Todos os que assistiram ao filme Independence Day [1996], dirigido pelo alemão Rolland Emmerich, devem estar lembrados da chegada do avião presidencial Air Force One à Área 51, após o maciço ataque dos alienígenas invasores contra as maiores capitais do planeta. Infelizmente, o que poderia ter rendido uma excelente produção – a exemplo das cenas no deserto, em que pilotos árabes e israelenses se perfilam lado a lado –, deu lugar a uma das mais infelizes “patriotadas” do cinema, com os norte-americanos liderados pelo piloto-presidente como sempre salvando o mundo. Entre os destaques negativos está a inacreditável pergunta do presidente diante dos três cadáveres alienígenas conservados na Área 51: “Eles podem ser mortos?” Tal pérola de boçalidade nos põem a pensar qual seria a opinião que um alienígena de verdade teria de nós, assistindo a esse filme.
Hangar 18 [1980], dirigido por James L. Conway, foi uma das primeiras produções de Hollywood a tratar de discos voadores acidentados, ou os “discos de porão”, como os norte-americanos chamam esse gênero. O filme mostra uma missão espacial que termina prematura e tragicamente e, quando retornam, os dois astronautas sobreviventes são afastados rapidamente das operações, de modo a se impedir que prestem qualquer informação sobre o caso. Paralelamente, uma nave alienígena é encontrada no deserto e enviada ao hangar que dá título ao filme, baseado em um verdadeiro – e de idênticas funções – que outrora existiu na Base Aérea de Wright-Patterson, em Dayton, estado de Ohio. Tem início então um jogo de gato e rato, com os dois astronautas buscando obcecadamente a verdade. Um deles chega ao Hangar 18, onde cientistas fazem descobertas impressionantes acerca dos visitantes. Entretanto, a política de segurança nacional e os interesses eleitoreiros em jogo colocam a verdade para escanteio.
Uma “tal” Área 52 — A indústria de boatos da Ufologia já inventou até uma tal de Área 52. Mas, para desapontamento dos “conspiranóicos de plantão”, até o momento essa é apenas uma designação temporária que o Pentágono deu ao Comando Stargate, situado dentro da Montanha Cheyenne, no fabuloso seriado Stargate SG-1 [1997]. Nesta série, já na décima temporada, sendo portanto a mais longa produção de ficção científica feita para TV até hoje, a Área 51 surgiu logo no segundo período de exibição – cujo lançamento em DVD os fãs brasileiros ainda aguardam ansiosamente – como uma instalação militar para onde são enviados todos os artefatos que as equipes SG recolhem em suas missões extraterrestres. O estudo dessa tecnologia alienígena redundou na fabricação do caça F-302 e da nave Prometheus, mostrados na sexta temporada da série, e mais recentemente nas naves Daedalus e Olympus.
Quem se interessa por videogames poderá achar interessante o jogo Área 51. Na história de pano de fundo, um vírus sai do controle na base secreta e uma equipe militar é enviada para averiguar. Descobre-se que uma colônia alienígena se estabeleceu nas instalações e a tarefa do jogador é erradicá-la. Da história fazem parte também o incidente em Roswell, autópsias de alienígenas e a lenda de que a alunissagem da Apollo 11 foi uma fraude. O jogador dispõe de vários tipos de armas e as criaturas foram desenvolvidas pelos mesmos especialistas que trabalharam nos filmes Alien, o 8º Passageiro [1979], Jurassic Park [1993] e Predador [1987]. O ator David Duchovny, que interpretou o agente especial do FBI Fox Mulder no seriado Arquivo X, dubla um dos personagens. O estúdio Paramount está desenvolvendo um filme baseado no jogo. E por falar em Arquivo X, essa foi, sem dúvida, a produção que melhor explorou a suposta conspiração ufológica, e a Área 51 não poderia deixar de integrar a sua mitologia. No episódio em duas partes intitulado Dreamland, da sexta temporada, foi mostrada a história de Morris Fletcher, um autêntico “homem de preto” – MIB – que deseja apenas levar uma vida normal. Para tanto, ele troca de corpo com o agente Mulder, aproveitando-se do mau funcionamento de uma aeronave experimental.
Dreamland se destaca mais pelas situações insólitas e humorísticas do que pela conspiração em si. Mas o melhor episódio de Arquivo X envolvendo uma instalação secreta do Governo norte-americano é sem dúvida A Verdade Está Lá Fora, a segunda edição do primeiro ano da série. Nela, Mulder e Scully se deslocam para o estado do Idaho a fim de investigar desaparecimentos de pilotos de provas. O local fica próximo à fictícia Base Aérea de Ellens, que nem aparece nos mapas. Para sua sempre cética parceira, Mulder diz que desde os anos 60 houve seis casos de pilotos desaparecidos que não teriam suportado o estresse por comandarem aeronaves com tecnologias de UFOs. Vale lembrar que no episódio também se comete um engano, infelizmente bastante comum, em se considerar os UFOs como sendo sinônimos de naves extraterrestres.
Bar ufológico — Durante a investigação, os agentes encontram no sugestivo bar denominado Disco Voador a foto de uma nave triangular que, segundo Mulder, é idêntica a que caiu em Roswell. O bar, sem dúvida, foi inspirado no lendário Little A’le’Inn, um estabelecimento real que combina bar, restaurante, loja de souvenir e museu ufológico, situado na pequena Rachel, no estado do Nevada, há menos de 50 km da Área 51. Nos arredores do Disco Voador se mostra até uma placa indicando “área restrita”, similar às que existem aos montes na borda da Área 51. A Base Aérea de Ellens, na história, seria a que recebeu os destroços da nave, que teria demandado 50 anos de trabalho até que se conseguisse duplicar a tecnologia. O episódio, como quase todos os que se seguiriam, termina sem respostas, com Mulder sendo capturado e tendo sua memória apagada pelos militares, logo após ter visto um objeto triangular que chega a pairar silenciosamente sobre sua cabeça.
A Verdade Está Lá Fora é cultuado entre os fãs por mostrar a primeira aparição do informante que recebeu o apelido de Garganta Profunda e sua antológica conversa com Mulder, que encerra o episódio. Já em Taken [2002], magistral obra de Steven Spielberg, a nave de Roswell vai parar na base do Lago Groom. Não se faz referência direta à Área 51, mas o local é o mesmo, onde ocorrem todas as experi&e
circ;ncias dos militares para desvendar a tecnologia alienígena. Na segunda metade da minissérie, já no começo dos anos 80, o programa é transferido do Lago Groom para uma instalação bem mais discreta, no Maine. O personagem Eric Crawford, diante dos discófilos que já nessa altura apareciam ao redor da antiga instalação, chega a ironizar a Área 51, dizendo que as instalações secretas do Lago Groom passariam a servir para distraí-los.
Saindo da ficção, vale comentar o excepcional documentário Dreamland, exibido há alguns anos no Brasil pelo canal por assinatura GNT [Legendado e lançado no Brasil pela Videoteca UFO, com o nome Revelando Segredos da Área 51. Veja código DVD-012 da seção Shopping UFO do Portal UFO – ufo.com.br]. Sem dúvida, a produção inglesa exibiu fatos interessantes e instigantes a respeito dos mistérios que ainda rondam a Área 51.
Quase nada se sabe do que ali acontece, e os únicos fatos concretos são a grande quantidade de trabalhadores que para lá se deslocam todos os dias, denúncias de negligência quanto ao contato dos mesmos com materiais tóxicos e que o local é utilizado para vôos de teste de aeronaves espiãs, como foi no passado com o U-2 e o SR-71 Black Bird, além de aeronaves estrangeiras capturadas. Quanto às naves extraterrestres, como quase tudo em Ufologia, há muitas evidências, mas, infelizmente, nenhuma prova concreta. Cabe aqui mencionar a narração de um dos primeiros episódios de Taken, feita pela excepcional atriz mirim Dakota Fanning, que interpreta Allie Keys na minissérie. Ela talvez possa nos dar pistas a respeito do que esteja acontecendo no Deserto do Nevada, quando diz que “…se não se pode entender nem controlar o extraordinário, transforme-o em algo em que se pode atirar com uma pistola de brinquedo”. Ou com o teclado de um computador.