O Caso Roswell: O JFK da Ufologia
O Caso Roswell (Roswell) Vídeo Arte do Brasil, 1994, 1:32 h
Finalmente, alguém se dispôs a produzir um filme sobre um dos maiores mistérios e escândalos da Humanidade, um assunto que não podia ter passado despercebido de Hollywood por tanto tempo – mais de 40 anos -, mas passou! Um mistério porque, até agora, por mais tenazes e persistentes que tenham sido os ufólogos – em especial os norte-americanos – em suas investidas contra o governo dos EUA, este ainda não se dignou a dizer tudo o que sabe e esconde sobre o assunto. E um escândalo porque um governo que toma uma atitude dessas contra seu próprio povo comete um crime incomparável. O assunto das quedas de UFOs em solo terrestre e resgates de seus pequenos tripulantes extraplanetários é algo que diz respeito a todo o conjunto da Humanidade planetária. Se um grupo de homens — autoridades de qualquer governo que seja – arvora-se em suas inconfessáveis razões para resolver que esse assunto deve ficar restrito exclusivamente aos seus círculos de poder e estratégias militares, infringem uma centena de preceitos morais, éticos e legais que, nesse caso, os torna pessoas odiáveis.
Pois esse grupo de pessoas existe, e de carne e osso, usa fardas pesadas e insiste em reter para si e seus escolhidos o segredo do acidente de UFO mais bem investigado da história. Baseado no livro UFO Crash at Roswell, de Kevin Randle e Don Schimitt, um dos mais profundos estudos sobre o acidente, e com direção de Jeremy Kagan, um diretor pouco conhecido, excêntrico e que aprecia o tema dos UFOs, o filme realmente supera as mais exultantes expectativas da comunidade ufológica. Todos aguardavam por algo que realmente não só descrevesse como tudo ocorreu, mas como o governo ocultou os fatos. Pois, de quebra, Kagan conseguiu “lavar a alma” do maior prejudicado em toda esta fantástica conspiração, o tenente (depois major) Jesse Marcel. A história de Roswell é conhecida de todos e está detalhadamente descrita nesta edição de UFO, em dois artigos: um de Dennis Stacy, que trata de suas implicações políticas; outro de William Moore, que o analisa historicamente.
Militar Honrado – O personagem Jesse Marcel (Kyle MacLachlan, de Twin Peaks e Veludo Azul) é no filme o que de fato era o militar Jesse Marcel: um homem honesto, de família simples e cumpridor de suas obrigações. Foi ele quem primeiro analisou os fragmentos de Roswell e concluiu serem de uma nave extraterrestre. Depois, seu superior, o coronel Blanchard, fez dele seu porta-voz na divulgação do fato ao mundo, quando uma release foi publicada nos jornais garantindo que a Força Aérea dos EUA tinha nas mãos os restos de uma nave de outro planeta. O texto era de Blanchard, as conclusões de Marcel mas todos os envolvidos com o resgate dos fragmentos – mais de 50 oficiais da Base Aérea de Roswell – sabiam exatamente do que se tratava. De fato, aquelas centenas de pedaços de um estranho metal espalhadas por mais de um km na fazenda de W. W. “Mac” Brazel eram de origem extraterrestre. No entanto, após ganhar o mundo, o superior de Blanchard, o general Ramey, baseado em Fort Worth (Texas), desmentiu toda a história com a maior cara-de-pau. Evidentemente, alguém iria pagar pelo erro da divulgação – e não seria Blanchard. Sobrou para Marcel, que foi feito de palhaço por Ramey e seus pares do Pentágono. Essa foi sua maior dor, por 30 anos.
O tenente, até então um militar exemplar, entra em colapso. Foi obrigado por Ramey a dizer que confundiu os fragmentos com os restos de um balão meteorológico, assunto que conhecia muito bem – o mesmo que pedir a um verdureiro que confunda uma cenoura com uma cebola! Marcel cumpriu suas ordens, sob ameaça de Ramey, mas nunca mais foi o mesmo. Sua integridade moral estava acima da do pessoal da base também envolvido com o acidente. Todos esconderam sua cabeça na terra, como um avestruz, mas Marcel foi humilhado publicamente e entre seus colegas, por ter confundido um balão com algo de outro planeta. Lamentável! O filme, de 92 minutos, transcorre com um Marcel 30 anos mais velho tentando a todo custo livrar-se da humilhação que nunca esqueceu e – bem mais do que isso – saber a verdade sobre Roswell, uma inquietação incessante em sua vida. Em sua busca, procura seus antigos colegas e os espreme contra a parede, forçando-os até onde pode para descobrir a verdade. E começa a colher frutos. Marcel descobre passo a passo – e o telespectador também – uma história gigantesca por trás do que ele julgava ser um simples acidente de algo que veio de outro mundo. Até então, o tenente não suspeitava de algo mais grave do que isso.
Pois em sua busca Marcel descobre aspectos da operação de resgate dos fragmentos que não conhecia. O filme é brilhante nesses detalhes, como numa cena em que centenas de milicos de Roswell estão na fazenda de Brazel – o fazendeiro linguarudo que achou o UFO e primeiro contou a história a todo mundo na cidade, esperando uma recompensa – agachados no chão, lado a lado, formando uma corrente humana que revira cada grão de areia do terreno, arranca cada ramo de pasto e recolhe mesmo as migalhas mais ínfimas dos fragmentos. Outro grande momento do filme se dá quando Marcel leva para casa e mostra a sua família o material que recolheu em sua primeira viagem à fazenda de Brazel. Seu filho então descobre, numa das peças, uma escrita estranha que até então ninguém tinha visto. “Filho, talvez você tenha sido o primeiro humano a ver algo escrito noutro planeta”, disse ao menino. Kagan vai fundo nos detalhes e apresenta o filme numa seqüência gostosa que intercala a busca do Marcel sexagenário, espremendo seus colegas na parede, e o Marcel ainda na ativa, visualizando o que os colegas lhe contam. Por admiração e respeito à sua busca, estes vão fornecendo-lhe cada vez mais informações, trazendo do “exílio” o militar esquálido após todos estes anos. O telespectador vai acompanhar e torcer junto pelas descobertas de Marcel.
Pontos-altos do vídeo, entre as declarações de seus colegas que participaram das operações de resgate e acobertamento das informações, estão detalhes de um segundo local de queda, que Marcel não sabia. Pois este descobriu que, quando o UFO caiu nas terras de Brazel, um pedaço mais intacto dele espatifou-se a alguns km a leste. Marcel nem sonhava com isso e com o que acabaria por descobrir: neste segundo local de queda estavam também os corpos de pelo menos 4 seres que ocupavam a nave. Os corpos já estavam decompostos pelo Sol e pela ação de predadores, mas mesmo assim foram autopsiados na Base de Roswell em meio a um fantástico esquema de segurança. Os resultados desta autópsia já são conhecidos dos que acompanham a Ufologia (já publicamos em UFO há vários anos), mas as reações dos envolvidos com ela, mostrados com riqueza de detalhes e emoções por Kagan, é algo que o mundo ufológico ainda desconhecia. A expressão da enfermeira que viu os corpos, a participação de algumas autoridades, a formação de equipes para manter o assunto sigiloso, o semblante dos militares que carregavam os pequenos caixões com os corpos etc, são de uma realidade contagiante.
Mais um ponto para o diretor vem quando mostra as reuniões de um grupo de autoridades em Washington comentando e debatendo os resultados das autópsias. Kagan não mostra declaradamente, mas para o bom entendedor ficou claro que aqueles militares de alta-patente e cientistas que se reuniram a portas fechadas para lerem dossiês ultra-secretos sobre as autopsias eram, de fato, os componentes do controverso Majestic-12, ou MJ-12. Da reunião participou James Forrestal, ex-secretário de Estado dos EUA, que defendia que o público deveria saber das descobertas dos militares. Forrestal foi convenientemente suicidado após reiterar suas afirmações várias vezes – sim, Kagan teve coragem de insinuar isso! Bem mais que isso, mostrou que Forrestal, quando visitou um dos ETs capturados ainda com alguns sopros de vida, manteve contatos telepáticos com ele. O ET tem, no filme, uma feição facial e corporal que não corresponde exatamente às descrições dos corpos de Roswell, e talvez essa seja uma pequena falha do filme. Mas quem o assiste a desconsidera em meio a fantástica emoção da recriação da cena do alien sendo mantido vivo a todo custo por um equipe – o que de lato ocorreu!
De qualquer forma, o ET, atado a equipamentos por fios e sensores, teria feito Forrestal “ver e ouvir” em sua mente que existem outras raças iguais e diferentes da dele, que viriam à Terra cedo ou tarde, para os mais diversos objetivos – alguns não tão amistosos quanto gostaríamos que fossem. Algumas dessas raças já estão aqui há milênios. Isso incomodou o ex-secretário e o fez um ardoroso defensor da liberação do segredo, até ser dado como insano e internado num manicômio, onde teria cometido seu duvidoso suicídio. O fato é que suas anotações, seus discursos e até um diário que mantinha consigo o tempo todo sumiram e hoje estão guardados a 7 chaves pelo Pentágono. Forrestal, aliás, não foi o único a defender que tudo isso deveria vir a público, mas foi o mais enfático, embora a comunidade ufológica não reconheça isso. Outros peixes graúdos também tentaram e não conseguiram divulgar estes assuntos ligados aos UFOs, entre eles o próprio Kennedy e o ex-presidente Jimmy Carter.
Finalmente, Marcel, em sua busca cada vez mais próxima de conseguir formar um quadro global de toda a história, como um quebra-cabeças em fase final, recebe a intervenção de um tal Townsend, interpretado magistralmente por Martin Sheen (de Apocalypse Now e uma centena de outros ótimos filmes). Townsend mostra que Marcel está chegando perto da verdade e dá mais motivos para sua inquietação. Se já sabia do resgate dos ETs e suas autópsias, agora Marcel recebia de Townsend informações onde tudo isso se liga no cenário ufológico: as constantes abduções de humanos, o programa que se acredita que os ETs mantêm ao monitorarem a Terra, as mutilações de animais, outras dezenas de quedas de UFOs noutros países etc. Kagan não deixou nada de fora. Parece que leu uma enciclopédia de Ufologia e não quis produzir algo pela metade. Pela primeira vez em vídeo, apresentou as extraordinárias declarações de ex-agentes dos EUA que trabalharam em bases secretas no Deserto do Nevada, na tal Área 51, num projeto ultra-secreto de pesquisa do funcionamento e de testes de vôo de UFOs resgatados intactos [Editor: o leitor é convidado a ler a matéria de Bob Lazar nesta edição, um desses ex-agentes que trabalhou por lá]. Enfim, o filme “fecha” vários pontos e mostra, quase descaradamente, que o escândalo e muito maior do que se imagina.
E o leitor não imagina, também, o que deve haver além de tudo isso para ser descoberto. Mas podemos garantir que esse e um excelente começo. Parece que teremos muito mais carga dentro de 2 ou 3 anos, quando Steven Spielberg acabar de fazer um filme sobre o mesmo assunto, porém com muito mais – tento imaginar como?! – profundidade. Spielberg fez o Contatos Imediatos do 3° Grau em 1977, há mais de 25 anos, um filme profético e impensável para a época – e como se sabe nos círculos internos da Ufologia, baseado em casos reais. Depois “trabalhou” as crianças – as de idade e as que vivem dentro de cada um de nós – com o filme ET. Agora, vamos ver o que fará sobre Roswell. Há quem garanta que o cineasta só aceitou rodar sua versão de Roswell a convite daquelas mesmas autoridades de Washington que sempre quiseram esconder os fatos. Parece que, agora, querem liberá-los, mas através de um meio menos traumático do que uma declaração oficial: o cinema. Ufólogos do mundo inteiro prepararam o terreno, Kagan o adubou direitinho e Spielberg plantará as sementes. Agora, restará ao público do mundo todo colher os frutos que derem nessa terra, com certeza uma fazenda que as autoridades mundiais arrendaram de donos que vivem noutras estrelas. Corra à sua locadora para poder fazer parte disso tudo!