volta das 21h30 de 18 de outubro de 1977. Descrição: Reside um pouco afastada da localidade conhecida por Vila Nova do Ubintuba. Com a grande incidência dos aparecimentos da luz misteriosa, deslocam-se ela e seu companheiro diariamente para a residência do senhor Miguel Arcângelo Soares, onde dormem várias famílias. Naquele dia, ela foi atingida pelo foco da luz, tendo ficado semiparalisada. Sentiu uma espécie de choque elétrico. Inicialmente, seus pés aqueceram e um tremor tomou conta de seu corpo dos pés à cabeça, com amortecimento no lado direito do corpo. Esta sensação perdurou por uma hora, sobrevindo dor de cabeça e fervidão [Febre]. Não foi para o exterior da residência, e, em conseqüência, não viu o “aparelho”.
Luminosidade azulada — Homens e mulheres dizem que sentiram os mesmos sintomas após visão dos objetos voadores não identificados. O agricultor Abel Soares Trindade, com 28 anos na época, por exemplo, estava no interior de sua residência, ouvindo rádio, quando por volta das 21h30 de 14 de setembro de 1977 percebeu uma luminosidade azulada que se infiltrava através da cumeeira da casa. Ele ficou semiparalisado, sentindo como se sua cabeça aumentasse de volume. Gritou por socorro após muito esforço, pois sua voz não saía da garganta. Após o incidente, passou vários dias com dor de cabeça e rouquidão. Idênticos sintomas foram narrados por América Silva Soares, 23 anos na época, mulher de Abel.
Outro depoimento interessante é o de Raimundo Nonato Barbosa, o Birro, então com 48 anos. Contou Birro que voltava para sua residência pela capoeira [Vegetação de cerrado], quando, ao se aproximar da residência de um amigo, sentiu como se perdesse a força. Os sapatos que trazia em uma das mãos caíram no chão, mas ele os juntou e continuou a caminhar. Os sapatos voltaram a cair, e quando se abaixou para juntá-los novamente, olhou sobre o ombro e observou um objeto iluminado e de forma circular – “como uma arraia” – com aproximadamente 1,50 m e deslocando-se a baixa altura. “Estava entre 5 a 10 m sobre o solo”, disse. O artefato emitia um foco de luz dirigido – “como uma lanterna” – de cor azul muito intensa, em sua direção. Birro reuniu suas forças e conseguiu correr até a casa do amigo.
Na corrida, ao olhar para trás, percebeu que o objeto se movimentava para o alto e entre as árvores, deixando atrás de si uma esteira de faíscas luminosas multicoloridas. Birro queixou-se de tremor no corpo, dor de cabeça e entorpecimento na região atingida pelo foco. Mas não foi observado sintoma de queimaduras. A testemunha desenhou no chão a forma do objeto representando a “esteira luminosa” com três linhas dispostas entre si em um ângulo de 20 graus, com pequenos círculos ligados às linhas. Birro disse serem como “luzes de diversas cores”, mas não foi capaz de passar para o papel.
Fato curioso também aconteceu a cinco pescadores de Colares, que contaram aos militares da Operação Prato que avistaram dois seres extraterrenos dentro de uma nave, às 23h30 de 12 de outubro de 1977. No depoimento prestado por um deles, Manoel Espírito Santo, pode-se ter idéia de como tudo aconteceu. Espírito Santo disse que se encontrava
em frente à sua residência, juntamente com seus amigos Júlio, Paulo, Deca e Carlito, quando percebeu uma luz amarela que se deslocava no sentido nascente-poente, diminuindo a velocidade e quase parando a cerca de 20 m do grupo. Ele afirma ter percebido que a “luz era tripulada por dois indivíduos de aparência humana”, sendo que o que seria o homem ocupava o lado esquerdo e, a mulher, o lado direito do aparelho. Ambos portavam nos olhos algo semelhante a óculos e equipamento de comunicação. O indivíduo da esquerda levou as mãos aos tais óculos, como se observasse mais atentamente o grupo de pessoas. No mesmo instante, o outro, através de um tubo existente na lateral do UFO, dirigiu um feixe luminoso de cor vermelha em direção a Espírito Santo e seus amigos.
Ao ser atingido pelo foco, o rapaz sentiu um forte abalo, como se tivesse sofrido um choque elétrico. A sensação subiu-lhe dos pés à cabeça. Ocorreu em seguida a paralisação de seus membros inferiores e superiores e ficou semiconsciente. O aparelho então se afastou gradativamente, aumentando a velocidade. Espírito Santo voltou a movimentar-se, embora ainda estivesse se sentindo entorpecido durante alguns minutos. A distância, segundo descreveu, o aparelho assemelhava-se a uma estrela de cor amarelo-avermelhada, que oscilava entre o amarelo claro e o vermelho. Quando mais próximo, observou uma luminosidade azulada na parte frontal do UFO, que tinha forma cilíndrica e era semelhante a um barril. Tinha também um tubo de menor diâmetro à sua frente, e um outro mais fino na lateral, a 45 graus, de onde era emitido o feixe de luz azulada. Seu tamanho aparente foi estimado entre 1,20 e 1,40 m.
Nota do Editor — A edição de 08 de janeiro do jornal O Liberal [www.orm.com.br], de Belém, surpreendeu seus leitores. O repórter Carlos Mendes, do caderno de Atualidades, apresentou vasto e bem documentado artigo sobre a dramática situação que envolveu comunidades ribeirinhas do Pará, no fim da década de 70, inexplicavelmente atacada por UFOs e sondas – que foram logo apelidados de “chupa-chupa” pelos moradores aflitos, em razão de seus ataques resultarem em feridas e processos anêmicos nas vítimas. Com o título Aeronáutica Confirma Chupa-Chupa, Mendes apresenta em seu artigo um significativo volume de relatos de pessoas atacadas, detendo-se principalmente na entrevista que a Revista UFO fez com o então capitão – posteriormente aposentado como coronel – Uyrangê Bolívar Nogueira de Hollanda Lima.
Foi Uyrangê o comandante da Operação Prato, conduzida pela Força Aérea Brasileira (FAB) entre setembro e dezembro de 1977 para pesquisar o assunto. A iniciativa da Aeronáutica levou a impressionantes descobertas, a maioria das quais ainda oculta pelos militares, provocando a ira dos ufólogos. O jornalista também se refere ao movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, lançado em abril de 2004 pela UFO, em que se pede ao Governo Lula a abertura dos arquivos secretos dos militares quanto a esse fato e a outros dois – a chamada “noite oficial” dos UFOs no Brasil e o Caso Varginha. Como se não bastasse a maneira impactante como o fenômeno chupa-chupa e sua investigação secreta foram expostos na matéria – quase três décadas depois do encerramento da Operação Prato –, Mendes ainda publicou, em 10 de janeiro, outro artigo igualmente explosivo e consistente, dessa vez detendo-se principalmente no depoimento de uma das principais testemunhas dos ataques – a médica que foi responsável pela unidade sanitária na Ilha de Colares, epicentro do fenômeno, que também foi atacada pelas sondas.
A doutora Wellaide Cecim não somente confirmou tudo o que já se sabia acerca da gravidade dos incidentes, como ainda fez uma revelação bombástica, admitindo que na década de 70 foi forçada pelos militares do I Comando Aéreo Regional (I Comar), de Belém, a desmentir os relatos sobre o chupa-chupa que ouvia de seus pacientes. Desde que a Operação Prato vem sendo insistentemente denunciada pela Ufologia Brasileira, principalmente através da UFO e de seu site, ufo.com.br – que tem mais de 200 páginas dos documentos oficiais da FAB à disposição dos interessados –, não se tinha conhecimento da situação agora exposta pela médica. Em face disso, a presente edição reproduz a seguir e na íntegra o excelente artigo Aeronáutica Obriga Médica a Mentir, de Carlos Mendes, para conhecimento de todos os leitores. E parabeniza o repórter por exercer com tamanha seriedade seu papel.