Após o final da Guerra Fria, a cultura de segredo e o estilo operacional da Agência Central de Inteligência (CIA) começaram a mudar. O seu diretor apareceu num programa de rádio e se tornou possível para os cidadãos americanos pressionarem a agência de uma maneira inimaginável durante a era anterior. A Ufologia tem sido uma das beneficiárias destas mudanças. No final de 1993, as contínuas requisições de vários pesquisadores levaram o diretor da CIA R. James Woolsey a pedir uma análise de todos os arquivos que tratam de UFOs. Esta busca, envolvendo toda a agência, ocorreu em 1994 e levou à centralização de todos os documentos referentes ao assunto.
Tirando proveito desta oportunidade, o historiador do governo Gerald K. Haines examinouos documentos, realizou entrevistas e escreveu um estudo analisando o interesse e o envolvimento da agência em pesquisas sobre fenômenos ufológicos assim como a sua política em relação aos UFOs desde 1947 até 1990. O estudo de Haines foi publicado em Estudos de Inteligência, um jornal secreto impresso quinzenalmente para a comunidade de inteligência. O artigo O papel da CIA no estudo dos UFOs, 1947-90 apareceu no primeira edição semestral, não secreta de 1997, nas páginas 67-84. Este é um documento muito importante porque, pela primeira vez, uma agência governamental escreveu uma análise do seu envolvimento com os alienígenas. Apesar deste estudo ter estado disponível pelo menos desde junho, quando o baixei do site da CIA, ele não teve nenhuma divulgação até o início de agosto. Atualmente, o site encontra-se está desativado. Mas, quando a imprensa descobriu a existência do estudo de Haines, a atenção recebida foi enorme. O estudo foi publicado nos principais jornais americanos, na NBC e em muitos outros meios que são referência para a mídia. Uma típica manchete do jornal Chicago Sun-Times diz: “CIA temia histeria devido aos UFOs”.
Vários colunistas utilizaram este relatório para criticar a agência americana e a política de segredo do governo. Isto pode ser exemplificado pela coluna escrita por David Wise no jornal New York Times, intitulada “Grandes mentiras e pequenos homens verdes”. A mídia em geral focou em dois aspectos do relatório de Haines. Numa pequena seção intitulada Os U-2 da CIA e o OXCART como UFO, o autor diz que muitos UFOs vistos no final da Década de 50 e durante a de 60 foram, na realidade, aviões secretos de espionagem dos EUA. Mais ainda, ele alega que o projeto Blue Book (livro de testes) da força aérea utilizava a suspeita de extraterrestres como um tipo de acobertamento, para intencionalmente enganar a população, e até chegou a falsificar (Haines não utiliza esta palavra mas fica claro o que a força aérea estaria fazendo) explicações sobre UFOs. Estas são novidades importantes se realmente forem verdadeiras e a mídia corretamente se utilizou deste ângulo de visão.
Observe que a CIA não foi acusada de fraude por Haines. Ao invés disso, ele diz que foi a força aérea que, de bom grado, forjou explicações falsas. Os repórteres pediram à aeronáutica para comentar e, em 4 de agosto, o general brigadeiro Ronald Sconyers disse à imprensa: “Eu não posso confirmar nem negar que nós mentimos. A força aérea tem a obrigação de fornecer informações precisas e oportunas somente dentro dos limites da segurança nacional”. O general Scondyers soa um pouco como os políticos “vaselina” e o seu pronunciamento é inútil para reduzir as controvérsias. O segundo ponto abordado pela imprensa e tomado como novidade foi a relatório financiado pela CIA e chamado painel Robertson de 1953. Sim, isso mesmo, o painel Robertson cujo conteúdo é bem conhecido a mais de 30 anos por qualquer pessoa interessada em UFOs.
O fato da imprensa considerar as recomendações do painel como informação nova, nos dias de hoje fala muito sobre a inteligência, a habilidade para reportar casos e sobre o conhecimento histórico do quinto estado — maneira de se referir à imprensa). O Washington Post, tentando consertar o erro, disse num editorial que o estudo não continha muitas revelações, mas o jornal já tinha publicado um artigo dizendo o contrário.A cobertura da imprensa focou nas recomendações contidas no painel para que os relatos de UFOs sejam esclarecidos — uma política que o projeto Blue Book seguiu fielmente depois de 1953 —, que os grupos ufológicos sejam vigiados e que havia o perigo de que os soviéticos estivessem utilizando os alienígenas para obstruir os canais de comunicação e lançar um ataque nuclear. As mentiras utilizando os aviões espiões americanos foram somente uma pequena parte desta história. Apesar da imprensa estar atrasada em apenas 40 anos, a cobertura dada a este aspecto do relatório é um ponto positivo para a Ufologia.
O que fica claro a partir do tom utilizado em grande parte dos artigos é que as mentiras da CIA e da força aérea sobre os UFOs são apenas mais um exemplo das muitas inverdades ditas ao povo americano durante a Guerra Fria. E também, coisa inédita, os ufólogos desta vez estão sendo vistos de maneira amistosa pela mídia e reconhecidos como vítimas diretas das mentiras governamentais. Pegando nos calcanhares do segundo relatório da força aérea sobre Roswell, a correnteza começou a se virar contra o governo no debate sobre os UFOs. Mais e mais está ficando claro que o governo mente sobre os extraterrestres há muitos anos e que, provavelmente, continua mentindo até hoje. Apesar da imprensa ter dado grande cobertura ao relatório de Haines, ela perdeu parte da história, não fez nenhuma investigação independente e, de maneira geral, engoliu o relatório da maneira como estava escrito.
Mas, como diz Paul Harvey, vamos agora ao resto da história. O excesso de segredo na CIAO relatório de Haines é notavelmente pequeno para a complexidade do envolvimento da CIA com os UFOs. Na versão divulgada na internet o artigo tinha ao todo 21 páginas. Deste total, oito páginas são destinadas às notas de rodapé contendo diversas migalhas interessantes. Grandes pedaços da história, como o início dos anos 70, estão resumidos em poucos parágrafos ou sentenças. Com certeza um estudo mais completo poderia ter sido feito ou, talvez, a versão secreta seja um pouco maior. De qualquer maneira, em defesa do texto, Haines deixa claro diversas vezes que a CIA se atrapalha ao lidar com os UFOs devido à sua política de excesso de sigilo e isso, de fato, alimenta a idéia da existência de uma imensa manobra de acobertamento do fenômeno. “Não é surpresa o fato de Haines não ter encontrado nenhuma evidência para isso”. Por exemplo, em 1957, Leon Davidson, um investigador de UFOs que trabalhou na divulgação do painel Robertson e que acreditava no acobertamento, estava trabalhando num caso ufológico envolvendo uma estranha gravação feita pelas irmã
s Maier de Chicago. A fita também foi analisada pela agência que, por sua vez, descobriu que ela era nada mais do que código morse de uma estação de rádio americana. Mas quando Davidson escreveu para Dewelt Walker agente da CIA que entrou em contato com as irmãs Maier. Este ficou embaraçado e se recusou a dar uma resposta clara sobre o seu papel no caso e quando Davidson persistiu e a CIA fez com que a força aérea contatasse Davidson para dizer que Walker foi e é um oficial da força aérea. Depois, para piorar mais ainda as coisas, a agência americana colocou um dos seus agentes num uniforme da força aérea e contatou Davidson, alegando estar falando em nome da força aérea.
Não se pode culpá-lo por acreditar em acobertamento porque, obviamente, ele existia. Como escreveu Haines: “Desta maneira, um estranho acidente, mal administrado pela CIA e pela força aérea, se tornou um grande golpe de credibilidade que acabou por aumentar o mistério envolvendo os UFOs e o papel da mesma em investigá-los”.
Em outro incidente, agentes da divisão de contato da CIA obtiveram a foto de um ser extraterrestre de Ralph Mayher, em novembro de 1957. Depois das imagens terem sido devolvidas, sem nenhum comentário ou análise para Mayher, ele contatou novamente a agência para saber sua posição, isso porque queria utilizar as fotos num programa de televisão em que ele iria participar. Ela não forneceu explicações. O major Donald Keyhoe, responsável pelo Comitê nacional para investigação de fenômenos aéreos — National Investigation Comitee for Aerial Phenomena (NICAP), soube destes fatos e contatou a CIA para confirmar a história. Mas ela se recusou a prestar esclarecimentos, transferindo a responsabilidade do caso para a própria força aérea, mesmo sabendo que, como Haines escreve, “Os agentes de campo da divisão de contato normalmente eram de fácil reconhecimento e levavam credenciais declarando a sua associação com a agência”. Nenhuma dúvida, novamente, que os ufólogos concluiriam que o governo estava mentindo sobre as suas atividades para com os ETs.
Monitorando os pesquisadores de UFOs
Apesar da CIA ter claramente mentido para Davidson e Keyhoe, os eventos ufológicos que eram objeto das suas pesquisas eram comuns e sem maior importância. Muito mais sinistra é a idéia de que a CIA ou o FBI (Birô Federal de Investigações – sob a supervisão da agência) tenha monitorado os grupos ufológicos e seus investigadores. Haines não tinha nenhuma evidência direta disso, mas não ficou claro aonde estes registros seriam mantidos ou até mesmo se eles realmente estariam com a CIA ao invés do FBI, que certamente tem fichas de vários ufólogos, incluindo Richard Hall, responsável pelo fundo para pesquisas ufológicas e por muito tempo membro do NICAP.
Uma história completa do envolvimento da agência com os UFOs deveria discutir este ponto em profundidade. Afinal de contas, o painel Robertson recomendava que os grupos deveriam ser monitorados em busca de atividades subversivas. O fato de Haines não discutir este assunto em profundidade pode provavelmente ser atribuído a sua ignorância da história ufológica, à falta de documentação sobre este assunto nos registros da CIA e, talvez, ao escopo do seu artigo, que se refere muito mais à investigação de alienígenas do que de ufólogos.Um pequeno fragmento de evidência que Haines cita envolve Leon Davidson de novo. Em 1958, preocupada com os futuros questionamentos sobre a investigação de UFOs no governo, a CIA se encontrou com a força aérea para decidir o que fazer com essas perguntas. O agente, Frank Chapin, sugeriu que Davidson poderia ter segundas intenções e que fosse investigado. Haines diz que não ficou claro se o FBI chegou realmente a acatar esta sugestão, mas também não fica claro o nível de profundidade em que Haines investigou esta possibilidade. Apesar das evidências serem circunstanciais, há outras pistas para o fato do governo ter monitorado os grupos ufológicos já bem antes destas discussões. No seu livro UFOs sobre as Américas (UFOs over the Americas), Jim e Coral Lorenzen falam detalhadamente de estranhos acidentes que pareciam ser tentativas desastradas para descobrir os motivos das suas investigações de alienígenas e dos seus trabalhos na Aerial Phenomena Research Organization (APRO), fundada por eles em 1952. Isto aconteceu em muitos estados por, no mínimo, vários anos. E, ao que parece, os Lorezen se divertiram muito mais com a experiência do que se irritaram.
De fato, qualquer ufólogo ficaria satisfeito se a força aérea ou a CIA lhe pedissem conselhos sobre as suas investigações de UFOs ou, talvez, informações sobre os casos nos quais os investigadores estavam trabalhando. O problema destas agências, como frisa Haines, é que uma política de sigilo excessivo evitou que elas entrassem em contato abertamente com os investigadores de extraterrestre que, muito provavelmente, teriam cooperado com as seus pedidos de maiores informações. Uma evidência disso ocorreu no início de 1965 quando agentes da CIA se encontraram abertamente com Richard Hall nos escritórios do NICAP e este, alegremente, deu a eles cópias dos seus relatórios de fenômenos ufológicos para que a agência fizesse a sua própria análise da situação ufológica naquele momento. O painel RobertsonNão há um evento mais importante no envolvimento da CIA com os alienígenas, e talvez até em todo o interesse do governo americano sobre o assunto, do que o painel Robertson de janeiro de 1953. Haines dedica pouco mais de uma página a este ponto crítico, o que não dá lugar para muitas nuances e vai pouco além de um simples recitar de fatos. Na sua análise dos documentos da agência, ele demonstra o altíssimo nível de interesse despertado pelo aparecimento de seres extrterrestres no verão de 1952 e, especialmente, os avistamentos sobre Washington D.C. Um grupo de estudos especial foi formado dentro do OSI (Open Source Initiative) para analisar a situação. O diretor Walter Bedell Smith queria saber se a investigação de UFOs por parte da força aérea era ou não suficientemente objetiva, e ele perguntava: “Qual o uso que se poderia fazer do fenômeno UFO em conexão com os esforços de guerra psicológica dos EUA?”.
Memorandos e reuniões eram freqüentes no final de 1952, enquanto a CIA pensava o que deveria ser feito sobre o problema. A pesquisa de Haines mostra que as preocupações expressas no painel Robertson para com a obstrução dos canais de comunicação e o uso dos UFOs para romper as defesas aéreas americanas foram retiradas diretamente das preocupações desenvolvidas nesses memorandos internos da agência durante o verão de 1952. Em outras palavras, o painel Robertson, apesar dos nomes dos eminentes cientistas envolvidos, parece ter sido cuidadosamente orquestrado pela CIA para chegar às conclusões que ele divulga, incluindo o esclarecimento do fenômeno ufológico com a ajuda do projet
o Blue Book da força aérea. Haines não faz comentários sobre papel da agência de inteligência americana em determinar a política governamental.
Aviões espiões e UFOs
Me volto agora para o ponto que dominou a cobertura da imprensa no artigo de Haines. A afirmação de que muitos avistamentos de UFOs eram causados por vôos de aviões secretos. Dada a natureza de inúmeros relatos descrevendo alienígenas vistos de perto, a baixa altitude e perto do solo, o ufólogos consideraram, unanimemente, esta afirmação ridícula. Eu tenho pessoalmente analisado ao longo dos anos a maioria dos relatórios do projeto Blue Book e sei que eles não foram causados por erro de identificação de aviões espiões. Mas, como este é um argumento importante, aqui está a discussão completa sobre este assunto.
Em novembro de 1954, a CIA entrou no mundo da alta tecnologia com o seu projeto U-2 de reconhecimento aéreo. Trabalhando com as instalações para desenvolvimento avançadoda Lookheed em Burbank, Califórnia, conhecida como Skunk Works — fábrica dos Gambás. O termo saiu de uma história em quadrinhos com este nome, aonde existia uma fábrica com operários gambás, situada bem longe dos seres humanos, e da qual ninguém conseguia chegar perto por causa do cheiro. E com Kelly Johnson, um eminente engenheiro aeronáutico, a agência conseguiu testar, em agosto de 1955, um avião experimental para grandes altitudes chamado U-2. Ele podia voar a 20.000 metros de altura enquanto, em plena Década de 50, a grande maioria dos aviões comerciais chegavam somente até 3.000 ou 6.000 metros de altitude. Conseqüentemente, uma vez que começaram os testes os vôos de teste do avião, pilotos comerciais e controladores de vôo começaram a relatar um grande aumento nos avistamentos de UFOs. Os primeiros U-2 eram prateados que mais tarde foram pintados de preto e refletiam os raios do sol, especialmente no nascer e no pôr do sol. Eles geralmente apareciam como objetos brilhantes para os observadores no solo. Os investigadores do projeto Blue Book da força aérea, cientes dos vôos secretos tentaram explicar os avistamentos associando-os a fenômenos naturais como cristais de gelo e inversões de temperatura. Consultando a equipe do programa U-2 da CIA em Washington, os investigadores do projeto Blue Book eram capazes de atribuir muitos avistamentos de UFOs a vôos do avião. Eles tinham o cuidado, entretanto, de não revelar a causa real do avistamento para o público.De acordo com estimativas posteriores de agentes da CIA que trabalharam no projeto U-2 e no OXCART — também conhecido como SR-71 ou BlackBird (pássaro negro outro avião espião) —, mais da metade de todos os relatos de fenômenos ufológicos, desde o final de 1950 e durante a Década de 60 podem ser contados como vôos de reconhecimento tripulados sobre os EUA. Isso levou a força aérea a fazer declarações enganosas para o público de maneira a acalmar os temores públicos e a proteger um projeto de segurança nacional extremamente sensível. Ao mesmo tempo que esta conduta pode ser, talvez, justificada, a fraude serviu para incentivar ainda mais as teorias de conspiração e a controvérsia sobre o acobertamento durante a Década de 70. A porcentagem do que a força aérea considera avistamentos de UFOs sem explicação caiu de 5.9 % em 1955 para 4 % em 1956. Mas quais seriam exatamente as evidências para a afirmação de que “mais da metade de todos os relatos de UFOs podem ser contados como vôos de reconhecimento tripulados?”. Numa nota de rodapé, Haines menciona a monografia A agência central de inteligência e reconhecimento aéreo: Os programas U-2 e o OXCART, 1954-1974, por Gregory W. Pedlow e Donald E. Welzenbach (1992). Um colega do centro de estudos ufológicos — Center for UFO Studies (CUFOs) — tentou obter uma cópia dessa referência, que foi publicada pela equipe de história da CIA, mas disseram a ele que a monografia é secreta. Isso torna impossível verificar a sua exatidão. Numa outra nota de rodapé, Haines menciona uma entrevista telefônica com um John Parongsky, que supervisionou os trabalhos diários do programa OXCART.
Eu adoraria ligar pessoalmente para ele mas não consegui encontrar o seu telefone e nem o endereço. De qualquer maneira, há um passo bastante simples que poderia ser dado para verificar esta afirmação sobre os aviões espiões. E eu estou surpreso que ele não tenha sido dado por nenhum repórter. Se a força aérea estava mentindo sobre os avistamentos de UFOs para proteger o segredo sobre os aviõe espiões, então, obviamente, os responsáveis pelo projeto Blue Book seriam a peça central nesta fraude. Ainda assim, ninguém parece ter contatado estes oficiais, muitos ainda vivos, para obter alguns comentários. Eu já conversei com o tenente coronel aposentado Robert Friend, chefe do projeto Blue Book de aproximadamente 1958 até o início de 1963, sobre a história da Ufologia. Então, eu resolvi telefonar para ele novamente algum tempo atrás para discutir o assunto. Friend nunca ouviu falar sobre este relatório da CIA — ele não assiste muito a televisão e não tem acompanhado o noticiário sobre UFOs ultimamente —, mas ficou muito interessado ao saber da sua existência. Ele me pediu uma cópia junto com alguns novos relatos que eu obtive sobre este mesmo assunto. Li para ele o texto de Haines reproduzido acima e pedi que comentasse. Quase as primeiras palavras que ele disse foram: “É mentira\’ que ele ou a sua equipe do projeto estivessem acobertando aviões espiões como alega Haines”. Achou toda a história risível e sabia que o projeto Blue Book não recebeu mais relatórios de pilotos ou controladores de vôo depois que o U-2 começou a voar.
Eu perguntei a ele se já tinha acobertado atividades secretas que foram identificadas como UFOs. Friend disse que, de fato, isso ocorreu em algumas ocasiões, mas não era uma conduta comum. Perguntei se havia mantido contato regularmente com a CIA enquanto estava no Blue Book. Ele respondeu que sim porque a agência vigiava todas as fontes de informação em potencial e queria estar a par de todas as atividades de inteligência do governo. Além disso, a força aérea utilizou os serviços do centro de interpretação fotográfica, o escritório de análise fotográfica da CIA, para analisar fotos de UFOs. Entretanto, em nenhum desses contatos com a agência ou a equipe do projeto U-2, Friend disse ter recebido ordens para esconder avistamentos da aeronave.
Para ter certeza absoluta, antes de terminar a conversa, perguntei se o projeto tinha, em algum momento, analisado um avistamento que tenha sido causado por um U-2 (ou outro avião secreto). Ele disse que, até onde se lembrava, não. Mais uma vez, deu risadas da idéia de que metade de todos os alienígenas relatados tinham sido originados por vôos de reconhecimento tripulado. Li, então, a afirmação feita pelo general Sconyers e citada anteriormente, na qual o brigadeiro diz que não pode “confirmar
ou negar que nós mentimos”. Isto levou Friend às gargalhadas ao se perguntar porque Sconyers, ou qualquer um no pentágono, deveria saber o que aconteceu há 30 anos atrás. Nós dois ficamos surpresos ao perceber como a imprensa, os militares e Haines não tiveram o trabalho óbvio de contatar as pessoas centrais deste suposto caso de acobertamento.
Para resumir, a argumentação utilizada na cobertura que a imprensa deu ao relatório de Haines é imprecisa e não é uma evidência válida para o acobertamento por parte da CIA e da força aérea dos avistamentos de UFOs, e nem para as mentiras ditas ao público americano. Mas a agência e a força aérea reconhecidamente esclareceram os avistamentos de seres extraterrestres enquanto o pessoal do projeto Blue Book quase sempre aparecia com alguma explicação mais antiga de maneira que as folhas anuais de análise contivessem somente um pequena percentagem de objetos não identificados. Então, não fico muito triste pela CIA e a força aérea receberam a fama de terem feito uma coisa que elas, na realidade, não fizeram. Mas é importante esclarecer os fatos.
Forçando a abertura dos arquivos da CIA
Em meados dos anos 70 os pesquisadores de UFOs começaram a utilizar o ato para liberdadede informação, lei que permite o acesso público aos documentos do governo, para obter documentos governamentais sobre o assunto, incluindo os da CIA. Infelizmente, mais uma vez, a agência enganou as pessoas. Depois que William Spaulding, chefe do grupo de pesquisas ufológicas chamado Observadores terrestres de discos voadores (Ground Saucer Watch), escreveu um pedido de registros sobre alienígenas em 1975, o coordenador da CIA para informações e privacidade, Gene Wilson, respondeu à Spaulding que o painel Robertson era o resumo do envolvimento e do interesse da agência em UFOs. Como diz Haines: “Wilson estava mal informado”.
Não acreditando na afirmação de Wilson, ufólogos processaram a CIA na tentativa de obteralguns registros. Conseguiram a liberação de 800 páginas em dezembro de 1978. Devido aofato da CIA, de maneira tola, sempre ter negado envolvimento em assuntos relacionados aosUFOs, a mídia ficou surpresa ao saber a quantidade de documentos que a agência possuía.
O New York Times afirmou, como resultado disso, que a agência provavelmente esteve envolvida de maneira secreta no estudo dos UFOs. O diretor da CIA Stansfield Turner ficou tão irritado com isso tudo que chegou a perguntar aos seus principais assistentes: “Estamos envolvidos com UFOs?”. Ele recebeu uma resposta negativa dos seus subordinados e então moveu uma ação para revogar a decisão judicial anterior e manter a custódia dos documentos liberados. Apesar da resposta que Turner recebeu, Haines descobriu que a CIA manteve umas poucas atividades nesta área durante os anos 80. Ele escreveu: “Durante as Décadas de 70 e 80, a agência continuou, de maneira reservada, o seu interesse em UFOs e avistamentos”. Enquanto muitos cientistas hoje em dia consideram os relatos de discos voadores uma esquisita parte dos anos 50 e 60, algumas pessoas na agência e na comunidade de inteligência desviaram os seus interesses para o estudo da parapsicologia e dos fenômenos psíquicos associados aos avistamentos. Agentes da CIA também se voltaram para o fenômeno para descobrir o que os avistamentos de UFOs poderiam dizer a eles sobre o progresso soviético em foguetes e mísseis, e também para analisar as suas técnicas de contra inteligência.
Analistas da agência, trabalhando na divisão de ciência viva, dedicam oficialmente uma pequena parcela do seu tempo a itens relacionados com UFOs. Estes incluem as preocupações da contra inteligência de que os soviéticos e a KGB estejam utilizando cidadãos americanos e grupos ufológicos para obter informações sobre programas sensíveis relacionados ao desenvolvimento de novos armamentos (como o avião invisível – Stealth). Também, a vulnerabilidade do sistema de defesa aéreo à penetração de mísseis que imitam UFOs e às evidências de exista alguma tecnologia soviética avançada associada com os avistamentos de UFOs. Se eu não tivesse olhado o calendário depois de ler isto, eu poderia jurar que estávamos em 1952 e que estava lendo sobre as preocupações da CIA sobre como os seres extraterrestres poderiam ser utilizados pelos soviéticos contra os Estados Unidos, como foi finalmente declarado nas recomendações do painel Robertson. Algumas coisas nunca mudam, pelo menos durante a Guerra Fria. Haines observa que, durante este período, os funcionários da agência, propositalmente, reduziram a quantidade de arquivos sobre UFOs para evitar a criação de registros que pudessem enganar o público quando liberados e Haines diz que encontrou quase nenhuma documentação sobre o envolvimento da CIA com os alienígenas nos anos 80. Este é certamente um método muito eficiente para driblar a lei para liberação de documentos governamentais, mas dificilmente levaria a um aumento de confiança na CIA. Por fim, numa nota de rodapé intrigante, Haines diz que “a agência também faz parte de um grupo de reação a acidentes dedicado à investigação de pouso de UFOs, se ocorrer algum. Este grupo nunca se encontrou”. Como é ? Ele não dá nenhuma confirmação para esta afirmação que, se verdadeira, sugere a idéia de que o governo ignora completamente os relatos de UFOs.
No final das contas, o artigo de Haines não é tão revelador quando dizem as chamadas na imprensa. Mas ele realmente abre uma janela nas atividades da CIA que estiveram ocultas ao público por um longo tempo. Talvez a sua maior contribuição sejam as citações de documentos nas notas de rodapé e que, agora, podem ser especificamente requisitados ao governo através da lei de para liberação de documentos por um investigador da história ufológica mais ousado. A análise histórica de Haines é renitentemente superficial, mas ele admite que os erros da CIA por ação ou omissão contribuíram diretamente para as suspeitas de acobertamento, e ele demonstra que realmente houve um acobertamento, mas não de aviões espiões, nem da queda de um UFO próximo a Roswell e nem de outros eventos do mesmo porte. Um outro efeito do artigo é a mudança gradual da opinião da mídia em favor de uma maior credibilidade às afirmações dos grupos ufológicos e dos pesquisadores e, por outro lado, uma concomitante descrença nas declarações do governo sobre as suas atividades relacionadas com os UFOs. Isto é muito bom e aqui vai aquele velho ditado que diz: “antes tarde do que nunca”.