Assim Ezequiel descreveu o artefato que observou às margens do Rio Quebar, conforme ficou marcado em seu relato bíblico: “Era como uma roda dentro de outra roda”. E complementa: “Vinha do norte um redemoinho de vento e uma grande nuvem, uma massa de fogo e um resplendor ao redor dela. Em seu centro, isto é, no meio do fogo, havia uma imagem como de bronze”. Seu minucioso relato no Antigo Testamento talvez seja um dos mais reveladores depoimentos históricos a apoiar a tese de que, já há milênios, alguém observara de perto a descida de uma nave espacial.
No entanto, por mais meticulosa que seja toda sua narrativa, a observação de Ezequiel assume especial importância em função da descrição da roda, ou das rodas, que ele viu — por ser este um dado técnico surpreendente e que dá mais sustento ao caso. Este detalhe é mais importante do que outras referências que dão margem a diferentes interpretações do episódio. Inúmeras tentativas de ilustrações do UFO foram feitas por autores superficialmente informados, sem sucesso. Todos deram como concreto que o profeta teria observado halos, círculos de luz ou coisas parecidas com rodas no céu. Essas são hipóteses falsas se prestarmos atenção ao que Ezequiel diz de forma clara:
“E enquanto estava eu olhando, apareceu uma roda sobre a terra. E as rodas e a matéria delas eram como crisólito, as quatro eram semelhantes, com forma e estrutura como de uma roda que está dentro de outra roda. Caminhavam constantemente por seus quatro lados e não se voltavam quando andavam. Assim mesmo as rodas tinham tal circunferência e altura que causava espanto vê-las. E toda a circunferência delas estava cheia de olhos por todas as partes. Caminhando os seres viventes, andavam igualmente também as rodas junto a eles. E quando aqueles seres se levantavam da terra, se levantavam também do mesmo modo as rodas com eles. A qualquer parte aonde ia o espírito, lá se dirigiam também as rodas, porque havia nelas espírito de vida”.
Descrédito e ceticismo
Ezequiel fala de rodas no solo e nunca no céu. Isso invalida, entre outras, a tentativa de explicação do astrônomo Donald Menzel, da Universidade de Harvard, que sustentou que o profeta teria sido vítima de uma ilusão ótica devido a um parélio — fenômeno atmosférico de reflexão e refração da luz solar nos cristais de gelo das nuvens, no qual aparecem anéis concêntricos rodeando o Sol. Portanto, e ainda que seja inadmissível para alguns, a possibilidade de que o depoimento fornecido por Ezequiel descreva na melhor linguagem de sua época a aterrissagem de um artefato alienígena não pode ser descartada imediatamente e por mero preconceito.
Sem dúvida, Ezequiel não tinha a menor ideia de qual seria o aspecto de uma nave espacial, tampouco conhecia a explicação para o fenômeno do parélio. Mas soube descrever muito bem como funcionava uma simples roda em uma singela carroça. Por isso que chama a atenção que ele tenha tido tanto empenho em descrever características peculiares de algo tão incomum dizendo, por exemplo, que “sua forma e estrutura eram como de uma roda que está dentro de outra roda”, ou que “caminhavam constantemente por seus quatro lados e não se voltavam quando andavam”, ou ainda que estaria “cheia de olhos por todas as partes”.
Patente baseada no relato
Em Eram os Deuses Astronautas? [Melhoramentos, 1968], Erich von Däniken propôs que Ezequiel falava de um tipo de nave espacial, o que levou o engenheiro aeronáutico Josef Blumrich, dono de uma medalha de honra ao mérito por serviços especiais outorgada pela NASA, a demonstrar que o escritor suíço estava equivocado. Blumrich dedicou-se a uma exaustiva investigação do milenário texto bíblico, mas sua honestidade intelectual o levou a admitir que, de fato, o profeta do Antigo Testamento poderia muito bem ter feito uma descrição técnica de uma nave espacial, como sustentava Däniken.
Ele mesmo depois interpretou que o objeto teria um corpo cônico, um conjunto de quatro trens de aterrissagem com paletas de helicóptero, rodas e outros complexos mecanismos, que divulgou com abundantes detalhes técnicos e diagramas em seu livro The Spaceships of Ezekiel [A Espaçonave de Ezequiel, Callahan Editors, 1974], causando grande polêmica. Blumrich, que participou da construção do foguete Saturno V, que levou os astronautas à Lua, desenhou e patenteou naquele mesmo ano — com o número 3.789.947 do Registro de Patentes dos Estados Unidos — uma roda omnidirecional inspirada na descrição de Ezequiel. A estrutura era exatamente como a de uma roda dentro de outra, que caminha por seus quatro lados e não se volta quando anda, cheia de olhos por todas as partes.
Engenhoso e simples
Não é tão simples para a maioria das pessoas compreender o desenho e função dessas rodas. No entanto, com a explicação de Blumrich sobre o mecanismo, percebe-se que não se trata de algo extremamente complicado e muito menos impossível para a tecnologia robótica do século XXI. “As rodas permitem um movimento rolante em todas as direções, sem que para isso precisem virar. Esta complicada condição será realizável da maneira mais surpreendentemente singela”, escreveu Blumrich em outro livro, Ezequiel Vió Una Nave Extraterrestre [Ezequiel Viu Uma Nave Extraterrestre, Editorial Ate, 1979]. Na obra, uma série de explicações e figuras descrevem como o engenheiro realizou o projeto, bem como sua perfeita capacidade de produção em larga escala.
Mas nem sempre as coisas ficam totalmente claras até que se veja o aparelho funcionando. Felizmente, a roda vista por Ezequiel está hoje em movimento para todos verem. Sabe-se que um invento — como o patenteado por Blumrich — pode ser melhorado a qualquer momento e que toda otimização de um desenho original é sempre um passo adiante. Isso se constata com agradável surpresa no monociclo U3-X, que a empresa japonesa Honda apresentou ao público em outubro de 2009, no Tóquio Motor Show. O veículo é simplesmente a roda omnidirecional de Ezequiel.
Em sintonia com a tecnologia dos segways, meio de transporte de duas rodas que funciona a partir do equilíbrio do indivíduo que o utiliza, inventado por Dean Kamen em dezembro de 2001, o novo veículo da Honda conta com um sistema denominado Honda Omni Traction Drive System. O aparato é formado por pequenas rodas motorizadas conectadas entre si para formar outra, de diâmetro maior — isso permite o movimento em qualquer direção, como as rodas que o profeta Ezequiel observou.
Lógica e racionalidade
O estudioso de escrituras sagradas R. P. Serafín de Ausejo, responsável pela revisão dos originais e pelas introduções da edição da Bíblia consultada para este trabalho [Editorial Herder Barcelona, 1970], diz, muitas outras coisas interessantes, que “o livro de Ezequiel é
seguramente o mais ordenado e lógico entre os de todos os profetas”. Ele complementa afirmando que o caráter de Ezequiel é lógico e racional. “Não é um poeta ao estilo de Isaías, nem um coração emotivo como o de Jeremias. Sua força está na ponderação de seu raciocínio”.
Um conceito desse tipo sobre uma pessoa lhe dá a qualidade de testemunha absolutamente confiável. Há 2.600 anos, aquele homem lógico, racional e letrado disse ter visto algo cujas características permitem suspeitar que se tratasse de uma maravilha tecnológica, algo muito adiante de sua capacidade de entendimento. Ainda assim, ele a descreveu da melhor maneira que a linguagem da época permitia. Sua narrativa alude a insólitas rodas cuja função técnica, hoje, no século 21, conseguimos compreender apenas graças ao projeto de uma empresa líder em robótica. É difícil crer que atualmente, salvo as distâncias dos novos avanços tecnológicos no campo da informação, algum de nós tivesse conseguido descrever tal roda omnidirecional com maior clareza do que o próprio Ezequiel.