
Um dos debates científicos mais acalorados do momento é o que gira em torno do programa Paleo-SETI, a busca de evidências de que seres alienígenas estiveram na Terra ou em outros planetas do Sistema Solar, no passado. O termo SETI já é conhecido e é a sigla de busca por inteligências extraterrestres, tradução do inglês search for extraterrestrial intelligence [Veja UFO Especial 37, com o título Projeto SETI]. Paleo-SETI é uma ampliação deste conceito, visto que o termo paleo denota algo antigo, referente ao passado remoto. A idéia central do Paleo-SETI, a de que civilizações avançadas já visitaram a Terra, não é propriamente nova nem tampouco original. Ela foi proposta e defendida por inúmeros autores de ficção científica e pesquisadores no transcorrer do século passado. As inovações tecnológicas dos últimos anos e as perspectivas daí emergentes, contudo, revitalizaram-na, fazendo ressurgir questões antes não tão bem exploradas ou entendidas. Se comprovada a tese de que ETs vieram à Terra no passado remoto, é certo que seria desencadeada a maior revolução de todos os tempos, uma vez que nos obrigaria a uma revisão total de nossos dogmas, conceitos, valores, crenças e diretrizes.
Se nos restringirmos apenas aos conceitos mais objetivos e lógicos, da maneira como querem e postulam os céticos, teremos de admitir que há fatos, estatísticas, cálculos probabilísticos e especulações que contrariam e até inviabilizam a hipótese central do Paleo-SETI. Recorrendo à dialética, entretanto, e em um exercício de liberdade de pensamento, suponhamos, porém, que realmente existam civilizações extraterrestres. Os próprios astrônomos e exobiólogos quase que unanimemente aceitam que possa existir vida em milhões de outros planetas, segundo os dados coletados recentemente demonstrando haver em nossa própria galáxia regiões que se constituem em autênticos “berçários orgânicos”. Vida inteligente, entretanto, parece ser um fenômeno bastante raro, e civilizações desenvolvidas tecnologicamente então, mais ainda.
Prosseguindo nessa linha de raciocínio, não é à toa que os cientistas mais ortodoxos consideram a possibilidade de uma civilização extraterrestre já ter visitado a Terra em algum momento do passado, ou mesmo do presente, extremamente remota, para não dizer praticamente nula. E sequer mencionamos as dificuldades envolvidas em uma viagem espacial e o tempo exigido para que se realize, pelo menos dentro dos recursos atuais, para se vencer distâncias incomensuráveis, de dezenas e até centenas de milhares de anos-luz. A facilidade com que espaçonaves como a Enterprise, da série clássica Jornada nas Estrelas [1966 até hoje], viaja de um ponto a outro da galáxia – por meio de “dobras espaciais” ou “buracos negros” –, ainda é um sonho de ficção científica, por enquanto irrealizável.
Disputa durante a Guerra Fria — Expedições interplanetárias demandam tremendas mobilizações de recursos, energias e vontades. Nosso maior feito até hoje, a conquista da Lua, só se tornou factível em um breve hiato de intensa disputa gerada pela Guerra Fria, que canalizava abundantes recursos financeiros – estima-se que foram investidos mais de US$ 110 bilhões nesse empreendimento – e estimulava a criatividade dos cientistas. Se esse expansionismo tivesse prosseguido naquele ritmo e entusiasmo, certamente já teríamos estabelecido colônias em Marte. Mas teremos de esperar alguns anos ou décadas ainda para que naves de última geração sejam construídas e superemos todo esse atraso. Mesmo assim, excetuando os fatores que limitam nossas pretensões de uma exploração continuada do espaço, sempre haverá razões e justificativas de sobra para viajarmos a outros sistemas planetários. A mais premente é a necessidade de migração quando a Terra tiver esgotado seus recursos naturais – o que não irá demorar, no atual ritmo de produção e consumo não-sustentável –, ou ante a iminência de uma catástrofe cósmica, por exemplo o choque de um asteróide de grandes proporções.
No longo prazo, daqui a aproximadamente quatro ou 5 bilhões de anos, o nosso Sol, com o esgotamento de seu combustível, fatalmente irá implodir e se transformará em uma supernova, engolindo os planetas próximos, incluindo a Terra. Se sobrevivermos até lá, e se quisermos continuar existindo enquanto espécie, seremos obrigados a nos mudar para uma outra morada. Assim, levando em conta o princípio da expansão de “civilizações filhotes”, aquelas que surgem de raças que conseguiram migrar para outros planetas e lá se estabelecer, de acordo com a regra de multiplicação exponencial [1, 2, 4, 8, 16 etc.], mundos muito mais antigos que a Terra poderiam ter iniciado esse processo colonizatório por toda a galáxia há milhares ou até milhões de anos atrás. Espécies humanóides estariam assim “predestinadas” a empreender viagens espaciais? Seríamos produtos de uma ou mais dessas expansões? Não estaria aí a explicação para o fato de compartilharmos tantos pontos em comum, incluindo certos conceitos filosóficos, religiosos, científicos e tecnológicos, com os supostos extraterrestres do passado e do presente?
A simples curiosidade e o instinto de sobrevivência, portanto, seriam as alavancas do progresso. De crucial importância, também, seria o desejo de aprimoramento mental e espiritual. A influência recebida por um planeta consistiria em uma espécie de “empurrão” para a sua evolução. Podemos fazer uma analogia com o método de trabalho de campo adotado pelos etnólogos: observar a distância, somente aparecer esporadicamente e propositalmente gerar reações pontuais. Incursões de uma cultura estranha sobre outra sempre geram situações especiais, com chances extraordinárias de progresso ou o que é mais freqüente, de extinção. Destarte, um contato somente faria sentido se a civilização visitada tivesse alcançado um nível cultural compatível que lhe permitisse entender os ETs como sendo seres inteligíveis. Conforme propõe a própria série Jornada nas Estrelas, a capacidade de viajar pelo espaço seria um marco no entendimento que incluiria a comunicação com os ETs.
Artefatos alienígenas na Terra — Tendo em vista o longo tempo que já se passou, a perspectiva de que o nosso sistema planetário já tenha sido visitado por ETs no passado é, logicamente, muito maior do que supostamente vem acontecendo atualmente. Independentemente dos propósitos e do fato de que essa visita venha ocorrendo esporadicamente ou freqüentemente, não podemos excluir a possibilidade de que esteja sendo feita mediante robôs construídos e enviados para esse fim, tais como nós mesmo
s que enviamos sondas-robô para explorar o Sistema Solar. Em suma, os argumentos aqui expostos mais do que justificam a busca por vestígios da presença extraterrestre em nosso sistema, bem como na própria Terra. Designamos esse projeto de Paleo-SETI ou SETA, sigla de busca por artefatos extraterrestres, tradução do inglês search for extraterrestrial artifacts, que incorpora as áreas da astroarqueologia, criptoarqueologia e arqueoufologia [Também chamada de Ufoarqueologia].
Preservar o conhecimento recebido — Priorizar a busca por vestígios extraterrestres na Terra e em outros planetas do Sistema Solar é uma tarefa complexa e difícil, até porque o Paleo-SETI ainda não é oficialmente reconhecido ou apoiado. Mesmo assim, importantes nichos contendo vestígios de outras civilizações podem estar espalhados sobre a Lua, em Marte ou até em asteróides, da mesma forma como estão em sítios arqueológicos de todos os cantos do nosso planeta. No atual estágio das viagens espaciais, estou certo de que teremos algumas agradáveis surpresas já nos próximos anos. Pesquisadores como os irmãos Johannes e Peter Fiebag publicaram artigos científicos demonstrando a existência de objetos em nosso Sistema Solar que, definitivamente, não são de origem terrestre. Poderiam ser satélites extraterrestres? Não nos esqueçamos que a própria NASA direciona suas sondas para a tão famosa e polêmica região de Cydonia, em Marte, onde há vestígios de construções em formato piramidal, retangular e até de uma esfinge com face humana [Veja UFO Especial edições 27, com o título Marte Misterioso, e 44, Anomalias Lunares].
A falta de visão atual no que tange à classificação e identificação de vestígios extraterrestres corresponde a um momento técnico-científico em que ainda não se tinha alcançado os patamares da época respectiva, concomitante aos novos conceitos em torno do papel a ser desempenhado pela humanidade e de sua responsabilidade para com a preservação de sua própria espécie e de seu planeta. Foi somente no início deste século que se estabeleceu um novo padrão de interpretação. Preconceitos e comportamentos estereotipados, típicos das velhas gerações, hoje não servem mais. Os fósseis, por exemplo, não são mais encarados como meras relíquias paleontológicas, e sim como fontes de informações valiosas, capazes de fornecer, graças à engenharia genética, um quadro completo do passado a partir de amostras do DNA. Vivemos em uma “era intermediária”, na qual as descobertas surgem relacionando-se com todas as demais e em todas as áreas do conhecimento. Nada é definitivo, e nesse caráter transitório, o que era válido ontem já não o é mais hoje. Devemos, portanto, recorrer a uma ampla gama de campos de ação na busca de indícios e provas contundentes para o programa Paleo-SETI.
Os indícios diretos, os fatos tidos incontestáveis, são os objetos de origem não-terrestre, tais como ferramentas, peças, máquinas etc. Indícios indiretos são os objetos que só poderiam ter sido fabricados mediante o emprego de uma alta tecnologia, não condizente com o estágio da cultura que os abrigou. Se não são provas indiscutíveis, ao menos atestariam o uso de tecnologias avançadas no passado. Nessa categoria entram ainda as reminiscências culturais de determinados grupos étnicos que se referem a repasses de conhecimentos – uma espécie de know how – por parte de deidades dispostas a compartilhar informações e que os teria incumbido de preservar o conhecimento recebido como um legado às gerações futuras. É por isso que mitos, lendas e folclores alusivos a tais acontecimentos não podem simplesmente ser taxados de simbólicos, metafóricos e fantasiosos, e sim encarados como realidades culturais de um passado histórico que contava com a inserção do que chamo de fator extraterrestre. A recuperação da memória atávica do gênero humano, presente em rituais, danças, pinturas, esculturas etc, bem como no próprio inconsciente coletivo, afigura-se essencial.
Não há limites para o tipo de pesquisa que a Paleo-SETI pode fazer. É lícito explorar até o metafísico e bases intra-oceânicas, desde que nos escoremos na ciência, e não em devaneios místicos e espiritualistas. Se os ETs um dia foram ativos na Terra, em qualquer modalidade, então a Paleo-SETI terá sido de grande importância, em escala global. Não é à toa que o denominador comum entre todas as culturas do planeta seja a referência a uma ou mais interferências de seres vindos de fora da Terra. Já ficou demonstrado que tais paralelismos culturais são muito mais do que uma mera coincidência. Além disso, uma mesma cultura pode apresentar simultaneamente diferentes estágios evolutivos, fazendo uso de recursos low tech e high tech. Nós, por exemplo, ao mesmo tempo em que ainda andamos de charrete ou bicicleta em certos lugares do planeta, lançamos foguetes e sondas para o espaço.
Um mega quebra-cabeça — A fim de ilustrar os obstáculos a serem superados na consolidação das metas do Paleo-SETI, gostaria de apresentar o exemplo de um quebra-cabeça gigante. Quando o leitor se debruça intensamente sobre um quebra-cabeça e consegue encaixar um certo número de peças na posição correta, então certamente poderá vislumbrar a figura completa, antes mesmo desta ficar pronta. Nosso cérebro trabalha “arredondando” as formas, quando ainda incompletas. Isto é, agrupa as peças e monta o quadro imaginariamente. Só assim, montando o quebra-cabeça previamente em nossas mentes, é que iremos compreender a “mensagem” que os extraterrestres nos deixaram. Contrastando com o exemplo dos quebra-cabeça, há o do jogo em que os pedaços não só têm de se ajustar geograficamente, mas também em termos temporais. Em um quebra-cabeça bidimensional isso corresponderia a muitos pedaços adicionais ao lado daqueles já colocados em seus lugares respectivos, que deveriam ser melhor adequados. Já em um quebra-cabeça tridimensional ou mesmo quadridimensional, digamos assim, não basta ajustar as peças mecanicamente no seu devido lugar, mas lidar com conceitos lógicos e abstratos e sistematizar processos cognitivos. As gerações que vêm surgindo agora parecem mais bem preparadas do que as anteriores para realizar essa tarefa, habituadas que estão ao onírico e ao virtual. Penso que é pref
erível manter o registro do que enterrar a prova. Antes que se percam pela implacabilidade do tempo ou do descaso e descuido humanos, devemos procurar por novos vestígios, cruzando-os com outros. Nesse sentido, a engenharia genética e a física são indispensáveis e oferecem cada vez mais perspectivas.
O reexame e a reavaliação de indícios já conhecidos devem ser feitos paralelamente, uma vez que sempre poderão surgir novas nuances para velhos assuntos. O enfoque das conexões paralelas é um dos mais importantes para a Paleo-SETI e grupos a ele interligados, como a Ancient Astronaut Society [Sociedade para o Estudo dos Antigos Astronautas, AAS], fundada em 1973 nos EUA pelo advogado Gene Phillips, pelo engenheiro da NASA Josef Blumrich e pelo pesquisador Erich von Däniken. Na Internet, encontramos entre os interessados no assunto desde jovens universitários até arqueólogos amadores. A maioria deles consulta quase que diariamente as mais variadas fontes digitais, além de bancos de dados multimídias em instituições científicas e em arquivos particulares. Por tudo isso, estou certo de que o programa da Paleo-SETI nos conduzirá a descobertas surpreendentes nos próximos anos.