Foram pouco mais de dois anos transcorridos desde a publicação do texto A Vida Lá Fora, na edição UFO 217, descrevendo as surpreendentes descobertas em termos de exoplanetas que se acumulam desde 1995, e essa extraordinária sequência só aumenta, com anúncios mais surpreendentes se sucedendo às vezes todas as semanas. Para que se tenha uma ideia, a Enciclopédia de Planetas Extrassolares [Versão online no endereço www.exoplanet.eu] listava no início de março, quando este texto foi produzido, um total de 3.586 exoplanetas confirmados. Ao mesmo tempo, o Laboratório de Habitabilidade Planetária da Universidade de Porto Rico tinha em seu catálogo 49 exoplanetas listados como “potencialmente habitáveis”, ou seja, com possibilidade de abrigar água líquida na superfície e, portanto, vida.
Em outro artigo deste autor, intitulado As Implicações do Recente Fórum Econômico Mundial para a Ufologia, em UFO 203, foi explicado detalhadamente porque estamos procurando vida alienígena semelhante à nossa dentro das pesquisas de exobiologia. Resumidamente, água, carbono, oxigênio e todos os elementos que compõem a vida na Terra são extremamente abundantes no universo, e então é lógico concluir que as maiores probabilidades são de encontrarmos vida formada pelos mesmos elementos presentes em nosso planeta — talvez isso até explicaria porque os alienígenas descritos nos anais ufológicos desde 1947 são tão semelhantes a nós, humanos.
Portanto, são absurdas, descabidas e revestidas de muita ignorância e arrogância certas afirmativas infelizmente ainda vistas no meio ufológico, tais como protestos contra os altos custos dos equipamentos científicos utilizados nessas descobertas, em comparação com seus “parcos resultados”, como alegam muitos ufólogos. São também absurdos os ataques contra a ciência e a rigidez e arrogância que ela impõe aos dados encontrados pelos ufólogos. Agora se vê porquê.
São precisamente os métodos comprovados da ciência que fazem com que ela evolua e corrija seus enganos. Por exemplo, nos anos 60, Frank Drake e Carl Sagan elaboraram a famosa Equação de Drake, tentando estimar a quantidade de civilizações extraterrestres com capacidade tecnológica de comunicação na galáxia. Porém, consideraram que estrelas anãs vermelhas não eram as mais adequadas para abrigar esses seres. Hoje, graças à evolução contínua da tecnologia, descobriu-se que a situação é, na verdade, inversa e anãs vermelhas, capazes de durar até por trilhões de anos, estão se revelando as melhores candidatas para abrigar planetas habitáveis.
Desde a edição UFO 217, várias outras descobertas impressionantes se sucederam. Por exemplo, já se sabia da existência de quatro planetas gigantes gasosos no sistema estelar de HR 8799, situado a 129 anos-luz de distância da Terra, na Constelação Pegasus. Seu caso é raro, pois assim como a estrela Fomalhaut, situada a 25 anos-luz daqui, se encontram entre os poucos sistemas estelares que tiveram seus planetas diretamente fotografados. No caso de HR 8799, os planetas b, c e d foram observados graças a estudos no telescópio Keck, por parte da equipe de Christian Marois, do Instituto Herzberg de Astrofísica, do Canadá, em 2008. Todos têm entre 1,2 e 1,3 vez o tamanho de Júpiter e de 7 a 10 vezes sua massa. HR 8799 d parecia ser o mais próximo da estrela, a 27 unidades astronômicas (AU) da Terra, ao passo que os outros dois se situam a 42 e 68 AU [Uma unidade astronômica é a distância média entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de quilômetros].
Descobriu-se depois que, em 1998, o telescópio espacial Hubble já havia observado esses planetas com sua câmera NICMOS, sigla em inglês de Câmera Próxima ao Infravermelho e Espectrômetro de Múltiplos Objetos. Contudo, somente com técnicas de processamento mais recentes esse fato foi constatado. Depois, entre 2009 e 2010, outras observações descobriram o quarto planeta, HR 8799 e, resultando então estabelecido que os períodos orbitais dos quatro mundos são de 49, 112, 225 e 450 anos terrestres. Isso confirmou as suspeitas dos cientistas de que os exoplanetas estão em ressonância, com períodos orbitais seguindo a razão de 1:2:4:8. A fim de ilustrar esse raro fenômeno, Jason Wang, estudante de graduação na Universidade de Berkeley e do programa da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) para ciência de sistemas exoplanetários (NexSS), compôs um vídeo mostrando o movimento dos gigantescos mundos alienígenas — feito com imagens obtidas ao longo de sete anos de observações, comprovando a ressonância em suas órbitas.
O vizinho mais próximo
Um dos mais importantes e significativos achados da astronomia de todos os tempos aconteceu em agosto de 2016, com a confirmação da existência de um planeta habitável orbitando a estrela Proxima Centauri [Sem acento]. Como o nome indica, essa é a vizinha situada a menor distância do Sol, meros 4,2 anos-luz. O líder do estudo foi Guillem Anglada-Escudé, professor de física e astronomia da Universidade Queen Mary, em Londres, e autor de outro extraordinário achado, Kapteyn b, o mais antigo exoplaneta habitável conhecido. Por 15 anos os astrônomos observaram a pequena anã vermelha utilizando instrumentos como o Espectrógrafo Ultravioleta e Visual Echelle (UVES) e o famoso Buscador de Planetas por Velocidade Radial de Alta Precisão (HARPS), com o qual diversos exoplanetas já foram descobertos, ambos instalados em telescópios do Consórcio Europeu de Telescópios do Sul (ESO), no Chile. Com a comprovada técnica da velocidade radial, descobriu-se que aquele mundo, chamado Proxima b, tem um período de 11,2 dias e massa 1,3 vez a da Terra.
Proxima Centauri é uma anã vermelha com 0,12 vez a massa do Sol e muito ativa, sendo pouco mais velha do que nossa estrela, com 4,9 bilhões de anos. Uma das descobertas do estudo foi confirmar que ela de fato faz parte do sistema Alpha Centauri, orbitando as duas estrelas amarelas dele — Alpha Centauri A, um pouco maior do que o Sol, e Alpha Centauri B, pouco menor, que orbitam um centro de gravidade comum. Ambas estão situadas a 4,3 anos-luz.
O HARPS determinou ainda que a velocidade de Proxima em relação a nós é praticamente idêntica a das duas outras estrelas, comprovando que o trio corresponde a um único sistema estelar. Sobre o planeta Proxima b, este orbita seu astro a uma distância de somente 7,5 milhões de quilômetros, e os dados disponíveis apontam para o fato de ser um mundo rochoso como o nosso. A pouca distância indica que deve ter um hemisfério permanentemente voltado para Proxima, e para ser habitável é necessária a presença de uma camada atmosférica que distribua o calor uniformemente por sua superfície.
São absurdas e descabidas certas afirmativas infelizmente ainda vistas no meio ufológico, tais como protestos contra os altos custos dos equipamentos científicos utilizados nessas descobertas, em comparação com o que se alegam ser ‘parcos resultados’
A atmosfera pode ainda proteger o planeta das tempestades solares e ejeções de massa coronal de Proxima. Os astrônomos Pierre Kervella, Frédéric Thévenin e Christophe Lovis publicaram um estudo no periódico Astronomy & Astrophysics apontando a possibilidade de Proxima b ter se formado em uma região mais distante e então migrado para próximo da estrela, dessa forma derretendo o gelo que cobriria sua superfície e formando oceanos. Um elemento que ninguém na comunidade astronômica discute é o fato de que a extraordinária descobe
rta de Proxima b pode representar um enorme impulso para a exploração espacial e o desenvolvimento tecnológico da humanidade. Mas também é verdade que uma nave como a New Horizons, que visitou Plutão em julho de 2015, viajando a 84.000 km/h levaria mais de 54 mil anos para chegar a Proxima Centauri.
Contudo, espera-se nas próximas décadas que novas tecnologias, atualmente em desenvolvimento, tornem possíveis explorações em muito menor tempo. Um exemplo disso é o projeto Breakthrough Starshot, financiado pelo bilionário russo Yuri Milner, do qual o físico Stephen Hawking e o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, são membros. Conforme já comentado no site da UFO, essa iniciativa pretende, dentro de uma só geração, desenvolver minúsculas naves propelidas por raios laser, que conseguiriam chegar a Proxima Centauri em somente 20 anos. Veremos mais a seguir.
A ciência dos exoplanetas
Na segunda metade de janeiro, em uma conferência de imprensa conjunta entre a NASA e o ESO, foi anunciada uma das mais espetaculares descobertas de exoplanetas já vistas. A principal pesquisa foi realizada com o instrumento Telescópio Pequeno para Planetas e Planetesimais em Trânsito (Trappist), em La Silla, no Chile — a designação, aliás, nada tem a ver com alguma ordem religiosa, como um muito criticado jornalista de uma grande rede de televisão afirmou em seus comentários sobre a descoberta. Seu alvo foi a estrela batizada como Trappist-1, que também consta nos catálogos como 2MASS J23062928-0502285. Essa pequena estrela anã vermelha, da categoria das “super frias”, está situada a 39 anos-luz de nós e é somente um pouco maior do que Júpiter, tendo uma luminosidade 2.000 vezes menor que a do Sol e 8% de sua massa. Sua idade estimada é de ao menos 500 milhões de anos.
A pesquisa foi liderada por Michaël Gillon, da Universidade de Liège, na Bélgica, e resultou na descoberta de nada menos que sete exoplanetas orbitando Trappist-1. Utilizando o instrumento de La Silla, os astrônomos chefiados por Gillon descobriram “sinais de trânsitos”, quando um planeta passa diante de seu astro causando uma correspondente diminuição de luminosidade a partir de nosso ponto de vista. O primeiro anúncio foi feito em maio de 2016, consistindo em três exoplanetas, Trappist-1 b, c e d, todos com tamanhos similares ao da Terra e capazes de abrigar vida.
É importante salientar que a observação do fenômeno do trânsito, quando um planeta passa diante de sua estrela, causando uma minúscula diminuição de sua luminosidade, permite descobrir com razoável precisão o tamanho do mundo alienígena. A pesquisa, utilizando o instrumento Trappist e outros ao redor do mundo, teve sequência e surgiram evidências de que o trânsito de Trappist-1 d poderia, na verdade, ser causado por três mundos diferentes. Entre setembro e outubro de 2016, o telescópio espacial Spitzer, da NASA, realizou uma campanha de observação, confirmando os planetas b e c, além de confirmar que os três mundos suspeitos de fato existiam — o Spitzer ainda apontou que mais dois exoplanetas existem no sistema, perfazendo então um total de sete planetas ao redor de Trappist-1.
Planetas em ressonância
Podem ser facilmente encontrados na internet concepções artísticas e gráficos desse sistema planetário, um deles comprovando que é pouco maior do que o sistema de satélites de Júpiter. A proximidade entre esses mundos é tal que os seis planetas internos estão em ressonância, significando que seus períodos orbitais estão relacionados. De acordo com os cientistas, isso indica que eles se formaram à grande distância da estrela, em regiões de temperaturas mais baixas, e somente então migraram para suas posições atuais.
Temperaturas mais frias indicam a presença de gelo, que, quando os mundos ocuparam as órbitas que vemos hoje, pode ter derretido e formado oceanos. O sistema é tão promissor que o Projeto SETI [O programa de busca por vida extraterrestre inteligente] já o monitorava desde o primeiro anúncio de 2016. Seth Shostak, astrônomo sênior do órgão, ainda afirmou que, com tantas chances de existir vida no sistema, mesmo que seres inteligentes surgissem em somente um dos mundos, poderiam rapidamente colonizar os demais planetas. “Eles estão próximos o suficiente para que uma viagem de um para outro exoplaneta, mesmo com nossa tecnologia atual, seria uma questão de dias”, afirmou Shostak.
Podemos ainda detalhar mais cada um dos sete mundos desse sistema tão singular. Por exemplo, o mundo Trappist-1 b é o planeta mais interno, com um período de 1,51 dia terrestre e está situado a 1,64 milhões de quilômetros de sua estrela. Seu raio foi calculado como 1,09 do terrestre e sua massa foi estimada como 0,85 vez a de nosso planeta, sugerindo que seja rochoso. A proximidade com o astro indica que deve estar gravitacionalmente travado, sempre com a mesma face voltada para ele, como a Lua em relação à Terra. Apesar de Trappist-1 ser uma estrela fria, as temperaturas na superfície do planeta b devem ser suficientes para ferver ou sublimar a água.
Gravitacionalmente travado
Já Trappist-1 c tem 1,06 vez o raio da Terra e 1,38 vez sua massa, orbitando sua estrela uma vez a cada 2,42 dias. Sua órbita dista 0,015 AU de Trappist-1, ou cerca de 5,83 vezes a distância média entre a Terra e a Lua. E o planeta c orbita a estrela cinco vezes a cada oito órbitas do mundo mais interno, comprovando a ressonância entre ambos — especula-se que os dois planetas internos tenham seus interiores aquecidos por forças de maré, abrindo a possibilidade que ambos tenham um intenso vulcanismo.
Quanto a Trappist-1 d já sabemos que tem somente 0,41 vez a massa da Terra, sendo o mundo mais leve do sistema. Tem 0,77 vez o raio da Terra e seu ano dura 4,05 dias terrestres a uma distância de 0,021 AU de seu sol. Como os outros mundos descritos acima, Trappist-1 d é considerado também muito quente para abrigar água líquida. Por sua vez, Trappist-1 e é o planeta mais interno que pode ter vida, residindo na região mais dentro da “zona habitável” de sua estrela, dependendo de como for sua camada atmosférica, se esta existir. Como seus vizinhos, também é gravitacionalmente travado, com um hemisfério permanentemente iluminado e o outro sempre na escuridão — contudo, uma atmosfera densa o suficiente pode distribuir o calor de maneira uniforme, proporcionando as condições para a existência de água líquida e o desenvolvimento de vida.
O sistema de Trappist-1 é tão singular que os sete exoplanetas que o compõem estão em uma região que caberia dentro da órbita de Mercúrio, e muitos instrumentos astronômicos que possuímos estão sendo voltados para essa estrela
O planeta Trappist-1 e recebe quase a mesma quantidade de luz de sua estrela quanto a Terra do Sol. Seu período orbital é de 6,10 dias terrestres a uma distância de 0,028 AU. Seu raio é 0,92 o da Terra e sua massa, 0,62 a de nosso planeta. A cada oito órbitas do planeta b, Trappist-1 e perfaz duas, comprovando as órbitas ressonantes e a possibilidade de terem se formado distantes da estrela, como comentado acima, aumentando as chances de possuir grandes quantidades de água.
Há ainda o Trappist-1 f, que deve oferecer a um hipotético visitante em sua superfície uma visão espetacular, com seus vizinhos aparecendo no céu em um dia claro, sendo que o Trappist-1 e apareceria com tamanho aparente semelhante ao de
nossa Lua em nossos céus. A estrela Trappist-1 seria, por sua vez, três vezes maior do que nosso Sol nos céus do Trappist-1 f, que tem um ano de 9,21 dias terrestres. Sua distância para a estrela é de 0,037 AU, ou 13,3 a distância média entre Terra e Lua. Tem 1,04 vez o raio da Terra e 0,62 de sua massa. Recebendo tanta luz quanto Marte recebe do Sol, Trappist-1 f é potencialmente rico em água e um importante alvo da pesquisa exobiológica.
Limite externo da estrela
O Trappist-1 g está próximo ao limite externo da estrela Trappist-1, sendo mais frio que os dois mundos descritos acima, mas não a ponto de impedir a existência de água líquida. Completa uma órbita a cada 12,35 dias a 0,045 AU de distância, tendo 1,13 vez o raio de nosso mundo e sendo o maior planeta do sistema. Sua massa é estimada em 1,34 vez a da Terra e recebe uma quantidade de luz que deve ser a mesma de um ponto entre Marte e o principal Cinturão de Asteroides. Vale lembrar que a região habitável não tem limites rígidos, dependendo muito da composição atmosférica de cada planeta. No sistema de Trappist-1 há ainda a influência gravitacional de cada mundo sobre os vizinhos, que pode aumentar ou diminuir suas temperaturas e, portanto, sua capacidade de possuir superfícies de água líquida — a radiação recebida do astro central igualmente pode afetar os locais onde a água pode existir.
Por fim, Trappist-1 h é o planeta mais exterior e aquele sobre o qual há menos informações — estima-se que circule a estrela em 20 dias a aproximadamente 0,06 AU de distância, e foi flagrado um trânsito seu pelo telescópio Spitzer somente uma vez. Aparenta ter 0,76 vez o raio da Terra e sua massa ainda não pôde ser estimada. Deve se situar fora da zona habitável de Trappist-1, com uma superfície coberta por gelo.
Enfim, o sistema de Trappist-1 é tão singular que os sete exoplanetas que o compõem estão em uma região que caberia dentro da órbita de Mercúrio, e muitos dos mais avançados instrumentos astronômicos que possuímos estão sendo voltados para essa estrela. É até possível que possa existir um ou mais mundos situados em regiões mais externas do sistema. Aliás, alguns cientistas apontam para a espantosa possibilidade de, a depender de suas respectivas coberturas atmosféricas, todos os sete mundos conhecidos poderiam possuir água líquida e, assim, abrigar vida. O telescópio espacial Hubble já está sendo utilizado para pesquisar o sistema e caracterizar as atmosferas planetárias, mas detectar elementos que podem indicar a presença de vida, tais como oxigênio ou metano, dependerá da entrada em serviço de novos instrumentos.
No segundo semestre de 2018 deve ser lançado o telescópio espacial James Webb (JWST), também da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), e espera-se que o sistema de Trappist-1 seja um de seus primeiros alvos, podendo realizar observações detalhadas da composição atmosférica dos sete mundos. E no início da década de 2020 três grandes telescópios baseados em terra devem entrar em operação, sendo eles o Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT), situado em Cerro Amazonas, no Deserto do Atacama, o Telescópio Gigante Magellan (GMT), sendo construído em Las Campanas (ambos no Chile), e o Telescópio de Trinta Metros (TMT), cuja edificação no Monte Mauna Kea, no Havaí, tem sido alvo de protestos.
Condições para abrigar vida
Encontrar somente oxigênio ou somente metano não seria indicativo de vida, pois são produzidos também por outros processos que não os biológicos. Contudo, se os dois forem encontrados no mesmo planeta, é alta a possibilidade de existência de seres vivos, pois a presença de vida é a melhor explicação para a existência conjunta de ambos, que se destroem mutuamente em um ambiente sem vida. É pouco provável, entretanto, dada a proximidade dos sete mundos de Trappist-1, que seja possível conseguir imagens diretas deles.
Evidentemente que mesmo tais sinais indiretos não se configurariam em prova irrefutável, a menos que pudéssemos visitar esse sistema. É claro que mesmo a ínfima distância de 39 anos-luz, em termos galácticos, demandaria tempos de viagens virtualmente impossíveis para nossa tecnologia atual, como, por exemplo, o ônibus espacial da NASA. Essas versáteis naves, já aposentadas, levariam 1,5 milhões de anos a 28.160 km/h para chegar a Trappist-1, situada a 369 trilhões de quilômetros daqui. A 61.476 km/h, sua velocidade atual, a Voyager 1, primeiro artefato humano a sair do Sistema Solar, chegaria ao sistema da anã vermelha em 685 mil anos. A Juno, nave da NASA atualmente orbitando Júpiter, atingiu graças à gravidade do gigantesco planeta uma velocidade de 265.000 km/h. Mesmo assim, seriam necessários 159 mil anos para que chegasse a Trappist-1.
Contudo, como dito acima, um ousado plano foi apresentado recentemente pelo bilionário russo Yuri Milner, sendo apoiado, entre outros, pelo astrofísico Stephen Hawking, sob a designação de Projeto Breakthrough Starshot. O plano é aproveitar o desenvolvimento tecnológico dos próximos anos para, no espaço de apenas uma geração, desenvolver nanonaves, pequenos veículos espaciais autônomos dotados de velas solares. Estas seriam lançadas por foguetes ao espaço e em seguida propelidas por poderosos raios laser, atingindo até 20% da velocidade da luz. Seriam lançadas milhares dessas nanonaves a cada vez, e movendo-se assim conseguiriam chegar ao sistema de Alpha Centauri em 20 anos.
Tecnologias revolucionárias
Graças à miniaturização proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico, cada nanonave teria o tamanho de um selo postal, com velas de vários metros de extensão, e seu custo seria relativamente baixo. O plano inicial prevê explorações iniciais em nosso próprio Sistema Solar, a mundos como Europa, Titã e Enceladus. A essa velocidade, as nanonaves chegariam a Trappist-1 após 200 anos de viagem, um espantoso ganho de tempo em relação às tecnologias mencionadas anteriormente — e é possível que velocidades maiores sejam possíveis no futuro, além de sistemas de propulsão ainda mais inovadores, cujas teorias já começam a ser testadas.
Encontrar somente oxigênio ou somente metano não seria indicativo de vida, pois são produzidos também por outros processos. Contudo, se os dois forem encontrados no mesmo planeta, é alta a possibilidade de existência de seres vivos
A descoberta dos sete planetas de Trappist-1 tem um grande significado na busca por vida extraterrestre. Com nada menos que três fortes exoplanetas candidatos a serem habitáveis, esse sistema comprova que anãs vermelhas são a melhor aposta para abrigar mundos onde poderemos encontrar vida, pois são os sóis de mais simples observação para nossa tecnologia atual. Além disso, são o tipo de estrela mais comum na vizinhança do Sol e o mais comum em nossa galáxia, a Via Láctea, perfazendo um total de 70% de suas estimadas 100 a 400 bilhões de estrelas.
De uma credibilidade quase nula no início dos anos 1990, a busca por exoplanetas se tornou o campo mais fértil da astronomia, e as descobertas que podem advir com a entrada em serviço de novos instrumentos nos próximos anos literalmente só ficarão limitadas à nossa imaginação. Um investimento mais do que compensado pela riqueza de conhecimento que não pode ser medida, e que mais e mais se aproxima da grande resposta que a
humanidade há tanto tempo aguarda — a de que nunca estivemos sozinhos no universo.
Exobiologia: antes uma excentricidade, hoje uma realidade atraente para cientistas de todas as áreas
A exobiologia ou astrobiologia é o estudo da origem, evolução, distribuição e o futuro da vida no universo. Também conhecida com exopaleontologia, bioastronomia e xenobiologia, a disciplina trabalha com conceitos de vida e de meios habitáveis que serão úteis para o reconhecimento de biosferas que podem ser diferentes da terrestre, existentes em outros mundos. Antes uma excentricidade de isolados cientistas, hoje a astrobiologia — termo preferido dos cientistas — é uma realidade dedicada à procura de planetas potencialmente habitáveis fora do Sistema Solar, além da exploração de Marte e de mundos e satélites dentro dele. Em seu escopo também estão pesquisas de laboratório e de campo sobre as origens e a evolução da vida primitiva na Terra, além de prospecções sobre o potencial adaptativo da mesma em nosso planeta e no espaço.
A astrobiologia é um campo multidisciplinar que compreende, entre outros, a astronomia, biologia molecular, ecologia, ciências planetárias, ciências da informação, tecnologias de exploração espacial e várias áreas correlatas. Seu vasto caráter interdisciplinar resulta em uma ampla visão e compreensão de fenômenos cósmicos, planetários e biológicos. A etimologia da palavra vem do grego antigo astron, que significa estrela ou constelação, bios, que é vida, e logia, estudo. Mas apesar de a astrobiologia ainda ser vista como um campo emergente e em desenvolvimento por certos segmentos da comunidade acadêmica, a questão da existência de vida em outros planetas do universo é hoje considerada uma hipótese mais do que verificável e, portanto, um ramo legítimo de investigação científica. De excentricidade, hoje a exobiologia nada mais tem.
A área ganhou maior notoriedade em 1984, quando o meteorito ALH84001, de origem marciana, foi encontrado na Antártida e nele se encontraram evidências microscópicas que podem ter sido originadas por formas de vida que não temos na Terra. Apesar de há pouco mais de uma década ela ser considerada uma disciplina extracurricular, fora da ciência tradicional, a astrobiologia virou uma realidade no final dos anos 50, quando a NASA fundou seu primeiro projeto na área. A ciência ganhou considerável peso em 1976, com os programas de exploração espacial revolucionários, principalmente o Viking, que incluía experimentos biológicos para verificar a possibilidade de traços de vida em Marte. Hoje, com a crescente descoberta dos planetas extrassolares ou exoplanetas, apontando para a iminente descoberta da vida fora da Terra, a astrobiologia está entre as áreas mais procuradas da ciência.