Intitulando-se Inri Cristo, nome dado por Pôncio Pilatos no momento da crucificação – Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum –, e identificando-se como “Unigênito de Deus, Adão, que reencarnou como Noé, Abraão, Moisés, David e Jesus”, esse personagem polêmico e caricato, de voz impostada, gestos afetados, túnica branca, manto vermelho, coroa de espinhos na cabeça e um cetro de madeira na mão esquerda, era presença habitual em programas populares ou popularescos de grande audiência na TV. Rodeado e assistido pelos seus 15 discípulos ou apóstolos “rebatizados” – a maioria belas mulheres –, entre o sarcasmo e o deboche proclamava, com uma convicção impressionante, que a Igreja Católica sucumbiria e que sobrariam apenas “144 mil eleitos de Deus” para a formação de seu reino. Aos que ignoravam as “razões transcendentais” em que se calcavam a sua condição e “a difícil missão que lhe foi outorgada para o alvorecer do novo milênio”, e o acusavam de louco, respondia: “Sou louco, sim, de amor pela humanidade”.
Iuri Thais [Variante do sobrenome alemão Theiss] nasceu em 22 de março de 1948 na pequena cidade de Indaial, Estado de Santa Catarina, filho de um vendedor de bilhetes de loteria. Aos 13 anos de idade, obediente a “uma voz que lhe falava no interior da cabeça”, foi arrancado do aconchego do lar e passou a vivenciar a dura realidade das ruas. “Fui um homem pecador até 1969, quando Deus revelou minha identidade e passei a viver do dom de meu Pai”, relata. “Cometia o pecado da fornicação, não perdia a oportunidade de desfrutar das mulheres que me recebiam em suas alcovas”.
A caminhada — Na década de 70, peregrinou por várias cidades brasileiras. Em 1978, submisso à mesma voz, saiu do Brasil. Em 1979, quando jejuava em Santiago, no Chile, a voz reapareceu dizendo ser seu “Pai, Senhor e Deus, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”, e desvendou-lhe sua “verdadeira identidade”. Falou de suas encarnações anteriores dentro do contexto bíblico, desde sua mais remota ancestralidade, do homem primordial [Adão] até Jesus e o significado da sua presença na Terra, cumprindo as profecias do Apocalipse. Esteve depois em Paris e Roma, “levando a palavra de Deus”. Ao todo, diz ter visitado 27 países. Foi por diversas vezes detido. Foi banido dos Estados Unidos, expulso do Paraguai, da Venezuela e da Inglaterra, sempre como apátrida. Mas, enfim, foi acolhido na França, primeiro país a proclamar nos meios de comunicação: “Cristo retornou à Terra”.
Em outubro de 1981, invadiu a Catedral de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, durante a missa das 10h00. No altar, dedo em riste, bradou: “Saiam daqui, ladrões mentirosos, adoradores de ídolos, vendilhões de falsos sacramentos. Eu sou o Cristo”. Subiu no altar e pegou o crucifixo. “Tentei arrancar o bonequinho da cruz e destruí-lo. Seria um gesto libertário, mas não consegui concluí-lo porque a estátua era de ferro”, justificou. Em 26 de fevereiro de 1982, uma sexta-feira, falando durante três horas na emissora de TV do Pará, Inri Cristo marcou encontro com o povo no domingo, 28 de fevereiro, às 08h00 da manhã, na Praça D. Pedro II. De lá seguiu em procissão até a Catedral de Belém. Por ordem de seu “Pai, Senhor e Deus”, tomou posse do altar e consumou o “ato libertário” de declarar proscrita a Igreja Católica, o que culminou com a instituição da Nova Ordem Católica da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (SOUST). Arrancou a estátua de Cristo da cruz e a quebrou. O “ato libertário” terminou em um tremendo quebra-quebra. Conta Inri: “No momento do confronto, o Senhor disse: ‘É a hora da violência. Pega a vela, bate na cabeça dele. Senão ele também vai subir no altar, e no altar, meu filho, só tu podes subir!’ Bati com a vela na cabeça do sacerdote, que tentou me derrubar ao puxar o meu pé. A cadeira postada sobre o altar foi arremessada para me derrubar”.
Sentença de extinção — Em 24 de setembro de 1983, após haver instituído a Nova Ordem Católica, formalizada pela SOUST, Inri Cristo ratificou em Roma, no interior da Basílica do Vaticano, o rompimento com sua antiga igreja, pronunciando esta irreversível sentença de extinção: “Seque, árvore enferma, seque! Seque para que a boa árvore que eu plantei –SOUST – viceje e me dê, e aos meus filhos, os frutos que tu me negas”. Inri taxava o papa João Paulo II de a “Besta de Roma” e a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de “Confederação Nacional das Bestas do Brasil”. Além dos 15 discípulos – o primeiro escalão – que viviam com ele em seu templo montado em uma casa no bairro do Alto Boqueirão, em Curitiba (PR), reunia cerca de 100 admiradores no Movimento Eclesiástico Pró-Inri Cristo (MEPIC), uma “instituição internacional sem fins lucrativos constituída de livres pensadores que tem por objetivo divulgar a história real e os ensinamentos de Inri Cristo, no intuito de informar e livrar os seres humanos das fantasias e dos engodos dogmáticos”.
Certa vez, indagado sobre o que pensava acerca dos relatos envolvendo discos voadores e seres extraterrestres, Inri respondeu que “é necessário avaliar com muito critério antes de aceitar e acreditar em qualquer relato que ultrapasse os limites da racionalidade. Eu só posso falar das coisas que meu Pai revela-me diretamente ou que testemunhei pessoalmente. Por trás dessa história de UFOs há muitos interesses escusos. Na minha sincera opinião, cientistas estão construindo aeronaves não detectáveis por radar para utilizá-las como futuras armas de guerra e instrumento de espionagem. Considerando as inúmeras pessoas interessadas na existência de seres extraterrestres – ou que assim preferem acreditar –, a melhor forma de ocultar a invenção científica do conhecimento público é rotulá-la sob a máscara de discos voadores. Só para exemplificar, o próprio presidente da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB), Rafael Cury [Co-editor da Revista UFO], quando indagado na televisão se já vira discos voadores, confessou nunca tê-los visto”.