A internet mudou a vida das pessoas definitivamente. E a cada dia impõe novas mudanças em nosso cotidiano, para adequarmos de forma mais integral nossas rotinas ao novo formato virtual e globalizado que a existência humana adquiriu. Hoje, com a extrema difusão da rede e as facilidades para se ter acesso a ela, muito poucas coisas de nossas vidas permanecem inalteradas. A Ufologia é uma atividade que sofreu uma das transformações mais radicais. Mas isso é bom ou ruim?
Em parte, a introdução e ampla adoção da internet como meio de comunicação na Ufologia tem resultados excelentes, visto que congrega instantaneamente um maior número de estudiosos do assunto em tempo real. Eles podem trocar informações com velocidade e qualidade, planejar atividades, debater temas etc. Mas, por outro lado, a internet trouxe uma mudança nas características básicas que sempre regeram a Ufologia, especialmente no que diz respeito ao perfil de seus integrantes.
Até o surgimento da rede mundial, eram considerados ufólogos aqueles que, além de um cuidadoso e aprofundado conhecimento teórico dos mais variados aspectos do Fenômeno UFO, também se dedicavam a conhecer suas entranhas na prática. Eram considerados ufólogos aqueles que tivessem tido o trabalho de colocar cadernos, lápis, gravadores, máquinas fotográficas etc debaixo do braço, arregaçado as mangas e partido para as importantes investigações de campo. “Importantes e imprescindíveis para se formar a bagagem do investigador”, ressalta o co-editor de UFO, o engenheiro elétrico Claudeir Covo, um adepto de tais práticas, assim como a maioria dos ufólogos da geração anterior à internet. Hoje em dia, no entanto, passaram a ser considerados ufólogos pessoas que, sem se preocuparem com detalhes técnicos e práticos do fenômeno ufológico, gastam suas horas fazendo “investigações” exclusivamente através da rede, o que não passa de mera garimpagem de informações. Muitas vezes, são jovens dedicados e profundos conhecedores de informática que, com interesse acima da média por Ufologia, montam suas páginas, ilustram brilhantemente seus sites e reproduzem material sobre o assunto. Até ai tudo bem, isso é normal e benéfico para a Ufologia.
Recursos Humanos — Mas com o passar dos anos e o ingresso de novas levas de jovens no mundo virtual da Ufologia, aqueles descritos no parágrafo anterior, que chegaram há mais tempo, mas que não passam de entusiastas e divulgadores cibernéticos do assunto, começaram a ser vistos como ufólogos e, sua atividade, como legítima Ufologia. Isso é errado. E não se trata de tentar proteger o patrimônio ou os recursos humanos da Ufologia Brasileira, ou de demarcar território dos veteranos, como muitos novatos suspeitam. Trata-se, isso sim, de colocar as coisas em seu devido eixo.
Se as gerações mais recentes de ufólogos virtuais, que dão reconhecida contribuição à Ufologia com suas páginas e atividades na internet, tivessem também conhecimento mais aprofundado do tema – o que implica necessariamente nas investigações de campo – , estariam verdadeiramente mudando para melhor esta disciplina. A contribuição que passariam a dar à Ufologia seria consideravelmente mais importante e eficaz. Mas isso não ocorre com a esmagadora maioria desses “ufófilos”, como são denominados pelo consultor de UFO Eustáquio Patounas, sem qualquer conotação pejorativa.
E não ocorre porque a comodidade da internet, muitas vezes acessada nas madrugadas e finais de semana, não facilita. “Por que ir a campo, viajar centenas de quilômetros, enfrentar calor e poeira, e caminhar longos trechos para conversar com testemunhas, se o que elas podem nos dizer está descrito em casos já veiculados pela rede?”, sintetiza Alessandro Meirelles, um ufófilo mineiro.
Esse é o pensamento que vigora, e não necessariamente por preguiça das novas gerações, mas por comodidade e senso de praticidade – conceitos que as gerações de ufólogos anteriores, que viviam num mundo diferente do atual, viam de forma diferente. E estes, de uma forma ou de outra, negligenciaram ao não transmitirem tais conceitos aos mais jovens. Assim, com a Ufologia se superficializando enquanto se solidifica ao redor de computadores, teclados e mouses, vemos uma oportunidade de ouro ser desperdiçada na direção de um melhor aproveitamento da rica casuística ufológica.