Recentemente, duas reportagens duvidosas foram veiculadas na grande mídia, banalizando os fenômenos ufológicos. A primeira delas, expôs de forma detalhada uma evidente fraude, ocorrida no interior do Mato Grosso do Sul. Embora tenha tentado manter o tom investigativo, não conseguiu ocultar sua intenção de ridicularizar o assunto. Tal matéria foi ao ar em 10 de outubro, no Domingo Espetacular, da Record.
Já a segunda tratou do conhecido Caso Varginha e foi exibida pelo Jornal da Band numa terça-feira, dia 19 do mesmo mês. Nesse último caso, o tema abordado foi uma suposta investigação oficial, realizada pelo Exército Brasileiro, sobre o famoso ET que teria aparecido no interior de Minas Gerais – reportagem que, aliás, veio na esteira de uma matéria da revista IstoÉ.
O que chama a atenção na forma como o Fenômeno UFO foi abordado nesses trabalhos jornalísticos de empresas importantes em nosso país, não é propriamente seu conteúdo informativo, mas o ponto de vista caricatural e, a priori, cético, que elas adotaram. Tudo se passou como se a Ufologia não fosse mais que um disparate completamente amalucado, um passatempo de fanáticos delirantes que, num caso, entregam-se credulamente aos embustes de um oportunista e, noutro caso, concluem uma história extraordinária e fartamente investigada a partir de frágeis testemunhos de adolescentes.
Mesmo na segunda reportagem, que tratou da investigação de uma instituição séria (o Exército), os argumentos usados para descartar a hipótese de um caso ufológico expressivo, ocorrido em 1996, são completamente precipitados e pueris. Tudo leva a crer que a intenção dos órgãos oficiais do Estado e da mídia brasileiros é justamente a de apagar da memória coletiva a hipótese, perfeitamente plausível num universo composto por milhões de galáxias, de vida extraterrestre.
A divulgação de matérias céticas obtusas como essas pretendem remover uma suspeita (ou mesmo, em alguns casos, uma convicção) cultivada por muita gente sensata. E se é preciso empenho para destruir uma “crença” – como dizem -, significa que esta mesma já se assentou em muitos espíritos e que, de alguma maneira, exerce influência.
Se a inexistência de vida alienígena fosse um ponto pacífico, uma absoluta verdade, isso se imporia sem esforços. Mas o fato é que as dúvidas que pairam sobre o assunto nos convidam a adotar uma atitude mais prudente, uma atitude intermediária, entre a credulidade incondicional e a descrença radical. Sem fanatismo e sem ceticismo. Eis o ponto de vista neutro no qual podemos nos posicionar de modo mais racional e crítico.
Ao que parece, a obstinada recusa geral em discutir o Fenômeno UFO de maneira respeitosa indicaria que, no fundo, a humanidade tem um forte motivo psicológico para recusar a hipótese de vida extraterrestre. Trata-se, para usar a terminologia de Freud, da quarta “ferida narcísica”, o quarto ataque à importância do homem no universo.
Conforme o texto de Freud, a humanidade enfrentou três golpes decisivos em sua auto-imagem: a revolução copernicana, que retira nosso planeta do centro do universo, o darwinismo, que retira o homem do centro da vida e a psicanálise, que retira a consciência do centro do psiquismo.
Por fim, a hipótese de vida inteligente fora da Terra poderia significar, para muitos, uma diminuição tão atroz quanto aquelas da dignidade do homem, pois concebe a possibilidade de formas de inteligência iguais ou até mesmo superiores à nossa. Evidencia que podemos não ser os únicos seres capazes de explorar e dominar as forças da natureza. Ou, mais radicalmente, pode mostrar que ainda somos cognitiva e tecnologicamente grosseiros, quando comparados com outras formas de existência.
De resto, o teor quase zombeteiro de tais reportagens só vem confirmar que, quando se trata dos fenômenos ufológicos, há sempre uma recusa em levar a sério o assunto e discuti-lo sensatamente. É mais fácil rir, pois o riso é a forma contemporânea de censura. E, a ridicularização descarada, a fogueira na qual queimamos nossos hereges.
Por outras razões, também Copérnico temeu a divulgação de suas convicções astronômicas. É sabido que Darwin sofreu resistências de todo tipo. E a psicanálise, por muitos anos, foi assunto de bastidores e jamais de congressos acadêmicos oficiais.
A Ufologia, atualmente, percorre o mesmo caminho pedregoso, impregnado de preconceitos, que um dia pode levá-la a um reconhecimento mais maduro. Talvez, num futuro não muito distante, o homem terá enfim a coragem para encarar de frente o enigma do universo em que habita.