Em setembro de 2020 uma equipe internacional de cientistas anunciou que a atmosfera de Vênus contém a substância fosfina, considerada um sério indicador da existência de vida. A descoberta foi contestada por vários outros pesquisadores. Em 10 de março deste ano, no entanto, uma nova análise dos espectros da missão Pioneer Venus Multiprobe, da NASA, que estudou Vênus na década de 70, foi publicada na revista científica Geophysical Research Letters, com novos achados.
Nessa análise, pesquisadores americanos confirmaram a presença da fosfina, mas também encontraram outros vestígios do hipotético metabolismo de organismos vivos. A superfície de Vênus é um verdadeiro inferno, onde as temperaturas podem ultrapassar 470oC. É absolutamente inóspita até mesmo para os organismos mais extremofílicos da Terra. Mas, no alto da atmosfera venusiana, a pressão é semelhante à do nosso planeta e de temperatura ambiente.
É nesta zona temperada que alguns cientistas acreditam que os microrganismos podem crescer. Quando a fosfina foi anunciada na zona temperada em 2020, esta foi a primeira evidência séria para apoiar essa hipótese. No entanto, a equipe internacional de pesquisa forneceu dados de equipamentos telescópicos baseados em solo. É muito mais fácil questionar e contestar essas informações do que se os dados fossem obtidos diretamente de uma missão espacial.
Para tanto, Rakesh Mogul, bioquímico da Pomona Polytechnic University of California, solicitou acesso aos dados do espectrômetro da missão Pioneer Venus Multiprobe. Mogul contatou Richard Hodges, que fazia parte da equipe de expedição robótica. Em 1978, os cientistas se concentraram nas substâncias básicas da atmosfera venusiana. Nem pensaram em estudar detalhadamente esses gases, que estão em baixas concentrações, mas podem ser um indicador da presença de vida.
Impressão artística da sonda Pioneer Venus Multiprobe, da NASA, se aproximando de Vênus.
Fonte: NASA
A equipe americana liderada por Mogul conseguiu confirmar que existe uma substância na atmosfera de Vênus que contém fósforo, muito provavelmente fosfina. Além disso, com base em dados do Pioneer Venus, os pesquisadores concluíram que as substâncias biologicamente significativas na atmosfera de Vênus estão desequilibradas. Isso significa que existe algum processo químico desconhecido que pode estar relacionado ao metabolismo de organismos vivos.
Além da fosfina, Mogul e colegas também encontraram sulfeto de hidrogênio, ácido nítrico, cianeto de hidrogênio, etano, amônia e ácido perclórico. Algumas dessas substâncias também podem estar associadas à presença de vida. Embora essas novas informações baseadas em dados antigos sejam inegavelmente empolgantes, Mogul reconhece que a disputa sobre se Vênus tem vida ou não ainda não foi finalmente resolvida.
Quando a notícia sobre a fosfina apareceu no ano passado, muitas pessoas já falavam como se alienígenas estivessem acenando para nós de Vênus. A realidade é que a fosfina não é garantia de existência de vida. É mais sobre a razão pela qual a fosfina existe e a que ela pode nos levar. Novas missões terão que ser realizadas para explorar a atmosfera venusiana. A próxima missão desse tipo pode decolar em 2023 e será organizada pela empresa privada americana Rocket Lab.