O mais recente militar a aderir ao clima de abertura ufológica em nosso país deixa claro, em sua entrevista, que os ufólogos brasileiros estão no caminho certo ao buscarem o reconhecimento oficial da existência e ação de discos voadores em nossos céus. Mais do que isso, o tenente-brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro também admite o desejo de conhecer de perto a tecnologia de nossos visitantes, e afirma: “Se tivessem me pedido para abrir os arquivos secretos na minha época como ministro da Aeronáutica, eu abriria”. Com sua manifestação, cresce ainda mais a lista de oficiais que já não concordam mais com o sigilo imposto à presença alienígena na Terra.
Monteiro foi ministro da Aeronáutica entre 1990 e 1992, durante o Governo Fernando Collor de Mello, e ocupou diversas posições de destaque no meio militar brasileiro. Ainda hoje, mesmo na Reserva da Força Aérea Brasileira (FAB) há anos, mantém vínculos com militares na ativa de vários setores do oficialato nacional. Como comandante do I Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), em Brasília, o entrevistado esteve à frente do registro de ocorrências ufológicas em todo o país, em especial na área do Distrito Federal e Região Sudeste. E revela nestas páginas que observações e detecções de UFOs já eram constantes nas telas de radar do órgão bem antes dele assumir seu comando – e que todos os casos eram meticulosamente anotados pela Aeronáutica, e alguns investigados.
“Os objetos chegaram a 4.000 km/h”
Com memória lúcida de suas atividades militares, que incluem desde ser piloto do Correio Aéreo Nacional a comandante de importantes destacamentos, como o 7o Comando Aéreo Regional (COMAR VII), em Manaus, Monteiro relata aqui, pela primeira vez, seu interesse pela Ufologia e como o país lidou com a questão durante o tempo em que esteve na ativa. Como outros que ocuparam as mesmas pastas antes dele, o entrevistado também teve acesso a informações de gravidade sobre a manifestação de outras espécies cósmicas em nosso país, relatando alguns casos. Apesar de ter sido piloto de vários tipos de aeronaves, inclusive de caça, nas quais tem mais de 5 mil horas de vôo, não teve experiências ufológicas a bordo, mas em solo, junto de sua esposa, no Rio de Janeiro.
O brigadeiro Sócrates Monteiro também foi comandante do 4o Comando Aéreo Regional (COMAR 4), localizado em São Paulo, órgão que controla o espaço aéreo da Região Sudeste. Desta forma, estava sob sua jurisdição toda a área do Território Nacional sobre a qual se desenvolveu a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em 19 de maio de 1986, um dos pilares da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Na ocasião, como se sabe, o Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás foram inundados com o aparecimento de mais de 20 esferas voadoras de cerca de 100 m de diâmetro cada, que acabaram sendo perseguidas por sete caças F-5E e Mirage da FAB, enviados das bases aéreas de Santa Cruz (RJ) e de Anápolis (GO). “Meus técnicos me informaram que os objetos chegaram a 4.000 km/h, mas esta velocidade é grande demais para os radares, que perdem sua precisão”, declarou.
Ao relatar com exclusividade para a Revista UFO um caso espantoso ocorrido dentro das instalações do Cindacta, na cidade do Gama (DF), Monteiro reconheceu que os tripulantes da nave em questão eram detentores de elevada tecnologia. Seus homens no local, sem sua autorização e sem saberem como proceder, simplesmente abriram fogo contra no intruso. Ao saber disso, por telefone, o brigadeiro deu-lhes ordens para interromperem o tiroteio imediatamente. “Eles têm uma tecnologia muito mais avançada do que a nossa e não sabemos como reagiriam à nossa ação”. Em mais de uma vez durante a entrevista Monteiro se referiu às espécies que nos visitam como mais evoluídas, mas isso não pareceu fácil para ele. No início do diálogo, com muitas reservas naturais, se referia ao fenômeno como “anomalias eletrônicas”, “na falta de um termo mais apropriado”. Mas, aos poucos, foi se abrindo e chegou várias vezes a rir de sua interpretação, deixando claro que, na verdade, sempre soube da procedência extraterrestre dos UFOs.
Amigo de outros militares envolvidos em incidentes ufológicos, como o ex-presidente da Embraer Ozires Silva e o ex-ministro da Aeronáutica Octávio Moreira Lima, Monteiro confessa sua imensa curiosidade quanto aos discos voadores. “Queria logo entrar naquele ‘troço’ e ver como é”. A ele são atribuídas algumas outras contundentes declarações sobre a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, agora trazida à tona em importante documento liberado pelo Governo Federal [Veja UFO 160]. Por exemplo, ele teria dito que “há muitos anos esses casos vêm sendo registrados pela Aeronáutica” e que os UFOs “passaram de 250 para 1.500 km/h em fração de segundos”. Monteiro também teria afirmado que “a FAB gravou todo o evento em fitas magnéticas”. Tais fatos são agora complementados por ele.
Embora cada vez mais aberto quanto à existência de outras formas de vida inteligente, o entrevistado foi cauteloso o tempo todo. Cedendo à pressão dos entrevistadores, acabou deixando claro que, assim como outros graduados oficiais brasileiros, também está consciente de que estamos sendo visitados por espécies cósmicas mais avançadas. “Sabemos que elas não representam ameaça a nós, e tenho a convicção de que sua aproximação é para nos conhecer”. Estas palavras, enunciadas por um dos homens responsáveis pela implantação do importante Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), assim como da privatização da Embraer, se revestem de significado especial.
Como se verá em mais uma marcante entrevista da Revista UFO, o tenente-brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro é outro destacado integrante do meio militar brasileiro que reconhece a seriedade da missão dos ufólogos em levantar conhecimento sobre a presença alienígena na Terra à sociedade, e presta seu apoio e solidariedade à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, conduzida pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) através desta publicação. Como seus colegas que ocuparam este espaço antes, Monteiro também é claro em dizer que cabe aos ufólogos a determinação da natureza do Fenômeno UFO, e às instituições governamentais dar-lhes apoio.
Brigadeiro, gostaria de começar esta entrevista agradecendo sua gentileza em nos receber e fazendo uma pergunta para qual muita gente espera ouvir sua resposta: durante sua longa carreira militar, fora dela ou quando foi ministro da Aeronáutica, o senhor teve alguma experiência ufológica? Bem, isso depende do que se entende por experiência ufológica. Mas posso dizer que já vi coisas que me chamaram a atenção. Inclusive minha esposa participou de um momento destes. O fato ocorreu durante aquela noite em que muitos estranhos objetos foram vistos sobre Rio, São Paulo e São José dos Campos [A Noite Oficial dos UFOs no Brasil]. Ela estava na sacada de nosso apartamento no Rio, que tem uma vista para o mar de Copacabana, quando viu uma luz bizarra no céu e deu um salto. Ela olhou para mim e disse: “É um disco voador”. Na hora, vendo aquilo e a reação de minha esposa, retruquei brincando: “Não sei o que é aquilo, mas se você disser alguma coisa a alguém eu ponho você de castigo. Você não viu nada, você não sabe de nada. Se não se calar, vai criar problema para si mesma. E eu também não direi nada”. Mas fui apanhar um binóculo possante que eu tinha, da Marinha, através do qual vi melhor a tal luz.
Os UFOs têm tecnologia muito mais avançada do que a nossa e há muitos anos os casos vêm sendo registrados pela Aeronáutica. Naquela noite, os objetos passaram de 250 para 1.500 km/h em fração de segundo. E a FAB gravou todo o evento em fitas magnéticas…Sabemos que eles não representam ameaça a nós, e tenho a convicção de que sua aproximação é para nos conhecer
O que o senhor pensou que pudesse ser aquilo, já que, com tamanho conhecimento de aeronáutica, certamente descartou como algo conhecido? O que era, realmente não posso dizer. Mas, naquela mesma noite, o Ozires Silva teve uma experiência semelhante. Vocês conhecem a história dele, não? Ele estava indo de Brasília para São José dos Campos, quando viu uma luz não identificada ao lado do seu avião, um modelo Xingu da Embraer. O Ozires foi entrevistado pela TV no dia seguinte e disse: “Realmente, aquela luz veio do meu lado, me acompanhou por bastante tempo e passava de um lado para o outro da aeronave”. Quando ouvi aquilo, falei para ele: “Agora o mundo está perdido, você não vai conseguir esconder isso de ninguém”. Ele riu. O Ozires era meu colega de turma, meu amigo pessoal e tinha toda intimidade comigo. Ao ouvir sua descrição, minha esposa disse a ele: “Pois é, Ozires, eu e o Sócrates também vimos”. Noutra entrevista que deu, ele acabou se referindo a minha observação com minha esposa. Enfim, o caso agora é conhecido. Porém, para mim, dar um testemunho pessoal do gênero é coisa com a qual eu teria dificuldades, porque nunca vi nada muito claro, nada que eu possa simplesmente dizer que não é humano. Algo que eu pudesse falar assim: [Como se diante de uma entidade] “O senhor não é humano, é extraterrestre”. Então, nunca vi nada desse tipo, mas vi fenômenos no céu, aos quais eu dei o nome de “anomalias eletrônicas”.
Anomalias eletrônicas? O que são elas, brigadeiro? São fenômenos que ocorrem no céu para os quais não temos compreensão. Deixem-me explicar melhor, pois quando eu fui comandante do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), em Brasília, tínhamos muitos casos. Aliás, vocês sabem que o Cindacta tem um sistema de operações muito sofisticado. Iguais a ele, quando foi criado, havia apenas dois na América Latina – um era o metrô da Cidade do México e outro o metrô de São Paulo. O Cindacta integrava todo o Território Nacional com um potente sistema de computadores e em tempo real. Nós gravávamos tudo que se passava em nossos radares, tudo que era captado era guardado durante 30 dias. Depois deste período nós desgravávamos as fitas para que pudessem ser usadas novamente nas gravações seguintes. E às vezes apareciam uns sinais nas telas, de objetos que paravam e se movimentavam, e a gente não sabia o que eram. Então, anotávamos tudo aquilo e, na falta de um nome melhor, chamávamos tais artefatos de “anomalias eletrônicas” [Na época, ainda não se empregava a expressão “Tráfego Hotel”]. Sim, porque era algo eletrônico e a gente não sabia do que se tratava.
Além das detecções das tais anomalias, o senhor chegou a receber relatos de pessoas sobre observações de objetos voadores não identificados? Sim, sim. Às vezes apareciam pessoas querendo me contar histórias de coisas que tinham visto, tanto militares como civis. Um caso em especial chamou a minha atenção, pois envolveu nossas instalações de uma forma muito séria. O Cindacta tinha em uma cidade vizinha a Brasília, o Gama, uma construção onde estavam implantados seus radares e a área das telecomunicações. O comandante daquelas instalações era o capitão João Bernardo Vieira. Eu tinha acabado de assumir o comando do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), há não mais de uns dois meses, quando, numa noite, por volta das 22h00, o Vieira me telefonou dizendo que os radares do Gama estavam sendo sobrevoados por estranhos objetos. “Comandante, isso aqui está cheio de discos voadores”, disse-me. E eu falei para ele: “Não seja maluco rapaz, fala sério”. E ele insistiu: “Não, eles estão aqui mesmo, comandante. E estão jogando pedra na gente”. O Vieira ainda disse que uns soldados haviam dado tiros no objeto, e eu então os proibi imediatamente de atirar. “Não atirem em coisa alguma. Recolha todo mundo para dentro dos pavilhões, pois não quero ninguém perto desta coisa”. Os objetos tinham luzes que piscavam, mudavam de cor e que também se deslocavam vagarosamente em seu entorno.
“Proibidos de falar um com o outro”
Isso é muito impressionante, brigadeiro. Mas como as naves poderiam jogar pedras nos soldados, o senhor tem alguma explicação para isso? Bem, eu não sei, apenas ouvi o Vieira me relatar isso: “Estão jogando pedra na gente”. Imagino que um objeto qualquer movido a propulsão tenha com suas ações levantado pedras do chão, e os soldados que estavam perto acharam que aquilo os estava agredindo. Ou que os pilotos daquela “coisa” emitiram um jato de grande potência para levantar as pedras e assustar os soldados, para não terem que tomar uma atitude mais drástica. Eles têm uma tecnologia muito mais avançada do que a nossa e não sabemos como reagiriam à nossa ação. O Vieira me disse que havia cerca de 25 soldados presentes, e determinei que fossem todos recolhidos num auditório e recebessem uma folha de papel cada um para descrever exatamente o que viram. “Estão proibidos de falar um com o outro, e você toma conta para que isso não ocorra”, ordenei ao Vieira. Queria que os soldados fizessem uma descrição exata do que viram e que o Vieira trouxesse as folhas no dia seguinte, às 08h00, no meu gabinete no Cindacta. E então ele assim procedeu.
Os tiros desferidos contra os discos voadores os atingiram? Não.
Qual foi o resultado de sua pesquisa sobre o caso? Foi possível determinar o que era aquele objeto sobre os radares do Cindacta no Gama? Veja, os nossos soldados são muito primitivos. Você sabe, soldados não são muito cultos e têm dificuldade de fazer uma descrição precisa do que vêem. Mas deu para perceber, nas folhas com os desenhos, que eles tinham observado um “negócio” estranho. Algo que tinha luzes que mudavam de cor, e que aquilo chegou bem perto deles. Um dos homens perguntou ao Vieira se podia abrir fogo naquilo, e assim começaram os disparos. Todos disseram a mesma coisa, e eu anotei aquilo tudo num relatório e encaminhei ao Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER). Não dei palpite de coisa alguma e não emiti opinião. No envelope que mandei ao EMAER estavam todas as informações que eu tinha, e aquilo ficou guardado.
E o capitão Vieira, o que diz sobre isso? Eu perdi contato com ele. Mas imagine que há alguns dias, quando fui fazer um exame em meu cardiologista, encontrei um camarada que eu conhecia e me perguntou se lembrava dele. Antes que pudesse responder, ele riu e me disse: “Sou o Vieira, o capitão do Cindacta no Gama”. Claro que eu recordava, mas muitas pessoas passaram sob meu comando para lembrar detalhes. “O Vieira do disco voador?”, perguntei. “Esse mesmo”, disse o homem. É curioso que isso tenha ocorrido nesta semana, justamente alguns dias antes de lhes conceder esta entrevista. Vejam que coincidência, pois eu não o via há mais de 20 anos e agora reencontro este camarada. Até lhe disse que vocês viriam e perguntei se aceitaria dar algum depoimento, e ele disse que sim. “Diga-lhe que me procurem” [A entrevista com o militar será realizada dentro de algumas semanas].
O senhor tem mais algum relato como este para nos dar? Sim, tenho outro que partiu de um médico paulista. A história é a seguinte: o meu cardiologista determinou que eu fizesse uma cinecoronariografia, que é a ingestão de contraste nas coronárias para se obter imagens das artérias que permitem ver se estão abertas ou obstruídas. Mas eu não quis fazer isso no Rio e fui para São Paulo, me submeter ao exame no Hospital Sírio Libanês, cuja diretoria conhecia por ter lhes resolvido uns problemas de importação de equipamentos, retidos pela Infraero. Eram máquinas para exames, e como eles tinham dificuldade de caixa para liberar os instrumentos, fiz um acordo com eles: se o Sírio Libanês desse atendimento gratuito a certa quantidade de pessoas carentes, eu autorizaria a liberação. Foi o que aconteceu e eles agiram corretamente dentro de nosso acordo.
Mas como surgiu o relato que o senhor vai nos narrar? No dia seguinte ao exame, vários médicos vieram ao meu quarto me cumprimentar pela atitude e então conversamos. Quando todos iam saindo, um deles ficou no quarto e puxou conversa sobre UFOs. Não me lembro seu nome agora, mas ele foi bem direto: “Brigadeiro, posso fazer uma pergunta?” Respondi que sim, claro. E lá veio ele: “O senhor acredita em discos voadores?” Respondi meio surpreso: “Ah, doutor, esse tipo de pergunta estou cansado de receber. Não sei se existem discos voadores ou não, mas cada um acredita no que quiser”. Ele então disse que era de uma cidade do interior de São Paulo e que, ao voltar para lá para um fim de semana, hospedando-se em um hotel na via principal, foi à varanda por volta das 02h00 e viu um fenômeno. “Era uma coisa enorme simplesmente descendo ali na praça”. Eu questionei que coisa enorme era aquela, e ele foi ainda mais direto: “Era um disco voador!” E pediu que eu o orientasse quanto ao que fazer e perguntou se podia contar o que viu. Disse que sim, oras, pois ele podia fazer o que quisesse – mas falei que eu não dava palpites. Ele então descreveu o artefato e falou que estava bem perto daquela coisa, a não mais do que uns 30 m. Fiquei impressionado com a firmeza daquele médico e com a sua coragem em sustentar ter visto um disco voador, assim com todas as letras. Mas nunca mais o vi e nem sei se ainda está no Sírio Libanês.
Os radores do Cindacta captavam coisas estranhas. Pilotos que voavam de Brasília para São Paulo normalmente nos cominicavam que estavam vendo luzes acompanhamdo suas aeronaves. Nós fazíamos então as perguntas de praxe pela rádio: há quanto tempo estão sendo acompanhados, a que altura estavam, coisas assim, para tentar identificar mais detalhes sobre aquilo que estava sendo descrito
Esta parece ser uma característica de quem vê algo assim tão perto. E quanto a casos de objetos próximos ou seguindo aviões, o senhor chegou a conhecer algum? Sim, algumas vezes os radares do Cindacta captavam coisas estranhas. Por exemplo, pilotos que voavam de Brasília para São Paulo normalmente nos comunicavam que estavam vendo luzes acompanhando suas aeronaves. Nós fazíamos então as perguntas de praxe pelo rádio: há quanto tempo estão sendo acompanhados, a que altura estavam, coisas assim. Nossas perguntas eram para tentar identificar mais detalhes sobre aquilo que estava sendo descrito. Depois anotávamos tudo e comunicávamos ao Estado-Maior da Aeronáutica, que era o procedimento recomendado, embora sem emitirmos opinião.
Este procedimento de comunicar ao EMAER era feito a partir de alguma diretriz anteriormente estabelecida ou por vontade própria sua? Bem, na verdade, nós informávamos porque não sabíamos o que mais fazer. E não dávamos opinião por não sabermos o que exatamente dizer. Veja bem, se eu dissesse que tínhamos detectado um disco voador, eles [Os militares do EMAER] iriam pedir para que eu descrevesse o tal objeto, e eu não podia descrever coisa alguma, pois eram apenas pontos no radar, nada mais. Então dizia apenas: “Olhem, tem uma luz aqui que foi detectada no radar, que estou chamando de anomalia eletrônica”. Este era sempre o apelido que eu dava para tais fenômenos, na falta de um melhor.
Há algum caso específico de piloto que tenha tido alguma experiência com UFOs, que o senhor possa nos narrar? Alguns colegas militares me disseram ter visto luzes em vôo, que elas mudavam de cor e que às vezes acompanhavam seus aviões. Ou que tais luzes apareciam e desapareciam de repente, numa velocidade extraordinária. Estas são histórias que ouvi muitas vezes, e como sou muito curioso, pesquisei um pouco. Por exemplo, sei através do projeto Blue Book, da USAF, que muitos pilotos foram seguidos por anomalias, e alguns até perderam a vida, como o capitão Thomas Mantell, em janeiro de 1948. Ele desapareceu cruzando com um objeto que não conseguiu identificar. Seu avião, destroçado, foi encontrado a alguns quilômetros de onde sumiu no radar. Tem gente que não acredita, assim como tem quem acredita. Uns acham que tais fenômenos são apenas meteorológicos. Já eu
acho que tudo é possível…
Brigadeiro, como o senhor sabe, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) iniciou um movimento há seis anos para pedir ao Governo que abra seus arquivos. A campanha UFOs: Liberdade de Informação Já teve bons resultados até agora. Por exemplo, fomos convidados pelo então comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, em 20 de maio de 2005, para irmos a Brasília conhecer as instalações do Cindacta e do Comdabra. Sim, eu sei. Vocês foram recebidos pelo brigadeiro Atheneu Azambuja e puderam ver documentos em uma sala.
Sim, mas tivemos apenas autorização para examinar os tais documentos, sem poder copiá-los. Por isso continuamos nossa campanha, pois, apesar da vitória, queríamos mais. Finalmente, desde 2008 para cá, o Governo começou a liberar pastas que antes eram secretas, que gostaria de lhe apresentar. Estou a par de que estão sendo liberados alguns papéis.
Exato, e entre eles estão documentos da chamada Operação Prato, que aconteceu na Amazônia, em 1977, e teve como comandante o coronel Uyrangê Hollanda. Na época ele era capitão intendente, depois subindo a coronel. Entre os documentos há até alguns do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), que nem sabíamos que existiam. Pelo que eu vejo, vocês tiveram acesso a documentos do EMAER, que está começando a abrir seus arquivos. Apenas eu, enquanto comandante do Cindacta, mandei 25 depoimentos de avistamentos ufológicos, que devem ainda estar lá.
O senhor tinha conhecimento do envolvimento do SNI na pesquisa de casos da Operação Prato ou mesmo de outros avistamentos ufológicos no país? Não, apenas sabia do EMAER.
E sobre a Operação Prato, o que senhor sabia? Não muito, exceto que ocorreu algo na Amazônia, sob os auspícios do brigadeiro Protásio [Lopes de Oliveira], em 1977. Como vocês sabem, eu fui comandante do 7o Comando Aéreo Regional (COMAR VII), em Manaus, e isso aí aconteceu no 1o Comando Aéreo Regional (COMAR I), em Belém.
Exato, a Operação Prato foi organizada no COMAR I e levada a efeito na ilha de Colares, a 80 km de Belém. Os documentos liberados mostram, inclusive, as rotas que os UFOs faziam, seus formatos e tamanhos etc. Tudo isso aqui [Apontando para os papéis apresentados a ele] é documento oficial do Governo? Vocês tiveram acesso a isso?
Sim, tivemos. Estas são cópias dos originais dando conta de tudo o que aconteceu naquela época. Agora, igualmente interessante são os documentos que o Governo acaba de liberar, que dizem respeito a uma ocorrência em 19 de maio de 1986, esta que teve o Ozires Silva como personagem central e a que chamamos de Noite Oficial dos UFOs no Brasil. Interessante, muito interessante. Estou vendo aqui, entre os documentos liberados sobre aquela noite, um relatório de ocorrências assinado pelo brigadeiro José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque…
Identificação dos “intrusos”
Isso. Neste documento o brigadeiro Albuquerque descreve que os objetos aceleravam a altas velocidades, paravam no ar, faziam ziguezague etc. E que ora eram perseguidos pelos pilotos dos caças enviados para identificá-los, ora eram perseguidos por eles [Veja edição UFO 160]. Entendo. Quem tomava as decisões na época era o Comando de Defesa Aérea (CODA), órgão encarregado de monitorar qualquer objeto não identificado que pudesse significar uma ameaça ao país. A ele competia decolar caças como o Mirage e o F-5E para se aproximarem e fazê-los identificar os intrusos. É lá que nasce a busca por qualquer coisa estranha.
Sim, hoje sabemos disso, através deste documento liberado pelo Governo. Mas ainda faltam-nos dados para fechar todo o cenário daquela noite. Por exemplo, o senhor, na ocasião, era comandante do 4o Comando Aéreo Regional (COMAR IV), de São Paulo, que tinha responsabilidade direta sobre os acontecimentos. O senhor acompanhou a ocorrência? Não, não acompanhei. Foi na mesma noite em que minha esposa viu aquela luz no Rio, e eu estava com ela quando os Mirage e F-5E foram lançados para identificar os objetos que estavam sobre Rio e São Paulo. Simultaneamente, o Ozires Silva ia de Brasília para São José dos Campos e assistiu ao fenômeno.
Mas o senhor não acompanhou os fatos, sendo comandante do COMAR IV? Há até algumas declarações da época, publicadas pela imprensa, que foram atribuídas ao senhor! Por exemplo, que teria dito, entre outras coisas, que tais fatos já vinham ocorrendo há anos e que a FAB tinha conhecimento deles. Tudo isso está publicado. O que pode dizer sobre o assunto? Perfeitamente, agora me lembro. Mas não tive a oportunidade de ver estes fatos acontecerem na hora. Apenas sabia que os radares haviam captado objetos estranhos ou, mais uma vez, anomalias eletrônicas, e colocamos tudo em relatórios que mandamos para o EMAER, caminho correto para se fazer qualquer comunicação.
O senhor recebeu alguma resposta do órgão neste caso ou em outro que tenha comunicado a ele? E ainda, recebia alguma informação ou determinação quanto ao que fazer nestes casos? Não, mas eu sei o que eles faziam. Na falta de terem o que dizer e na ausência de qualquer explicação plausível, os relatórios eram engavetados na esperança de que um dia surgisse uma explicação que nos desse uma luz.
O senhor tem conhecimento de que algum dia o Governo, o EMAER ou mesmo o CODA tivesse instituído uma comissão para pesquisar estes assuntos, para que não ficassem mais engavetados? Quando fui ministro da Aeronáutica e este tipo de material chegava às minhas mãos, eu apenas fazia o que se fazia normalmente: engavetava, mas numa gaveta própria onde todos os eventos semelhantes eram guardados. Era uma pasta única para não se perder a origem dos relatórios. Na ausência de qualquer explicação, nós ficávamos aguardando que um dia as tivéssemos. Eu mandava pesquisar os fatos, mas não era uma sindicância nem um inquérito, apenas uma espécie de vistoria.
Estas vistorias eram rotineiras ou se aplicavam a apenas alguns casos? Elas ocorriam somente em algumas situações, quando considerávamos que valia à pena investigá-las. Quando a descrição do evento tinha credibilidade, eu tentava obter informações mais concretas.
Como ocorriam tais vistorias? Eu mandava alguém para conversar discretamente com pessoas da localidade onde o fato ocorreu, pessoas que pudessem ter ligação com o que foi registrado. Fazíamos também uma averiguação da área com o cabloco que foi testemunha, porque normalmente tais fatos não aconteciam nas grandes cidades, apenas no campo ou em cidades pequenas – pelo menos até onde eu sei pelos fatos que chegavam ao meu conhecimento. Isso vem acontecendo no Brasil desde os anos 50, que eu me lembre, quando os oficiais da Base Aérea de Gravataí, no Rio Grande do Sul, viram objetos estranhos e a grande altitude, em plena luz do dia. Creio que em 1954.
E o senhor já era militar naquela época? Ocupava que cargo? Sim, já estava na Aeronáutica e era tenente. O evento foi registrado em Gravataí e causou comoção, porque envolveu até oficiais de alta patente, como o brigadeiro José Hernani.
Brigadeiro, voltemos à chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, quando houve o acionamento de aeronaves para identificação dos objetos. Naquela ocasião o senhor disse que há muitos anos a FAB vinha registrando tais casos. Disse ainda que os artefatos passaram de 250 para 1.500 km/h em fração de segundos. Tal dado está confirmado no documento recentemente liberado pelo Governo, que afirma que os UFOs iam de uma velocidade muito baixa para uma supersônica. O que pode acrescentar sobre isso? Os meus técnicos me informaram [Que os objetos chegaram a] 4.000 km/h, mas esta velocidade é grande demais para os radares, que perdem sua precisão. Por isso não podemos afirmar que eles voavam mesmo a 4.000 km/h. Mas desapareceram das telas tão rapidamente que o sistema de computação do Cindacta nos deu uma velocidade que poderia estar distorcida. Nós não podíamos técnica e cientificamente dizer 4.000 km/h. O que sabíamos ao certo é que os objetos estavam a uns 800 km/h, mais ou menos, e de repente dispararam numa velocidade tão grande que desapareceram das telas. Os técnicos afirmaram que isso se deu a 4.000 km/h, mas eu não endosso.
Quando isso aconteceu e o radar detectou que os objetos aceleraram daquela maneira, o senhor continuou achando que poderiam ser anomalias eletrônicas? Bem, eu continuei chamando aquilo de anomalias eletrônicas, mas porque não tinha outro nome para dar àquilo [Começando a rir sobre o uso do termo].
Mas o que o senhor imagina que sejam tais objetos? Qual é sua opinião? Eu não imagino nada e não tenho opinião pessoal.
Precisamos abrir [Os arquivos recretos] para esclarecer do que se trata este fenômeno, ou então, para evitarmos que digam que estamos escondendo a verdade. Já posso ver alguém dizer: \”O Governo está escondendo fenômenos misteriosos do povo\”. Isso não é certo. Deve-se abrir logo os arquivos para que ninguém possa dizer uma coisa dessas. Não podemos ficar em posição desconfortável quanto a isso
Por algum momento o senhor pensou que poderiam ser naves ou objetos procedentes de outros planetas, com outra forma de inteligência em seu interior? Eu gostaria de pensar que sim. Gostaria de poder lhe dizer que acredito nisso, que tenho certeza disso, mas sou um pouco cético com relação àquilo que não posso comprovar, e por isso não afirmo. No entanto, se você me perguntar se acho isso uma invencionice ou “conversa fiada”, lhe digo que não, pois não acho que seja. Agora, o que são tais coisas, eu não sei.
Mesmo assim, permita-me insistir e perguntar novamente o que o senhor imagina que sejam? Olhe, eu acho muito difícil dizermos que não pode existir nada fora do nosso conhecimento, além do nosso mundo. Isso seria uma leviandade. Gostaria de poder lhe dizer que creio que “eles” estão por aí, mas eu não tive nenhuma oportunidade de vê-los de perto. Não tenho dados concretos a respeito destes objetos para ajudar vocês. Acreditem, adoraria poder dizer que quero me juntar a vocês para pesquisar este “negócio”, mas não tenho condições.
Como o senhor havia dito naquela ocasião que há muitos anos a Força Aérea Brasileira (FAB) vinha registrando casos de avistamentos ufológicos, poderia nos relatar algum que tenha a magnitude deste? Sim, considero os casos de observações múltiplas em Gravataí, no Rio Grande do Sul, uma ocorrência significante.
Além do episódio de Gravataí, por sua importância, e aquele descrito como a Noite Oficial dos UFOs no Brasil, o senhor se lembra de mais algum de tamanha gravidade, em que jatos tenham sido enviados para identificar e interceptar UFOs? Não, não me lembro de nenhum. Até porque, nós seguíamos uma espécie de doutrina: a de não comentar o assunto se não podíamos comprovar os fatos. Assim, evitávamos comentar os casos por falta de dados concretos que nos permitissem afirmar o que eram aqueles objetos. Também havia a questão dos fenômenos meteorológicos, que não podiam ser descartados, como balões, que vão a grandes altitudes.
Sim, é verdade. Mas os radares do Cindacta e os pilotos dos caças, muito bem treinados, não fariam tal confusão… Claro, mas são questões a serem consideradas de todas as formas. Além de outros fenômenos meteorológicos, como o fogo de santelmo, por exemplo, que é uma luz às vezes azulada e muito forte que ora fica parada no ar e ora se desloca. Uma variação dela é vista com freqüência nos cemitérios, porque matéria orgânica fica ali se degradando por um bom tempo e produz um gás que, em contato com o ar, gera uma luz azulada, esta que chamamos de fogo de santelmo.
Muitos pilotos relataram ter visto fogo de santelmo, mas o que descrevem são fenômenos que muitas vezes podem ser associados a ocorrências ufológicas. Por exemplo, os foo-fighters da Segunda Guerra Mundial. Quem é piloto já viu fogo de santelmo no céu, como eu também vi um monte de vezes. Ele chega a entrar nos aviões atravessando sua fuselagem. Eu voei modelos C-47 e DC-3 na Amazônia, para o Correio Aéreo Nacional, e via muito disso. Fiz mais de 2.000 horas de vôo lá e testemunhei muitas tempestades elétricas, que geram fenômenos estranhos. Há outros curiosos efeitos atmosféricos que também devem ser considerados – fogo elétrico ou fogo de santelmo é apenas um deles. A luz fica no cubo da hélice e então pula de um lado para o outro e vai embora. A gente fica até com medo de se queimar. Isso já aconteceu várias vezes comigo em meu avião, e é por isso que quando uma luz aparece lá de longe o piloto já fala: “É fogo de santelmo, se cuida”. Mas nem tudo pode ser explicado assim, até porque fogo de santelmo é uma bolinha pequena que pula dentro da cabine do avião, e há casos de luzes bem maiores… Enfim, todo piloto da aviação comercial que voa a 10.000 m já viu isso.
Há outra afirmação da época da Noite Oficial dos UFOs no Brasil também atribuída ao senhor, de que a FAB teria filmado todo o evento em videotapes. Isso procede? Não. Na verdade, todo o evento foi gravado em fitas magnéticas, não filmado. O radar tem um dispositivo que grava tudo o que é registrado, e nós arquivamos estas gravações por 30 dias, como já falei. Depois disso apagamos, se não teríamos pilhas de fitas magnéticas.
Mas mesmo a gravação de um evento da importância do ocorrido na noite de 19 de maio de 1986, que levou ao acionamento de aeronaves de interceptação e tudo o mais, foi apagada? Bem, quando é algo assim a gente às vezes esperava um pouco mais para desgravar, uns dois ou três meses. Mas depois disso as fitas eram apagadas do mesmo jeito, pelos motivos que já expus. Agora, o Cindacta gravou coisas assim várias vezes. Não foi uma ou duas não, mas muitas vezes. E sempre os relatórios [Emitidos] iam sem comentários de nossa parte, por não sabermos o que explicar.
Centenas de casos ufológicos
Sobre o episódio de que estamos falando quanto estes outros que agora o senhor relata, algum dia recebeu qualquer pressão ou requisição de um governo estrangeiro para lhe passar tais informações? Não. Pelo menos no meu tempo como ministro isso nunca aconteceu ou não é do meu conhecimento.
Segundo o brigadeiro José Carlos Pereira [Entrevistado das edições UFO 141 e 142], o Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) já registrou centenas de casos de avistamentos ufológicos desde os anos 50. O senhor confirma isso? Bem, o brigadeiro Pereira foi chefe do EMAER durante uma certa época, e assim, é claro, este material estava na gaveta dele e ele poderia ver aquilo quando quisesse.
Ele inclusive nos declarou, em entrevista recente, que “é hora de encerrar o segredo sobre os UFOs”, assim como disse que “os arquivos secretos sobre os UFOs devem ser abertos”, dando um apoio muito forte para a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já que nós estamos realizando. O que o senhor pensa destas declarações? Penso que elas têm duas interpretações. A primeira é a de que precisamos abrir [Os arquivos secretos] para esclarecer do que se trata este fenômeno, ou então, a segunda, para evitarmos que digam que estamos escondendo a verdade. Já posso ver alguém dizer: “O Governo está escondendo fenômenos misteriosos do povo”. Isso não é certo. Então, deve-se abrir logo os arquivos para que ninguém possa dizer uma coisa dessas. Não podemos ficar em posição desconfortável quanto a isso.
O brigadeiro Pereira fala exatamente o mesmo. E mais, ele diz que a população não tem medo do que é transparente, mas do que é opaco. E ainda faz a seguinte colocação: se os documentos não afetam a segurança nacional, não põem em risco a população e não violam a privacidade das pessoas citadas, têm que ser abertos. O senhor é da mesma opinião? Sem dúvida alguma. E mais, eu não abri [Os arquivos secretos] antes, quando estava no ministério, porque não me pediram. Se tivessem me pedido, teria aberto.
Mesmo que tais documentos contenham casos extremos, como o da Noite Oficial, em que jatos da FAB foram enviados para interceptar objetos de natureza desconhecida? Sim, mesmo em casos assim temos que abrir. E veja que os jatos foram enviados e não chegaram nem perto dos objetos. Nós estamos falando de UFOs [O entrevistado já não fala mais de anomalias eletrônicas], e os jatos não chegaram sequer próximos deles.
O senhor atribui a impossibilidade de interceptar os objetos a uma suposta elevada tecnologia que teriam, superior à nossa? Sim, [Por isso] não temos nem como chegar perto destas coisas, que vão a milhares de quilômetros por hora de repente. O Ozires Silva viu isso, minha mulher viu isso e eu também vi, como já descrevi. Era uma luz forte e parada no céu. Fiquei olhando aquilo e esperando que fizesse uma curva para a esquerda ou para a direita. Mas aquilo não fez curva alguma e deduzi que estava voando direto na minha direção, embora aparentemente continuasse parado.
Que pensamentos vieram à sua cabeça naquele instante? Eu sou muito realista quanto a estas coisas e pensei que queria logo entrar naquele “troço” e ver como era. Isso já havia me passado pela cabeça muitos anos antes.
Como assim? Quando isso ocorreu? Em 1950, quando eu ainda era cadete. Eu estava fazendo um treinamento com vôo em formação sobre a Barra da Tijuca e eu algo que parecia um balão, na falta de outra explicação. Meu instrutor olhou para aquilo e confirmou que poderia ser um balão, mas de repente ele sumiu. Logo depois, a revista O Cruzeiro publicou uma reportagem intitulada Disco Voador na Barra da Tijuca. Se os senhores forem ao arquivo da publicação, vão encontrar a descrição do que foi visto naquele dia, que acho que era o mesmo que eu vi voando em grupo com outros cadetes da FAB. O Cruzeiro inclusive descreveu que uma esquadrilha de aviões que voava nas imediações deveria ter visto o objeto, numa referência a nós.
De fato, há até uma passagem no livro A Bíblia e os Discos Voadores, de Fernando Cleto Nunes Pereira [Editora Ediouro, 1986], de que um cadete do Campo dos Afonsos teria observado o UFO que foi fotografado pela revista O Cruzeiro. Pode ser eu ou qualquer outro cadete. Mas eu vi um “negócio” lá na Barra da Tijuca que podia ser um balão. Isso aconteceu no mesmo dia e na mesma hora em que o UFO foi fotografado. Para mim era um balão, mas, quando saiu a revista O Cruzeiro, no domingo seguinte, a matéria afirmava que era um disco voador. Eu não vi nada que pudesse ser um disco, apenas um balão, digo mais uma vez – novamente na falta de outro nome para dar àquilo [Inquirido, o entrevistado não sabia da polêmica que existe em torno das fotos de um suposto UFO feitas por Ed Keffel, repórter de O Cruzeiro e parceiro de João Martins, taxadas como falsas por quase toda a Comunidade Ufológica Brasileira].
Nós não atacávamos os UFOs, porque sabíamos que a nave que tivesse capacidade de fazer aquele tipo de manobras, que tivesse tamanho desempenho, não poderia ser atingida. Ou seria loucura de nossa parte fazer alguma coisa contra ela. Nós sabíamos disso e ninguém era louco de tentar agredir aquilo. Aquele \”negócio\” poderia jogar um raio em cima de nós que nos liquidaria
O objeto estava parado no ar? Não se deslocava nem se mexia? Bem, quando a gente está voando, perde-se a referência de posição de algo no céu, e fica difícil dizer se aquilo se mexeu ou não, se foi para um lado ou para outro.
Brigadeiro, o senhor sabe que hoje o anseio dos ufólogos brasileiros é ter o reconhecimento governamental da existência dos discos voadores, assim como a abertura dos arquivos oficiais. Mas há mais: queremos também constituir uma comissão de pesquisa ufológica conjunta entre militares da Aeronáutica, na ativa ou não, e ufólogos civis. Queremos realizar ações conjuntas de levantamento e análise de casos, tanto aqueles que os militares têm em seus arquivos quanto os dos civis. Poderíamos contar com seu apoio para isso? Certamente, sem dúvida. Já quanto à Aeronáutica, como instituição, eu penso que se vocês tiverem a capacidade ou a sorte de terem acesso a dados mais concretos, o órgão vai usá-los para buscar explicações na área, para obter mais dados.
E como o senhor sugere que possamos abordar a Aeronáutica com uma proposta deste tipo, para o início de trabalhos conjuntos? Creio que encontrando novos fatos.
Bem, fatos nós temos centenas. Por isso, o que precisamos agora é de um acesso institucional, burocrático, para que o projeto seja levado a efeito oficialmente. Como é que vocês tiveram acesso a toda esta documentação que me trouxeram e que estão me mostrando?
Solicitando formalmente à Aeronáutica e a vários de seus órgãos, como parte dos procedimentos iniciados com a chamada Carta de Brasília e, depois, com o Dossiê UFO Brasil [Veja edições UFO 155 e 158]. Quem mais liberou material foi o Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (Cendoc). Então, se é assim, vocês devem seguir esta linha. O órgão que mais deu é o que está mais disponível para ser acessado para uma proposta como esta. Vou ver se eu consigo algo para vocês neste sentido.
Agradecemos muito. Agora, com relação ao tempo em que o senhor serviu como comandante do 7o Comando Aéreo Regional (COMAR VII), em Manaus, teria algum relato de avistamento de UFOs para nos narrar, ocorrido naquela área? Não, lá não tive conhecimento de nada. Apesar de ser uma região de intenso tráfego aéreo, como é o caso do Aeroporto de Boa Vista, em Roraima, que era o mais movimentado do Brasil devido ao garimpo – em certa época eram mais de 200 vôos diários, geralmente de monomotores. Havia muita exploração de cassiterita na época.
Tamanho movimento de aviões requeria extremo cuidado por parte do controle do tráfego aéreo, não? Sim. Por isso, dois meses depois de eu assumir o Ministério da Aeronáutica, levei o presidente à área e lhe fiz a proposta de implantação de um sistema que permitisse conhecer tudo o que acontecia na Amazônia. Este projeto é hoje o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), elaborado pelas Forças Armadas para monitorar o espaço aéreo de toda a região. A iniciativa conta com uma parte civil, o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM). O presidente aceitou a idéia e o programa acabou sendo implantado anos depois.
O senhor já não estava mais no Ministério quando o SIVAM começou a funcionar, não é? Mas, mesmo assim, não teve conhecimento de qualquer ocorrência ufológica na Amazônia, seja envolvendo piloto civil ou militar? Não, nada. Na Amazônia não havia nada naquela época, só chuva.
Brigadeiro, voltando ao episódio da Noite Oficial dos UFOs no Brasil, temos uma questão nova. Na ocasião, quando alguns setores da imprensa tentaram diminuir a importância do caso, outros argumentaram que a Força Aérea jamais iria despachar caças a jato, e menos ainda sete deles, simultaneamente, para interceptar algo banal no céu, como pontos aleatórios no radar, pois há custos elevadíssimos envolvidos. Certamente que não. Mas, de qualquer forma, este tipo de operação de interceptação é curto. Ninguém faz uma interceptação de duas ou três horas, por exemplo. Ela dura no máximo meia hora, 40 minutos. O caça geralmente vai até o local, averigua, identifica ou não o alvo e retorna à base. Mas o custo é alto, sim.
Então a Aeronáutica não mandaria seus caças, caso não fosse algo muito sério? Não mandaria. Mas deixem eu lhes contar uma história. Quando houve a Guerra das Malvinas, em 1982, eu era comandante do Cindacta e nós pegamos nas telas um avião se aproximando do Território Nacional pelo norte, na área de Belém, onde tínhamos radares. Nós sabíamos que era um avião Ilyushin russo que havia saído de Havana e se dirigia para Buenos Aires, tendo que passar sobre o Brasil. Não sabíamos quem era seu comandante, mas sabíamos que a bordo estava o embaixador cubano na Argentina, que levava consigo uma mala com 200 mil dólares – para que, eu não sei. O jato entrou no Território Nacional e não comunicou ao controle de Brasília. Imediatamente, o Centro de Operações Militares se preparou para pegar o intruso e fez decolarem dois caças Mirage. Era quinta-feira, véspera da Sexta-Feira da Paixão, e havia uma tempestade enorme em Brasília. A pista de decolagem dos jatos estava apagada, pois perdemos a eletricidade. Então, acendemos lampiões a iluminamos para a decolagem dos Mirage, às 22h00, para interceptar o avião cubano. Eles deram ordem para o intruso voltar e pousar em Brasília, mas os pilotos fingiram que não ouviram. Aí os Mirage acenderam seus faróis ao lado do avião cubano e finalmente seus pilotos viram que não tinham alternativa, voltando então para pouso na capital. Ou seja, nosso sistema de detecção e de interceptação funciona mesmo! [Enfático] Mas, se o Ilyushin não pousasse em Brasília, nós não saberíamos o que fazer, porque nenhuma autoridade brasileira teria coragem para dar ordem para atirar no intruso. Agora é diferente e já existe a Lei do Abate.
Documentos engavetados
Em 19 de maio de 1986, no entanto, os caças não conseguiram forçar os intrusos, no caso os UFOs, a pousarem. O relatório que agora temos liberado mostra como, um a um, os caças foram disparados, o que viram e o que detectaram etc, e como tentaram, em vão, se aproximar dos objetos. Houve momentos em que, de perseguidores, os pilotos dos caças da Aeronáutica acabaram se tornando os perseguidos. Um dos UFOs, em espantosa velocidade, chegou em instantes a mais de 180 km Oceano Atlântico adentro, na costa de São Paulo, para depois voltar e perseguir um dos caças. É verdade, o que a gente constata é que não se consegue chegar perto dos objetos. Neste caso, várias vezes os pilotos tentaram se aproximar, mas os UFOs aumentaram sua velocidade e os deixaram para trás.
É impressionante. Porém, tudo isso foi detectado pelos radares de solo e que estavam a bordo dos caças, e os UFOs estavam sendo observados simultaneamente pelos pilotos e pelo Ozires Silva. Então eram “anomalias eletrônicas visuais” [Rindo cada vez mais que repete o termo].
O senhor chegou a conversar com os pilotos daqueles caças ou com outros militares envolvidos, como o comandante do Comando de Defesa Aérea (CODA), major-aviador Ney Cerqueira, hoje coronel da Reserva? Ou então com o ex-ministro da Aeronáutica na época, brigadeiro Octávio Moreira Lima? Não, não falei com nenhum deles porque eu não tinha a intenção de pesquisar aquilo com profundidade, pois sabia que não ia chegar a lugar nenhum.
Como sabia que não ia chegar a lugar nenhum? Porque nunca ninguém chegou, pelo menos aqui no Brasil, pelo que estou informado. Se estiver errado, me corrijam.
Mas a pesquisa nos leva, pelo menos, a um determinado ponto. Sim, e um dia a gente vai chegar lá.
De qualquer forma, uma manifestação tão maciça de objetos não identificados sobre o Território Nacional, como aquela, que, segundo fontes, chegou a 21 artefatos esféricos de cerca de 100 m de diâmetro cada, não seria um perigo à segurança nacional, para o tráfego aéreo civil, especialmente no horário em que aquilo aconteceu? Não, porque nós sabíamos que não havia ameaça. Tínhamos a convicção de que, na realidade, [A intenção deles] era aproximação para conhecer.
Para conhecer o que ou quem? Nós? Sim, para nos conhecer.
Mas se o senhor pensa assim, é porque reconhece que “eles” existem, ou seja, que são seres inteligentes e que querem nos conhecer. Bem, eram anomalias eletrônicas [Rindo ainda mais e já admitindo sua postura]…
A essa altura dos acontecimentos, quando até o Governo está liberando informações, já não dá mais para não se reconhecer isso, não &ea