Ainda que esta edição de UFO Especial não tenha por finalidade contestar ou confirmar os comentários dos pesquisadores que assinam seus artigos, o incidente envolvendo a Polícia Militar de Minas Gerais na morte de um rapaz, encontrado enforcado numa das celas da cadeia municipal de Varginha, acabou sendo realmente uma explicação preferida pelos habitantes da cidade para o episódio. Por isso, merece ser exposto em detalhes. Em julho de 1996, o administrador dos hospitais Regional e Humanitas, Adílson Usier Leite, concedeu entrevista ao repórter Goulart de Andrade e, após meses negando o movimento de viaturas militares nos hospitais, em 20 de janeiro, resolveu fazer uma intrigante declaração.
“Na ocasião, teve um rapaz da sociedade que, estando numa boate e havendo lá um desfalque no caixa, teria sido acusado como responsável. Levaram-no para a cadeia e, uma hora ou uma hora e meia depois, encontraram-no morto, enforcado. A família achou que fôra a polícia e criou uma polêmica”. Leite disse que foi preciso, tempos depois, fazer a exumação do corpo e que, exatamente nesse dia, era necessário realizar raios-X do cadáver, porque a família achava que o rapaz havia sofrido uma fratura de vértebra. “Aí os legistas pediram se poderiam fazer os raios-X no hospital. Eu disse que sim, desde que colocassem o cadáver num invólucro ou algo assim, pois estava enterrado há vários dias e cheirava mal”. Segundo Leite, eles o colocaram num saco, mas como o mesmo não teria cabido no rabecão, acabaram trazendo-o em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros, que foi seguido por viaturas da Polícia Militar e da Polícia Civil, em cortejo.
“Foi naqueles dias” — Naturalmente, muitas pessoas acompanharam as manobras. “Vieram várias pessoas para cá [Hospital Regional] e para o IML, que fica nos fundos do hospital, e elas tiveram que passar pela cidade. Então, acredito que o povo viu esse cortejo, assim como muita gente aqui no hospital, e deve ter pensado algo”. O fato teria se dado às 22h00 ou 23h00, mas não dia 20 de janeiro. “Foi naqueles dias”, finalizou Leite. Mas sua versão não se sustenta, pois a exumação, que de fato ocorreu, deu-se em 30 de janeiro de 1996, dez dias após os principais acontecimentos do Caso Varginha. É público e notório que os comentários sobre o episódio iniciaram logo no próprio dia 20, começando a ganhar maior repercussão já na segunda-feira, 22.
A exumação do corpo do rapaz, preso numa boate sob a alegação de que se apoderara de uma quantia em dinheiro – cujas iniciais são J. M. M. F. –, foi um dos eventos paralelos escolhidos às pressas para coincidirem com muitos aspectos do Caso Varginha, mormente a justificativa de uma movimentação excessiva antes negada e repentinamente admitida com a consciência de que não mais seria possível escondê-la – e não ao contrário. A hipótese de que o caso foi algo estimulado ou mesmo inventado para encobrir o incidente da morte não se sustenta por simples questão cronológica. Mesmo que se considere que o brasileiro tenha memória curta, como se diz, é fato que, desde o dia 20 de janeiro, até por volta do final da manhã de 22, muito se comentava na cidade sobre a estranha movimentação e até a interdição de algumas alas do Hospital Regional e, depois, do Humanitas.
Veículos de comunicação do sul de Minas Gerais já noticiavam as manobras. Mas, no entanto, o administrador dos hospitais iniciava suas alegações por afirmar que a incomum presença de policiais, militares e viaturas na realidade fora devida à exumação de corpo, o que só ocorreria no dia 30 de janeiro. Quando o repórter Goulart de Andrade perguntou a Leite se aquele movimento diferente se dera entre os dias 20 e 21, o entrevistado insistiu que a movimentação fora devida à exumação e não titubeou: “Foi exatamente naquele dia”. Minutos depois demonstrou dúvida sobre a data, afirmando que não se tratava do dia 20, mas que fora “nesses dias”. Isso deixaria qualquer um à vontade para achar no mínimo curioso que Leite fizesse questão de atrelar a inusitada movimentação à necropsia empreendida no cadáver. Ora, bastaria que o diretor continuasse negando tal movimentação, que teoricamente nada teria a ver com o que pessoas diziam ser “o tal extraterrestre”, segundo suas palavras.
Contradições absurdas — Mais absurdas do que a contradição da data foram as outras assertivas do entrevistado, tais como dizer que o movimento deveu-se à presença de vários legistas, das polícias Militar e Civil e o cortejo. Pois que não houve, quando da exumação comentada, nenhum cortejo. A advogada contratada pela família do morto, doutora Elizete Carvalho, que presenciou a exumação e os exames desde os primeiros atos, afirma que não ocorreu qualquer aglomeração no hospital. O Auto de Exumação, datado de 30 de janeiro de 1996, registra a presença de apenas dois legistas da vizinha cidade de Alfenas, de um tenente da Polícia Militar, do delegado adido à Corregedoria Geral de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, de outro advogado também constituído pela família e de um assistente jurídico da Polícia Militar. Somente.
A viatura do Corpo de Bombeiros, chamada para envolver o corpo em um invólucro apropriado, não foi até o Hospital Regional para as radiografias. O outro advogado, doutor Antonio Chalfun, informou que do cortejo fizeram parte apenas o automóvel de sua colega, em que ele também foi, um carro da Polícia Militar, outro da Polícia Civil e o rabecão, assim conhecido o veículo de transporte do Instituto Médico Legal, em que o corpo foi conduzido. Também é importante observar que Adílson Usier Leite deu sua primeira resposta afirmando que logo “…quando começou a polêmica na mídia, disseram que tinha vindo para cá uma criatura”. Isso, indubitavelmente, coloca o fato escolhido para a explicação a exumação, passados oito dias, como irrelevante. Ainda que fosse pouco provável a hipótese, Leite não admitiu que viaturas do Exército teriam feito parte da movimentação no Regional, a não ser carros da polícia, por ocasião da exumação.
Já por parte da Escola de Sargentos das Armas (ESA) sempre houve negativa pura e simples de participação nos episódios, quer de seus componentes, quer de seu material e veículos. De repente, depara-se com a inusitada declaração de Leite, que tenta justificar com absurdos o que se afirma ser absurdo. Não bastasse o que já fôra apontado, volta à tona o que disse o próprio comandante do Corpo de Bombeiros, que permite a afirmação de que tais contradições não se trataram de meros enganos das instituições que a tudo negaram, mas de uma evidente tentativa de afastar do conhecimento público algo extraordinário.
O capit
ão Pedro Alvarenga declarou à repórter Danielle Naves de Oliveira, da Revista UFO que “o fato complicou porque no dia que falaram dessa captura houve a exumação de um cadáver na cidade e a família da vítima acha que a própria polícia matou o rapaz”. Novamente, eis o capitão afirmando que a exumação ocorrera no dia 20 de janeiro. Não foram os ufólogos que afirmaram a inverdade contida na razão oferecida pelo administrador Adílson Usier Leite para a movimentação militar no Hospital Regional – foi o próprio comandante da guarnição. “A unidade dos bombeiros de Três Corações tem mais contato com o Exército. Portanto, ela poderia ter sido acionada para alguma operação de instrução com a ESA ou feito o transporte dessa vítima”, disse o comandante.