1973 Bastou que as previsões indicassem o Kohoutek, que apareceria em grande estilo no Natal de 1973, como o “cometa do século”, para que surgissem místicos em profusão convencidos de que tal astro era o sinal da vinda do Messias. A seita Meninos de Deus, criada em 1969, nos Estados Unidos, pelo pastor evangélico David Berg, também conhecido por Moses [Moisés] David ou Padre Mo, imprimiu um panfleto anunciando o fim do mundo para o dia 31 de janeiro de 1974. A aparição do Kohoutek, como a do Halley em 1986, resultou em estrondoso fiasco, mas ainda houve quem a correlacionasse à renúncia do presidente Richard Nixon. Afora a doutrina apocalíptica, os Meninos de Deus absorveram muitos dos elementos do movimento hippie e da contracultura: odiavam o sistema e conferiam uma grande importância ao sexo, encarado como uma dádiva de Deus e um caminho para a iluminação. Em 1972 começaram a enfrentar problemas com a Justiça norte-americana e mergulharam na total clandestinidade na maioria dos países ocidentais em que atuavam, devido às insistentes denúncias de corrupção de menores, abusos sexuais e prostituição.
1978 O caso mais marcante de suicídio coletivo associado ao fanatismo religioso foi o do pastor norte-americano Jim Jones, fundador da seita Templo do Povo. Na noite de 18 de novembro de 1978, em Jonestown, uma aldeia no meio da selva da Guiana, 913 pessoas – entre elas 275 crianças e 12 bebês – morreram ao ingerir uma mistura de suco de laranja com cianureto. Os que se recusaram foram sumariamente assassinados. Jim Jones, que durante oito meses, entre 1962 e 1963, residira em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, mudou-se com seus adeptos para a Guiana em 1977, apoiado pelo próprio governo local. O cadáver do guru foi encontrado ao pé de uma cadeira, com uma bala no crânio.
O movimento Identidade Cristã acreditava que os cristãos enfrentariam violenta perseguição antes da volta de Jesus. “Eles querem enfrentar à bala a besta da Revelação, combater o verdadeiro mal com suas Uzis”, alertou Charles B. Strozier, psicanalista e professor de história da City University de Nova York.
1987 Em 29 de agosto, corpos de 32 pessoas, asfixiadas após tomarem veneno, são encontrados em uma fábrica em Yonging, à 20 km de Seul, Coréia do Sul. Entre os mortos estava a fundadora da seita, Park Soon Ja, de 48 anos.
1990 Em 1990, milhares de seguidores de Elizabeth Clare Prophet, uma guru da Nova Era, venderam seus bens e se mudaram para abrigos antibombas em Montana, preparando-se para o Armageddon.
1991 Em 13 de dezembro, 30 pessoas, a maioria crianças, se suicidaram ingerindo álcool industrial em uma casa de Tijuana, no México, por ordem do reverendo Ramón Morales, líder da seita Templo do Meio-Dia.
1993 Em outubro, 54 habitantes de uma vila no interior do Vietnã cometeram suicídio coletivo usando armas de fabricação caseira. O responsável pelo desatino foi Cam Vam Lien, um vidente cego que recebeu vultosas somas em troca da promessa de um caminho rápido para o céu. Em novembro, Marina Tsvygun, líder da Grande Irmandade Branca, ordenou a centenas de seguidores que se reunissem na capital da Ucrânia, Kiev, para aguardar o fim do mundo. Como nada ocorreu, os fiéis detonaram um quebra-quebra na cidade e cerca de 500 pessoas foram presas.
A seita Family Radio, comandada por Harold Camping, um pastor da Califórnia, Estados Unidos, enviou ao Brasil 50 discípulos que se hospedaram no Othon Palace Hotel, em São Paulo. Passaram 100 dias no Brasil vendendo a obra 1994, um calhamaço de 556 páginas. Lê-se à página 524 que a vinda de Cristo à Terra já teria sido anunciada em 1994, “no primeiro dia do sétimo mês”.
1994 A Ordem do Templo Solar, fundada pelo médico suíço Luc Jouret – que se dizia o “Novo Cristo” e pregava que o fim do mundo estava próximo – levou 48 pessoas à morte em 05 de outubro de 1994: 23 em uma fazenda em Cheiry, no Cantão de Friburgo, e 25 em dois chalés em Granger-sur-Salvan, no Cantão do Valais. O segundo ato da tragédia aconteceria no ano seguinte, dois dias depois do solstício de inverno, em 23 de dezembro: 16 corpos – 14 homens, uma mulher e uma criança – foram encontrados encapuzados com sacos plásticos, baleados e carbonizados, dispostos em forma de estrela na clareira de um bosque numa das regiões mais majestosas dos Alpes franceses, o Vercors. Em 22 de março de 1997, pouco antes do suicídio dos membros da Heaven’s Gate, cinco integrantes foram encontrados queimados em uma casa na cidade de St. Casimir, 60 km ao sul de Quebec, Canadá. Ao se incendiarem ritualisticamente, embebendo os corpos com gasolina, os fiéis acreditavam que o fogo os estava purificando, numa invocação ao Sol, e que assim viajariam para a estrela Sírius e lá teriam uma vida bem-aventurada.
1995 Em março, membros da seita japonesa Aum Shinrikyo [Ensino da Verdade Suprema], fundada por Shoko Asahara em 1984, sob o nome de Associação dos Eremitas Legendários com Poderes Miraculosos, provocaram um atentado com gás sarin no metrô de Tóquio, matando 12 pessoas e ferindo cerca de cinco mil. A polícia descobriu no prédio da seita todos os ingredientes para a fabricação do gás sarin, além de componentes de nitroglicerina, estoques de bactérias do botulismo, instalações para fabricação de armas de guerra e uma máquina de triturar ossos. Indícios apontaram que eles planejavam comprar blindados russos e ogivas nucleares. Asahara, que se considerava a reencarnação de Buda e dizia ser capaz de levitar, chamava Adolf Hitler de profeta e ostentava títulos de “Sua Santidade”, “Venerando Mestre” e “Salvador do Século”. Também vaticinava que o mundo iria acabar em 1997 e somente sobreviveria quem fosse seu seguidor. Para ser aceito, o fiel devia doar todos os seus bens à seita e desembolsar até US$ 10 mil para ter o direito de beber o seu sangue. Já os menos abastados podiam, por US$ 200, tomar alguns goles da água suja do banho do guru. Os seguidores provocavam vômitos para expiar as culpas e 50 deles foram encontrados em estado de coma em conseqüência do jejum de uma semana.
1996 Em maio, o profeta chinês Wu Yangming, que se autoproclamava a derradeira reencarnação de Jesus Cristo e futuro Imperador Sagrado, foi executado com uma bala na nuca depois de ter sido condenad
o por estupro. Um relatório oficial do governo informava que, às mulheres – algumas de apenas 14 anos –, Wu prometia a salvação em troca de sexo. Ao inspecionar a aldeia onde ele se escondia, a polícia encontrou-o na cama com três de suas discípulas.
1998 Em 08 de janeiro, a polícia espanhola conseguiu impedir que 32 membros da seita Centro Holístico Ísis cometessem suicídio coletivamente. As mortes rituais ocorreriam na ilha de Tenerife, Arquipélago das Canárias, a oeste do continente africano. Membros do grupo se matariam junto ao vulcão Teide, inativo. Eles acreditavam que um disco voador pousaria no local para resgatar os cadáveres pouco antes do fim do mundo, previsto por eles para a noite daquele dia.
Em 18 de fevereiro de 1998, dois homens brancos, Larry Wayne Harris e William Leavitt, suspeitos de ligações com grupos de extrema direita, foram presos pelo Birô Federal de Investigações [Federal Bureau of Investigations, FBI] a caminho da cidade de Henderson, Nevada, 20 km ao sul de Las Vegas, oeste dos Estados Unidos, onde, segundo as autoridades, iriam testar armas biológicas fabricadas com a bactéria bacilus anthracis, que provoca uma infecção aguda, o antraz. Harris havia sido condenado em 1995 por ter obtido ilegalmente bactérias da peste bubônica de um laboratório de Rockville, Maryland, subúrbio de Washington. Harris e Leavitt integravam a Nação Ariana, grupo de ideologia neonazista que advogava a supremacia branca. Em 1996, Harris lançou o livro Guerra Bacteriológica: Uma Grave Ameaça para a América do Norte, que vendia em reuniões de grupos políticos conservadores. Supunha-se que ambos tentariam imitar o ataque realizado em 1995, pela seita Aum Shinrikyo, no metrô de Tóquio.
Na manhã de 31 de março de 1998, uma multidão se aglomerou em frente ao número 3.513 da Ridgedale Drive, um subúrbio de Dallas, capital do Texas, na expectativa de que “Deus” desembarcasse de um disco voador, conforme anunciado pelo chinês Heng-Ming Cheng, líder da Igreja da Salvação Divina, de Taiwan. Duas semanas antes, Cheng afixou um cartaz na porta do referido endereço, com os seguintes dizeres: “Todos são bem-vindos para testemunhar a chegada de Deus, no próximo dia 31 de março, às 10h00. Qualquer um poderá fazer perguntas sobre religião, teologia e as sagradas escrituras diretamente a Deus”.
Para provar que seria Ele mesmo, o Criador atravessaria paredes e se multiplicaria em milhares de seres humanos para cumprimentar cada um dos presentes e conversar em qualquer idioma. Na hora aprazada, Cheng simplesmente disse que todos os que ali estavam haviam “virado o próprio Deus”. Ele pediu aos presentes que se abraçassem, dessem as mãos e conversassem, pois assim tocariam e ouviriam a voz de Deus.
O domingo de Páscoa de 1998 ganhou ares de suspense e dramaticidade na Argentina. Um grupo de 40 pessoas permanecia acampado em Uspallata, noroeste do país, à 100 km da fronteira com o Chile, enfrentando o frio e rezando havia 28 dias para a Virgem de Lourdes, enquanto as autoridades aguardavam de sobreaviso. A preocupação vinha de cartas enviadas por integrantes do grupo a seus familiares. Elas continham mensagens do tipo “a virgenzinha vai nos levar a um lugar onde estaremos a salvo, onde nada do que se passa neste mundo chegará a nós” ou “a guerra começou, e Deus dará uma sacudida tremenda neste inferno formado por vivos. As pessoas roubarão cada vez mais, e os alimentos terminarão”. As mensagens sugeriam uma possível tentativa de suicídio coletivo, que não chegou a se consumar. Depois da visita de psicólogos, a maioria deixou o acampamento. A líder do grupo, a cabeleireira Margarita de Beltramo, dizia ter contatos com a “Virgem Maria” e estava convencida de que o fim do mundo ocorreria no dia 12 de abril daquele ano.
A precocidade dos mentores de seitas chegava a surpreender. Em 06 de maio de 1998, a Polícia Civil de Rondonópolis, à 219 km de Cuiabá, Mato Grosso, prendeu R.L.S., um estudante da 8ª série, de apenas 17 anos, conduzindo-o a uma instituição para menores infratores, onde permaneceu por 45 dias. Líder de uma seita que torturava alunos de escolas públicas da cidade, R.L.S. criou o Templo Memorial das Fases em dezembro de 1997, sob a alegação de recuperar viciados em drogas. Conseguiu cooptar cerca de 50 jovens, que deviam desembolsar R$ 15,00 por mês e chamar o jovem de “rei”, “mestre” ou “senhor”. Os que desobedecessem suas ordens eram submetidos a uma série de castigos físicos, entre queimaduras, estupro e atos libidinosos. Os encontros, nos quais se pregava uma mistura de misticismo, umbanda e budismo, ocorriam nos chamados “territórios” – a casa de R.L.S. ou à beira do Rio Vermelho.
1999 Atuando em conjunto, agentes do FBI [Foto acima] e do Serviço Secreto Israelense detiveram no dia 03 de janeiro, perto de Jerusalém, 14 norte-americanos – oito adultos e seis crianças – membros da seita extremista cristã Concerned Christians [Cristãos Preocupados], sediada em Denver, Colorado. No dia seguinte, o governo de Israel expulsou 11 deles. Outros três, John Bayles, Eric Malesic e Terry Smith permaneceram detidos e prestaram depoimentos sobre o paradeiro dos demais integrantes. Segundo uma entidade estadunidense que monitorava as atividades de seitas radicais, cerca de 60 membros do grupo estariam desaparecidos havia vários meses. Objetivando apressar o retorno de Cristo, o grupo planejava ações violentas ou mesmo um suicídio coletivo em Jerusalém. Adepto da tese da reencarnação de Jesus, o guru da seita, Monte Kim Miller, de 44 anos, profetizou que morreria nas ruas de Jerusalém em 1999, o que marcaria o fim do segundo milênio. O Ministério da Segurança Pública israelense dispunha de informações sobre a chegada ao país de diversos integrantes de seitas apocalípticas. Os membros da Concerned Christians teriam entrado em Israel em setembro de 1998. Naquele ano, os serviços secretos israelenses formaram um grupo com a missão especial de prevenir atos de violência de grupos religiosos às vésperas do ano 2000.
Jerusalém, fortaleza natural que se ergue sobre uma elevação rochosa formada por duas colinas, a cerca de 27 km a oeste do Mar Morto, local sagrado para cristãos, judeus e muçulmanos, é indutora de uma doença psiquiátrica que acomete muitos de seus visitantes: a Síndrome de Jerusalém. Desde os anos 70, os sintomas estão catalogados nos livros médicos de Israel. Ao tomar contato com a cidade, uma pessoa sem histórico de desvios psicológicos passa a vestir roupas brancas, orar compulsivamente e querer purificar a si e aos demais. Em casos extremos, desaparece por algumas semanas e reaparece dizen
do ser o Rei David, Elias, Enoc, São João Batista, Jesus ou o novo Messias. Segundo o hospital psiquiátrico de Kfar Shaul, em Jerusalém, cerca de 200 pessoas por ano vinham apresentando esses sintomas. As autoridades israelenses temiam que, com o aumento do número de peregrinos à cidade sagrada, o número de casos da síndrome crescesse na mesma proporção. Em 1999 houve 60 casos, o dobro do registrado em 1998.
A libertação, em 29 de dezembro de 1999, de Fumihiro Joyu, considerado o número dois da seita Aum Shinrikyo, após ter cumprido pena de três anos, e a ocorrência de três incidentes envolvendo trens em locais públicos, criaram um clima de paranóia no Japão no final daquele ano. Na sexta-feira, dia 24, uma bomba pequena explodiu dentro de uma cesta de lixo. No domingo, dia 26, três assentos de um trem que serve ao aeroporto de Narita foram queimados. E na segunda-feira, dia 27, um explosivo foi detonado dentro de um guarda-volumes da estação de Urawa, ao norte de Tóquio. Guarda-volumes acionados por moedas em estações ferroviárias foram fechados. Alto-falantes em estações de metrô recomendavam cuidado aos usuários ao passarem por latas de lixo.
As autoridades japonesas temiam atentados por parte de alguma das 220 mil seitas espalhadas pelo país. Uma delas era a Hono-Hana Sampogyo [Flor da Lei e Terceira Prática Legal], a qual teria chantageado seus seguidores dizendo que eles morreriam de câncer se não seguissem os seus conselhos. Além disso, os líderes da seita cobravam para fazer “diagnósticos” da saúde de seus fiéis, examinando apenas a sola dos pés de quem se dispusesse a isso. Mais de mil pessoas processaram a Hono-Hana Sampogyo por fraude.
Nos últimos dias de 1999, centenas de cristãos fundamentalistas estavam chegando à região de Megido, em Israel, para aguardar a batalha final entre o bem e o mal, que, acreditavam eles, aconteceria à meia-noite do dia 31 de dezembro. Harmagedon, em hebraico, significa Monte Megido. Conforme a Bíblia, esse seria o local onde Jesus Cristo triunfaria sobre seus inimigos na “Guerra do Grande Dia do Deus Todo-Poderoso” [Apocalipse, 16:16].
O professor norte-americano Mark Bottka, alimentando uma certeza assustadora, dizia que o fim dos tempos era iminente: “Aqui em Megido, as forças do bem aniquilarão os demônios e todo o mal. Isso está na Bíblia, basta conferir”. Para o estudante romeno Demeter Zita, todos os que defendiam o mal pereceriam em breve no vale Jezreel [Onde fica a montanha de Megido].
O administrador das escavações arqueológicas de Megido, Ahmed Agbariah, temia que extremistas cristãos tentassem cometer suicídio no local, com pelo menos seis mil anos de história, para “adiantar” a vinda de Cristo à Terra. Não era à toa que a operação executada pelo FBI para monitorar ameaças de violência no mundo inteiro, às vésperas do ano 2000, se chamava Projeto Megido. Cerca de 12 mil policiais ficaram de sobreaviso durante aquele fim de semana, para prevenir atentados que poderiam ser cometidos por fiéis desapontados.