A visita de seres extraterrestres ao nosso planeta durante a Antiguidade é um dos temas mais apaixonantes da Ufologia. Desde que os livros de Erich von Däniken foram lançados, no final da década de 60, o assunto entrou para o imaginário popular e fez seguidores tão fiéis que com o tempo eles também se transformaram em pesquisadores. Isso ampliou o trabalho do autor suíço e ajudou a descobrir novas evidências para apoiar a Teoria dos Antigos Astronautas.
O interessante da hipótese de von Däniken, por mais falhas que se possam apontar nela, é que suas ideias abrem uma nova perspectiva para se elucidar muitos fatos que nem a ciência e nem a religião tiveram capacidade para fazer. A primeira porque se agarra a seus princípios e, a segunda, porque faz o mesmo em relação a seus dogmas. Mas a verdade é que nenhuma das duas consegue explicar satisfatoriamente quem, afinal, eram os antigos deuses que “dos céus vieram à Terra” — expressão que, aliás, é a tradução literal da palavra anunnaki.
É interessante perceber que há muitos cientistas cristãos e judeus que trabalham com afinco para confirmar os escritos bíblicos, mas nenhum deles admite a possibilidade extraterrestre como uma possível explicação para muitos dos fatos narrados no livro sagrado. Por outro lado, há toda uma legião de cientistas que trabalham para desacreditar a Bíblia, chamando-a de simbólica, da mesma forma que fazem com os relatos mitológicos e as lendas. Mas até que ponto todas essas histórias são apenas uma alegoria?
Filhos de deus e filhas dos homens
Os mitos e lendas mais antigos falam insistentemente sobre casos de amor entre os deuses e as mulheres terrestres. Popularmente, a referência mais conhecida é, sem dúvida, a da Bíblia, que em Gênesis 6, 2 nos diz que, “vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si as mulheres que, entre todas, mais lhes agradaram”. E em palavras muito parecidas podemos ler no apócrifo Livro de Enoque que, “os anjos, filhos dos céus, viram as mulheres e as desejaram, e disseram entre si: vamos, escolhamos mulheres entre os filhos dos homens e geremos filhos”.
Também na rica e bem conhecida mitologia grega se relatam as aventuras amorosas de esbeltos e belos deuses que haviam descido do Olimpo para escolher mulheres dentre os mortais humanos — especialmente o grande Zeus, que gerou um incontável número de filhos ilegítimos, entre eles o gigantesco e poderoso Hércules. E como os deuses estiveram pelos céus de todo o mundo antigo, e aparentemente com a mesma ânsia, também é possível encontrar relatos similares entre os povos originários do continente norte-americano.
Os índios Thompson, da Colúmbia Britânica, no Canadá, contam que certa vez uma mulher casada foi raptada pela “gente do céu”, o que teria causado uma infrutífera guerra para resgatá-la, a qual resultou na derrota e morte de muitos guerreiros e na extinção de várias espécies de animais. Igualmente, nos Estados Unidos, o tema é bastante comum entre os índios Hopi, do Arizona, e envolve certos espíritos mensageiros chamados kachinas, que atuavam como intermediários entre os deuses e os homens.
O autor norte-americano Gary A. David, um verdadeiro especialista na cultura Hopi, conta que um exemplo sobre a rara união entre um espírito mensageiro e uma mortal ocorreu quando “um kachina anônimo levou uma jovem mulher de Oraibi para a Terra do Povo da Nuvem”. Segundo a história, o pai da moça havia morrido recentemente, o que causou muitas dificuldades à família. O “povo da nuvem”, que aparentemente observava a moça e sua mãe, acabou por decidir que o kachina deveria se casar com ela.
A narrativa diz que “um dia a moça estava nos campos colhendo flores de abóbora, quando ouviu um som estrondoso, um ruído estridente como o do vento que passa por um lugar pequeno, e se perguntou o que seria. Logo, ela viu que o kachina se aproximava. Ele lhe disse que desejava se casar com ela e que a levaria até sua casa pela manhã”. Segundo David, isso sugere algum tipo de mecanismo em vez de um meio de transporte orgânico ou metafísico.
De geração a geração
O kachina e a donzela Hopi se encontraram novamente na manhã seguinte, como haviam combinado, e David conta como segue o final da história, usando as exatas palavras do folclorista e antropólogo norte-americano Harold Courlander, que, por sua vez, reproduzem, com exatidão, as narrações dos Hopi transmitidas de pai para filho e de geração a geração. Nos conta o autor que “ele a pegou pela mão e caminhou com ela sobre a colina, e ela viu que havia algo ali, algo redondo, e eles foram direto até a coisa e entraram nela. E quando fizeram isso, ele fez algo e houve um grande estrondo. Aí, logo se levantaram do chão. A coisa em que eles estavam parecia estar girando e saiu rápido como um raio. Depois de um momento, ele disse: ‘Estamos aqui’. Estavam de novo no chão e o estrondoso e estridente som parou. Ele a levou até seu povo e até sua casa. Quando chegaram lá, sua mãe e seu pai estavam muito felizes por ele ter encontrado a menina sobre a qual eles haviam lhe falado”.
Contudo, se no contexto da Teoria dos Antigos Astronautas temos que entender que os deuses dos nossos antepassados podiam ser, na realidade, visitantes extraterrestres que vieram à Terra e estabeleceram contatos com os seres humanos de diversas classes, as singulares características daquele “redondo” meio de transporte do feliz casal, ao qual se refere a velha lenda dos Hopi, dispensa maiores comentários. Só podemos enfatizar o que disse nosso colega e amigo David: “Isso sugere algum tipo de mecanismo”.
Referências da arte rupestre
Com base no que foi exposto até agora, e se considerarmos que essas hipotéticas relações amorosas entre os deuses astronautas e as mulheres terrestres podem ter alguma credibilidade, talvez sirvam como evidências, ao menos relativas, de alguns antigos registros artísticos que foram feitos baseados em testemunhos visuais e que dão às histórias antigas um aspecto mais tangível. E aqui nos valemos do filósofo grego Euhemero, de 300 a.C., que em sua História Sagrada disse que os mitos eram, na realidade, disfarces da verdadeira história. Nesse sentido, nos parece que sejam exemplos válidos as manifes
tações da milenar arte rupestre que têm servido, ao longo do tempo, como ponte cultural para resgatar do esquecimento diversas cenas da vida cotidiana do homem antigo. E há mesmo algumas pinturas que sugerem cenários provocantes de um possível contato entre as mulheres antigas e os deuses do céu.
Uma dessas imagens foi descoberta no final do século XIX por Joseph Bradshaw, próxima Rio Prince Regent, no distrito de Kimberley, oeste da Austrália. Sobre a imagem, Bradshaw escreveu que, “um rosto de perfil apresenta pronunciados traços aquilinos, muito diferente dos nativos que encontramos. De fato, olhando para alguns dos grupos, se poderia pensar estar vendo as paredes pintadas de um antigo templo egípcio. Os desenhos pareciam ser de grande antiguidade”.
Os dados a partir dos quais podemos teorizar são os mesmos para todos, como o fato de que mitos, lendas e textos sagrados antigos falam da união carnal entre mulheres e deuses. Isso está bem documentado ao longo da história da Idade Média
Com referência ao mesmo desenho rupestre australiano, o engenheiro espacial doutor Stuart W. Greenwood nos fornece uma interpretação muito interessante. Segundo ele, a figura da esquerda domina todas as outras e os animais ao redor e “o artista teve o trabalho de associar a figura dominante com os três notáveis símbolos que estão próximos. Para um estudioso da Teoria dos Antigos Astronautas, os símbolos podem ser interpretados respectivamente como indicadores de um sistema de órbitas planetárias ao redor de uma estrela, um veículo em órbita ao redor de uma estrela e um veículo com o trem de pouso abaixado e um escapamento. Igualmente significativo é o fato de que a figura se mostra usando o que parece ser um capacete”.
Ainda segundo Greenwood, se levarmos em conta as limitações do artista, a combinação das imagens dá a impressão de que na figura dominante está representado um astronauta de considerável importância. Além disso, as atitudes das outras figuras também são significativas. A que aparece barbada e com chapéu cerimonial sugere ser um sacerdote e é visto persuadindo duas mulheres a ajudar o astronauta — contra o qual elas parecem estar reagindo com certa apreensão. A serpente ao fundo, junto com o canguru, e a mulher em primeiro plano parecem em paz longe da cena. “Tudo é compatível com a sugestão de que o astronauta não é apenas um ser humano, mas um tipo especial de humano. Pertence à categoria identificada nos mitos antigos como deuses”.
As imagens de Tassili
Outra imagem rupestre que analisaremos e que, na opinião deste autor, mostra uma cena muito semelhante à anterior e praticamente idêntica em seu contexto, foi descoberta em 1976, em Tassili, na Argélia, por uma expedição espanhola integrada por J. Blaschke, R. Brancas e J. Martínez. A descrição feita pelos pesquisadores da imagem descoberta é no mínimo curiosa, principalmente quando nos lembramos da época em que foi feita, milhares de anos atrás.
“À esquerda podemos apreciar uma figura humana que parece arrastar um grupo de mulheres, sem muita violência, até um objeto circular. Este objeto se assemelha a uma entrada ou abertura, e dela surgem flashes difusos. Da cintura do homem parte uma espécie de cabo que parece dirigir-se até o interior do objeto redondo. E então eles completaram, perguntando: “Se trataria de um ser extraterrestre tentando conduzir quatro mulheres para seu veículo espacial? Qual era o significado dessa cena, a entrega de uma noiva a um extraterrestre?”
Essas são questões que precisam ser consideradas, muito especialmente em um contexto de imagens tão provocativas como as que existem em Tassili, onde a estranha aparência dos seres denominados de “cabeças redondas” nos permite evocar a típica vestimenta dos astronautas. De fato, já em 1956, 20 anos antes da chegada da mencionada expedição espanhola, o reconhecido etnólogo e arqueólogo francês Henri Lhote encontrou, entre muitas outras figuras enigmáticas, a de um enorme ser de mais de seis metros de altura, ao qual deu o sugestivo nome de O Grande Deus Marciano.
Para Lhote a figura “lembra a ideia que geralmente costumamos fazer de um ser de outro planeta, como um marciano. Que título para uma reportagem e que antecipação. Pois se extraterrestres colocaram alguma vez os pés no Saara, isso foi há muitos séculos, já que as pinturas desses personagens de cabeça redonda de Tassili estão, pelo que deduzimos, entre as mais antigas”. Vendo as coisas desta forma, aos pares, entendemos que aquilo que acontece uma vez pode ser casualidade, mas quando acontece duas vezes é uma coincidência suspeita. E, por consequência, poderia considerar-se aceitável sustentar como hipótese preliminar que a semelhança entre ambas imagens aqui mostradas corresponde a um tema comum e recorrente, que transcendeu a palavra e chegou ao pictórico, um indicativo de sua muito antiga realidade.
Obviamente o leitor é livre para desenvolver uma interpretação individual diferente, porque a reconstrução de nosso passado longínquo é muitas vezes o resultado de apreciações subjetivas e comporta muitas opiniões contraditórias. No entanto, os dados a partir dos quais podemos especular e teorizar são os mesmos para todos, como, por exemplo, o fato de que mitos, lendas e textos sagrados muito antigos falam da união carnal entre mulheres e deuses, e a existência documentada de pelo menos duas pinturas rupestres que representam figuras femininas junto a estranhos personagens. Para pensar profundamente a respeito, seria oportuno recordarmos agora as precisas palavras do prestigiado escritor britânico Isaac Asimov: “Negar um fato é uma das coisas mais fáceis do mundo. Muitas pessoas o fazem, mas o fato continua sendo um fato”.