Há muito tempo o ser humano procura no intangível respostas para profundas reflexões de ordem filosófica. Pensadores de todas as épocas dedicaram-se ao entendimento dos anseios humanos e procuraram explicar o comportamento e os talentos da humanidade, baseando-se naquilo que lhes parecia a verdade. Influência dos deuses, manifestação da natureza, processos físicos e mais inúmeros argumentos poderiam fornecer respostas para o porquê desta ou daquela característica. Porém, a alma humana alçava maiores voos que seus analistas. A busca do ser humano para suas indagações mais profundas começou antes de sequer existirem pensadores. Ciclos naturais, fenômenos da natureza, fenômenos celestes e a visão de inatingíveis estrelas despertavam no inconsciente dos homens primitivos a admiração e o respeito, a ponto de darem a essas ocorrências normais o status de divindade.
À medida que esses fenômenos foram sendo explicados e compreendidos ao longo dos séculos, não poderiam mais representar os anseios humanos. Assim, conforme o planeta era explorado e desbravado, deixava de existir um horizonte desconhecido que pudesse servir de repositório para as respostas. Os caminhos diminuíam, porém as perguntas continuavam presentes. Assim, restou-nos aquilo que nos parecia impossível alcançar e desvendar, onde certamente estariam as chaves para todos os enigmas: o universo. É interessante analisar a razão dessa relação entre as dúvidas existenciais e o fato de situar as respectivas respostas em algo inatingível. É voz corrente entre os estudiosos da área comportamental que o homem tende a projetar, ainda que inconscientemente, a “solução” dessas questões em algo distante e de difícil acesso. Conforme demonstraremos adiante, esse processo faz, automaticamente, com que o buscador encontre ao longo do caminho uma natural evolução da qualidade e profundidade dos questionamentos — e, consequentemente, de sua própria evolução como ser humano.
Como pôde o leitor notar, a expressão “ser humano” repetiu-se algumas vezes nesta introdução — e não por acaso. É nossa intenção, neste artigo, desenvolver uma linha de raciocínio voltada não especificamente ao fenômeno ufológico, suas manifestações ou sistematizações de estudo, mas sim àquelas pessoas que constituem a espinha dorsal da Ufologia: os ufólogos. Será a tônica desta matéria o ser humano e suas atitudes perante o meio ufológico, sempre tomando por base teórica os posicionamentos das ciências do comportamento e lembrando que somos profundamente influenciados pelos contextos socioeconômicos e culturais nos quais estamos inseridos.
Presente no cotidiano das pessoas
Embora a ciência já viesse desde o século 17 ampliando e modificando a visão do homem em relação ao mundo que o cerca, foi o século 20 o grande palco em que essas modificações se fizeram cada dia mais presentes no cotidiano das pessoas. As facilidades de comunicação e do acesso à informação transformaram o pensamento e o status do ser humano perante o universo. A invenção e o sucesso do cinema ajudaram na ampliação das possibilidades criativas e o sonho humano com o intangível ganhou forma. Foi também nesses 100 anos que livros, jornais e revistas se tornaram artigos de fácil acesso, a televisão surgiu e com ela uma verdadeira revolução de costumes e ideias. Na ciência, as teorias da relatividade de Einstein trouxeram conceitos reformuladores dentro da física; a biologia se transformou com o estudo mais aprofundado da genética, iniciado por Mendel no século 19; e a contribuição de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung nos campos da psicanálise e do conhecimento do inconsciente humano transformaram de maneira definitiva conceitos até então arraigados, muitas vezes em bases extremamente questionáveis.
O século 20 foi também o cenário de duas guerras mundiais, da Guerra Fria, da conquista espacial e de movimentos culturais que abalaram profundamente as estruturas sociais e religiosas que vinham se mantendo praticamente inalteradas há alguns séculos no Ocidente. Foi nesse palco, efervescente e de profundas transformações, que algo começou a chamar a atenção de muitas pessoas, em especial nas décadas de 30 e 40. Tinha-se, até então, a possibilidade da existência de vida extraterrestre como matéria de eventuais discussões contidas em quatro paredes entre acadêmicos na Europa e Estados Unidos. No entanto, veículos de comunicação como o cinema e o rádio — em especial a famosa transmissão de Guerra dos Mundos, em 1938 — fizeram com que essa discussão viesse a público, ainda que de forma muitas vezes jocosa ou como puro assunto lúdico, preponderantemente na indústria cinematográfica.
Todavia, uma sequência de acontecimentos logo após a Segunda Guerra Mundial mudou o enfoque dado até então à hipótese de que vida extraterrestre inteligente estaria nos visitando. Tornado um ícone, foi o avistamento de Kenneth Arnold — dentre outros que ocorreram na mesma época, meados de 1947 — o responsável por transformar o lúdico em factível e palpável. Independentemente da veracidade desses avistamentos, eles foram o ponto central de um importante movimento psicossocial, que mais tarde seria denominado Ufologia. Não nos referimos aqui à pesquisa sistemática das aparições, mas sim à reação da sociedade diante de um dado novo. Foi a Ufologia que fomentou o aparecimento do personagem principal desta matéria, o pesquisador do fenômeno ou ufólogo.
Deuses que vieram de cima
Como todo movimento social, este também tem características intrínsecas que podem e devem ser analisadas para entendermos de maneira mais acurada os meandros do Fenômeno UFO e aqueles que o pesquisam. Uma dessas características está estreitamente ligada aos aspectos míticos que permeiam o imaginário humano desde tempos imemoriais, como a eterna busca daquilo que está “em cima”, “nos céus”, “lá fora” etc — coisas de alguma forma intangíveis ao ser humano e, ao mesmo tempo, representando o “paraíso”, a “iluminação”, a “morada dos deuses”, ou seja, aquilo que é bom, dependendo da cultura do protagonista. Temos muitos exemplos disso. Monges taoíst
as, ao alcançarem a iluminação, são levados por um dragão alado. Os santos e anjos católicos, por sua vez, têm sua morada ao lado de Deus, que também está no “céu”. De acordo com a mitologia, deuses sumérios também vieram “de cima”.
O céu se afigura como o cenário das manifestações divinas, sejam elas boas ou ruins. Temos vários relatos na tradição religiosa judaico-cristã que mostram claramente essa associação divino-celeste — em um deles, Moisés foi guiado por uma coluna de fogo ou uma coluna de nuvem durante o Êxodo. Da mesma forma, a Estrela de Belém guiou os Reis Magos para encontrarem o Salvador e as “línguas de fogo” desceram sobre os apóstolos em Pentecostes, fatos esses descritos em outros marcantes episódios bíblicos. Seguindo essa linha de raciocínio, os “deuses” se valiam de sinais celestes para marcarem sua presença ou demonstrarem sua intenção. Ainda que muitos pudessem ver tais sinais, somente os “eleitos” tinham pleno acesso àquilo que as divindades queriam transmitir à humanidade, tendo a função de intermediários, com grande poder de influência sobre seus seguidores.
À medida que esses fenômenos foram sendo compreendidos, não poderiam mais representar os anseios humanos. Assim, conforme o planeta era explorado, deixava de existir um horizonte que pudesse servir de repositório para as respostas
Essas fortes referências ao Divino, que estão presentes de forma inconsciente em nossa cultura, tornaram o fenômeno ufológico atraente aos olhos do grande público — ainda que este muitas vezes o visse com certo medo ou reserva. O fato é que temos tido, nesses últimos 65 anos, uma verdadeira “invasão” extraterrestre em nosso planeta, protagonizada não pelos alienígenas, mas pelo cinema, pelas agências publicitárias, pelas revistas em quadrinhos e pela literatura ficcional. Embora o fenômeno tenha um forte apelo ao desconhecido, ao misterioso e ao mítico, não são todas as pessoas que se sentem compelidas a penetrar nesse universo de forma atuante. Na verdade, o número de estudiosos do Fenômeno UFO é percentualmente pequeno em relação ao número de pessoas que estariam aptas, ao menos em tese, a estudá-lo — pessoas que teriam um grau mínimo de escolaridade, acesso à informação e nível socioeconômico que lhes permitissem despender uma parte de sua renda em material de pesquisa — publicações, eventuais viagens, equipamentos — e algum tempo livre para se dedicar ao assunto. Quais seriam, então, os motivos que levam alguém a se voltar ao estudo ufológico, enquanto tantos outros não o fazem?
Construindo conhecimento
Há exceções, mas, via de regra, segundo sugere o psicólogo Walter Klein Júnior, seria o conjunto de três fatores que atuariam nessa decisão: curiosidade inata, necessidade de “construir” conhecimento e, principalmente, o tipo de estímulo do ambiente cultural em que a pessoa se desenvolveu. É importante ressaltar que essas características estão naturalmente presentes no perfil de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento — e não somente os ufólogos. No que se refere à curiosidade inata ao fenômeno ufológico, certas linhas do pensamento espiritualista propõem possibilidades que, embora interessantes, fogem ao escopo do trabalho ora apresentado. Portanto, vamos nos ater às explicações oferecidas pelas ciências comportamentais para o desenvolvimento cultural e social humano. Estudos apontam que crianças que têm seus naturais questionamentos respondidos desde a tenra infância possuem forte tendência a desenvolver maiores níveis de questionamentos e, portanto, possuem necessidade de construir conhecimento estruturado.
Os estímulos recebidos podem ser originários de diversas fontes: família, escola, meios de comunicação, amizades, ambiente religioso e eventuais experiências pessoais com o fenômeno ufológico. Ainda segundo Klein, dentro desse grupo de pessoas que se dedicam à pesquisa, poderíamos destacar aquelas que buscam este universo por necessidade de se diferenciar das demais do grupo ao qual pertencem, além das necessidades de autoafirmação, de encontrar uma justificativa frente a um grande sofrimento e as geradas por crises existenciais. Neste último caso, as pessoas tendem a não se aprofundar em suas pesquisas e montam a realidade de acordo com suas carências internas, inclusive tecendo teorias mirabolantes. Usam a Ufologia como suporte para suas vidas.
Tomando por base os dados teóricos até aqui colocados, podemos ter uma visão mais clara de como, porque e em qual conjuntura social surgiu a figura do ufólogo nos moldes que conhecemos hoje. Voltando ao final da década de 40, quando surgiu a Ufologia, identificamos vários dos tópicos até aqui desenvolvidos. Os avistamentos relatados que afloraram naquela época traziam claramente o componente mítico anteriormente citado — o que vem “de cima”, “dos céus”. Ele certamente influenciou o surgimento da primeira geração de pesquisadores. Segundo os contatados da época os discos voadores, agora figurando como uma real possibilidade de visitas extraterrestres, passaram a nos visitar com uma constante mensagem antibelicista, devido à crescente tensão entre União Soviética e Estados Unidos e a potencial ameaça de autodestruição de nossa civilização por um conflito atômico em escala global.
Base para futuras pesquisas
Vê-se nesse cenário uma imagem claramente messiânica, sendo o receptor da mensagem o “eleito”, que tem acesso à informação que vem “do céu”, cuja função é ser o intermediário entre ele e a humanidade. Por outro lado, há aqui uma clara interpretação do fenômeno de acordo com o contexto político da época. O grande número de relatos de avistamentos e contatos estimulou o despertar da curiosidade de algumas pessoas que se sentiram compelidas a melhor investigar essas ocorrências, tentando agrupar e organizar dados no sentido de construir um conhecimento estruturado sobre o assunto, que serviria de base para futuras pesquisas.
Lembramos que esses pioneiros da pesquisa ufológica não eram, necessariamente, pessoas com formação acadêmica ou especializadas em áreas ou ramos da ciência — que, a priori, seriam as mais afins ao estudo do fenômeno, como astrônomos, meteoro
logistas, físicos ou biólogos. Grande parte dos primeiros ufólogos não tinha formação em nenhuma dessas áreas, mas isso não foi um obstáculo para que se aventurassem na pesquisa ufológica. Muito pelo contrário, serviu para muitos — como acontece até hoje — como incentivo para ampliarem conhecimentos de conceitos acadêmicos, com o intuito de uma melhor compreensão do conjunto de dados que coletavam.
Durante as décadas de 30 e 40, o cinema e o rádio — a exemplo do programa A Guerra dos Mundos — fizeram com que a discussão sobre os UFOs viesse a público, ainda que de forma muitas vezes jocosa ou como puro assunto lúdico
O desenrolar dos fatos após 1947 trouxe um binômio essencial para a formação de toda uma cultura em menos de uma década: pesquisa versus divulgação de casuística. Cada vez mais pessoas começavam a se interessar — com maior ou menor grau de intensidade — pelo assunto, graças aos meios de comunicação que “compraram” a ideia, utilizando-a até como forma de aumentar seu faturamento. Passada uma década do que se denominou como início da Era Moderna da Ufologia, o vulto que tomou o conjunto de fatos e rumores sobre o assunto já era expressivo o suficiente para que um dos maiores nomes da psiquiatria de todos os tempos se dispusesse a tratar do mesmo em sua obra, de 1958, Um Mito Moderno Sobre Coisas Vistas no Céu [Editora Vozes, 1991].
Agente formador de opinião
Chegada a década de 60, novos fatos e conceitos trouxeram uma nova forma de interação entre o pesquisador e a sociedade. Já nessa época, a figura do ufólogo estava praticamente institucionalizada, grupos civis organizados eram uma realidade e, com vários anos de casuística como base de dados, sistematizações de estudo se tornaram mais apuradas. O incessante desenvolvimento científico, em especial as ciências ligadas à astronomia e à astronáutica — com o início da efetiva corrida espacial —, fizeram do pesquisador do Fenômeno UFO um ponto de referência para aqueles que eram apenas curiosos ou estavam iniciando seus estudos. Essa mesma “especialização” do ufólogo trouxe um incômodo, que perdura em algumas áreas até hoje: a postura cientificista dos meios acadêmicos e seus integrantes começaram a ver neles uma oposição que merecia atenção, ainda que não fosse admitida.
Os fatos apontam, porém, que o establishment fazia tudo a seu alcance para rechaçar teorias que agora se mostram mais plausíveis e com certo embasamento científico, vindo de seu próprio meio. A história mostrou, inclusive, que muitos cientistas que faziam parte de instituições com esse perfil tinham enorme interesse no que os ufólogos tinham a dizer, sendo barrados, porém, pelo receio de eventuais represálias em sua atuação profissional. Essa situação desenvolveu-se até chegar a certo nível de radicalização por ambas as partes, gerando no ufólogo uma crescente necessidade de provar suas colocações, em contraponto ao acadêmico que ia — e ainda vai — à mídia para desmentir o modelo proposto pelo primeiro. Pode-se considerar essa contenda lucrativa não só para as duas partes diretamente envolvidas, mas também para o público leigo no assunto, que teve, a partir de então, discussões em nível mais elevado na mídia, popularizando informações que estavam até então restritas a um universo muito pequeno de pessoas, transformando o ufólogo em um agente formador de opinião.
Foi também nessa década que novos paradigmas se fizeram presentes de forma mais ativa, levando os pesquisadores a novos questionamentos e muitas vezes a um reposicionamento em relação às manifestações ufológicas. As abduções, as mutilações de animais e a difusão das colocações da Ufoarqueologia possibilitaram o surgimento de novos conceitos em relação ao entendimento da casuística que se apresentava. Tais conceitos, especificamente os dois primeiros, não eram necessariamente uma antítese do que se tinha até então, mas sim um complemento natural dos aspectos míticos ou messiânicos que destacamos anteriormente.
Sistematizado há mais de 2.500 anos na China, o Taoísmo colocou, inclusive de forma pictográfica, a eterna polaridade, interação e complementação dos opostos para se obter um sistema completo. Essa visão, baseada na observação dos ciclos da natureza (dia e noite, frio e calor, céu e terra) e do ser humano (tristeza e alegria, saúde e doença), diz que o “todo” somente estará completo e equilibrado quando as duas facetas — Yin e Yang — fizerem seu papel dentro de um contexto maior, atuando em conjunto para que o equilíbrio se mantenha, cada qual exercendo sua função, interagindo entre si, no decorrer de um processo infindável, transformando-se continuamente um no outro.
O todo e a soma das partes
Baseado nessa milenar e profunda visão do Cosmos, podemos notar que os elementos trazidos pela abdução e a mutilação de animais representam o outro lado de uma mesma moeda, no que se refere à forma de interação do Fenômeno UFO com o ser humano. A visão messiânica encontrou seu contraponto de forma clara nas traumáticas experiências relatadas pelos abduzidos, que forçaram os pesquisadores a adotarem uma visão mais nítida da complexidade do assunto. Aquilo que até então era “simplesmente” o estudo da possibilidade da visita amistosa de extraterrestres em nosso planeta tornou-se também um estudo da possível invasão ou intervenção genética de seres alienígenas em nossa espécie, por motivos que permanecem até hoje incompreendidos. É nossa opinião que essa outra faceta não invalida o posicionamento dos ufólogos que tinham uma visão mais romântica do fenômeno. Mas que, assim como o Yin e o Yang se mesclam e se complementam para dar equilíbrio a qualquer sistema, o mesmo princípio deve ser aplicado nessa situação, sem deixar-se levar aos extremos, lembrando que “o todo é maior que a soma das partes”.
O terceiro item citado como sendo responsável pela ampliação dos paradigmas ufológicos teve sua popularização nas hipóteses de Ufoarqueologia propostas por E
rich von Däniken, ainda nos anos 70. Embora atualmente seu trabalho seja muito questionado, sua influência foi inegável para muitos dos pesquisadores daquela época, coisa que até hoje acontece com iniciantes no tema. Este é um dos aspectos mais controversos e delicados do relacionamento entre o ufólogo e o objeto pesquisado. Tal objeto, um verdadeiro Santo Graal de todo pesquisador, poderia tornar-se agora na arma que, literalmente, mataria deus [Em minúsculo].
A história já mostrou que muitos cientistas que fazem parte de instituições acadêmicas têm enorme interesse no que os ufólogos dizem, sendo barrados, porém, pelo receio de represálias em sua atuação profissional
Considerando plausíveis as afirmações feitas pela Ufoarqueologia, praticamente todas as religiões seriam destronadas de suas posições de depositárias do “divino”. Nota-se, porém, que a imensa maioria das propostas feitas por essa linha de raciocínio não tocavam — ou se o faziam, era de forma muito sutil — na figura central do cristianismo ocidental. Praticamente todas as culturas e religiões antigas foram dissecadas de tal forma que os questionamentos pareciam pertinentes. Mas ficava claro que tanto os ufólogos como os simpatizantes da Ufologia, à época, evitaram se aprofundar no ponto que balizou toda a estrutura social e cultural religiosa na Europa e Américas por vários séculos. De onde vinha esse cuidado? Seriam astronautas apenas os deuses dos outros? Tendo o ser humano uma necessidade vital de sentimento religioso, chegamos aqui a um impasse para o ufólogo: quais as consequências de estar se aprofundando de forma imparcial nessa área de estudo? De certo, não seriam as mais agradáveis. Conforme lembra o psicólogo Klein, “a verticalização do assunto é complicada. Toda pesquisa gera questionamento do que já se sabe, amolecendo os pilares de sustentação interna das crenças de cada um. Isso gera instabilidade, medo e angústia. O que vai fazer com que as pessoas persistam ou não na pesquisa é o quão bem elas lidam com o desconhecido e o grau de coragem e curiosidade de cada um”.
Entendimento das possibilidades
A porta aberta pela Ufoarqueologia traz suas consequências até os dias atuais, quando encontramos até mesmo certa radicalização entre as pessoas que se interessam especificamente por esse assunto. Ao mesmo tempo em que alguns demonizam tais conceitos, outros simplesmente os veem como verdade absoluta, chegando ao ponto de negarem a “divindade” em qualquer de suas possíveis manifestações. Como já vimos anteriormente, o equilíbrio é essencial para que se possa ter um entendimento maior de todas as possibilidades, analisando-as de forma desapaixonada e, mais uma vez, sempre tendo em mente que “o todo é maior que a soma das partes”.
É fundamental lembrarmos que o contexto sociológico, político e cultural da década de 60 também trazia novos paradigmas que, direta ou indiretamente, afetaram o posicionamento das pessoas em relação à vida e ao mundo que as cercavam. Esses foram os anos da Guerra do Vietnã, da Primavera de Praga, movimentos estudantis na França, crise dos mísseis em Cuba, a construção do Muro de Berlim, assassinato de J. F. Kennedy, as ditaduras na América Latina, a expansão do movimento feminista, a radicalização da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e o surgimento de um movimento contracultural representado em particular pelos hippies, que teve grande influência nas formas de expressão artística. Este último foi o grande agente de resgate cultural das filosofias orientais, em especial as chinesas e indianas, que propunham uma maneira mais espiritualizada de se entender a existência humana e a sua interação com a natureza.
Todos esses fatos, unidos às novas faces que a Ufologia apresentava, tiveram um forte impacto tanto como estímulo para o aparecimento de novos pesquisadores, quanto para uma releitura do fenômeno por parte daqueles que já atuavam na área. Surgia então a semente daquilo que viria a se transformar mais tarde em uma corrente informalmente denominada new age dentro do movimento ufológico. Nos anos que se seguiram, o amadurecimento dos pesquisadores e dos próprios paradigmas delineou novas linhas de pesquisa e diferentes posicionamentos frente aos rumos que as pesquisas tomavam. Os extraterrestres, vistos com olhos messiânicos ou como benevolentes, que vinham ao planeta para nos salvar de nós mesmos, cederam lugar a outros nada bondosos, que tratavam os seres humanos como ratos de laboratório, prontos para serem dissecados em suas pesquisas.
Assim como não se explica a uma cobaia o que se vai fazer com ela, da mesma forma nada era explicado aos declarados abduzidos, deixando um rastro de medo e trauma após a experiência. A visão que se tinha anteriormente de extraterrestres fraternos foi estampada, inclusive motivando novos pesquisadores a ingressarem no estudo ufológico, de maneira inconfundível por Steven Spielberg em Contatos Imediatos do Terceiro Grau [1977]. Embora o filme tivesse todo um embasamento nos estudos da casuística a que se tinha acesso na época, contando até mesmo com a assessoria de J. A. Hynek, a forma de contato apresentada tinha um forte componente emocional, revelando aquilo que intimamente o ser humano queria que fosse, independente da realidade dos fatos. Mais uma vez recorremos a Klein: “O ser humano busca o conforto, o bem-estar interno, não importando se é verdade ou não”.
Interação entre humanos e ETs
Um exemplo claro disso é a forma dissociada de violência como as abduções são tratadas no filme, mostrando não um rapto agressivo, mas uma disposição das pessoas a serem levadas. Isso fica evidenciado, por exemplo, nas cenas em que os indianos se utilizam de mantras para atrair os seres visitantes e em uma importante passagem da película, em que o garotinho, ao ver uma luz que vem do céu, abre sem medo a porta de sua casa, mesmo contra a vontade da mãe, para que seus “amigos” possam se aproximar. Essa passagem de Contatos Imediatos, entre algumas outras, deve ser analisada em profundidade. Na época do lançamento do filme um fato novo fez com que algo que estava quase adormecido para os ufólogos voltasse à tona, criando mais uma vertente no modo de se encarar a interação entre humanos e ETs. Quando Jesse Marcel, então já na reserva da Força Aérea Norte-Americana (USAF), revelou à imprensa fatos ocorridos em 1947 que envolviam o suposto acobertamento oficial da queda de um UFO em Roswell e a remoção dos corpos de seus ocupantes, os pesqui
sadores se viram diante de algo inusitado.
Era uma cena muito conhecida, mas o diferencial estava justamente no fato de Marcel ter participado dos acontecimentos e ser uma fonte confiável. O acobertamento oficial, os movimentos de desinformação e a difusão da imagem do ufólogo como alguém pouco confiável, visando desacreditar perante o grande público trabalhos sérios, já não eram novidade. Mas o relato de Marcel, seguido do de várias outras testemunhas do ocorrido, teve um efeito catalisador para o escape de anos de suspeita e de inconformismo dos estudiosos em relação à atitude oficial das Forças Armadas. Indiscutivelmente, há sigilo por parte dos órgãos oficiais em relação ao Fenômeno UFO. Mas não podemos esquecer que este texto trata do ser humano e de suas reações diante de novos fatos.
Acreditar que o governo esteja mentindo ou ocultando algo não é característica única dos pesquisadores ufológicos. Parece haver uma pré-disposição em todos nós para olhar com suspeita as atitudes oficiais. No campo da Ufologia, essas suspeitas são exacerbadas justamente porque o objeto de estudo não é palpável e por mais que se busque uma prova daquilo que se diz, ela não é encontrada de maneira inequívoca. Outro fator veio contribuir para a aceitação — muitas vezes sem questionamentos — das revelações que surgiram nesse período, ainda que nenhum único contato aberto tivesse ocorrido: a ansiedade do pesquisador de provar a sua verdade, unida à posição de total negação por parte dos governos. Esses ingredientes acabaram transformando aquilo que era um dos entraves à pesquisa e ao levantamento de dados em uma verdadeira usina de teorias conspiracionistas ao longo da década de 80.
Um governo mundial oculto?
Essa nova perspectiva, que afirmava que o contato já havia ocorrido e que extraterrestres agiam de forma violenta contra a humanidade com pleno consentimento do governo norte-americano em troca de tecnologia, cresceu e ganhou corpo de tal maneira que em pouco tempo já se falava em um “governo mundial oculto”. Não estamos afirmando aqui que conspirações não existam, mesmo porque elas vêm pautando a história das civilizações. Porém, procuramos mostrar o panorama em que os pesquisadores passaram a atuar nos anos 80. Visto que os meios de comunicação são, ao mesmo tempo, balizadores e motivadores em quase todos os aspectos da sociedade humana, é importante lembrar da popularização de conceitos científicos que, por muitos anos, estavam restritos aos meios acadêmicos.
Desde a década de 70, livros e periódicos trazem para dentro do ambiente doméstico aquilo que era de difícil compreensão para leigos, de uma forma mais barata e didática. Conceitos sobre física, química e biologia não eram mais algo inatingível, mas sim uma ferramenta de fácil acesso — inclusive para dar sustentação a várias teorias colocadas dentro do universo ufológico. Isso ajudou a refinar o posicionamento dos pesquisadores não apenas perante a opinião pública, mas também a fazê-los perceber que muito do que eles próprios intuíam tinha um respaldo, ainda que teórico, dentro do desenvolvimento da ciência. Essa difusão de informações e atualizações científicas não se deu apenas em meio físico.
O que podemos chamar de grande revolução em termos de comunicação nos últimos anos foi a chegada de forma definitiva dos meios eletrônicos de divulgação de conceitos objetivos e subjetivos: a internet. Essa nova ferramenta, embora de grande valia como fonte de pesquisa e difusão de ideias, deve ser considerada em suas duas faces. Se, por um lado, novos pesquisadores sérios surgiram no cenário, incentivados pela telinha à sua frente, vimos também emergir um grande número de pessoas que, repetindo a postura do não aprofundamento na questão ufológica, de certa forma distorceram o trabalho desenvolvido ao longo de décadas por estudiosos do Fenômeno UFO, amoldando-o às suas carências pessoais.
Diante de tantos obstáculos ao longo dessas décadas e de tantos dados que vieram a influenciar o ufólogo como indivíduo, trazendo uma modificação em seus pilares existenciais e uma nova forma de convivência com tudo que o rodeia, parece oportuno lembrar os passos traçados pelo sociólogo Joseph Campbell, que seriam comuns a todos os heróis, em todo o mundo e em todas as épocas. Essa aventura, que está descrita em seu livro O Herói de Mil Faces [Editora Pensamento, 1995], serviu como base para a obra de Christopher Vogler, A Jornada do Escritor [Editora Ampersand, 1992]. Mostramos no box da página 16 o esquema feito por Vogler e convidamos o leitor a adaptar essas etapas à sua vida como ufólogo. É importante dizer ao leitor que, por entendermos que muitas vezes o ufólogo passa por esses estágios em seu caminho, não apenas a manifestação ufológica em si tem aspectos míticos, mas também aqueles em quem ela desperta a curiosidade.
A jornada de um ufólogo na prática
Até este momento nesta dissertação temos desenvolvido o tema com base em pesquisas nas áreas de história, psicologia e sociologia, e também em nossas próprias observações e experiências dentro do universo ufológico. Porém, os autores não produziram este texto sozinhos, mas com a participação de dezenas de pesquisadores, aos quais agradecem a gentil colaboração. A participação deles se deu através de entrevistas online, cujo intuito era originariamente fornecer-nos dados demonstrativos para a elaboração do artigo. Entretanto, o resultado dessa pesquisa mostrou-se uma grata surpresa, uma vez que as respostas dos colegas corroboraram essa linha de raciocínio, delineada em esboço feito antes do envio das perguntas.
O pequen
o questionário a eles submetido era constituído de quatro perguntas que considerávamos essenciais como subsídio para desenvolvermos um texto com fundamentos na experiência do personagem principal deste artigo: o ser humano. Faremos a seguir um apanhado geral das respostas e chamamos a atenção dos leitores para as significativas coincidências que existem entre aquilo que nos foi respondido e a descrição de alguns passos da jornada do herói [Veja box]. Cabe aqui ainda a observação de que essa pesquisa é apenas ilustrativa e não tem nenhuma validade estatística, nem obedece aos rigores do método científico.
De acordo com nossa visão do cosmos, notamos que os elementos trazidos pelas abduções por alienígenas representam o outro lado de uma mesma moeda, no que se refere à forma de interação do Fenômeno UFO com o ser humano
Mas, o que os ufólogos consultados responderam? Quanto aos motivos que levaram os pesquisadores a iniciarem-se no estudo ufológico, encontramos razões que convergem para os três itens principais elencados no início desta matéria — curiosidade, estímulos externos e necessidade de construir conhecimento. Respostas como “fiquei intrigado, queria saber mais”, “olhava o céu e pensava por que só nós?” ou “desde criança eu adorava o assunto”, têm sua base na curiosidade inata do ser humano, que de alguma forma foi despertada para o campo ufológico. Encontramos também respostas que apontam para estímulos externos, como “tive um avistamento quando criança”, “após assistir a um filme”, “vi algumas fotos” etc.
E também, corroborando o terceiro item, tivemos respostas do tipo ”eu queria saber mais sobre o assunto”, “me senti motivado a pesquisar para entender” e “fascínio à aquisição de conhecimento”. Apenas a título de informação, o número de pessoas motivadas por curiosidade e construção de conhecimento foi praticamente igual. A maioria dos entrevistados teve seu “fator iniciador” em estímulos externos — grande parte através de avistamentos. Vemos aqui o primeiro e o segundo passos da jornada do herói [Veja box]: A Saída do Mundo Comum e O Chamado à Aventura.
Transformação interna
No que se refere aos objetivos dos ufólogos envolvidos na pesquisa, perguntamos se houve alguma modificação ao longo dos anos, ou se ainda mantinham seu objetivo inicial. Novamente encontramos respostas que se ajustam perfeitamente como exemplo do que tratamos ao longo do texto. Conforme os pesquisadores angariavam novos conhecimentos, foram experimentando uma modificação em suas metas, o que demonstrou ter havido também um amadurecimento na visão em relação ao Fenômeno UFO. Alguns ícones da Ufologia Brasileira e Mundial foram citados, em sua maioria pesquisadores como Jacques Vallée, Flávio Pereira, general Alfredo Moacyr Uchôa, Walter K. Bühler e outros. Inclusive, em alguns depoimentos, fica claro que foi por influência desses grandes nomes que muitos ufólogos persistiram em seus trabalhos na área. Estamos diante do terceiro, quarto e quinto passos do herói: Recusa ao Chamado, Encontro com o Mentor e Travessia do Primeiro Limiar.
A terceira pergunta foi sobre eventuais mudanças na maneira de o ufólogo enxergar o mundo e a vida, em razão de seus estudos sobre os objetos voadores não identificados. As respostas foram praticamente unânimes: quase todos os entrevistados sofreram processos profundos de transformação interna — e de uma forma contundente frisam que se tornaram melhores seres humanos. Achamos respostas muito significativas, como “fiquei mais humilde”, “compreendo melhor as outras pessoas”, “tenho uma visão mais ampla em relação a tudo que me cerca”, “ajudou-me a ter uma visão macroscópica da vida”, “me levou a questionamentos muito profundos” etc. Outro fator que vale ser destacado em relação a essas respostas é o fato de que tal amadurecimento se deu ao longo do caminho, e que foi um processo “natural diante da complexidade do estudo ufológico”, para usar as palavras de um dos entrevistados. Na jornada do herói, identificamos aqui os passos oito, nove e onze: A Provação Suprema, A Recompensa e A Ressurreição.
A última pergunta se referia ao modo como a interação entre pesquisador e sociedade eventualmente poderia ter sofrido alguma mudança. As respostas, embora variando na forma, não diversificaram em conteúdo. De maneira geral, a maioria dos pesquisados respondeu que sim, sua interação mudou e essa mudança foi para melhor. É interessante ressaltar que muitas pessoas disseram que, apesar de terem encontrado dificuldades iniciais em relação ao posicionamento da sociedade às suas atividades ufológicas, hoje são vistas com respeito e simpatia — inclusive por aqueles que alguma vez as detrataram. Mas também ficou claro que o estereótipo é um entrave para muitos pesquisadores, e essa visão de que “ufólogo é maluco” infelizmente ainda atrapalha a divulgação dos trabalhos e seus relacionamentos profissionais e pessoais.
Construções mentais falsas?
Esse é um posicionamento que incomoda e desrespeita pesquisadores sérios, e que acaba nivelando por baixo — perante a opinião do grande público — todo trabalho de pesquisa ufológica, sendo ele consistente ou não. Segundo a definição de Eva Maria Lakatos, em seu livro Sociologia Geral [Editora Atlas, 1985], estereótipos são “construções mentais falsas, imagens e ideias de conteúdo alógico, que estabelecem critérios socialmente falsificados. Os critérios baseiam-se em características não comprovadas e não demonstradas, atribuídas a pessoas, coisas e situações sociais, mas que, na realidade, não existem”. Sabemos que esse conceito, embora muitas vezes injusto para com os pesquisadores, está arraigado na imagem que o público em geral, e a mídia em particular, fazem da Ufologia.
Conforme ressalta o falecido ufólogo Ademar Eugênio de Mello, há dois tipos de estereótipos ligados ao pesquisador. O primeiro e mais clássico é o do louco, e o segundo é o de quem tem todas as respostas. “Ambas são posições extremadas que podem ser mudadas através de um trabalho sério, bem embasado e com toda honestidade, com a melhor formação possível e a ajuda de outros profissionais de áreas diversas”, declara. Ainda segundo Mello, esse conjunto de atitudes fará “o trabalho vingar com o tempo”, ajudando a eliminar as imagens estereotipadas ligadas aos ufólogos.
É natural ao ser humano tomar posições diante da vida, dos fatos que o cercam e das pessoas que conhece. Além disso, indivíduos com ideias parecidas tendem a se agrupar e tal processo acaba produzindo linhas ou correntes de pensamentos. Não poderíamos esperar que fosse diferente no tocante ao Fenômeno UFO. Esses posicionamentos estão estreitamente ligados ao inconsciente dos indivíduos e aos aspectos mais profundos da formação de suas personalidades. Assim, o modo como cada ufólogo irá trabalhar seu entendimento do fenômeno é intrínseco à maneira como ele o vê. Pesquisadores que percebem de modo semelhante às manifestações ufológicas naturalmente se associam, formando correntes de pensamento que explicam o fenômeno conforme sua compreensão. No caso da Ufologia, justamente porque o objeto de estudo não é controlável, não obedece à vontade de seus observadores e nem é passível de reprodução programada, as divergências de posicionamentos restringem as pessoas a argumentações que visam apenas demonstrar a “verdade” de cada lado — o que resulta em afastá-las do fato em si, colocando o fenômeno como secundário no contexto geral.
Discussões estéreis e egoicas
Por certo, discussões bem embasadas, fruto de trabalhos sérios, são importantes gatilhos para o aumento de conhecimento — porém, sempre se levando em conta que nenhuma das partes possui a explicação ou detém a verdade. Tudo o que se pode afirmar categoricamente em relação às manifestações ufológicas é que elas existem, que não são propriedade desta ou daquela linha de pensamento e que não se sujeitam à vontade ou ao controle de ninguém. Novamente, vale aqui lembrar que “o todo é maior que a soma das partes” e que, portanto, discussões estéreis e egoicas, além de nada acrescentarem, roubam de todos a oportunidade de compreender de forma mais ampla o panorama que tem se apresentado nos últimos 65 anos. Mas do que depende a integração dessas correntes? De boa vontade? De humildade para reconhecer que os dados dos outros são importantes? De coragem para admitir que precisam uns dos outros? Parecem coisas pequenas e simples, mas são essas as verdadeiras montanhas que separam as pessoas. Quando alguém consegue juntar o conhecimento das várias correntes, na tentativa de entender melhor o Fenômeno UFO, temos aí uma pessoa que redescobriu o retorno para o caminho original.
Este trabalho de forma alguma se propõe a esgotar o assunto, ou a apresentá-lo de forma que seja aceito sem questionamentos. Os argumentos que desenvolvemos aqui devem ser refletidos de uma forma mais profunda, não para que se compreenda o que é a Ufologia ou o que é o Fenômeno UFO, mas sim para que se possa ter uma visão mais ampla do trabalho do ufólogo. Muitas pessoas que se dedicaram ou ainda se dedicam ao estudo tiveram ao longo dos anos problemas familiares, profissionais e íntimos em nome daquilo que pensavam ser a resposta para as dúvidas que acompanham a espécie humana em seu isolamento cósmico. Essas pessoas, sejam de que linha de pensamento forem, merecem respeito por seu trabalho pioneiro em um terreno incerto e de difícil acesso. São, embora muitas vezes não tenham consciência disso, formadoras de opinião e detentoras de uma ferramenta poderosa que pode ajudar a transformar a visão materialista e obtusa que cada vez mais contamina a humanidade, formando “um contingente de estagnantes”, nas palavras de Pierre Weil.
Assim como há 65 anos, ainda precisamos nos salvar de nós mesmos. Somos nossos maiores inimigos e também os únicos que podem reverter um processo que nos tornará habitantes de um planeta semimorto. A salvação não virá dos céus, mas do despertar de nossa consciência. Talvez aí resida a mais incrível das façanhas do herói. E assim, escolhemos fechar este trabalho com uma citação tirada do livro O Poder do Mito, de Joseph Campbell [Editora Palas Athenas, 1990], que nos parece perfeitamente pertinente a tudo que foi desenvolvido até agora: “Não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro a nossa existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo”.