O processo de abertura ufológica global é uma realidade irreversível e cada vez mais surpreendente. A cada dia, novos governos se posicionam favoráveis à existência de outras espécies cósmicas nos visitando e promovem a liberação de arquivos antes secretos, assim como instituições dos mais variados tipos têm seus integrantes — oficial ou informalmente — fazendo declarações no mínimo ousadas sobre a questão. Em dezembro, por exemplo, no apagar das luzes de 2010, a Força Aérea Argentina surpreendeu ao decretar a criação de uma entidade oficial de pesquisas ufológicas. Tudo bem que o novo órgão já estava em gestação há alguns meses, mas qual era a pressa que levou os militares do país vizinho a fazerem seu anúncio praticamente na véspera do ano novo?
Ao longo dos últimos anos, em outro exemplo, o Vaticano também tem surpreendido o mundo — e não apenas os seus fiéis — com declarações espantosas para a entidade que tem na presença alienígena na Terra os fundamentos de sua existência, a partir das visitas, no passado, de naves e seres extraterrestres que acabaram interpretados como fenômenos bíblicos [Veja texto nesta edição]. A mais ousada é a que fez o astrônomo oficial da Santa Sé, há alguns meses: “É evidente que existem outras espécies avançadas no universo, e não reconhecer isso é menosprezar a capacidade criativa de Deus”. A expressão do jesuíta José Gabriel Funes funcionou como uma senha para que a Ufologia Mundial entenda que a Igreja está se abrindo para a questão.
Tubo de ensaio sociológico
E para completar o quadro de recentes acontecimentos significativos na área ufológica, a fechada Inglaterra, que já havia surpreendido no passado ao liberar inúmeros arquivos ufológicos, causou novo espanto na Comunidade Ufológica Mundial no final de fevereiro ao liberar mais um lote com milhares de páginas de documentos antes secretos em posse do Ministério da Defesa [Ministry of Defense, MoD]. Este foi um ato que provocou grande interesse e agitação entre ufólogos, que questionaram o que estariam por trás de tal decisão, considerando-se que o país é histórico aliado militar dos Estados Unidos, a nação que inventou o acobertamento ufológico e a mantém até hoje. Muitos acham que a Inglaterra estaria funcionando como uma espécie de “tubo de ensaio” para os EUA testarem a reação da população de um país de Primeiro Mundo à abertura — quase todas as demais nações que reconhecem os UFOs não estão neste seleto grupo.
Agora, a grande surpresa para a Ufologia Mundial veio mesmo no final de fevereiro, precisamente nos dias 25 a 27, quando a poderosa Nação Islã norte-americana, uma entidade político-religiosa que congrega milhões de fiéis e seguidores nos EUA e em dezenas de países, decidiu reunir um grupo de ufólogos de várias partes do mundo em sua Convenção Anual, realizada em Chicago naquele final de semana. O evento — também conhecido como Savior’s Day — teve proporções monumentais. No Centro de Convenções Stephens, localizado perto do Aeroporto Internacional O’Hare, a entidade conseguiu acomodar apenas no dia 26 cerca de 14 mil pessoas, divididas em três auditórios, para assistirem às palestras promovidas pelos pesquisadores convidados. A ocasião serviu para que o líder da Nação Islã, o ministro Louis Farrakhan, fizesse o encerramento dos trabalhos com a promessa de que, a partir daquela data, ele e seu órgão estariam definitivamente engajados na luta pela abertura ufológica em escala global.
“Vocês não precisam me pedir isso. Eu é que peço, por favor, que aceitem o meu apoio pessoal e o de toda a Nação Islã à sua luta para que a verdade sobre as ‘rodas’ seja tornada pública”, respondeu Farrakhan a este editor quando solicitado a se manifestar sobre a questão, tratando os UFOs à moda islâmica — a religião os chama de ‘rodas voadoras’ e reconhece que estão por toda a Bíblia. A manifestação foi apenas uma das mais importantes feitas pelo ministro durante a reunião privada com os ufólogos que ocorreu horas antes da palestra programada. Neste encontro, Farrakhan, bem mais à vontade e na presença de apenas alguns de seus assessores, revelou ter tido experiências ufológicas e demonstrou conhecer profundamente o assunto. “Creio que estamos sendo visitados por outros seres que podem, ao se aproximar de nosso planeta, assumir a forma que desejarem”, disse. E mais: “Estou consciente de que há uma urgência no processo de revelação destas informações, e lhes garanto total empenho de minha parte e de toda a Nação Islã neste processo”.
Amizade com Barack Obama
É desnecessário dizer que os ufólogos convidados, ali presentes, ficaram estupefatos com as afirmações feitas pelo religioso, um homem poderoso na sociedade norte-americana, considerado hoje como o sucessor de Martin Luther King e a quem se atribui uma amizade com Barack Obama — que evita admitir que também é adepto da religião islâmica. Entre os ufólogos convidados estavam o médico Roger Leir, o cientista Steven Colburn e o autor Don Schmitt, todos dos Estados Unidos, o ufólogo Pier Giorgio Caria e o contatado Antonio Urzi [Veja edição 167], italianos, e os mexicanos Fernando Correa e Jaime Maussán — este o organizador do encontro, a pedido da Nação Islã. Do Brasil compareceu este editor. “Devo dizer que é uma honra para nós que estejamos recebendo os senhores, que vêm de tantas partes do mundo para nos trazer informações sobre estes
seres que nos visitam”.
Farrakhan é um homem incomum, culto, influente e líder carismático. Em excelente forma física aos 78 anos, conduz a Nação Islã d
e forma apaixonada e com severo controle de seus membros, que apresentam disciplina quase militar. Ele circula em Chicago em carros blindados e cercado de dezenas de guarda-costas. Isso se compreende quando se assiste aos seus discursos, que são carregados de emoção e levam as platéias ao êxtase, mas estão longe de seguir os padrões internacionalmente estabelecidos como “politicamente corretos”. Não raramente Farrakhan faz alusões antissemitas, racistas e homofóbicas, razão pela qual é amado por seus milhões de seguidores, mas temido e odiado por outras multidões. “Sou um servo de Deus pregando a união entre os homens, mas minhas palavras nem sempre são bem compreendidas”, declara. Para estudiosos do movimento islâmico norte-americano, que se fortalece com a valorização entre seus membros de suas autoproclamadas “raízes legítimas”, Farrakhan é um homem perigoso.
Política e polêmica à parte, o que não se pode ignorar é que o líder da Nação Islã tem convicção de que estamos sendo visitados por outras espécies cósmicas, acredita que venham em paz e vê como lógico o estabelecimento, dentro de pouco tempo, de um contato formal entre elas e a humanidade terrestre. Mais do que isso, considera de grande importância a pesquisa do assunto e vê com naturalidade que o tema seja levado à sociedade sem nenhuma censura. “É inaceitável que a verdade sobre a presença alienígena na Terra esteja sendo mantida secreta pelos governos. Irei pessoalmente levar ao presidente Barack Obama o pedido de meu povo, o povo do Islã, para que abra os arquivos e revele tudo o que se sabe sobre nossos visitantes”, afirmou também à outra platéia, ainda mais numerosa, agora no dia 27 de fevereiro, durante seu discurso de encerramento da Convenção Anual da Nação do Islã. Isso ocorreu ainda com os ufólogos presentes, em um ginásio de esportes em que estava um público estimado em 17 mil pessoas — todas as atividades também foram transmitidas ao vivo por vários canais de TV e pela internet, e os organizadores estimam em mais de meio milhão o número de pessoas que as acompanharam.
A Nação Islã agora entra nesta luta pela revelação dos segredos ufológicos. Não mediremos esforços para levar a questão ao presidente Barack Obama e pedir que abra os arquivos secretos sobre os UFOs — Louis Farrakhan
Se Louis Farrakhan vai conseguir seu intento de fazer Obama — ou o presidente de qualquer outro país do mundo — abrir os arquivos, esta é outra questão. Ufólogos das mais variadas tendências estão divididos. Uns crêem que Farrakhan está apenas tentando se promover à custa do progresso nas discussões ufológicas internacionais. Outros vêem em sua iniciativa um ato de extrema coragem. E há ainda aqueles que, mesmo reconhecendo a bravura do líder islâmico norte-americano, não acham que ele conseguirá sensibilizar Obama a ponto deste enfrentar seu poderoso establishment militar e abrir seus arquivos secretos sobre a ação milenar de outras espécies cósmicas na Terra — os mais reveladores e bem guardados do planeta. No entanto, apesar das divergências, todos os ufólogos convidados e muitos outros consultados por este autor acreditam que, se há homem com força e influência na sociedade norte-americana para chegar até Obama com este pleito, este alguém é Farrakhan.
“O conhecimento que este homem tem do Fenômeno UFO é surpreendente e transcendente, mas sua determinação em promover uma ampla e irrestrita abertura ufológica é ainda mais significativa. Se ele realmente se empenhar em cumprir sua promessa, acredito que fará muita diferença no processo de revelação da verdade sobre os discos voadores”, declarou o médico Roger Leir, consultor da Revista UFO. De fato, Louis Farrakhan é efetivamente o homem na posição certa e com o poder necessário para mudar as coisas, apesar de sua trajetória de vida ser polêmica e a Nação do Islã ser questionada por seu extremismo. Mas a Ufologia, no momento em que se encontra, não pode prescindir de qualquer apoio que receba — desde que saiba manter inalterados seus propósitos e não os misture com ações políticas ou religiosas.