Entre os dias 04 e 05 de fevereiro a Universidade da Califórnia em Los Angeles hospedou o evento The Present-Day Habitability of Mars [A Habitabilidade Atual de Marte], onde foram discutidas novas evidências que apontam para o fato de ser possível a vida existir no planeta nos dias de hoje.
A maioria dos cientistas defende que há bilhões de anos, quando era mais quente e possuía água líquida na superfície, Marte pode ter abrigado vida. No evento a discussão girou em torno de pesquisas realizadas na Antártida e no Deserto do Atacama, no Chile, que demontraram que micróbios podem viver em ambientes extremamente frios e secos.
Alfred McEwen, principal investigador da câmera HiRise utilizada pela nave Mars REconnaissance Orbiter da NASA, destacou a descoberta de locais em Marte onde água líquida pode estar fluindo atualmente: “Certamente não podemos descartar a possibilidade de ser habitável hoje”. O instrumento flagrou 16 locais em Marte, a maioria encostas íngrimes do imenso cânion Valles Marineris, onde sazonalmente são vistos padrões aparentemente formados por fluxos de água corrente, na primavera e verão marcianos.
Muitos opinam que água salgada pode ser a responsável pelas formações, e o líquido pode ter origem subterrânea. Contudo, alguns defendem que outra explicação pode ser um fenômeno chamado deliquescência, na qual a umidade presente na atmosfera é retida por compostos no solo e liquefeita. O assunto é de grande interesse para os astrobiólogos, que gostariam de saber mais a respeito dessas salmouras, que podem ser habitáveis por microorganismos.
A vida marciana pode até não necessitar de água corrente, de acordo com alguns cientistas presentes. Na Antártida e no Atacama micróbios terrestres têm prosperado, de acordo com Chris MacKey do Centro de Pesquisas Ames da NASA. A Antártida também é atingida por incrementos da radiação ultravioleta do Sol devido ao buraco na camada de ozônio que ocorre de agosto a novembro, semelhante a situação em Marte com sua fina atmosfera e a falta de um campo magnético.
McKay salienta que nos vales secos da Antártida micróbios vivem dentro de rochas, profundo o suficiente para serem protegidos da radiação, mas ainda podendo se beneficiar da luz do Sol para a fotossíntese. Os cientistas concordam que algo similar pode acontecer hoje em Marte. E no Atacama o processo já mencionado da deliquescência permite a formação de água salgada que suporta uma variedade de microorganismos. McKay aconselhou a equipe do rover Curiosity a prestar atenção a formação de água salgada em seu caminho.
Outro assunto foi o perclorato, composto de cloro que a sonda Phoenix da NASA encontrou no pólo norte marciano em 2008. Mckey e outros pesquisadores consideram essa substância a razão pela qual as duas sondas Viking da NASA, que pousaram no planeta em 1976, não detectaram compostos orgânicos. As Viking vaporizavam amostras do solo e usavam seus sensores para tentar detectar esses elementos. Nada encontraram, e compostos com cloro foram atribuídos a contaminação levada da Terra.
Após a descoberta da Phoenix, McKay e outros pesquisadores realizaram um experimento, adicionando perclorato a amostras do solo de desertos chilenos onde sabiam existir orgânicos. Aquecendo as amostras eles detectaram os mesmos compostos de cloro que as Viking encontraram, sugerindo que tais elementos estavam presentes nas amostras marcianas mas foram destruídos pelo calor e pelo perclorato.
Esse composto igualmente pode ser fundamental para a habitabilidade atual de Marte, pois é uma potente fonte de energia quimio-autotrófica. Tal como alguns micróbios terrestres que consomem perclorato, seres unicelulares marcianos podem ser sustentados pela substância.
Página oficial da conferência com fotos e vídeos
Imagens da busca pela vida em Marte
Vídeo sobre a missão do Curiosity
Saiba mais:
Livro: Dossiê Cometa