Foi em novembro de 1967 que a Força Aérea Espanhola (FAE) preparou o primeiro memorando interno sobre UFOs de que se tem notícia no país. Considerando a presença de objetos voadores não identificados no espaço aéreo espanhol como “inquestionável”, no documento é proposta ao chefe de gabinete da FAE a criação de um centro de informação e análise da questão ufológica, que funcionaria dentro do Comando de Defesa Aérea. A nota, no entanto, foi arquivada sem comentários e nada foi feito. Já o ano seguinte, 1968, foi muito movimentado na Espanha em termos de avistamentos de objetos voadores não identificados, muitos dos quais registrados por jornais e outras mídias. Em resposta à tamanha incidência, em dezembro daquele ano o gabinete de imprensa da FAE divulgou um comunicado convidando cidadãos a relatarem seus casos às autoridades.
Nessa ocasião é que foram redigidas as primeiras regulamentações para lidar oficialmente com observações de UFOs no país, e determinado que informações relacionadas ao assunto devessem ser classificadas como “confidenciais”. Naquele momento, as autoridades aéreas espanholas consideravam o tema delicado e fizeram tudo ao seu alcance para fornecer ao público dados objetivos, para não causar alarme. Alguns anos se passaram e, em 1974, a Espanha foi novamente sacudida por outra onda ufológica, fazendo com que, no início de 1975, os procedimentos oficiais para tratar da questão ufológica fossem atualizados. Assim, imitando o que o jornalista francês J. C. Bourret fez em seu país, em 1976 — quando conseguiu permissão da polícia para acessar arquivos ufológicos —, o então repórter e depois autor espanhol J. J. Benítez pediu acesso aos arquivos ufológicos da Força Aérea Espanhola (FAE) em outubro de 1977.
Benítez recebeu resumos de 12 relatórios de casos ufológicos ocorridos no país e investigados pelos militares, e imediatamente publicou o material na forma de livro, descumprindo um acordo assinado que tinha com o chefe de gabinete da FAE. Este mau uso das informações oficiais recebidas comprometeu as relações entre os militares e os pesquisadores espanhóis por 15 anos. Tanto que, em janeiro de 1979, uma entidade ufológica de Barcelona pediu acesso aos arquivos ufológicos da FAE e teve sua solicitação negada em função da recente atitude de Benítez — considerada “publicação sensacionalista e comercialmente apelativa”. Não demorou e em março do mesmo ano os militares decidiram estabelecer formalmente que informações ufológicas eram “confidenciais”.
Dois anos depois, em 1981, a Força Aérea Espanhola (FAE) emitiu um comunicado em que relatava ao Departamento de Defesa do país que não reconhecia os UFOs como tendo origem extraterrestre — e dizia ainda que seu único interesse pelo assunto era fundamentado na questão da “segurança do espaço aéreo nacional e dos riscos à navegação aérea”. Os militares, na ocasião, foram ainda mais longe e declararam que o segredo que mantinham não era sobre avistamentos ufológicos, mas sobre ações de defesa aérea relacionadas a eles.
Em maio de 1991, depois de troca de correspondências e de uma série de encontros que esse autor organizou com o Escritório de Relações Públicas da FAE e seu pessoal, a Seção de Segurança de Voo do órgão — unidade responsável pela guarda dos arquivos ufológicos no país — enviou um memorando ao chefe de gabinete daquela força detalhando tais esforços em favor de uma liberação completa de arquivos sobre UFOs até então mantidos secretos. O mesmo departamento também propôs que tais pastas fossem liberadas. E assim, em julho daquele ano, foram enviadas instruções às bases aéreas espanholas para que centralizassem toda a documentação sobre UFOs que possuíam em um único endereço. Como resultado, em janeiro de 1992, todos os arquivos ufológicos espanhóis e a responsabilidade sobre eles foram transferidos ao Comando de Operações Aéreas (COA), na Base Aérea de Torrejón, em Madri.
O que dizem os arquivos
Essa foi uma grande conquista, mas muito mais ainda estaria por vir. Durante o mês de março de 1992, o departamento de inteligência do COA produziu várias notas oficiais tratando de propostas para manuseio de arquivos ufológicos governamentais, regulamentações quanto a eles, inventário de correspondências enviadas sobre o assunto, lista de registros ufológicos da FAE e, por fim, um esboço de texto para compor o documento IG-40-5, como ficou conhecido o manual que estipulava procedimentos para investigação de casos ufológicos na Espanha. Concomitantemente, uma proposta para a completa liberação de arquivos sobre o tema ainda secretos acabaria com a burocracia preparada pelo tenente-coronel Ángel Bastida para seu comandante, general Alfredo Chamorro, que assinava e repassava ao chefe de gabinete da FAE, o também general Ramón Fernández Sequeiros.
Muito se progrediu com essas providências e, em 14 de abril de 1992, uma comissão das Forças Armadas espanholas apoiou a proposta de Sequeiros e rebaixou o nível de confidencialidade de matérias de natureza ufológica de “confidencial” para “reservado”. Isso significava que o chefe de gabinete da FAE agora tinha poderes para realizar a total liberação dos documentos ufológicos — o que acabou sendo feito e resultou no envio à Biblioteca da Força Aérea, em Madri, em setembro de 1992, do primeiro relatório sobre UFOs completamente liberado ao público. O processo todo durou sete anos e levou à liberação final de 84 arquivos sobre 122 eventos ufológicos relatados às autoridades entre 1962 e 1995.
Durante aqueles anos, esse autor auxiliou informalmente o serviço de inteligência do COA, primeiro com Bastida e depois com o também tenente-coronel Enrique Rocamora, no estudo dos relatórios a serem liberados. O objetivo dessa cooperação era garantir que todos os registros fossem abertos ao público, além de aumentar a velocidade do processo de desclassificação, fazer cópias de segurança de toda a documentação ufológica — memorandos sobre procedimentos, notas internas, cartas etc — e instar duas novas buscas por informações perdidas. Enfim, basicamente, o que se pretendia era exercer algum controle de qualidade no processo de liberação dos documentos.
Noventa e sete dos 122 eventos ufológicos registrados pelas autoridades aéreas espanholas poderiam ser explicados de alguma forma — isso na análise desse autor, não dos militares —, o que deixaria a maioria dos casos esclarecida. Em 16 outros, os dados existentes eram tão precários que foi impossível faz qualquer avaliação. E por fim, os nove incidentes restantes parecem desafiar qualqu
er explicação científica — não eram objetos ou fenômenos conhecidos. Eles ocorreram entre 1975 e 1985, sendo que quatro se deram em terra e outros cinco foram avistamentos marítimos, ocorridos em regiões do Mar Mediterrâneo e do Oceano Atlântico, onde há intenso tráfego aéreo e marítimo. Não houve casos de UFOs considerados legítimos em 1985.
Na papelada disponibilizada ao público, também eram constantes os relatos que remetiam a fatos estranhos do passado, quando as técnicas de investigação não eram tão sofisticadas e o acesso a informações de apoio era muito mais restrito ou difícil — uma dedução que não pode ser evitada. A seguir apresentaremos resumidamente os nove casos ufológicos considerados inexplicáveis, mesmo após exaustivas análises, entre os 122 eventos contidos nos arquivos liberados pela Força Aérea Espanhola (FAE).
Em forma de cone
Começando por episódios ocorridos no interior do país, o primeiro caso ufológico conhecido pela FAE se deu às 06h25 de 01 de janeiro de 1975, na localidade Quintanaortuño. Na ocasião, quatro soldados se dirigiam de Santander para a Escola de Engenheiros do Exército, em Burgos, depois das comemorações do ano novo e durante a folga de Natal. Quando estavam a 14 km de seu destino, o motorista parou o carro ao ver uma luz em alta velocidade traçar uma rota parabólica no céu, quando surgiu uma luminosidade muito intensa sobre o campo. Intrigados, saíram do carro, atravessaram a estrada e, cerca de 400 m distante, viram um corpo brilhante em forma de cone pairando dois metros acima do solo.
O objeto tinha uns 2 m de altura e 3 m de extensão na base. Emitia uma luz amarelada e do fundo saíam raios luminosos dirigidos ao solo. De repente, o fenômeno desapareceu e imediatamente outros quatro objetos similares surgiram. Dois minutos depois, nervosos, os soldados decidiram seguir viagem e perceberam que dois outros carros também haviam parado. Cerca de um quilômetro adiante, estacionaram novamente — dessa vez apenas para ver duas luzes restantes ao longe. Cerca de três minutos depois, retomaram a viagem. A investigação do Exército não revelou sinais visíveis no solo. Dias mais tarde, uma revista levou os soldados e seus oficiais ao local do suposto pouso, onde encontraram vários pontos queimados no chão.
A investigação militar levantou ambiguidades nos relatos das testemunhas, e também se averiguou a hipótese de uma ilusão de ótica causada pelo reflexo da Lua sobre as partes metálicas de uma linha de transmissão elétrica nas proximidades, combinada com autossugestão. Acho esse caso muito interessante, mas ele carece de uma investigação profissional. Trata-se, portanto, de um fenômeno mais não identificado do que não identificável. De certa forma, o incidente lembra o relato de um fazendeiro canadense que, em 01 de setembro de 1974, apenas quatro meses mais tarde, também viu vários objetos similares que produziram marcas concêntricas em seus campos de cultivo, em Langenburg, Canadá. Como se vê, a pesquisa ufológica certamente exige esforços comparativos, mas é importante que estejam baseados em casos idôneos.
Ao amanhecer de 14 de julho de 1978, já por volta de 04h00, quando treinavam uma manobra de flanqueamento contra outro grupo de colegas acampados, soldados avistaram uma luz que persistiu por duas horas. O fato se deu na localidade de Mazarrón, em Murcia. As testemunhas descreveram o fenômeno como um grupo formado por uma luz vermelha, que desaparecia de vez em quando, e duas branco-esverdeadas, que acendiam esporadicamente. Havia ainda quatro luzes brancas que apareciam irregularmente e voavam sem qualquer formação específica, que primeiramente foram observadas a distância por 15 minutos, próximas a um lago, oscilando da direita para a esquerda.
De volta ao acampamento, as testemunhas viram outra luminosidade vermelha a menos de 10 m acima da estrada, e ainda se juntaram a ela mais duas de cor branca. Os soldados prosseguiram em direção ao conjunto de luzes, mas elas também se moviam adiante, abandonando a estrada e contornando obstáculos como casas ou montanhas. Depois voltavam para a estrada e ficavam à frente do grupo de soldados. Sua altura sobre o terreno foi estimada entre quatro e 30 m. Na noite seguinte foi realizado um reconhecimento da área, mas nada incomum foi encontrado, a não ser uma antena de estação meteorológica — as testemunhas insistem em dizer que jamais poderiam tê-la confundidas com aquelas luzes.
Caso mal documentado
Esse é um dos poucos relatos de UFOs que foram produzidos pelo Exército Espanhol, depois enviados à FAE para fins de informação. A redação do relatório, elaborado por um capitão, é pobre e traz uma descrição incerta. O caso não foi investigado por ufólogos e, portanto, está mal documentado. Esse autor recebeu tal relato da seção de inteligência do Comando de Operações Aéreas (COA), em 1993. Mas, em 1998, quando o processo de abertura ufológica enfraquecia, forcei sua aceleração redigindo uma introdução ao arquivo que continha o registro do avistamento — um memorando padrão anexado ao conjunto de documentos que seria apresentado ao chefe de gabinete da Força Aérea Espanhola (FAE) para aprovação. Como resultado, o arquivo completo foi liberado no mês seguinte.
Há vários casos interessantes registrados sobre bases aéreas espanholas. Um exemplo ocorreu em 02 de janeiro de 1975, às 22h55, quando um soldado prestava serviço próximo à principal torre do campo de tiro da FAE no norte da Espanha, em Bárdenas, e viu uma luz vermelha estática ao nível do solo. Ele chamou um cabo, que saiu acompanhado por três outros soldados ao seu encontro. A luz parecia estar entre 2 e 5 km distante, mas, depois de 5 ou 10 minutos, subiu 25 ou 50 m, voando devagar em direção a uma torre auxiliar. Lá chegando, mudou de rota e aumentou sua velocidade e altura, seguindo na direção da torre principal, quando então desapareceu.
Às 23h10, por telefone, o cabo relatou o avistamento ao sargento de plantão, que subiu em um monte e viu o objeto através de binóculos — era um artefato parecido com uma xícara de cabeça para baixo, com luzes brancas no topo e na base, e outras pulsan
tes nas cores âmbar e branca por todos os lados. O UFO estava na mesma posição do primeiro avistamento e tinha tamanho comparável ao de uma longa carreta. Ele iluminou o ambiente em um raio de 100 m e, assim como da outra vez, subiu e voou na direção da torre auxiliar, desaparecendo 15 minutos depois. Isso também foi visto por cinco soldados que estavam de guarda na torre principal. Na manhã seguinte, a Guarda Civil telefonou para a base perguntando se alguma aeronave havia caído na região, pois a polícia da cidade vizinha de Tudela havia recebido relatos de luzes sobre o campo de tiro.
Uma inspeção da FAE no local não encontrou quaisquer sinais da ação do UFO, como também não houve registro de radar associado ao horário do avistamento. A investigação militar foi superficial e sua conclusão atribuiu erroneamente os avistamentos a um fenômeno ótico causado pela neblina da região. Uma hipótese que não pode ser descartada é a de um helicóptero, mas isso também não pode ser provado. Enfim, o caso é interessante e exige uma nova investigação profissional.
Emitindo flashes intensos
Era 01h20 de 20 de julho de 1978 quando um soldado que montava guarda no portão principal da Base Aérea de Agoncillo, em La Rioja, observou um estranho objeto no ar. Ele informou o fato ao posto de guarda e um tenente e um cabo foram até o local a tempo de observar o estranho artefato voador por cinco minutos, movendo-se de leste para oeste a cerca de mil metros de altitude — o vôo era lento e sem ruídos. Duas das testemunhas descreveram o aparelho como um losango e uma terceira disse que era um triângulo. Todos, porém, concordam que havia intensos flashes brancos sendo emitidos bem do centro da estrutura, em intervalos de um segundo.
Os soldados relataram de forma diferente o número de luzes brancas em cada extremo do objeto — três para o objeto triangular e quatro para o quadrangular. O UFO continuou voando de forma constante até desaparecer do raio de visão. Como o avistamento anterior, esse incidente também era desconhecido dos ufólogos até que foi liberado pela Força Aérea Espanhola (FAE), em 1995. Sobre ele, nenhuma investigação foi feita, seja militar ou civil. Um avião ou helicóptero poderiam ser explicações para a observação, mas as informações são escassas para que se conclua qualquer coisa.
Outro ponto dentro ou próximo do Território Espanhol onde temos grande incidência ufológica é o Mar Mediterrâneo, ao sul do país e acima da África, aonde muitos casos ufológicos vêm sendo registrados. Lá, 142 km a leste de Barcelona, em 09 de setembro de 1978, um fato inusitado ocorreu — esse é um incidente cujas informações disponíveis vêm quase todas de fontes civis. A transcrição de conversas entre os pilotos e o pessoal do Centro de Controle de Tráfego Aéreo daquela cidade, ocorrida às 20h35, descreve algumas luzes não identificadas na zona aeronáutica denominada India. Se estavam parados ou em movimento, ao nível do mar ou acima dele, não sabemos.
O radar em Barcelona também não registrou qualquer eco anormal, mas um relatório proveniente da aviação civil diz que houve um contato com o radar do Centro de Defesa Pégaso, em Madri. Foi por isso que, em 1992, solicitou-se ao setor de inteligência do Comando de Operações Aéreas (COA) que procurasse quaisquer referências ao incidente nos livros de registros, até então secretos, daquela instalação subterrânea na Base Aérea de Torrejón — uma pequena anotação em um livro era tudo o que havia, e ela foi liberada em 1997. Com isso, ficamos sabendo que o Centro de Controle de Barcelona fazia averiguações sobre chamados de pilotos que relatavam atividades luminosas sobre o Mediterrâneo.
Essas que aqui descrevemos duraram, aparentemente, 35 minutos no total. Enquanto isso, o Departamento de Defesa, ao qual o sistema de controle de tráfego aéreo está vinculado, informara que jamais houve qualquer sinal registrado em seus radares. Não houve investigação da FAE nem de qualquer órgão da aviação civil além das transcrições das conversas, e, atualmente, esse evento está sob análise de um grupo de pesquisadores espanhóis coordenado por esse autor.
Interceptação aérea
O Mediterrâneo também foi cenário de outro encontro com objetos voadores não identificados, agora em Alicante, nas Ilhas Baleares. Em 13 de março de 1979, às 10h59, o principal radar da Base Aérea de Torrejón, em Madri, detectou um sinal não identificado no norte da Argélia, já sobre o mar. O sinal se movia a 1.556 km/h em rota norte-oeste e vinha na direção da Espanha — o registro foi chamado de KL-553 e classificado como “desconhecido”. Três minutos depois, foi ordenada a decolagem de um Mirage III da Base Aérea de Manises, em Valência, para identificar o sinal detectado.
Mas, antes que pudesse ser interceptado, o sinal desapareceu da tela do radar depois de ter percorrido 115 km. Quatro minutos mais tarde ele reapareceu em outra posição, dessa vez estático, e, por isso, foi considerado como o reflexo de um navio. Mesmo assim, o caça militar foi até àquele ponto. Quando faltavam 15 km para a interceptação, o sinal no radar começou a se mover para noroeste, mais uma vez. Acelerou a 1.352 km/h e subiu a uma altitude acima de 24.000 m.
Seis minutos depois, mudou a rota para nordeste e, em dois minutos, perdeu-se o contato com ele. O piloto do Mirage III jamais conseguiu ver o que perseguia. Essas informações tornam difícil analisar se era ou não uma aeronave estrangeira avançada ou simplesmente um equívoco do radar. Devido à falta de uma solução, classificou-se o caso como um relato ufológico autêntico.
Sobre as Ilhas Canárias
O arquipélago das Canárias, território espanhol na costa da África, também tem um vasto repertório de ocorrências ufológicas. É lá que se deu outro exemplo de informações recuperadas, um caso ufológico ocorrido às 02h00 de 25 de fevereiro de 1979 sobre o Oceano Atlântico, a sudeste das ilhas. Pela terceira vez durante o processo de abertura ufológica no país conseguiu-se convencer o Comando de Operações Aéreas (COA) a solicitar novas pesquisas sobre registros perdidos de atividade ufológica no país. A unidade de radar do COA nas Canárias respondeu ao pedido enviando alguns apontamentos retirados de livros de controle usados entre 1977 e 1991. É neles que encontramos uma anotação de 11 linhas falando sobre os 35 minutos em que ta
nto o COA quanto a estação de radar militar W-8 detectaram um artefato não identificado em rota 84 km a sudeste dali, voando a uma altitude de 4.400 m.
A tripulação de um avião da companhia aérea Ibéria que estava naquela região foi alertada e o piloto disse ter visto uma luz intensa e alongada. Informações recolhidas informalmente com os operadores do radar W-8 contam que o objeto voador não identificado transmitiu um sinal squawk para o instrumento — um sinal emitido pelo transponder de uma aeronave. Essa é a explicação mais provável para o estranho incidente, mas que não pode ser confirmada devido à superficialidade dos dados existentes. De qualquer forma, o caso foi liberado em 1997.
Outro caso aeronáutico interessante nas Ilhas Canárias ocorreu às 23h05 de 22 de maio de 1980, também sobre o Oceano Atlântico. Dessa vez, o Centro de Controle de Tráfego Aéreo do Aeroporto de Gando, na ilha de Gran Canária, detectou um artefato não identificado em uma rota a 210 graus e com velocidade de 1.110 km/h, distanciando-se da região de Berriel, no sul da ilha. Alguns minutos depois, o piloto de um táxi aéreo voando uma rota a 231 graus relatou ter visto um objeto brilhante passar à sua esquerda e descer em direção ao mar. O caso foi investigado por um militar local muito experiente em averiguações ufológicas — sua conclusão foi de que se tratava de um objeto não identificado. Por outro lado, a posição da luz observada pelo piloto coincide com a do planeta Vênus naquele horário e local. Como o objeto não foi detectado pelo radar W-8 na ilha, é possível que se trate de um equívoco de radar — o chamado “eco falso”. Até hoje, esse evento continua sendo tratado como um caso ufológico.
Luz cruza embarcação
Em 23 de dezembro de 1985, já passava das 03h00, o navio mercante Manuel Soto, de propriedade da companhia Transmediterrânea, navegava de Las Palmas para Arrecife, ambas as ilhas do arquipélago das Canárias, quando um oficial de plantão observou no horizonte, a partir do convés da embarcação, o que parecia ser a ascensão de um corpo celeste. No início, identificou a imagem como sendo a estrela Antares, mas, 10 minutos depois, certificou-se de que a posição da luz não correspondia a do astro ou de qualquer outro planeta. O oficial então mediu a altitude e o azimute da luz, que permaneceu estacionada no mesmo ponto por 15 minutos, antes de começar a se mover rapidamente. Outros membros da tripulação também saíram para ver a cena, entre eles outro oficial, o operador de rádio, o timoneiro e o guarda do convés.
A estranha luminosidade se aproximava do navio, alcançando o zênite dois minutos mais tarde. Naquele momento, todas as testemunhas puderam observar o perfil do objeto, que não se parecia com um avião ou helicóptero — o artefato tinha uma luz branca muito intensa no centro, uma luz vermelha mais tênue próxima dela e outra branca suave em separado. A posição das nuvens fez com que as testemunhas pensassem que o aparelho voava baixo, embora não houvesse ruídos. A companhia marítima entregou as anotações do livro de registros de bordo à Marinha Espanhola que, por sua vez, as enviou para a FAE. O serviço de vigilância das Ilhas Canárias não acusou qualquer fato incomum naquele horário, fazendo com que o avistamento possa ser a visão de um avião se aproximando, voando a uma altitude constante. Entretanto, a ausência de uma investigação detalhada impossibilita qualquer análise mais rigorosa.
A liberação espanhola
Os casos ufológicos que vimos acima são os mais importantes registrados pelos militares na Espanha, e sobre eles se elaborou uma tabela com base na chamada classificação de J. A. Hynek [Veja nestas páginas]. Se, do total já liberado pelo país, juntarmos 25 episódios considerados inexplicados com outros 97 que foram dados como explicados, podemos ver que mais da metade desses fatos diz respeito a luzes distantes vistas contra o céu noturno — a maioria delas explicadas como luzes de vida curta no firmamento. Quanto à categoria de avistamentos diurnos, não há casos típicos de discos voadores vistos em plena luz do dia nesse conjunto de relatos, ou seja, de naves estruturadas e de conformação discoide — todos os incidentes desse tipo encontraram soluções convencionais.
Problema científico, não militar
Já os incidentes que envolvem simultaneamente o rastreio por radar e a observação visual de UFOs apresentam, naturalmente, o maior número de estranhezas aeronáuticas — normalmente, são rastros inexplicáveis que coincidem com o avistamento de algum objeto anômalo na atmosfera. Embora dois a cada três relatos se enquadrem na categoria de “inexplicados”, há poucos fenômenos desconhecidos desse tipo. Na tabela, a categoria “inexplicados” inclui também casos com poucas informações.
Nesse estudo, a maioria dos casos detectados unicamente por radar — isso é, sem o envolvimento de testemunhas — se encaixam na categoria de “inexplicados”. Basicamente, isso se deve ao fato de que a maioria dos registros é deficiente em dados factuais, contendo apenas algumas linhas retiradas de livros militares de anotações de ocorrências, sem qualquer investigação ou medida que visasse à apuração da natureza do fenômeno — em sua maioria, esses são casos suspeitos de ecos falsos. Por fim, contatos imediatos com objetos voadores não identificados na Espanha também podem ser muito estranhos, e o que se acaba de dizer sobre os casos do tipo radar-visual também se aplica a eles.
Durante meses, de forma discreta, esse autor estabeleceu uma comunicação formal com os militares responsáveis pela guarda de arquivos ufológicos na Espanha, levando a uma relação de amizade que permitiu apresentar-lhes informações sobre como outros governos haviam liberado suas informações sobre UFOs e as razões por que o fenômeno representa um problema científic
o, e não militar. Com um apelo para que fosse feita uma liberação pública meticulosa de dados de avistamentos ufológicos no país, logo se iniciou um processo que beneficiou todos os cidadãos — ele foi longo e durou de 1992 a 1999, porque essa questão não está entre as prioridades da unidade de inteligência de Comando de Operações Aéreas (COA).
O lado positivo do processo foi a solicitação, pelos militares, da colaboração de ufólogos civis, o que possibilitou acompanhar suas etapas e acelerá-lo a fim de encontrar materiais importantes e casos perdidos ou mal arquivados, entre outras ações importantes dentro do contexto. Pode-se afirmar categoricamente que todos os arquivos ufológicos de posse da Força Aérea Espanhola (FAE) foram liberados até a última página — esse era seu compromisso. Entretanto, ao longo dos anos, informações potencialmente significativas, que poderiam ser interessantes aos ufólogos, mas que eram irrelevantes do ponto de vista da segurança e defesa aéreas, foram destruídas.
Além de relatórios sobre avistamentos ufológicos, a FAE acabou por liberar também os documentos mais significativos sobre procedimentos elaborados e editados para acompanhar a história do Fenômeno UFO na Espanha — algumas correspondências internas e memorandos recentes permanecem em segredo, mas um dia serão publicados.