O explorador Thor Heyerdahl foi um contínuo defensor da noção de um contato transoceânico e de uma migração no Pacífico Sul, em direção às Américas. Mais famoso pela sua expedição no Kon-Tiki, que provou que os ilhéus de Rapa Nui podiam estabelecer comércio com os povos da América do Sul, Heyerdahl destacou as semelhanças entre as estruturas de pedra da Ilha de Páscoa e as estruturas incas e pré-incaicas no Peru. Mais recentemente, após um estudo prolongado de correntes oceânicas – como os efeitos do El Niño –, o explorador propagou a crença de que os povos marítimos poderiam ter tanto imigrado para a América de Sul como emigrado dela. Antes da sua morte, ele tentou demonstrar a possibilidade de os egípcios e fenícios terem viajado do Egito para as Ilhas Canárias e, como Cristóvão Colombo, terem aberto caminhos de ida e volta para o Novo Mundo. A posição de Heyerdahl contesta a maioria das crenças dos antropólogos norteamericanos contrários à difusão. Estes acreditam que as Américas só vieram a ser povoadas através da migração asiática pela Beríngia, no Estreito de Bering, a partir da Sibéria. Mas este ponto de vista também está sendo contradito pelas recentes evidências arqueológicas de Monte Verde, no Chile, e da Toca do Boqueirão da Pedra Furada, no Estado do Piauí, ambos indicando a presença de uma série de povos de cultura marítima com capacidade de cruzar grandes barreiras oceânicas. Até há pouco tempo, a maioria dos antropólogos afirmava que os artefatos de ossos de Clovis, no Novo México, Estados Unidos, remontavam há apenas 11.600 anos atrás e eram os restos mais antigos do Novo Mundo. Mas algumas outras teorias antropológicas levam em conta que, antes de Clovis, povos asiáticos entraram na América do Norte pelo noroeste, entre 15 e 12 mil anos atrás, no fim da última era glacial, passando pelo Alasca e Canadá, e depois avançando para as Américas Central e do Sul.
SURGIMENTO DO HOMEM. No entanto, novas evidências sugerem que a antiga travessia não se deu exclusivamente para a América do Norte. Houve possivelmente, numa data bem anterior, uma migração costeira nas latitudes sul e uma transferência de ilha em ilha pelo Médio Pacífico até as Américas. O que é mais interessante nas gravações em pedra encontradas na Toca do Boqueirão, no Piauí, é que a datação por métodos de carbono 14 sugere uma idade entre 30 e 48 mil anos para esses vestígios. Isto mostra que o surgimento do homem no hemisfério sul do Novo Mundo se deu muito antes do que se pensava. Contudo, a arte rupestre primitiva não é tudo que há sobre civilizações antes de 12 mil anos atrás. Do outro lado do continente sul-americano, em Monte Verde, sul do Chile, a uns 50 km do litoral do Pacífico, o doutor Thomas Dillehey e seus outros cientistas recuperaram possivelmente os mais antigos artefatos e restos humanos das Américas.
Enquanto a maior parte do sítio de Monte Verde foi datada em 12.500 anos, a datação de possíveis instrumentos de pedra descobertos por Dillehey no local remonta há uns 3 mil anos, conforme o cientista publicou em A Late Pleistocene Settlement in Chile [Uma Colonização Pleistocena Tardia no Chile]. Dillehey e sua equipe descobriram ainda evidências de instrumentos, brinquedos e assentamentos simétricos que sugerem que o mais antigo ramo da cultura civilizada desenvolvido no hemisfério sul do Novo Mundo originou-se da Ásia. Detalhes na trama têxtil dos tecidos da época e nos padrões geométricos das cerâmicas encontrados nas ruínas costeiras, do Peru, Equador e até o México, são muitíssimo parecidos com os da cultura Joman, do Extremo Oriente. Isto não quer dizer que a América do Norte esteve completamente desprovida de antigas culturas.
O arqueólogo Albert C. Goodyear, do Instituto de Arqueologia e Antropologia da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, examinou locais como Cactus Hill e Saltville, no Estado de Virgínia, e sítios arqueológicos próximos a Topper, na Carolina do Sul, e Meadowcroft, na Pensilvânia, encontrando evidências de uma ocupação no leste do país que remonta há mais de 12 mil anos atrás. Elas apenas não são tão antigas quanto o sítio da Toca do Boqueirão, no Brasil. Outra impressionante prova arqueológica dos primeiros seres humanos na antiga América do Norte vem da descoberta, em El Cedral, ao sul de Monterrey, no México, de ossos de mamutes em torno de uma construção de 3 mil anos de idade. Também na Europa Central e na Rússia foram identificadas duas civilizações que remontam há mais de 12 mil anos ou ao fim do Pleistoceno. A primeira, chamada aurinaciana, floresceu de 40 a 28 mil anos atrás, seguida pela gravetiana, de 28 a 22 mil anos. Milhares de figuras esculpidas e ornamentos pessoais destes povos foram descobertos e documentados.
ESTÁTUAS GIGANTES. Mas todas estas civilizações se desenvolveram em separado? Rapa Nui, também chamada de Ilha de áscoa, e o arquipélago havaiano estão entre as localidades mais remotas do Pacífico. Os rostos esculpidos nas estátuas gigantes da Ilha de Páscoa sempre suscitaram dúvidas quanto ao povo que as construiu e à tecnologia que utilizaram. No entanto, as características das mãos e os gestos simbólicos dos dedos das estátuas sugerem claramente uma antiga ligação com as ilhas do sudeste asiático. Além disso, figuras e representações artísticas encontradas no Equador revelam imagens que se assemelham as dos deuses da pré-dinastia egípcia. O que se cogitou no Congresso sobre Mistérios Não Resolvidos, ocorrido em Viena, em 2001, é que isto sugere fortemente uma comunicação global entre os povos do passado. Mas como podiam se corresponder entre si, se estavam imensamente distantes. E que tipo de sistema de transporte utilizavam?
Para confirmar a teoria das antigas migrações globais, foi conduzido na Universidade Emory um estudo do movimento dos genes humanos.O professor Douglas Wallace concluiu que as ilhas do Pacífico e as regiões indígenas ao norte e ao sul da América do Norte foram povoadas por asiáticos, mostrando traços de DNA de uma linhagem genética vinda de uma fonte comum, de uma Eva primitiva originada na África, que posteriormente se estendeu para a Ásia. Analisando o DNA mitocondrial de grupos indígenas norte-americanos muito distantes entre si, Wallace e outros cientistas puderam sugerir que os primeiros ameríndios a se comunicar entraram nas Américas entre 42 e 21 mil anos atrás, ao passo que os ancestrais da atual nação Na-Dine chegaram entre 16 e 5 mil anos. Wallace também descobriu uma linhagem de DNA que foi para América do Norte, possivelmente da Europa, em épocas pré-históricas.
Contudo, há uma impressionante evidência genética de pelo menos quatro linhagens dos primeiros hu
manos associando as Américas ao continente asiático, em diferentes períodos préhistóricos, tanto antes quanto depois de eventos cataclísmicos.Com o uso de diferentes estudos genéticos, está se desenhando um quadro mais complexo de migração global. A maior parte da nossa informação genética é armazenada na forma de DNA nos núcleos das nossas células, mas outros corpos delas também possuem essa informação, como as mitocôndrias. Seu material genético – chamado de mtDNA – é transmitido apenas pelas mulheres, já que a mitocôndria do esperma masculino não sobrevive à fertilização.
Logo, além de evidência arqueológica, lingüística e de correlações arquitetônicas, as descobertas genéticas também podem ser usadas para apoiar a teoria de migração pelo Pacífico. Do ponto de vista da genética opulacional, os investigadores dos mistérios da Ilha de Páscoa concluíram que houve certas mutações de DNA em polinésios, micronésios e sul-asiáticos, puxando para as Américas, mas que isto não se deu em qualquer outro lugar. Tal fato acaba por corroborar a evidência arqueológica e lingüística de ligação entre asiáticos e polinésios. O trabalho adicional de John Clegg e Erika Hegelberg nesta questão da relação do DNA mitocondrial de populações atuais e restos de esqueletos do Pacífico, tem ajudado a delinear a rota de migração de viajantes protochineses e protopolinésios. J. J. HURTAK, Ph.D., e DESIREE HURTAK, M.Sc, são renomados cientistas e conferencistas internacionais, dirigentes da The Academy For Future Science, dos Estados Unidos. J. J. Hurtak é especialista em sensoriamento remoto e autor de O Livro do Conhecimento: As Chaves de Enoch, editado no Brasil pela Academia para Ciência Futura.