Em meio à programação recheada por reality shows apelativos, séries policiais e outras temáticas cada dia mais banais, surge novamente uma produção para provar que vida inteligente existe na tevê. E novamente é a ficção científica, com um toque de Ufologia, a responsável por mais este grande evento. O canal a cabo Universal iniciou em novembro a transmissão da celebrada minissérie The 4400, que, tal qual a recente Taken, também explora o fenômeno das abduções [Veja edição 95]. Com produção executiva do famoso cineasta Francis Ford Coppola, The 4400 seria originalmente composta por seis episódios. Porém, optou-se por exibir o episódio piloto com duas horas de duração, em vez de duas partes de uma hora cada, e a decisão mostrou-se acertada quando o mesmo tornou-se a maior audiência para uma estréia em canal fechado nos Estados Unidos, repetindo-se no Brasil.
A história começa precisamente onde costumam terminar muitos relatos de abdução. Um cometa que passaria próximo à Terra subitamente avança contra nosso mundo, e todas as tentativas de destruí-lo ou alterar seu curso resultam infrutíferas. Quando parece que está reservado à raça humana o mesmo destino dos dinossauros, o cometa penetra na atmosfera e reduz sua velocidade. Mas, evidentemente, não é um cometa! A esfera de luz resultante termina por brilhar intensamente junto ao solo e depois sumir, deixando no lugar 4.400 pessoas – daí o título da minissérie –, todas desaparecidas por intervalos de tempo que variam de poucos meses a 60 anos. E nenhuma delas envelheceu um só dia sequer.
Os abduzidos são imediatamente cercados pelas autoridades e enviados para quarentena. Todos recebem números de identificação e pulseiras com dados pessoais – e dossiês sobre os mesmos são preparados por agentes governamentais. Eventualmente, são liberados, e as mais surpreendentes histórias têm início. Os agentes federais que irão investigar os 4.400 abduzidos são Tom Baldwin e Diana Skouris. Baldwin é tio de Shawn Farrel, um dos abduzidos, e pai de Kyle Baldwin, que está em coma desde o desaparecimento de Shawn. Diana tem formação científica e médica, e desenvolverá um interesse pessoal em uma menina, Maya Rutledge. A criança, em 1946, com apenas oito anos, foi levada por seres extraterrestres. Como todos os outros 4.400, ela retorna sem ter envelhecido. Como seus pais faleceram há muitos anos, ela acabou sendo acolhida por uma família adotiva. Porém, quando a menina começa a revelar espantosas habilidades mentais, as pessoas com quem convive começam a repensar a situação.
Poderes Extraordinários — Este é um dos pontos principais em The 4400, o que inclusive fez com que alguns cronistas dissessem que a minissérie é combinação do célebre Contatos Imediatos do Terceiro Grau com X-Men. Alguns dos abduzidos começam a exibir poderes extraordinários, como maior força e agilidade, habilidade de curar, capacidades mentais e outros dons muitas vezes incontroláveis. Lily Moore, desaparecida em 1993, por exemplo, acredita que consegue perceber os pensamentos e sentimentos de seu filho ainda não nascido. Quando foi levada, tinha uma filha de seis meses de idade. Lily retorna para descobrir que perdeu quase toda a infância dela. Na quarentena, conhece Richard Tyler, um piloto norte-americano negro que combateu na Guerra da Coréia e desapareceu em 1951. Evidentemente, ele fica surpreso quando descobre a mudança que constata, ao voltar, na questão racial de seu país.
É interessante nesse ponto fazer algumas observações. O episódio piloto foi gravado em Vancouver, no Canadá, cidade famosa por ter sido o lar das primeiras cinco temporadas de Arquivo-X. Mas houve problemas sérios com relação ao clima do local – péssimo ao tempo das filmagens – porém tudo se resolveu a contento. Logo após a liberação dos 4.400 da quarentena, começam os problemas ocasionados pelo aparecimento de suas habilidades. Orson Bailey, desaparecido desde 1979, por exemplo, descobre que perdeu o emprego e que sua esposa está internada em uma instituição. Logo percebe suas incontroláveis habilidades, que produzem muitos estragos por onde passa. Tom e Diana logo são chamados para investigar o caso de um vigilante que combate o crime em sua cidade, Carl Morrissey. Ele nunca teve uma vida produtiva, mas desde que voltou de seu desaparecimento de 18 meses, desenvolveu força e agilidade sobre-humanas.
Porém, nem tudo é o que parece, fato que está se tornando característica dessas produções de ficção científica. A atenção volta a se centralizar nos 4.400 abduzidos e suas habilidades, quando uma série de homicídios – semelhante a outros, ocorridos 25 anos antes – atraem os agentes federais. Eles então descobrem e investigam Oliver Knox, um dos abduzidos que recentemente voltou à comunidade. Knox tem um álibi e posteriormente aparece uma pessoa para confessar o crime. Porém, com novos assassinatos ocorrendo, e outras pessoas surgindo para confessarem tais crimes, os federais estimam que ele poderia estar influenciando os acontecimentos. Isso acontece ao mesmo tempo em que muitas pessoas começam a mostrar hostilidade contra os 4.400 abduzidos. É nesse ponto que surge Jordan Colier, parte guru e parte líder, pretendendo organizar seus companheiros que foram seqüestrados por seres extraterrestres.
Comportamento Messiânico — Nesse ponto temos oportunidade de ver o comportamento messiânico e carismático de muitos gurus e espertalhões bem conhecidos no meio ufológico. É uma produção norte-americana, mas a temática sem dúvidatem alcance mundial, e seu sucesso comprova que o problema interessa a todos. A ficção científica, mais uma vez, serve como defesa contra o conformismo e a omissão – inclusive das autoridades. Mostrando o poder de convencimento do líder Colier, Shaw Farrel decide utilizar seus poderes mentais. A oportunidade surge quando seu tio Tom é chamado ao hospital, pois Kyle Baldwin está piorando e possivelmente não sairá mais do coma. Quando Shaw o visita, o efeito é surpreendente. Logo em seguida, atentados começam a ocorrer, tendo como alvo os abduzidos, quando seus nomes e endereços são divulgados por uma jornalista de péssima reputação.
Aqui, mais uma vez, vemos a ficção científica exercendo uma função que está embutida em sua própria gênese: a denúncia da violência e irracionalidade humana, especialmente contra aqueles que são diferentes. O gênero sempre adotou ess
a postura engajada, combatendo toda e qualquer forma de preconceito que tanto mal ainda faz, infelizmente, à civilização humana. Foi assim, por exemplo, com Jornada nas Estrelas.
Em tempos de produções em que os alienígenas eram utilizados como paródia do perigo comunista, a mesma trazia um alienígena – Spock – como primeiro oficial da nave Enterprise. E em tempos de luta pelos direitos civis nos EUA, lá estava uma negra, a tenente espacial Uhura, como oficial de comunicações da mesma nave! E o que dizer de um oficial japonês, Sulu, pouco mais de 20 anos do final da Segunda Guerra? Ou de um russo, Checov, também ocupando a ponte da Enterprise? Em Star Wars, por exemplo, o que mais vale, o pequeno tamanho do mestre Yoda ou seu conhecimento da chamada Força? Já em Arquivo-X, Mulder e Scully sempre tiveram opiniões absolutamente opostas. Mas alguma vez vimos os agentes desrespeitando um ao outro?
Crises Frequentes — Numa sociedade planetária atravessando crises cada vez mais freqüentes, onde até aqui no Brasil a realidade passa bem longe do caldeirão cultural pleno em harmonia e tão batido pelas propagandas oficiais, é importante que existam produções de ficção científica em todas as mídias, sempre discutindo temas que estão muito mais ligados ao dia-a-dia das pessoas do que os apressados críticos costumam pensar. Mais do que puro entretenimento, a função primeira da ficção é expor para uma sociedade carente em autocrítica os problemas e incoerências que, muitas vezes de forma hipócrita, são deixados de lado em nome de modas momentâneas ou conveniências de toda classe de indivíduos influentes. Talvez daí venha ser um dos gêneros mais combatidos pelos “donos da verdade”.
E as mesmas mazelas da civilização da qual fazemos parte estão, seguramente, na linha de frente das razões pelas quais o contato com nossos visitantes – se os mesmos realmente estão chegando aqui – ainda não ocorreu. Ainda que sob risco de parecer clichê, podemos afirmar que, se não respeitamos nossos próprios semelhantes, é muito duvidosa nossa capacidade de receber os representantes de uma cultura proveniente de outro mundo. Diante da “cultura” descartável e apelativa, cada vez mais tomando espaços na mídia, é importante que produções como The 4400 ou Taken surjam para questionar as verdades que muitos julgam imutáveis. Pode-se mesmo afirmar que tanto a ficção científica quanto a Ufologia sejam primas, pois as mesmas nos conduzem, acima de tudo, a uma profunda reflexão sobre nós mesmos, nosso lugar no mundo, nossas escolhas, opiniões, desejos e objetivos.
Quanto a The 4400, tudo se complica para os agentes que buscam a verdade sobre os abduzidos. Tom precisa lidar com o estranho comportamento de seu filho Kyle e um novo e ambicioso agente federal, que objetiva tomar o controle da situação. Ao mesmo tempo, Diana experimenta dificuldades com Maya, pois seus poderes aumentam e a menina passa a enxergar até mesmo o futuro próximo. Enquanto isso, o guru Colier passa a agir mais abertamente, embora não se saiba se o mesmo desenvolveu alguma habilidade especial. Por fim, as trajetórias dos abduzidos e daqueles que os investigam vão se aproximando de um ponto culminante, em que o destino dos 4.400 será importante também para o futuro da humanidade.
Uma produção afinada
com a ficção científica
Renato A. Azevedo
Francis Ford Coppola, produtor executivo de The 4400, simplesmente dispensa apresentações. Inclusive, o diretor de Apocalipse Now e da saga O Poderoso Chefão é grande amigo de George Lucas, o criador de Star Wars. Coppola produziu em 1973 American Graffiti, ou Loucuras de Verão, dirigido por Lucas. Ira Steven Behr, também produtor executivo, é bem conhecido dos fãs de Jornada nas Estrelas, tendo atuado como produtor nas séries A Nova Geração e Deep Space 9. Também esteve envolvido com a produção dos seriados Dark Angel, obras de ficção científica criadas por James Cameron, e Além da Imaginação. Também é autor de dois livros, ambos baseados na raça Ferengi de Jornada nas Estrelas: Lendas dos Ferengi e Regras de Aquisição Ferengi.
Outro produtor executivo de The 4400 é Rene Echevarria, que escreveu um episódio para A Nova Geração e também foi produtor em Deep Space 9, que lhe rendeu inclusive um prêmio Vision da NASA, como Melhor Descrição do Futuro da Humanidade no Espaço. Também desenhou os cenários do parque temático Star Trek: The Experience. Em seguida foi co-produtor de Dark Angel, o seriado de Cameron que mostrava a saga de humanos transformados em armas por engenharia genética no futuro próximo. Infelizmente, exatamente quando o seriado abria imensas possibilidades com a aparição de um culto atuando desde os tempos babilônicos, e que produzia super-humanos com métodos de procriação selecionada, foi cancelado.
Já em meio ao elenco vale ressaltar a presença de Peter Coyote como Dennis Ryland, o chefe de Tom Baldwin e Diana Skouris. Coyote, entre outros, é conhecido por sua participação em ET, O Extraterrestre, de Steven Spielberg. Há também Joel Gretsch, interpretando o agente federal Tom Baldwin, conhecido até mesmo entre os leitores de Ufo, pois também trabalhou em Taken, como o coronel Owen Crawford. Estes são alguns dos talentos que participaram de mais essa produção da ficção científica mundial. Quem sabe, um novo clássico esteja a caminho!Até o momento do fechamento desta edição, a minissérie ainda estava em andamento, sendo previsto seu desfecho até o fim de dezembro. Para as muitas questões deixadas em aberto por mais esta instigante obra da ficção científica mundial, resta a esperança de que The 4400 se torne um seriado regular. Na caixa da edição em DVD, já disponível no exterior, está impressa a frase “comple
te first season”, ou primeira temporada completa. Contudo, há uma excelente notícia para os leitores: entusiasmado com o grande sucesso dos primeiros episódios, o canal USA [Universal Channel aqui no Brasil] já encomendou 13 novos episódios para a segunda temporada, cujas filmagens devem começar em fevereiro, para exibição nas telas norte-americanas em junho, com boa parte do elenco original. Espera-se que não demore a aportar aqui.
Vamos seguir na torcida, pois os entusiastas da Ufologia e ficção científica merecem que esse e outros programas inteligentes venham romper o atual marasmo da programação, provocando novos debates acerca desses intrigantes fenômenos, e sobre o lugar da humanidade no imenso universo que habitamos.
Uma produção afinada com a ficção científica
Francis Ford Coppola, produtor executivo de The 4400, simplesmente dispensa apresentações. Inclusive, o diretor de Apocalipse Now e da saga O Poderoso Chefão é grande amigo de George Lucas, o criador de Star Wars. Coppola produziu em 1973 American Graffiti, ou Loucuras de Verão, dirigido por Lucas. Ira Steven Behr, também produtor executivo, é bem conhecido dos fãs de Jornada nas Estrelas, tendo atuado como produtor nas séries A Nova Geração e Deep Space 9. Também esteve envolvido com a produção dos seriados Dark Angel, obras de ficção científica criadas por James Cameron, e Além da Imaginação. Também é autor de dois livros, ambos baseados na raça Ferengi de Jornada nas Estrelas: Lendas dos Ferengi e Regras de Aquisição Ferengi.
Outro produtor executivo de The 4400 é Rene Echevarria, que escreveu um episódio para A Nova Geração e também foi produtor em Deep Space 9, que lhe rendeu inclusive um prêmio Vision da NASA, como Melhor Descrição do Futuro da Humanidade no Espaço. Também desenhou os cenários do parque temático Star Trek: The Experience. Em seguida foi co-produtor de Dark Angel, o seriado de Cameron que mostrava a saga de humanos transformados em armas por engenharia genética no futuro próximo. Infelizmente, exatamente quando o seriado abria imensas possibilidades com a aparição de um culto atuando desde os tempos babilônicos, e que produzia super-humanos com métodos de procriação selecionada, foi cancelado.Já em meio ao elenco vale ressaltar a presença de Peter Coyote como Dennis Ryland, o chefe de Tom Baldwin e Diana Skouris. Coyote, entre outros, é conhecido por sua participação em ET, O Extraterrestre, de Steven Spielberg. Há também Joel Gretsch, interpretando o agente federal Tom Baldwin, conhecido até mesmo entre os leitores de Ufo, pois também trabalhou em Taken, como o coronel Owen Crawford. Estes são alguns dos talentos que participaram de mais essa produção da ficção científica mundial. Quem sabe, um novo clássico esteja a caminho!