O primeiro impacto relacionado às possibilidades de existência de alguma forma de vida em Marte na atualidade ocorreu em 1976, após os pousos dos landers do Projeto Viking. Cada um deles estava equipado com um braço mecânico para a retirada de amostras do solo, que seriam analisadas posteriormente junto a vários experimentos microbiológicos. Pelos critérios estabelecidos pelos cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) e outros associados ao projeto, antes do início das missões, duas das três experiências microbiológicas pareceram ter produzido resultados positivos. Quando amostras do solo do planeta foram misturadas a uma espécie de “sopa orgânica” estéril, levada da Terra, surgiram sinais indicando a presença de micro-organismos que metabolizaram o “alimento” terrestre. Em outro teste, quando gases da Terra tiveram contato com amostras do solo do planeta eles aparentemente se combinaram, quase como se existissem micróbios fotossintetizadores gerando matéria orgânica a partir deles.
Segundo Carl Sagan, que foi um dos principais responsáveis pelo projeto Viking, inclusive quanto à sua concepção e objetivos, sete amostras diferentes de solo, recolhidas em Chryse e Utopia, regiões que estão separadas por cerca de 5.000 km, deram resultados positivos. O surpreendente é que, apesar disso, a Agência Espacial Norte-Americana (NASA), na época, preferiu considerar os resultados questionáveis ou inconclusivos. Pelo menos foi essa a versão oficial fornecida publicamente. Mesmo com a posição dúbia da agência, esses resultados já eram extremamente animadores, pois todos sabiam, como ressalta Sagan em seu livro Cosmos [Francisco Alves, 1980], que os locais escolhidos para os pousos estavam longe de ser os mais indicados para busca de vida — foram escolhidos dentro de parâmetros que levavam mais em conta a segurança para os pousos dos módulos do que possibilidades mais favoráveis para busca de micro-organismos, ou vida em termos gerais. Isso, inclusive, era assumido abertamente pela NASA na época. As evidências de vida em Marte na atualidade vão muito além dos polêmicos resultados obtidos pelas Vikings.
Mancha de vida
Existem aqueles que defendem até mesmo a presença de formas de vida vegetal de grande porte. O primeiro cientista a abordar esse tipo de realidade foi o astrofísico norte-americano Thomas van Flandern, falecido em 2009. Em uma conferência em 2001, em Washington, quando apresentou uma série de imagens defendendo a existência de sinais de uma antiga civilização — que, em sua interpretação, teria existido em um passado remoto no planeta —, van Flandern mostrou uma imagem realmente impressionante, na qual podemos ver o que parecem ser vegetais gigantescos acima da camada de gelo do polo sul marciano.
A foto feita pela espaçonave Mars Global Surveyor, uma imagem que recebeu a etiqueta M08-04688, foi divulgada no dia 16 de outubro de 2000 em um documento no site do Malin Space Science Systems. No momento de sua obtenção, a espaçonave estava a pouco mais de 370 km de altitude. O centro da fotografia documenta a região cujas coordenadas são 284.38°W e 82.02°S. O nível de definição da imagem é excelente, permitindo uma visão realmente impressionante. Para van Flandern, a fotografia realmente documentaria um conjunto de formas de vida vegetal cujo porte seria gigantesco. Já para a agência espacial, essa interpretação não tinha consistência — poderíamos estar diante apenas de fraturas nas camadas de gelo do polo sul.
Por causa da polêmica e de inúmeros desmentidos, eu mesmo comecei a pesquisar e detectar em outras imagens mais recentes da Mars Global Surveyor padrões do mesmo tipo. Outro documento divulgado no dia 24 de abril de 2004 pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA) revelou nova imagem do polo sul, tão ou mais impressionante que a apresentada em 2001 por Flandern. A latitude do centro da imagem é quase a mesma da foto anterior (82.65°S), mas a longitude é bem distinta (99.78°W), o que revela uma distância razoável entre as áreas fotografadas. Apesar disso, a fotografia, de etiqueta número R09-03461, documenta o mesmo tipo de realidade: uma possível cobertura biológica de natureza vegetal de parte da região fotografada. A mesma coisa podemos também observar na foto número PIA03042 do site Photojournal, associada a um documento divulgado inicialmente pela agência, no dia 15 de outubro do ano 2005.
As evidências de vida em Marte na atualidade vão muito além dos polêmicos resultados obtidos pelas Vikings, nos anos 70. Existem cientistas que defendem com energia até mesmo a presença de formas de vida vegetal de grande porte
A imagem em questão documenta também uma área cuja latitude é próxima da primeira imagem analisada por van Flandern, ligeiramente mais afastada do polo sul, mas a longitude também é distinta (299.78°W). A impressão que se tem é de estar diante de uma grande “mancha de vida” cobrindo parte das camadas gélidas do polo sul marciano. Assim, se não estamos diante de uma forte evidência de vida vegetal e Marte, os processos geológicos no planeta nos proporcionaram realmente algo muito especial e apartado do que observamos nas regiões polares de nosso próprio mundo. Depois de analisar um grande número dessas imagens, tanto das regiões polares como de áreas mais próximas do equador, desenvolvi a noção de que podemos estar diante de duas realidades. Acredito ser possível que as imagens, principalmente as do polo sul de Marte, que têm áreas encobertas ou enegrecidas nas camadas congeladas da região, estejam associadas às fraturas e presença de neve carbônica, mas parece existir algo mais difícil de explicar em termos geológicos nessas fotografias.
Algo crescendo em Marte
Comecei a acreditar nisso principalmente depois de encontrar a imagem associada ao documento do dia 24 de abril de 2004, foto com etiqueta número R09-03461, também publicado no site do citado Malin Space Science Systems. Analisando de maneira aprofundada essa fotografia, não é difícil perceber as áreas encobertas por alguma forma de mancha, ou seja, enegrecidas pelo que pode realmente ser apenas um efeito gerado pelo gás carbônico. Isso além de detalhes de outras estruturas que manifestam nitidamente um aspecto tridimensional dentro dos padrões esperados para formas de vida vegetal, aci
ma do gelo e não simplesmente associadas a ele. Acredito que este é o verdadeiro aspecto a ser considerado — independentemente da existência de neve carbônica, existem sinais da presença de algo realmente crescendo em vários pontos da superfície gélida do polo sul marciano.
As evidências de formas de vida vegetal em Marte na atualidade vão muito além das que aparecem nas imagens da NASA e o assunto está associado, hoje, a uma grande polêmica gerada em parte pela liberação de várias imagens em cor natural nos sites da ESA, relacionadas à espaçonave Mars Express. Várias regiões fotografadas pelos módulos orbitais das espaçonaves da NASA apareceram sempre em tons escuros nas fotografias, mas as imagens liberadas pelas ESA são coloridas e em tons esverdeados, levantando a suspeita de que sejam sinais de alguma forma de vida vegetal. Este tipo de realidade já havia sido percebido e divulgado inicialmente pelo pesquisador norte-americano Richard C. Hoagland, outro pioneiro nos trabalhos relacionados à existência de uma antiga civilização em Marte.
O investigador chamou a atenção, por exemplo, para as fotografias liberadas pela NASA e pela ESA documentando a região da cratera Gusev, levantando a possibilidade, em termos objetivos, da presença de alguma forma de cobertura do solo associada à presença de formas de vida vegetal — que, de uma maneira ou outra, nas imagens da NASA liberadas pelo JPL, aparecem mascaradas pela falta de cor, impedindo uma real percepção da realidade presente nessa região do planeta. Fiz questão de investigar isso, examinando tanto os originais das fotos disponibilizadas nos sites da NASA como as liberadas pela ESA, e pude constatar que as alegações de Hoagland tinham realmente uma base sólida verificável.
Com o passar dos meses e a continuidade das investigações, foi-se progressivamente encontrando outras evidências relacionadas a essas manchas verdes em outros locais de Marte, que parecem revelar que a cor do deus da guerra — Marte é o nome do deus na Mitologia Romana —, pelo menos em alguns pontos, foi substituída pela coloração da vida vegetal, relacionada à clorofila. Um desses pontos especiais que gostaria de destacar é a região conhecida como Louros Valles, área específica dentro dos limites do chamado Vale Mariner, situada nas coordenadas 278.8° e 8.3° S, de acordo com a foto de etiqueta SEMGVY57ESD. A imagem é realmente impressionante e parece revelar a cobertura de alguma forma de vida vegetal, principalmente nas áreas de menor altitude.
Mudança de postura
Outra região onde se pode constatar o mesmo tipo de evidência ou sinal de uma cobertura verde se sobrepondo ao solo do planeta é a região conhecida como Juventae Chasma. Localizei várias imagens nos sites da ESA revelando o mesmo panorama compatível com a existência de vida vegetal, provavelmente associada a alguma forma de líquen ou coisa parecida. Com surpresa, descobre-se que, assim que esse tipo de material foi recebendo maior divulgação nos sites dos pesquisadores, declarando a possível descoberta de formas de vida vegetal em Marte na atualidade, também os sites da ESA associados à Mars Express demostraram uma mudança de postura — a ESA passou a dar preferência, progressivamente, à liberação de fotos em cor falsa, artifício utilizado antes pela NASA para encobrir a realidade de uma possível existência de vida vegetal no planeta.
Mesmo não divulgando imagens em cor natural dessas aéreas onde temos possibilidade de vida vegetal na atualidade, a própria NASA, por meio do material disponibilizado em vários de seus sites, tem liberado outras fotos que servem como um incremento na polêmica sobre a questão. Certas fotografias divulgadas no site do Experimento de Imagem Científica de Alta Resolução [High Resolution Imaging Science Experiment, HiRISE], mantido pela Universidade do Arizona em parceria com o JPL, por exemplo, revelam o que parece ser, em minha opinião e de outros investigadores, sinais evidentes da presença de vida vegetal crescendo nas dunas do planeta. Isso já foi visualizado com menos definição nas imagens da Mars Global Surveyor.
A agência espacial insiste que o conteúdo dessas novas fotografias, cujos detalhes aparecem ressaltados em cor falsa pelo trabalho dos cientistas da universidade, são apenas manchas relacionadas à presença de gás carbônico no solo do planeta. Essa explicação também é utilizada para outras imagens ligadas à mesma suspeita sobre a existência de vida vegetal em Marte. A primeira delas é a de etiqueta PSP_007896_2635. Outra, tão ou mais impressionante, documenta a mesma região com uma pequena diferença de angulação, a de número PSP_007830_2635. Outro pesquisador dos mistérios de Marte, J. P. Skipper divulga em seu site Mars Anomaly Research [Endereço www.marsanomalyresearch.com] uma imagem com as mesmas características surpreendentes.
Se não são formas de vida vegetal o trabalho de realce nas imagens está nos guiando em uma direção totalmente equivocada, pois a única coisa que essas fotos não parecem apresentar são manchas no solo, sejam geradas por gás carbônico, ou não. Sendo assim, a questão da existência de vida vegetal na atualidade no Planeta Vermelho já deixou de ser apenas, em minha visão e de outros pesquisadores dos mistérios marcianos de nosso programa espacial, uma mera especulação.
Descoberta de fósseis
No início de agosto de 1996 a humanidade foi surpreendida com a notícia de que a NASA havia finalmente descoberto as primeiras evidências de vida extraterrestre. Segundo a agência espacial, haviam sido encontrados sinais de atividade biológica em nível microscópico em estado fossilizado em um meteorito que havia sido encontrado na Antártida, em uma de suas planícies geladas, no ano de 1984. Segundo os cientistas, esse meteorito, cientificamente conhecido como ALH84001, seria um fragmento do solo do planeta Marte, que teria sido jogado no espaço pelo impacto de um grande bólido contra a sua superfície no passado remoto.
A rocha teria vagado p
elo espaço durante milhões de anos até ser atraída pela gravidade de nosso planeta e cair perto do polo sul. O comunicado oficial da agência espacial ressaltava, ainda, que no meteorito estariam provas de que no Planeta Vermelho já havia existido vida, pelo menos em nível microscópico, e isso há milhões de anos. A revelação aconteceu em uma conferência de imprensa na Casa Branca. Na oportunidade, o então presidente Bill Clinton apresentou o caso como a descoberta científica do século, antes que os especialistas e cientistas da NASA explicassem em detalhes o que havia sido encontrado no meteorito e o que vinha sendo estudado sobre ele há vários anos.
No início de agosto de 1996 a humanidade foi surpreendida com a notícia de que a NASA havia finalmente descoberto as primeiras evidências de vida extraterrestre. Elas estariam em um meteoro de origem marciana encontrado na Antártida
Conforme foi exposto pelos cientistas da agência espacial, o ALH84001 faz parte de uma classe de meteoritos especial, que de maneira indiscutível tiveram origem em impactos de bólidos contra o solo do planeta Marte. Um desses, inclusive, foi descoberto no Brasil, próximo à cidade de Governador Valadares, no estado de Minas Gerais. A origem desses corpos foi determinada a partir de uma comparação dos gases preservados em bolhas hermeticamente lacradas no interior dessas rochas com os dados referentes à atmosfera marciana, conseguidos pelas espaçonaves do projeto Viking, que chegaram ao planeta em 1976.
Apesar do anúncio oficial da descoberta, dos detalhes fornecidos pelos cientistas e do próprio envolvimento direto do presidente norte-americano na divulgação, com o passar das semanas começou a surgir um movimento questionador dentro do meio acadêmico, mesmo com a credibilidade dos cientistas da agência espacial envolvida — na visão de alguns, ainda não era o momento da oficialização da existência de vida extraterrestre. Pode parecer incrível hoje, mas a descoberta foi relegada ao esquecimento diante dos questionamentos da comunidade científica internacional, a qual acabou desconsiderando o trabalho dos especialistas da NASA. O próximo passo relacionado a sinais de vida no passado do planeta Marte demandaria a passagem de muitos anos.
Nova fase na exploração de Marte
Em 2004 teve início uma nova fase na exploração de Marte, com o pouso no solo do planeta Marte de dois rovers da NASA, que haviam sido lançados com sucesso em junho de 2003. Esses veículos de exploração espacial são projetados para mover-se na superfície de um planeta ou corpo celeste. O primeiro deles, o Spirit, tocou o solo marciano no dia 04 de janeiro de 2004, e o segundo, o Opportunity, poucas semanas depois, em 25 de janeiro. Pela primeira vez a NASA poderia realmente explorar o solo do planeta de uma maneira definitiva e aprofundada. O rover da missão Pathfinder, o Sojourner, que havia chegado ao planeta em 1997, apesar de sua importância em termos de desenvolvimento tecnológico e por ter aberto um novo tipo de possibilidade para a exploração do planeta, possuía apenas autonomia para deslocamentos nas proximidades da própria espaçonave.
Pela primeira vez na história os cientistas do JPL explorariam Marte a partir do solo do planeta com a mobilidade de dois veículos, que haviam incorporado não só a tecnologia básica do Sojourner, mas os avanços e desenvolvimentos na área da robótica e da tecnologia espacial. As ferramentas inclusas eram três espectrômetros para mensuração da estrutura química das rochas, uma perfuratriz para limpar, raspar e perfurar as rochas e áreas do solo a serem estudadas e cinco tipos diferentes de câmeras, sendo uma delas um gerador de imagens microscópicas, para produção de fotos ampliadas de alta resolução.
Entre os objetivos oficiais propostos para esses rovers figuravam análises de solo e de rochas para a busca de pistas da presença de água no passado, determinação da distribuição e composição de minerais e averiguação dos processos geológicos que moldaram o solo nos locais de pouso, incluindo aqueles que poderiam estar potencialmente relacionados à presença de água em estado líquido. Também estava prevista a busca de pistas geológicas que pudessem dar uma visão definitiva das condições ambientais do planeta no passado. Havia, por fim, o objetivo de verificar se os locais de pouso e áreas que seriam visitadas foram propícias, em algum momento do passado, para a presença de formas de vida.
O ponto de pouso escolhido para as investigações do Spirit foi a cratera Gusev, com cerca de 170 km de diâmetro, situada no hemisfério sul do planeta (14,6°S e 175,3°E) e provavelmente formada pelo impacto de um asteroide há cerca de três a quatro bilhões de anos. Segundo informações veiculadas pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA), seria uma das áreas que, por meio de mensurações feitas a partir das imagens de várias espaçonaves que precederam a missão, teriam em um passado remoto sido cobertas pelas águas de um grande lago, o qual teria sido alimentado por um dos antigos rios do planeta. Já o outro rover, o Opportunity, pousou do outro lado do planeta, em uma planície conhecida como Meridiani Planum, pouco abaixo do equador marciano (1.95°S e 354.47°E). O ponto de pouso foi escolhido pela NASA levando-se em conta também os sinais de água que haviam sido obtidos nos primeiros anos da missão da espaçonave Mars Global Surveyor.
Primeiros sinais de vida fossilizada
Apesar de existirem imagens obtidas por ambos os rovers em inúmeros sites da agência espacial, incluindo material colorido, o foco principal de minhas investigações foram e continuam sendo os catálogos ou galerias de fotografias que podem ser acessados na página da Mars Exploration Rover. O catálogo de imagens em preto e branco do Spirit apresenta cerca de 128 mil imagens e o do Opportunity tem aproximadamente 182 mil fotos distribuídas e disponibilizadas entre os arquivos específicos de cada uma das câmeras. Esses dois catálogos permitem, na maioria dos casos, uma visão detalhada de cada uma das milhares de imagens, por meio de várias prerrogativas de definição.
Já nas primeiras cenas da câmera panorâmica, obtidas pelo Spirit no segundo dia da missão após o pouso, se encontram os primeiros sinais de vida fossilizada. Em uma dessas fotografias há o que parece ser algo equivalente aos trilobites terrestres, artrópodes de vida marinha que surgiram em nosso planeta há mais de 500 milhões de anos,
no período Cambriano, e se extinguiram por volta de 250 milhões de anos atrás. Mas esse tipo de interpretação, defendida por outros investigadores, precisava de algo mais definitivo em termos de material fotográfico — e a necessidade foi preenchida por meio das imagens feitas no décimo-sexto dia da missão, quando foram conseguidas, pela câmera panorâmica do Spirit, 98 fotografias. Há em várias dessas imagens, entre outros detalhes, sinais do que parecem ser fragmentos ósseos de antigos animais que teriam habitado a região em um passado remoto, e em duas delas podemos ver algo realmente surpreendente: dois crânios perfeitamente preservados, depositados no solo marciano.
Os fósseis encontrados em Marte parecem não ser apenas de formas de vida vegetal e animal semelhantes às espécies que viveram no passado remoto de nosso planeta. Tudo indica que há muito que ainda desconhecemos lá
Esses dois exemplares fósseis foram identificados primeiro pelo investigador J. P. Skipper, que não só teve a atenção despertada para os crânios quando examinava a sequência de fotos, como também desenvolveu um estudo que confirmou algo inesperado: os exemplares achados na cratera Gusev são muito semelhantes a outros encontrados em nosso próprio planeta e relacionados a espécies de animais que se extinguiram há milhões de anos. Um deles é bastante semelhante ao crânio dos Bagaceratops, um tipo de pequeno dinossauro herbívoro que viveu na região da Mongólia no período Cretáceo há 80 milhões de anos. Já o outro exemplar tem características que encontramos em vários fósseis de pássaros pré-históricos, como o Archeopterix, que viveu há cerca de 150 milhões de anos na região que hoje é a Alemanha. Para alguns paleontólogos, ele seria o primeiro pássaro primitivo a surgir em nosso planeta.
Esses dois crânios encontrados na cratera Gusev não são importantes só como evidências diretas da presença de vida animal no planeta Marte no passado, mas também abrem uma discussão de maior importância, cujos significados podem ser transcendentes. Afinal, como explicar que exemplares fósseis da vida marciana possam ser tão semelhantes em forma e estrutura aos fósseis da vida planetária de nosso próprio mundo?
Algo em movimento
As imagens da câmera panorâmica obtidas no segundo dia da missão do rover revelaram outro aspecto que não poderia deixar de ser mencionado e que mereceu uma atenção especial dentro dos estudos das imagens postadas pela agência espacial, provocando um sério questionamento: até que ponto todas as imagens que estavam sendo obtidas pelo Spirit e que dias depois passariam também a ser feitas pelo Opportunity seriam realmente divulgadas? A sequência de imagens Sol 16 da câmera panorâmica do rover apresenta quatro fotografias de uma mesma área do solo da região, que tiveram parte da área fotografada encoberta por tarjas negras. Essa cobertura de parte das fotografias em três das imagens tem a forma de um quadrado negro e, na quarta, o formato da área encoberta é um retângulo. Uma observação superficial desse tipo de artifício poderia levar à suposição de que uma ou mais anomalias foram encontradas, fotografadas e posteriormente ocultadas antes da publicação das imagens.
Depois de se examinar com cuidado e atenção a sequência de imagens, verificando cada detalhe, conclui-se que, se existe alguma coisa por baixo das formas negras inseridas nos quadros das referidas fotografias, ela estava em movimento e deslocando-se em uma área muito próxima da região onde foram detectados os dois crânios. As quatro fotografias revelam a mesma área, mas com uma ligeira variação no enquadramento. Os pontos supostamente ocultados dentro do quadro geral não são os mesmos, como se alguma coisa estivesse em movimento pela região conforme as fotos estavam sendo feitas, e depois tivesse sido ocultada em cada um dos quatro exemplares fotográficos, em pontos distintos.
Alguns levantaram a ideia de que os quadrados e o retângulo foram inseridos para encobrir uma parte defeituosa das imagens, mas isto não faz o menor sentido. Dentro dos catálogos de fotos, tanto do Spirit como do Opportunity, existem várias imagens com problemas, pelo menos em partes dos seus quadros, e elas não sofreram esse tipo de correção, se é que se trata de uma. O JPL chegou a postar fotografias em que podemos observar até a presença de alguns objetos criados por circunstâncias especiais, relacionados às interferências sofridas no momento da obtenção das fotografias, e mesmo assim as imagens foram postadas sem qualquer forma de reparo.
Mesmo processo evolutivo
Como veremos mais a frente, esse “efeito corretivo” descoberto por este autor pela primeira vez em algumas das imagens da série Sol 16, da câmera panorâmica do Spirit, voltou a ser utilizado em fotografias obtidas em outros dias, geralmente em circunstâncias especiais, quando alguma coisa estava provavelmente próxima dos rovers ou havia sido fotografada na região que estava sendo estudada. No caso do Opportunity, por exemplo, os quadrados e retângulos negros já estão presentes em algumas das imagens da primeira série de fotos da câmera panorâmica, a Sol 001.
Outra imagem importante foi encontrada pelo pesquisador português José Garrido, na série Sol 68 da câmera panorâmica do Spirit, e aparece com mais detalhes em cor falsa no catálogo de imagens do citado site Photojournal, também de responsabilidade do JPL, com a etiqueta de número PIA05731. O objeto de nosso interesse é uma das rochas que sofreu raspagem pela ferramenta de abrasão do rover. Na imagem podemos ver, na parte mais central da estrutura rochosa, um aprofundamento circular gerado pelo disco giratório da perfuratriz — mas a área mais reveladora dessa cena não está no centro da pedra e sim em sua extremidade inferior. Podemos observar em duas posições um claro sinal de ruptura da rocha, como se ela, após sua formação, tivesse por efeito mecânico ou erosivo perdido sua camada mais externa. Não é difícil concluir que o modo como foi desnudada, principalmente na parte maior, dificilmente poderia ter sido efeito de um processo geológico.
Alguns sinais que se percebe ao analisar a imagem original no site Photojournal parecem realmente indicar, como sugerido por Garrido, que estamos diante de algo cuja origem é biológica. Após essa avaliação, tendo em mente a utilização da ferramenta de abrasão do rover na rocha, o passo seguinte foi verificar a série de fotos obtidas pela câmera microscópica no mesmo dia, já que um dos objetivos da utilização da perfuratriz era permitir fotos ampliadas de pedras e rochas que tivessem sofrido limpeza, raspagem ou exposição do seu interior. Para minha surpresa, nenhuma das cinco imagens postadas apresentava sinais de documentar a área da rocha que havia sido desgastada pela ferramenta do rover, e muito menos estavam relacionadas aos dois pontos onde uma textura de base aparentemente biológica havia sido desnudada por um efeito mecânico ou erosivo em algum processo natural.
Qual teria sido o motivo para utilizar a perfuratriz na rocha? Teria tido algo a ver com os sinais da presença do material fossilizado ou estamos apenas diante de uma coincidência? De qualquer forma, se foram feitas fotografias microscópicas das áreas mais reveladoras, elas não estão postadas. E conforme a missão do Opportunity se desenvolvia do outro lado do planeta, descobertas do mesmo tipo começaram a ser realizadas, apesar de, como no caso do Spirit, não serem traduzidas em declarações oficiosas. O conjunto de fotos Sol 34 da câmera microscópica, composto por seis imagens, revelava em três delas estruturas associadas a uma rocha muito semelhante a algumas espécies de crinoides, animais marinhos do nosso próprio planeta. Hoje existem ainda várias dessas formas vivendo nos mares e oceanos da Terra, mas foram muito mais numerosos no passado.
As investigações revelaram também sinais da presença do mesmo tipo de vida fossilizada nas fotografias da câmera microscópica da série Sol 41 — e parece que dessa vez a própria agência espacial, através do JPL, percebeu a importância do que poderia ser documentado. Foram feitas, conforme se pode observar no site do Opportunity referente ao 41º dia da missão, nada menos que 48 imagens, e em todas elas os sinais da presença dos crinoides foram devidamente documentados. Posteriormente pôde-se confirmar que, antes dessas duas descobertas, o mesmo tipo de evidência já havia sido documentado. Ao examinar as fotografias obtidas no 15º dia da missão, pertencentes à série Sol 15 da mesma câmera microscópica, encontram-se em 10 das 15 fotografias disponibilizadas o mesmo tipo de sinal.
Mar de água salgada
A visão da área documentada por este conjunto de imagens é muito semelhante aos extratos geológicos da Terra impregnados de fósseis e fragmentos de espécies marinhas que hoje estão extintas. Essas descobertas na área de pouso do Opportunity são totalmente compatíveis com os extratos muito finos de matéria sedimentar encontrados exatamente na mesma região e que revelaram, segundo os próprios especialistas do JPL, a possibilidade de toda a região ter sido coberta, no passado geológico do planeta, por um mar de água salgada, talvez com as mesmas características dos existentes em nosso mundo. Este tipo de evidência, pertinente à existência de fósseis de animais marinhos em Marte, cujas espécies seriam semelhantes às encontradas em nosso mundo, pode ser observada em várias outras imagens, como na série Sol 343 da câmera panorâmica do Spirit. As imagens tomadas nesse dia revelam a presença de uma forma de vida muito semelhante ao Furcaster, uma espécie de estrela do mar primitiva que viveu em nosso planeta no período Devoniano, entre 417 e 354 milhões de anos atrás. O fóssil em questão foi fotografado cerca de 13 vezes.
Poucas semanas depois da descoberta anterior, o Spirit faria mais uma vez história, conforme conclusão do já mencionado pesquisador português José Garrido, que localizou algo muito semelhante a um tipo de Anthozoa, uma classe de animais marinhos do filo Cnidária, do qual fazem parte as anêmonas e corais. Eu localizei e examinei pessoalmente as quatro fotografias em seus originais no site da agência espacial, as quais haviam sido obtidas com câmera microscópica. Essas imagens fazem parte da série Sol 386. Nessa altura da exploração do planeta pelos rovers já não havia mais dúvidas, apesar de ser mantido em sigilo, que a Terra e o planeta Marte provavelmente partilharam de um mesmo processo evolutivo de vida. A questão era como entender este tipo de ligação. Afinal, sempre existiu um abismo de milhões de quilômetros entre os dois mundos.
As revelações do Projeto Mars Exploration Rover estavam na verdade apenas começando. Até que ponto a presença de fósseis no Planeta Vermelho foi uma surpresa para os cientistas da Agência Espacial Norte-Americana (NASA)? Desde a década de 70, os cientistas do JPL, por meio de imagens feitas quando a espaçonave Mariner 9 estava na órbita do planeta Marte, e depois com o uso dos módulos orbitais do Projeto Viking, tinham plena consciência de que no passado nosso vizinho havia apresentado condições favoráveis para a existência de formas de vida.
Ossada de animal
Outra descoberta que não poderia deixar de apresentar neste trabalho, ainda relacionada ao início da missão do rover Opportunity, está relacionada a seis imagens da série Sol 121, da citada câmera panorâmica. Minha atenção para essa sequência foi chamada, inicialmente, quando Garrido as postou em seu site. No total, foram feitas 156 fotografias no dia e com o mesmo equipamento fotográfico, todas documentando a região da cratera Endurance — foi no interior dela, em uma de suas encostas, que foi encontrado mais um sinal da presença de vida no passado remoto do planeta. Podemos ver claramente em todas as seis fotografias, acima da superfície arenosa dessa região específica da cratera, o que parece ser mais uma ossada que inclui um pé e parte de uma perna, provavelmente da parte traseira de um animal.
O padrão é muito próximo, mais uma vez, ao apresentado por espécies da vida de nosso planeta. O exemplar é semelhante a algumas das espécies de dinossauros que se extinguiram na Terra há cerca de 64 milhões de anos. Examinando as imagens de maneira mais detalhada, cheguei à percepção de que parecem existir sinais de outros fósseis na mesma área da cratera. Seria um momento muito especial para todos nós uma exploração paleontológica também nessa área do planeta. Mas até que ponto isso não foi feito pelos próprios cientistas do JPL? Eles teriam que estar cegos para não perceberem a presença desses fósseis, documentados nessa e em outras &a
acute;reas do planeta.
Questão a ser perseguida
A propósito, existe um assunto especial que não resisto à tentação de passar para os leitores. É o sentido real da palavra descoberta dentro do contexto do Projeto Mars Exploration Rovers. Até que ponto alguns dos achados dos rovers foram realmente fruto apenas da casualidade? Ocorreu algum tipo de interferência por parte dos alienígenas ou seres presentes no planeta na atualidade, de alguma forma propiciando ou facilitando essas descobertas? Essa é uma questão a ser perseguida atentamente.
No dia 436 da missão do rover, no começo da tarde marciana, o Spirit bateu com sua câmera panorâmica a primeira foto de uma série de quatro imagens que documentam a presença de vários fósseis, todos visíveis em um mesmo enquadramento do sistema de cenas. Em uma área de poucos metros quadrados podiam ser vistos três exemplares, animais aparentemente fossilizados, semelhantes a muitos dos répteis da vida planetária de nosso próprio mundo. Um deles exibindo toda a sua estrutura preservada, do crânio aos ossos das patas, passando por sua coluna vertebral, algo muito semelhante a várias das espécies de lagartos que ainda hoje vivem no nosso planeta. Ao mesmo tempo em que se sente a alegria de se constatar algo desta magnitude, não há como não sentir uma decepção e até certa indignação por se descobrir o quanto nossa humanidade continuava a ser mantida na ignorância quanto a estes assuntos.
Como eu e outros investigadores pudemos constatar, os fósseis encontrados em Marte parecem não ser apenas de formas de vida vegetal e animal semelhantes às espécies que viveram no passado remoto de nosso planeta. Conforme o Spirit avançava em sua jornada, se afastando do ponto de pouso e explorando outras regiões no interior da cratera Gusev, o leque de evidências e descobertas foi visivelmente se ampliando. Outra importante sequência de imagens é a obtida com a câmera panorâmica no 513º dia da missão do rover — o grande destaque nesse dia é o que parece ser um crânio de aparência humanoide associado a um fragmento rochoso. Ele é perfeitamente visível mesmo antes da prerrogativa máxima de ampliação dentro do site mantido pelo JPL e pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia, onde temos todas as fotografias em preto e branco. Um dos primeiros fora da agência espacial a notar a presença desse crânio foi o brasileiro Eduardo Lucena. Estaríamos diante do fóssil de um dos antigos habitantes do planeta?
A ideia já exposta nesse trabalho, de que Marte teve no passado não só rios e lagos, mas também mares e oceanos — conforme defende atualmente a própria NASA —, encontra uma quantidade cada vez mais expressiva de evidências. Já fiz menção à descoberta de fósseis de crinoides e outros de vida marinha. Quando examinei o mosaico de imagens do site Photojournal, na imagem de etiqueta PIA05968, encontrei uma cobertura sobre uma rocha que em tudo se assemelhava aos vestígios da presença de uma antiga colônia de corais. Mas foi ao examinar a sequência de imagens da série Sol 731 queue esse tipo de evidência se estabeleceu de maneira definitiva. Nesse dia da missão o Spirit obteve 16 imagens com o sistema panorâmico, sendo que em quatro delas o alvo foi o Sol — em todas as outras 12 fotografias tomadas, documentando os arredores do rover, encontram-se imagens de estruturas fósseis de antigas colônias de corais, geralmente associadas às estruturas rochosas, que em um passado remoto estariam submersas.
Vida em larga escala
Verifiquei posteriormente que imagens obtidas três dias antes pela mesma câmera panorâmica, pertencentes à série Sol 728, já revelavam os mesmos sinais relacionados às antigas colônias de corais. É surpreendente que até hoje a NASA não tenha levantado no mínimo a suspeita da presença desses fósseis. Eles se enquadram perfeitamente na ideia de um planeta em que, no passado remoto, as condições ambientais não só eram favoráveis à vida, mas também que ela realmente existiu em larga escala.