
Em 1854, o renomado pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo Allan Kardec, recebia a visita do senhor Fortier, seu amigo pessoal, que lhe falava sobre os fenômenos impressionantes que vinha presenciando. Os objetos inanimados, como mesas, cadeiras e copos, ao influxo de um magnetizador, se movimentavam de um lado para outro. E mais, “falavam”, por assim dizer, quando indagados sobre alguma questão. A princípio, Kardec mostrou-se cético, não quanto à movimentação dos objetos, mas quanto ao fato deles se expressarem de maneira inteligente, pois, em suas palavras, não possuíam cérebro para pensar.
Foi numa certa noite de maio de 1855, na casa da senhora Plainemaison que, pela primeira vez, assistiria aos fenômenos das chamadas mesas girantes e da escrita mediúnica. Após aquela noite, de posse de seu feeling investigativo, afirmaria ter visto naquelas aparentes futilidades algo de mais profundo, como uma nova lei que resolvera estudar firmemente. O Espiritismo, como afirmaria Kardec, é uma ciência de observação, com profundas conseqüências filosófico-morais. E, como tal, requer daqueles que se declarem espíritas um estudo aprofundado de tudo que lhe seja apresentado como possibilidade de experimentação. Decorrente desse exame podemos dizer que o caráter religioso do Espiritismo é conseqüência das observações científicas e das questões morais e filosóficas que a ele se apresentam. Fatalmente, esse conjunto nos conduz a uma maior aproximação da Inteligência Suprema, a que chamamos Deus – princípio de toda religião.
A ciência espírita e o crivo da razão — Allan Kardec, em 1859, em meio à obra O Que é o Espiritismo [Federação Espírita Brasileira, 1990], definia a doutrina como sendo uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de sua relação com o mundo corporal. Essa é a chamada Ciência Espírita, propriamente dita, que cuida especificamente de tudo o que se refere ao intercâmbio mediúnico entre encarnados e desencarnados, que configura a influência dos espíritos sobre a humanidade. Ao assumir as rédeas da chamada codificação espírita, que consistiu em reunir em livros os ensinamentos dados pela equipe do Espírito Verdade, Kardec implementou determinados procedimentos racionais que lhe permitiram assegurar a legitimidade das comunicações recebidas. Podemos dizer que ele adotou algumas diretrizes principais, no intuito de nortear o seu trabalho e chegar ao fim com uma bom resultado.
Para isso, escolheu colaboradores insuspeitos. E assim, o fez tanto do ponto de vista moral quanto da pureza das faculdades, por entender que a mediunidade em si, como manifestação dos espíritos desencarnados, não dependeria exclusivamente do aspecto moral do médium. Mas esse aspecto certamente definiria – como define – as companhias espirituais vinculadas ao sensitivo, que o estariam influenciando no decurso das mensagens canalizadas e registrando no papel as suas idéias. Kardec fez, então, uma análise rigorosa das comunicações recebidas. Todas elas, independente da assinatura que identificava o espírito comunicante, eram criteriosamente confrontadas com os avanços científicos da época. Tanto assim que em 1863, ao fazer um balanço das comunicações até então recebidas, chegou ao número de 3.600 mensagens, das quais 3.000 tinham moralidade irretocável, mas somente 300 delas foram consideradas dignas de publicação pelo conteúdo apresentado.
O codificador não parou aí, buscou nas mensagens um consenso universal, por assim dizer, de outros médiuns e outros espíritos, externando um mesmo pensamento evoluído. E somente adotou como princípio doutrinário as informações sobre as quais havia obtido um amplo consenso. Assim o fez, repetindo os questionamentos através de correspondências com diversos médiuns, espalhados por toda a Europa, que jamais tinham entrado em contato entre si. Fez um rigoroso controle dos espíritos comunicantes e de suas mensagens. Não se deixou iludir pelos nomes famosos que as subscreviam, mas verificava, essencialmente, o teor intrínseco das comunicações, ou seja, se o conteúdo era digno de crédito para divulgá-lo. Tais critérios, elaborados de modo científico, ditaram a tônica de seu trabalho. Constantemente, Kardec afirmava que os espíritos, desde o mais simples até o maior, tinham sido para ele meios de informação, e não os reveladores predestinados da verdade oculta.
Hoje, esses critérios racionais, adotados de modo científico, são aplicados nas instituições espíritas, com o fim de não se aceitar comunicações pseudo-sábias, absurdos espirituais ou frutos de crenças infundadas do médium, mensagens destituídas de lógica, de bom senso e de racionalidade. Os registros de médiuns imprevidentes, que se deixam dominar por forças espirituais inferiores, são rejeitados quando se encontram em confronto com os postulados espíritas. E não é incomum que tal procedimento seletivo faça aflorar no médium alguns melindres, como a vaidade ferida pela indignação de ter sua mensagem rejeitada ao crivo do método kardecista. Como registrara Erasto, “melhor rejeitar dez verdades do que aceitar uma só mentira”. É que a verdade firma-se por si só, a qualquer tempo, mas a mentira derruba o divulgador e lança sua obra ao ridículo. Mesmo que aflore no médium os amuos da vaidade, para dar crédito aos seus registros é preciso usar o crivo de Kardec.
Espiritismo e avanços científicos — Os espíritos superiores, em suas várias áreas de atuação, costumam agir em todos os campos do conhecimento humano. Tanto nas reuniões mediúnicas sinceras, como nos laboratórios científicos, o intercâmbio mediúnico não se restringe às manifestações ostensivas, mas se estende à mediunidade intuitiva, através da qual, diariamente, os espíritos nos sopram as suas idéias, intuindo-nos para as mais variadas finalidades da vida, conforme nos mostra O Livro dos Espíritos [Federação Espírita Brasileira, 1990]. Por isso, é preciso estudar detidamente as manifestações psíquicas, conforme prática regular nas instituições espíritas, ao rigor de cursos preparatórios e do desenvolvimento mediúnico com duração de alguns anos, tudo absolutamente gratuito e sob magistério eficaz de pessoas treinadas. No Espiritismo, o estudo deve sempre nortear as ações.
De fato, é imprescindível recordar aqui o pensamento de Kardec, que sob orientação dos espíritos superiores submeteu os princípios fundamentais do Espiritismo aos avanços que a ciência viesse efetivar através dos tempos. Estabeleceu no livro A Gênese [Federação Espírita Brasileira, 1990], no capítulo I, item 55, a seguinte diretriz doutrinária: “
O Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”. Isso significa dizer que além da ciência espírita, propriamente dita, pertinente aos fenômenos mediúnicos, o Espiritismo submete-se ao progresso que o mundo, lenta e gradualmente, venha a alcançar através da ciência acadêmica. Os espíritos a usaram para doutrinar, porque tinham de falar das coisas terrenas. Mas se a ciência terrestre muda, a doutrina relativa a ela também muda, porque o Espiritismo avança conforme os achados científicos. Se a astronomia, na época da codificação, considerava os anéis de Saturno como matéria sólida, mas hoje, com as novas técnicas de observação, os considera de modo diferente, o Espiritismo acompanha aquela informação e se rejuvenesce com ela, conforme a diretriz dada pelos espíritos codificadores a Kardec.
As primeiras provas científicas — É que a Doutrina Espírita nos conduz à fé raciocinada, aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, conforme registrou Kardec nas obras da codificação. Sem dúvida, o Espiritismo veio lançar novas luzes sobre uma série de questões, antes obscuras ou mal compreendidas, e contou, para isso, com o trabalho eficaz de renomados cientistas, que depois de exaustivas pesquisas vieram a público para dar seus testemunhos de crédito aos princípios espíritas, em razão do resultado de seus trabalhos. William Crookes foi considerado um dos mais importantes físicos do século XIX – proeminência alcançada também na química. Em 1863, foi eleito membro da Royal Society. Em 1897, foi nomeado cavaleiro pela rainha Vitória e, em seguida, presidente das instituições Royal Society, Chemical Society, Institution of Electrical Engineers, British Association e Society for Psychical Research. Nas pesquisas científicas, Crookes foi o descobridor do tálio, elemento químico de número atômico 81, e inventor do tubo de raios catódicos, conhecido como Tubo de Crookes.
Quando passou a interessar-se pelos fenômenos mediúnicos, houve uma grande expectativa em torno de sua decisão, pois se tratava de um cientista bastante reconhecido no meio acadêmico – razão pela qual seu veredicto seria efetivamente considerado como uma sentença quase inapelável sobre o chamado “espiritualismo”. Esperava-se, enfim, a total desmoralização dos fenômenos ditos mediúnicos. Entre os anos de 1869 e 1875, Crookes promoveu diversas investigações com os mais variados médiuns, dentre os quais destacamos as experiências feitas com a mediunidade da senhorita Florence Cook, que desde tenra idade afirmava ver os espíritos e ouvir suas vozes.
Em 1871, aos 15 anos, a mediunidade de Florence começou a possibilitar materializações de corpo inteiro do espírito Katie King, cujo nome tido em sua última encarnação era Annie Owen Morgan. Em dezembro de 1873, a menina foi à residência de Crookes, afirmando estar disposta a submeter-se a todos os rigores científicos que ele lhe desejasse impor, a fim de que pudesse comprovar ou não a realidade dos fenômenos mediúnicos, produzidos por seu intermédio. Propunha-lhe que, caso descobrisse ser ela uma mera impostora, a denunciasse publicamente. Do contrário, se concluísse pela autenticidade de suas faculdades, que revelasse isso ao mundo, para que todos tomassem conhecimento dos fatos. Foram reuniões memoráveis para a humanidade, durante as quais o espírito Katie King se materializou plenamente, enquanto Florence, a médium, permanecia deitada, em pleno torpor e à vista de todos. Durante as reuniões, sob os olhares céticos e atentos dos presentes, pedaços de seu vestido, bem como mechas de seus cabelos, eram cortados, ao que, em seguida, eram recompostos ao comando mental da própria Katie, ao passo que os pedaços retirados eram distribuídos para os espectadores, desvanecendo-se em suas mãos.
A comprovação da ciência — Mais impressionante foi o momento em que o conceituado cientista percebeu um batimento cardíaco no espírito materializado de Katie King, em torno de 75 pulsações por minuto. Então fez o mesmo com Florence, verificando que com ela alcançava 90 pulsações por minuto. As testemunhas foram várias. No decorrer das sessões, inúmeras fotografias tiradas comprovaram as enigmáticas materializações do espírito. Finalmente, após três anos produzindo os fenômenos físicos, em 21 de maio de 1874, Katie se despediu de todos, dando por encerrada sua missão. Ao final das experiências, Crookes declarou: “Eu não digo que isto seja possível, afirmo que isso é uma verdade!” Como no início prometera a Florence, ele reuniu inúmeras provas, escreveu livros sobre suas experiências e deu comprovação científica à imortalidade da alma, atestando, com o peso de seu prestígio, que os espíritos existem e se comunicam conosco das mais variadas formas, desde um simples toque inspirado até um efeito ostensivo de materialização.
A partir de 1976, o doutor Raymond Moody Júnior, médico e filósofo de formação protestante, passou a estudar mais de 1.000 relatos de pessoas que, por algum motivo, foram acometidas por parada cardíaca, resultando em morte clínica. Durante aqueles momentos de suspensão das forças físicas, as pessoas, na maioria das vezes céticas, passaram a vivenciar momentos de uma realidade extrafísica, com a qual jamais esperavam se defrontar, passando a relatar a existência de cidades espirituais, além de reencontros com entes queridos já desencarnados. Então o doutor Moody estabeleceu determinados parâmetros de observação, percebeu que as sensações se equivaliam em larga escala. É o que se convencionou chamar de experiência de quase morte (EQM), que ele publicou em dois livros: Vida Depois da Vida [Nórdica, 1976] e Luz do Além [Nórdica, 1988]. Sem dúvida, tais ocorrências corroboram ainda mais para mostrar a sobrevivência da alma.
A partir de 1959, o pesquisador russo Friedrich Jürgenson, estabelecido na Suécia, gravava o canto dos pássaros num belo dia de verão, quando, em seguida, ao voltar a fita, percebeu que havia algo mais do que o canto dos pássaros. Tratava-se de vozes que surgiam em diversos idiomas, identificadas depois como de pessoas mortas. Passou a captar, também, as vozes de parentes e amigos já desencarnados, que lhe deram informações precisas de quando estavam na Terra. Depois dele, foi a vez de Konstantin Raudive, filósofo e psicólogo letão que, a partir de 1965, passou a pesquisar as vozes do além, tendo gravado mais de 72.000 frases completas em vários idiomas.
Hoje, os espíritos se manifestam através de sons, de imagens em movimento e textos diretamente transmitidos para o computador, num efeito chamado de transcomunicação instrumental (TCI). Na França, Alemanha e Suíça, o interesse aumenta cada vez mais. Somente na Alemanha, em 1981, já eram mais de 1.000 pesquisadores, sem nenhum vínculo religioso. No Brasil, contamos com investigações legítimas, principalmente a cargo da pesquisadora espírita Sonia Rinaldi. É a imortalidade da alma e a vida em outras realidades que vêm sendo comprovada através de aparelhos.
Quanto à pluralidade dos mundos habitados, a Doutrina Espírita faz ressurgir as afirmações teológicas, dando conta de que no universo há muitas moradas. Esse ensinamento encontra-se plenamente ratificado pelo Espiritismo, em suas obras básicas, bem como em diversas outras obras subsidiárias
O doutor Ian Stevenson, médico psiquiatra, nasceu em Montreal, Canadá, estabelecendo-se mais tarde nos Estados Unidos. A partir de 1967, passou a chefiar a divisão de parapsicologia do departamento de psiquiatria da Universidade de Virginia, tendo dedicado mais de 40 anos de sua vida à pesquisa da reencarnação, ao longo dos quais, catalogou mais de 2.600 casos amplamente investigados. Suas pesquisas giraram em torno das lembranças espontâneas, obtidas através de depoimentos de crianças entre dois e sete anos, que afirmavam ser outras pessoas, além de terem vivido em outras épocas e outros lugares.
Provas através de marcas e hipnose — Tais informações, em sua maioria, foram exaustivamente investigadas por Stevenson. O médico foi aos lugares onde elas afirmavam terem vivido. Para sua estupefação, pode recolher ali documentos e testemunhos que comprovavam as revelações. O médico submeteu os seus achados à comunidade científica, através de inúmeras publicações.
O doutor Stevenson publicou um estudo intitulado Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects [Reencarnação e Biologia: Uma Contribuição à Etiologia das Marcas e Defeitos de Nascença, Editora Praeger, 1997]. Neste estudo é comprovada a reencarnação através das marcas de nascença. Grande número de crianças, ao mesmo tempo das lembranças passadas, traziam em seus corpos marcas muito semelhantes às de seus parentes já falecidos, demonstravam traços inconfundíveis de suas personalidades, tão evidentes que não deixavam dúvida de se tratarem dos mesmos espíritos, agora em novos corpos físicos. Verificou que as tais marcas, algumas vezes, eram reflexos de agressões ou traumatismos causados ao corpo numa reencarnação anterior, e que eram transferidas ao corpo atual pelo renascimento do espírito.
Em 1978, a psicóloga norte-americana Helen Wambach publicou o livro Life Before Life [Vida Antes da Vida, Bantam Books, 1978], em que ela apresentava o resultado de seus estudos, realizados com 1.088 pacientes que tinham regredido a encarnações anteriores, através de hipnose. Naquele mesmo ano, dando seqüência às suas pesquisas, publicou a obra Reliving Past Lives [Revivendo Vidas Passadas, Bantam Books, 1978], resultante de experiências realizadas com 750 pacientes, também conduzidos a vidas passadas através de indução hipnótica. Em processo regressivo de memória, os pacientes passaram a relatar fatos vividos em suas vidas pretéritas. Relataram, por exemplo, que nos momentos em que estavam prestes a nascer, incluindo as vidas passadas, tinham passado por extrema angústia. Todavia, quando se recordavam de suas mortes, declararam ser essas experiências não traumáticas, pois se sentiam libertos de uma prisão chamada corpo físico. Ao final das pesquisas, Helen afirmou: “Eu não acredito na reencarnação, conheço-a!”.
A ação do imponderável — Dolores Krieger, doutora em filosofia e professora de enfermagem na Universidade de Nova York, realizou pesquisas com o coronel Oskar Stabany, um conhecido curador húngaro, que na verdade era médium passista com grande potencial. Ela mediu os níveis de hemoglobina [Define a qualidade do sangue], antes e depois da imposição de mãos feita por Stabany, constatando um aumento significativo do nível de hemoglobina nos pacientes do grupo que recebeu o passe. E notou o mesmo em pacientes portadores de câncer, que se submetiam a tratamento quimioterápico, fato que impressiona, pois em condições normais sabe-se que a quimioterapia reduz drasticamente as taxas daquele componente sangüíneo. A doutora Thelma Moss, psicóloga e professora da Universidade da Califórnia, realizou inúmeras experiências, muitas delas relatadas em seu livro O Corpo Elétrico [Cultrix, 1979]. Utilizando a kirliangrafia, fotografou as mãos da sensitiva Olga Worral, famosa médium passista norte-americana, em estado mental de repouso e, em seguida, em concentração, verificando um aumento expressivo da luminosidade que emanava de suas mãos.
Edward G. Brame, doutor em espectroscopia e cromatografia, membro da American Chemical Society, da American Society for Testing and Materials, da New York Academy of Sciences e da Society for Applied Spectroscopy, produziu diversas pesquisas espectroscópicas durante dois anos, com amostras de água pura, colocando-as no meio de um grupo de pessoas que se dispuseram a fazer uma concentração visando magnetizá-las. Em algumas vezes, havia a imposição de mãos. Em outras não, mas sempre havia uma concentração no objetivo a ser alcançado. Depois desses procedimentos, os exames de laboratório mostraram que as moléculas da água magnetizada tinham sofrido expressiva alteração, chegando a permanecer alteradas por quatro meses. Os espíritas sabem que todas as vezes em que se dispõem a oferecer o passe ou a fluidificação da água nos centros espíritas, as entidades espirituais estão presentes ao lado do médium, mesclando fluidos e potencializando a eficácia da operação, para benefício dos assistidos.
As moradas do universo — Quanto à pluralidade dos mundos habitados, a Doutrina Espírita faz ressurgir as afirmações teológicas, dando conta de que no universo há muitas moradas. Esse ensinamento evangélico encontra-se plenamente ratificado pelo Espiritismo, em suas obras básicas, bem como em diversas outras obras subsidiárias. Não é difícil aceitar que Deus nos oferece a sua casa, ou seja, o seu universo, cujas moradas são os incontáveis planetas e as profundezas etéreas do cosmos.
De 1995 até maio de 2007, a astronomia registrou a descoberta de 236 novos planetas, pertencentes a outros sistemas planetários, muito além deste de que fazemos parte. Alguns astrônomos estimam que exista no universo dezenas de bilhões de planetas em condições de vida semelhantes às da Terra. Somente na Via Láctea, a galáxia em que vivemos, são cerca de 200 bilhões de estrelas. Segundo informações colhidas
do Hubble, há no universo 200 bilhões de galáxias. Nessa infinidade de corpos celestes, por certo temos um número de planetas simplesmente assombroso. Deus não criaria todos esses orbes apenas para nossa mera apreciação e deleite. Conforme nos ensina o Espiritismo, há neles uma finalidade útil: abrigar os espíritos em estágios diferentes de evolução, dando-lhes a possibilidade de formar corpos de composição e densidade variadas, desde os mais sólidos até os extremamente sutis, para cada qual cumprir a sua jornada de progresso rumo à perfeição.
O receio do novo é generalizado — Além das informações de Kardec, vieram depois os espíritos Maria João de Deus e Humberto de Campos, em suas respectivas obras Cartas de Uma Morta [Lake, 1984] e Novas Mensagens [FEB, 1940], ambas canalizadas pelo médium Francisco Cândido Xavier. Nessas obras, os espíritos falam abertamente da vida nos planetas do sistema solar, vivida numa matéria sutil e imperceptível aos nossos olhos, mas estagiando ali num patamar evolutivo mais avançado que o da Terra. Não obstante tais comunicados, ainda encontramos no meio espírita companheiros de jornada e espíritos protetores que oferecem resistência à temática extraterrestre. Na ordem prática das instituições, ao comando de seus dirigentes, assoma o receio de não lidar direito com o novo, culminando com o afastamento das comunicações vindas de paragens não espirituais.
Hoje, no Espiritismo, a Ufologia assume apenas um caráter investigativo, através de literatura especializada e do contato mediúnico, muito reservado, com essas inteligências de outras paragens do cosmos. Isso se faz através de procedimentos criteriosos, semelhantes aos recomendados por Kardec. Nesse contexto, o enfoque espírita de consenso universal assume particular importância. As comunicações alienígenas, quer através do Fenômeno UFO, quer por canalização psíquica, peculiares à investigação ufológica, para ser tomadas como legítimas passam por rigoroso crivo da razão, usando-se o método científico de Kardec para avaliar as mensagens espirituais. Nos relatos de avistamento e contatos de diversos graus em várias partes do mundo, não descuidamos dessa análise criteriosa, no intuito de evitar-se, com tais medidas, que adentre ao meio espírita o charlatanismo e o falseamento da verdade, fatores que deturpam o entendimento, rebaixam a ciência e invalidam as conclusões.
Com certeza, Espiritismo e Ufologia guardam muitas semelhanças. Sem citarmos aqui esses pontos de união já relatados em outros trabalhos, destacamos apenas o mais em voga pela crítica – aquele que tem partido de adeptos de certas religiões conservadoras. Porque a vida em outros mundos e o contato com outras civilizações atrapalha os seus prosélitos, haja vista tais religiões estarem centradas principalmente na Terra. São os céticos religiosos que nos têm dirigido ataques constantes, ridicularizando a possibilidade, cada vez mais plausível, de entrarmos em contato com seres de outros mundos e de outras dimensões, com ETs sólidos e ETs sutis de outras paragens cósmicas. Nota-se que o receio do novo é generalizado. A Ufologia também não escapa dele. É certo que ela não seja a versão cósmica do Espiritismo, mas um estudo paracientífico criterioso que tenta desvendar o mistério do Fenômeno UFO. O Espiritismo, a seu turno, é uma doutrina que interpreta a ciência, a filosofia e a religião, inserindo-se nesse contexto a Ufologia.
Cabe-nos, portanto, em nome do aspecto científico que a Doutrina Espírita encerra em seus ensinamentos, que nos unamos às pesquisas ufológicas, para que elas prosperem cada vez mais, notadamente nestes tempos de transformação pelo qual passamos, os quais têm sido exaustivamente previstos, tanto por nós quanto pelos espíritos, tanto por seres extras quanto ultraterrestres. Já é tempo, portanto, de se restabelecer a verdade, durante tanto tempo ocultada por aqueles que ainda hoje tentam manter uma estrutura já arcaica de poder temporal nas mais diversas áreas de atuação humana.