Aldo Novak é um dos ufólogos mais bem informados do Brasil, daquele tipo que checa suas informações com o rigor de um jornalista especializado e a persistência de um monge beneditino. Seus artigos em UFO e outras publicações e suas conferências em congressos e eventos pelo Brasil afora, são recheadas de informações de alto nível sobre um tipo de Ufologia que transcende a casuística e adentra em áreas que, sem os devidos cuidados, muitos neófitos escorregam. Novak é um estudioso do mecanismo governamental de ocultamento de informações – a chamada política de desinformação. Foi uma das primeiras vozes no Brasil a se manifestar contra os procedimentos do governo norte-americano para esconder o que sabe sobre o assunto.
Em um contundente artigo publicado em UFO 76, Novak denunciou o funcionamento do programa Echelon, dos EUA, cuja estrutura está voltada para a vigilância dos cidadãos em todos os sentidos – especialmente daqueles que se dedicam a assuntos considerados de segurança nacional, como o Fenômeno UFO. Isso fez com que o Echelon tivesse suas baterias voltadas para ufólogos em todo o planeta. Novak mantém também um boletim eletrônico que circula pela internet entre mais de 92 mil pessoas. É o Relatório Alfa [www.relatorioalfa.com.br], gratuito e uma excelente fonte de informações. Através dele, sustenta que todas as formas de manifestação de ufólogos estão sendo monitoradas pelo governo dos EUA, de maneira a se saber qual é a extensão de seus conhecimentos.
Aldo, você faz surpreendentes revelações e acusações sobre o Echelon, que, se confirmado, seria um impressionante mecanismo de espionagem. De que maneira você acha que ele interfere na pesquisa ufológica? Antes de qualquer coisa, é preciso esclarecer que o sistema Echelon já foi amplamente confirmado. Os únicos que insistem em negar sua existência são os membros do governo dos EUA. O Parlamento Europeu produziu um relatório completo afirmando que os cidadãos da Europa deveriam passar a usar e-mails criptografados. Para os ufólogos, esse sistema é, além de uma afronta à privacidade, um modo de manter sob vigilância qualquer investigador de destaque. E ainda permite aos comandos norte-americanos chegarem aos locais de potencial impacto de um UFO antes dos ufólogos, que não têm ligação com a Agência de Segurança Nacional (NSA). Hoje, é praticamente impossível um objeto aparecer em algum lugar sem que o Echelon fique sabendo.
Você acha que entre as linhas de atuação do Echelon estaria também uma política de intimidação de ufólogos e testemunhas, de forma a calá-los ou fazê-los evitar revelar algo sério? Ah, ótima pergunta! Na verdade, o Echelon é um subsistema de outro programa de espionagem conhecido como Sigint [Signals Intelligence], cujo objetivo é manter os movimentos de todos os “alvos de informação” sob vigilância. Dessa forma, a política vigente no Departamento de Defesa dos EUA pode decidir o que fazer com as informações coletadas. No caso da Ufologia, uma das medidas adotadas pela NSA é desacreditar qualquer relato ufológico, bem como as próprias testemunhas, para que a mídia continue considerando qualquer contato extraterrestre da mesma forma como consideramos elefantes cor-de-rosa… Quanto mais a mídia acreditar que Ufologia é sinônimo de loucura, melhor para os organismos de segurança nacional. E aqui faço um alerta: isso não é uma coisa somente dos norte-americanos, já que vários países têm a mesma posição. Até o Brasil segue pelo mesmo caminho, ao contrário do que aconteceu em 1986, quando um grupo de UFOs sobrevoou São José dos Campos (SP), e o ministro de Aeronáutica convocou a imprensa. As coisas mudaram muito no mundo depois dos atentados de 11 de setembro…
A pesquisa científica exige que todo fato novo ou técnica nova seja aplicada aos nossos estudos passados
Recentemente, uma discussão muito polêmica na internet trouxe como resultado a sensação de que a Ufologia está estagnada, que quase não ocorrem novos fatos e que o trabalho dos ufólogos não está mais sendo produtivo. Você concorda com isso? Eu não acredito que a Ufologia esteja estagnada. Na verdade, nunca foi tão rica. O que acontece é que ela não é um filme de ficção científica e seu diretor não é George Lucas. As pessoas tendem a confundir Ciência com um filme de aventura, mas a Ufologia não é Independence Day ou Contatos Imediatos do 3o Grau. Eu costumo ver a investigação ufológica como uma guerra, com períodos enormes em que não acontece nada e, de repente, uma batalha em lugar qualquer. Isso acontece também em Arqueologia, que muita gente passou a estudar imaginando viver como Indiana Jones, mas que na vida real exige muito trabalho e nenhuma ação mirabolante. Geralmente, quem afirma que a Ufologia está estagnada a confunde com ficção científica. Isso é errado! Ufologia é realidade e a realidade tem seu próprio tempo, não o nosso. Vivemos num mundo que exige respostas imediatas, ações imediatas. Somente amadores insistem em buscar uma invasão alienígena em cada estrela do céu. Só os novatos querem UFOs nas capas dos principais jornais do mundo, toda semana. Ninguém lê praticamente nenhuma matéria nos jornais sobre a China, porque a imprensa lá é controlada, mas isso não significa que eles estejam estagnados. Falta de informação não quer dizer falta de fatos. E a Ufologia é rica de fatos, para quem está interessado em separar dela a ficção científica ou a fantasia.
Muitos ufólogos argumentam hoje que os casos clássicos, de três ou quatro décadas atrás, precisam ser revistos à luz de uma nova metodologia ufológica. Você concorda com isso? Pesquisa científica exige que todo fato novo ou técnica nova seja aplicada aos nossos estudos passados. Essa é a maior diferença entre a “crença” na Ciência e a crença em qualquer outra forma de pensamento. A primeira exige mudanças o tempo todo, enquanto uma crença religiosa, por exemplo, parte do princípio de que toda a verdade já é conhecida e mudanças são indesejáveis. Veja o Vaticano, que leva uma eternidade para reconhecer aquilo que qualquer criança sabe no Ensino Fundamental. Por isso, acho que todos os casos, clássicos ou não, devem ser sempre revistos. Isso pode invalidar alguns casos e validar outros. Temos que desafiar nossos desejos e crenças.
Qual é o caso ufológico brasileiro que você considera mais importante para uma abertura da população e da mídia quanto ao assunto? O Caso Varginha e a Operação Prato são os fatos que melhor representam nossa Ufologia. O caso de maio de 1986 também [A Noite Oficial dos UFOs], pela participação do governo na divulgação dos fatos. Esses casos deveriam ser ensinados nas escolas como prova de que Ufologia é coisa séria, embora haja uma meia dúzia de usurpadores que se escondem nela para dilapidar a boa-fé alheia.
Você tocou num ponto nervoso da Ufologia quando falou dos usurpadores. Como você avalia o estrago que eles estão causando na área? O estrago chega a ser maior do que o de sistemas como o Echelon, porque para a imprensa e para a população, ufólogo é qualquer um que diz ser ufólogo. Por isso, quando surge um mágico de salão, um falso contatado ou um vendedor de “contatos espaciais”, as pessoas sérias confundem isso com Ufologia. O Relatório Alfa já tratou de alguns desses casos, como o do ex-mágico Urandir Fernandes de Oliveira. Ele representa tudo o que a Ufologia não é! Não passa de um aproveitador, dizendo que tem contatos com capitães estelares, arrebanhando milhares de pessoas honestas em suas armações. Os casos de quedas de UFOs que ele divulga na internet foram investigados por pesquisadores sérios e nenhum deles resistiu a qualquer análise. São forjados de forma tão “marreta” que fico me perguntando como é que alguém pode acreditar neles. Urandir já foi desafiado publicamente por ufólogos e jornalistas, além de investigadores sérios de outras áreas, mas nunca aceitou nenhum desafio para provar que o que diz é verdade. Ele se comporta de maneira que acaba ajudando os setores do governo que querem desacreditar a Ufologia. Os absurdos que diz tiram a credibilidade da Ufologia e são uma “mão-na-roda” para os organismos de segurança governamentais. Se estivéssemos nos Estados Unidos, a CIA o colocaria em sua folha de pagamento…
Mas como você vê que a Ufologia pode se livrar desses aproveitadores? Como fazem todas as áreas sérias do conhecimento. Se um médico, um advogado ou um piloto faz algo errado, tem que responder aos seus pares e pode perder sua licença para continuar na área. A Ufologia deve se comportar da mesma forma. Tanto faz se estamos falando de um cirurgião plástico que deforma os pacientes, um advogado que não entende de leis, um piloto que causa um acidente em uma manobra irresponsável ou um suposto ufólogo que engana as pessoas com falsos contatos, todos devem ser publicamente expostos e punidos de forma transparente e justa – com amplo direito à defesa, é claro. Mas enquanto houver ufólogos defendendo que não devemos nos preocupar com estes aproveitadores ou falar deles, vamos continuar pagando o preço pelo desgaste da imagem de todo o grupo. Ficar quietos quando homens como Urandir estão em ação, é o mesmo que apóia-los.
Em sua opinião, precisamos então valorizar e enaltecer a verdadeira informação ufológica e denunciar as farsas e os farsantes? Há uma frase que diz “calar, quando deveríamos falar, transforma homens em covardes”. É minha posição pessoal de que temos um compromisso para com os milhões de indivíduos que não sabem o que é Ufologia. Temos um compromisso com a verdade. Essas pessoas não esperam corporativismo, esperam a verdade. Verdade omitida pelos governos, verdade omitida por parte da mídia, verdade omitida pela própria história. Só faltava os próprios ufológos omitirem a verdade para não constranger essa ou aquela pessoa. Logo eles, que tanto brigam pela verdade.