A cada ano, centenas de milhares de pessoas desaparecem em todo o planeta sem qualquer explicação. Todos sabemos que a grande maioria dos casos envolve tráfico humano, assassinatos e outras barbaridades, mas há alguns acontecimentos muito particulares e cercados por circunstâncias tão estranhas que nos fazem pensar que algo além da ganância, doença ou barbárie tenha sido responsável por eles. O evento que vamos analisar neste artigo é um desses episódios, não só por causa da sua natureza, mas porque levanta suspeitas quanto à participação de forças estranhas na manipulação jornalística da informação.
Na verdade, é pelo menos sugestivo que, apesar de se tratar de um episódio particularmente incomum com implicações talvez macabras, a imprensa nacional argentina não lhe tenha dado quase nenhuma cobertura. Sem menosprezarmos as outras tragédias cotidianas, cada vez mais presentes na mídia, o chamado Caso Gill merece, mas dificilmente tem, espaço na grande imprensa, mal sendo conhecido em Buenos Aires, a capital do país. Há nele ingredientes de mistério que justificariam o envio de jornalistas ao local, o rastreamento de testemunhas e até a utilização das eticamente discutíveis câmeras ocultas.
Elementos cinematográficos
Seis pessoas desaparecem da noite para o dia, mas seus pertences pessoais, dinheiro e documentos estão intactos em uma casa sem sinais de violência — a mesa estava servida para um jantar que nunca aconteceu. Além disso, há suspeitas de adultério, rumores de distribuição de drogas e de medicação ilegal, corrupção policial e, se abrirmos o leque das possibilidades, tudo ocorreu em uma área de frequentes avistamentos de UFOs, onde há vários registros de fenômenos estranhos. Temos aqui argumentos para vários filmes. Assim, vamos colocar todas as informações em ordem, sem nos esquecermos de que há muita controvérsia sobre a razão dos desaparecimentos e que é muito difícil de se ter acesso aos depoimentos, em um caso no qual as pessoas têm medo de falar.
Para a preparação desta matéria — que tem muito de preliminar e circunstancial — este autor foi para a cidade de Nogoyá, onde a causa está judicialmente fundamentada. Lá, pude conversar com parentes mais distantes e com os que estão diretamente envolvidos no caso, e li cópias de algumas páginas da investigação. Infelizmente, é preciso acrescentar que muitos dos informantes solicitaram expressamente que não fossem mencionados, de modo que as diferentes hipóteses aventadas, correm o risco de terem sido construídas sobre as de terceiros não verificáveis, o que não necessariamente as torna improváveis.
Como tudo começou
Em 14 de janeiro de 2002, a família composta por José Rubén Gill, de 56 anos, apelidado de “Mencho”, sua esposa Norma Margarita Gallego, 26, e seus filhos María Ofélia, 12, Osvaldo José, 9, Carlos Daniel, 6, e Sofía Margarita, 4, foi para o velório de um conhecido na cidade de Viale, província de Entre Rios. Viale se situa a algumas poucas dezenas de quilômetros do local de residência da família, conhecido como Crucesita Sétimo, no departamento de Nogoyá. Próximo dali ocorrera, há algum tempo, um famoso caso ufológico argentino.
Os membros da família Gill, que trabalhavam como caseiros de uma estância chamada La Candelária, de propriedade de Alfonso Goette, residente em Viale e também dono de uma farmácia, acompanhou o funeral e conversou com algumas pessoas, entre elas a irmã de Norma, cunhada de Goette. Depois disso, todos iniciaram a viagem de volta logo pela manhã, utilizando o transporte público — e nunca mais foram vistos. Três meses após o funeral, a irmã de Norma esperava a família para o aniversário de um parente, mas ninguém compareceu. Após tentar, sem sucesso, falar com a irmã por telefone, ela procurou pelo cunhado, querendo notícias da família. Goette afirmou que ele não sabia nada sobre Mencho e que a última vez que o vira fora em 14 de janeiro, logo nas primeiras horas. Disse também que Norma havia telefonado a ele pedindo “quatro ou 5 dias de férias para visitar parentes em Santa Fé”, notícia que tranquilizou a cunhada.
FONTE: GEOGRAFIA DE ARGENTINA
O Cerro Uritorco, também na Argentina, é um dos lugares do país com maior incidência ufológica e desparecimentos misteriosos
Mas, depois de cerca de 10 dias sem notícias, Goette decidiu ir para La Candelária acompanhado de um conhecido para tentar descobrir o que estava acontecendo. Conforme informado no processo judicial, ao chegar à estância ele supôs, a princípio, que a família Gill estivesse por perto, “uma vez que as portas estavam abertas, a mesa servida para uma refeição, animais soltos e as luzes da casa acesas”. Após procurar pelos Gill por toda parte, sem conseguir encontrá-los, o homem chamou a polícia e, algumas horas mais tarde, chegaram alguns investigadores. Os policiais, porém, ao invés de isolarem a área para preservarem as investigações, a liberaram para uso do proprietário. Esse, por sua vez, deixou um empregado, apelidado de Comas, responsável pelo local. Goette só foi convocado para testemunhar três meses depois disso.
De certa forma, no entanto, o curso dos acontecimentos é compreensível. Ainda hoje, após tantos anos, a Justiça entende que não há provas inquestionáveis de que houve um crime e descreve a investigação como um caso de “verificação de paradeiro”. Para a polícia, a ocorrência se tratava apenas da ausência, talvez momentânea, de uma família e nada justificava a necessidade de proceder como se estivessem em uma cena de crime — mas a verdade é que a família nunca mais apareceu e os rumores começaram a surgir.
Um adultério na história
Goette era um homem grande, de ascendência alemã e de gênio irascível, que mantinha com Gill um relacionamento profissional de mais de 15 anos. Há quem diga, porém, que essa relação havia se deteriorado nos últimos tempos e que o próprio Mencho teria expressado a terceiros o desejo de abandonar o emprego. Há, também, um forte boato de que a filha mais nova de Norma não era de Gill, mas de seu empregador. Na verdade, a semelhança entre os dois é pelo menos sugestiva quando olhamos as fotografias. E o próprio Goette, em entrevista à televisão, se emocionou ostensivamente ao falar sobre a menina.
Ao longo do tempo, várias perícias e diligências foram realizadas a mando da Justiça e o fato de nunca terem encontrado qualquer pista sem dúvida alimentou todo o tipo de especulações macabras — uma delas, por exemplo, dizia que a família fora eliminada por Goette ou por alguém a seu mando após uma briga devido ao suposto adultério de Norma. Além disso, os corpos teriam sido colocados em uma máquina de pulverizar ossos. No entanto, o comissário Gutiérrez, um dos chefes de polícia envolvidos no caso, descartou totalmente essa possibilidade, uma vez que nunca se encontrou qualquer traço de restos humanos em qualquer lugar da estância. O mesmo comissário solicitou a intervenção da Divisão Contra o Crime Organizado, da Polícia Federal Argentina, diante de algumas situações sobre as quais ainda falaremos.
Élbio Garzón, advogado da cidade de Viale que representa a família de Norma Gallego, tentou insistentemente apresentar ao juiz interino, doutor Juarez Gallino, um pedido para que os desaparecidos fossem vistos como vítimas de um crime, mas o magistrado recusou a solicitação. A razão para a negativa adveio do fato de que a família fora considerada como “temporariamente ausente” pela polícia e de que nada fora encontrado que indicasse violência.
As suspeitas começam
É desnecessário dizer que os familiares de Norma Gallego sustentam que a família Gill está morta e apontam Goette como o responsável. Mas quando se pede que apontem t
ambém os motivos, os acusadores são mais ambíguos. A família alega que Goette foi a única pessoa que viu as coisas intactas, todas em seu lugar e sem sinais de violência, mas isso não é verdade. O homem foi o primeiro a chegar ao local, mas estava acompanhado de um amigo, e eles não foram os únicos a ver a cena, pois os primeiros investigadores também viram. A família também alega que as discussões entre Goette e Gill eram bem conhecidas e que o empregador tinha uma personalidade violenta.
Até onde sabemos, essa análise ainda não foi feita, e o que se sabe é que o corpo havia ficado no mínimo dois anos na água. O que adicionou mais um elemento de mistério a tudo isso foi, precisamente, o estado em que o cadáver fora encontrado
Temos que concordar que esses elementos não são suficientes para sustentar uma acusação de múltiplos homicídios. Porém, há muito indícios de que a família não desapareceu por vontade própria. Entre eles podemos apontar o fato de os documentos pessoais de todos ainda estarem na casa, assim como uma determinada soma de dinheiro. Outro indício que aponta que algo estranho pode ter acontecido é o fato de que um pagamento que havia caído na conta corrente de Norma poucos dias antes não ter jamais sido sacado.
As descobertas policiais
As suspeitas sobre Goette crescem ao tomarmos conhecimento de que quando os investigadores da polícia chegaram para investigar a estância, acompanhados de uma equipe de cães treinados, isso seis meses após o desaparecimento, foram convidados e aceitaram degustar de um churrasco oferecido pelo próprio Goette — comentários locais dizem que isso foi feito com a finalidade de distrair os homens com comida e vinho para que não investigassem a propriedade tão bem.
Porém, mesmo que não pareça nada profissional a polícia participar de um churrasco em pleno horário de trabalho, e em uma propriedade na qual está para conduzir uma investigação, é preciso lembrar que Goette não fora formalmente acusado de nada e, portanto, não era considerado suspeito — e é um hábito encarnado no espírito dos homens argentinos preparar um churrasco para entreter visitantes, sob qualquer desculpa.
Membros da família Gallego, que usaram esse episódio para minar a credibilidade da investigação, alegam que não puderam sequer entrar na estância durante a inspeção da polícia. Mas, dada a virulência com que já haviam atacado Goette de todas as formas possíveis, o homem não tinha porque ser condescendente e admitir sua entrada. Além disso, não havia qualquer razão legal para autorizar as partes a participar. Mas é lógico que o dono do lugar esteja presente. É preciso ressaltar que, sendo Goette culpado ou não pelo desaparecimento ou pela eventual morte daquelas seis pessoas, ele já foi julgado e condenado pela imaginação popular. E o que levou a isso foram boatos que não puderam ser comprovados, em conjunto com a pouca simpatia que os habitantes da região têm para com os resultados das investigações policiais.
FONTE: NATGEO
Quem caminha pelas ruas de Crucesita Sétimo não imagina que mistéros e cidade guarda
As investigações telefônicas feitas sob as instruções da promotora interina, doutora Ana María Contín de Daroz, revelaram que alguns meses antes de a família desaparecer o telefone da estância havia recebido, além de as chamadas habitais da família e de fornecedores, ligações vindas da cidade de Rosário, na província de Santa Fé. Os números que chamaram a estância eram de dois telefones celulares, um deles pertencente a uma mulher de 32 anos, de sobrenome Pairalat, empresária do ramo farmacêutico e dona de uma rede de estabelecimentos. O outro pertencente a um policial, de nome Gutiérrez. Tanto Pairalat quanto Gutiérrez, quando questionados pela primeira vez, negaram a posse dos celulares, mas depois mudaram as declarações e alegaram que os aparelhos haviam sido perdidos ou roubados. Há rumores — apenas rumores — de que Pairalat estaria vinculada à produção clandestina de drogas ilegais.
Porém, com o aprofundamento das investigações, descobriu-se que o celular de Gutiérrez estava nas mãos da irmã de Norma Gallego, justamente a pessoa responsável por fazer andar a investigação e que constantemente apontava Goette como sendo responsável pelo massacre. Interrogada sobre como o telefone chegara a suas mãos, a mulher declarou que o aparelho lhe fora presenteado por um cunhado, também policial de Santa Fé, que o teria comprado de Gutiérrez. Mas como, se Gutierrez havia dito que o telefone havia sido roubado ou perdido? É no mínimo muito curioso um aparelho a partir do qual foram feitas chamadas para a estância, e que pertence a alguém que afirma não ter relação com a família Gill, apareça nas mãos da irmã de uma das supostas vítimas.
Muitas coincidências…
A investigação descobriu que, semanas antes do desaparecimento, a irmã de Norma já havia usado o aparelho para se comunicar com a família. Para piorar, algumas das chamadas recebidas, ainda da época em que o celular era de Gutiérrez, foram feitas por Élbio Garzón, o advogado escolhido pelos Gallego para representar seus interesses. O doutor Garzón disse que sua firma ligara para várias pessoas durante uma ação de marketing e que ele não se lembrava de ter conversado com o policial de Rosário, mas o leitor há de convir que é difícil acreditar em tantas coincidências. E falando em coincidências, o endereço particular de Gutiérrez, situado em um pequeno beco de Rosário, chama-se La Candelária, exatamente como a estância dos eventos.
Em face das primeiras repercussões jornalísticas sobre o caso, o proprietário de uma oficina mecânica localizada às margens do Rio Guayquiraró, que divide a província de Entre Rios, ao norte, com a de Corrientes, alegou ter fornecido assistência técnica para uma família de seis pessoas que dizia ter vindo da cidade de Viale, a 20 km de Crucesita Sétimo, a caminho de um novo emprego em Corrientes — os seis estariam a bordo de um antigo carro de cor azul da marca Chevrolet. A questão é que a informação nunca foi confirmada e nem o mecânico encontrado, e especula-se que a notícia fora plantada para tentar resolver o caso com a explicação de que a família simplesmente fora procurar trabalho em outro lugar. As suspeitas apontam para Goette, para a polícia e para o juiz que, segundo rumores, seria aparentado do dono da estância por parte da esposa.
As teorias florescem
A hipótese popular é simples: Pairalat, Gutiérrez e Goette eram sócios na distribuição de drogas ilegais na província de Entre Rios e utilizavam La Candelária como entreposto para a mercadoria, o que seria do conhecimento de Gill. O homem, então, ressentido com o relacionamento entre Norma e Goette, bem como com o nascimento da pequena Sofia, decidira chantagear o patrão, exigindo uma quantidade considerável de dinheiro em troca de seu silêncio. Goette, porém, não teria concordado e começara a suspeitar que Gill iria traí-lo, e por isso ordenara que toda a família fosse morta — em uma versão menos sangrenta, as crianças menores foram enviadas para longe, para famílias de desconhecidos. Os corpos estariam enterrados em algum lugar desconhecido e a organização ilícita havia suspendido temporariamente suas atividades.
É uma hipótese atraente, devemos concordar. Mas ela tem o grande inconveniente de podermos, com os mesmos elementos, dizer que o relacionamento criminoso era entre Pairalat, Gutiérrez e Gill, sem o conhecimento de Goette, e que a associação poderia dedicar-se tanto a drogas ilegais quanto a gado. Também podemos dizer, quando lembramos da história do celular de Gutiérrez nas mãos da irmã de Norma, que o resto da família Gallego tinha conhecimento de tudo e que co
m o conluio de um advogado também suspeito insistira em usar Goette como bode expiatório de seus próprios crimes.
Nos primeiros dias de junho de 2005, em uma área conhecida como Atracadouro, perto da Villa Urquiza, 30 km ao norte da cidade de Paraná, capital da província, e às margens do rio homônimo, foi encontrado o torso mumificado de um homem que aparentava ter cerca de 60 anos de idade. Imediatamente, a família Gallego apresentou, por meio de seu advogado, um pedido ao juiz de instrução, doutor Jorge Barbagelata, para procedimentos de análise de DNA, pois poderiam ser os restos Ruben Gill.
Erro do jornalista?
Até onde sabemos, essa análise ainda não foi feita, e o que se sabe é que o corpo havia ficado no mínimo dois anos na água. O que adicionou mais um elemento de mistério a tudo isso foi, precisamente, o estado em que o cadáver fora encontrado. Na verdade, quando li que ele estava mumificado, imaginei que fosse um erro do jornalista, que talvez tenha desejado dizer apodrecido ou algo assim. Mas não. De acordo com os especialistas forenses, o torso estava em um estado de secagem original, de modo que nem mesmo o longo tempo de imersão o havia reidratado ou causado a decomposição dos tecidos.
Assim, mesmo que o corpo encontrado não seja de Gill, a questão é intrigante: quem ou o que mumifica um corpo desmembrado e depois o abandona no rio? Já se os restos são de Gill, as perguntas se multiplicam. Quem ou o que, após matar o homem e toda a sua família, perderia tempo para desmembrá-lo e mumificá-lo apenas para depois simplesmente abandonar os restos mortais? A realidade, entretanto, é que a pesquisa forense só pode existir baseada em fatos absolutamente comprovados, para horror daqueles que adoram criar versões para aquilo que acham ser a verdade — e os únicos fatos verdadeiros sobre esse caso são que a família Gill, com todos os seus membros, desapareceu em algum momento da manhã de 15 de janeiro de 2002, e não por opção, já que não levaram documentos, dinheiro, brinquedos, fraldas, roupas etc, que nada foi encontrado que incriminasse Alfonso Goette em tal desaparecimento. E, por fim, que nada há que pressuponha a morte dos membros da família.
O caso, assim como outros, talvez esteja relacionado a portais dimensionais, janelas ou passagens que transportam suas vítimas através do espaço e do tempo para universos ou dimensões paralelas, às vezes por curtos períodos, às vezes para sempre
Logicamente, podemos fazer algumas suposições. Se eliminarmos Goette, já que contra ele nada pesa além de ser dono de uma farmácia, a relação que Gill teve com Pairalat e Gutierrez, mesmo no caso de ser ilícita, não necessariamente é, em si, acusadora. O próprio Goette disse a repórteres que o casamento de Gill parecia seguir certas inclinações religiosas atípicas nos últimos tempos, sem excluir a possibilidade real de que a família tivesse sido “sequestrada por uma seita”, para usar suas palavras.
Por outro lado, não é tão difícil fazer desaparecer uma família inteira sem ter que criar uma cena de violência — basta, por exemplo, que uma das crianças seja ameaçada com uma arma de fogo para que ninguém pense em oferecer qualquer resistência. Mas, ao mesmo tempo, se os eventuais assassinos desejassem fazer crer que a família simplesmente partira por vontade própria, teriam removido qualquer coisa que indicasse o contrário, o que não foi feito.
Portal dimensional?
E é precisamente esse último ponto que abre a porta para discutirmos, por mais improvável que sejam, outras explicações para o caso, pois, como diria Sherlock Holmes, “quando se elimina o impossível, o que restar, não importa o quão improvável lhe pareça, deve ser a verdade”. Se até hoje não existe nenhuma evidência concreta que incrimine Goette ou qualquer outra pessoa no desaparecimento da família Gill, o caso pode e merece ser abordado por outros ângulos. E, não importando o quanto perturbe o horizonte limitado daqueles que estudam a investigação do episódio, não se pode descartar a priori que esse caso, assim como outros, esteja relacionado a portais dimensionais — janelas ou passagens que transportam suas vítimas através do espaço e do tempo para universos ou dimensões paralelas, às vezes por curtos períodos, às vezes para sempre. Também não se pode ignorar a possibilidade de uma abdução por entidades extraterrestres ou de outras origens.
Há eventos estranhos em todo o mundo sobre pessoas ou grupos que simplesmente desapareceram sem deixar rastro. Um deles ocorreu na Inglaterra com um menino de nome Oliver Thomas, de 11 anos, que na véspera de Natal de 1909 desapareceu sem qualquer explicação, enquanto seus parentes e amigos o ouviram gritar por socorro até sua voz se perder à distância — o garoto fora pegar água no poço e suas pegadas simplesmente desapareciam em determinado ponto do caminho, como se ele tivesse sido puxado para cima. Não havia outras pegadas ou marcas na neve que indicassem a presença de animais ou de pessoas na área.
Há também, para citar mais um exemplo, um controverso caso ocorrido em uma aldeia Inuite, em 1930, no Canadá, quando toda a vila, incluindo os mortos no cemitério, desapareceram, deixando para traz seus pertences, trenós, alimentos e roupas — os cães usados para puxar os trenós foram encontrados congelados e amarrados em seus abrigos, mortos de inanição. O caso foi investigado pela Polícia Montada Real Canadense, sem que nada fosse descoberto. Não havia marcas, pegadas ou qualquer indicativo do que teria acontecido às pessoas. Aqueles que quiserem se aprofundar nesse assunto encontrarão muitos outros casos semelhantes.
Desaparecimentos misteriosos
Assim, em princípio, e dada à falta de evidências mais consistentes, o desaparecimento dos seis membros da família Gill pode ser adicionado, até prova em contrário, ao amplo dossiê dos desaparecimentos misteriosos. Mas há muito mais. A região de Crucesita Sétimo é um lugar que há muitos anos concentra estranhos episódios, observações de UFOs e aparições ditas milagrosas. Há relatos sobre diversos contatos com extraterrestres feitos pelos habitantes da região. Viale, a apenas 20 km de distância, tem um extenso catálogo de observação de tripulantes de UFOs, o que chegou a levar o falecido pesquisador local Ariel Lemos a escrever um breve, mas interessante, livro intitulado OVNIs: Llegaron También a Viale [UFOs: Eles Também Chegaram a Viale. Edição do autor, 1999].
Na área também ocorreram fatos que certamente nada têm a ver com UFOs ou portais dimensionais, mas que, por seu alto grau de estranheza, chamam a atenção. Um exemplo disso foi o caso da queda de uma imagem de Nossa Senhora sobre algumas construções na propriedade da família Schevollán. Isolados do mundo, analfabetos e imersos em promiscuidade, degradação e perversidade endógena — eles chegaram a dar alguns bebês indesejados e ainda vivos, nascidos na família, como alimento para os porcos —, os Schevollán sofreram uma profunda crise religiosa após a “chegada” da imagem. Mudaram drasticamente suas condições de vida com a queda da Virgem, cuja estatueta chegara até eles vinda de um festival na província vizinha de Santa Fé, “flutuando por meio de balões”, conforme disseram.
Além disso, há numerosos casos de aterrissagens de aparelhos não identificados que deixaram marcas no solo em toda a região. Outra questão preocupante é que Crucesita Sétimo situa-se perto da região chamada Ilhas de Ibicuy, local em que se denuncia, desde o final dos anos 80, haver operações secretas dos fuzileiros navais dos Estados Unidos, de helicópteros negros e, claro, uma onda de inexplicadas mutilações de animais, que foi justamente o que motivou as investigações. Crucesita Sétimo, como já dito, está no departamento de Nogoyá e ali, de 2004 a maio de 2005, ocorreram vári
os casos de carbúnculo ou, como é mais conhecida a doença, antraz.
Sem querer que a história se pareça mais obscura do que já é, duas coisas chamam poderosamente a atenção. A primeira é que, em 2001, quando a histeria coletiva mundial sobre o antraz foi desencadeada, negou-se a ocorrência de dois casos na Argentina, que foram anunciados catastroficamente pelo então ministro da Saúde Pública, doutor Conrado Storani — a explicação foi a de que não havia um episódio confiável para apoiar a alegação do ministro. Hoje, temos mais de 135 casos ocorridos a poucos quilômetros das tais “bases provisórias e clandestinas” de soldados norte-americanos em solo argentino. E isso aparece apenas em pequenas colunas de jornais provinciais. Nada aparece na grande mídia.
Miniepidemia seletiva
A segunda é que a miniepidemia ocorrida em um ano ataca os mesmos lugares, e às mesmas famílias, que atacou no ano anterior, porém atinge apenas aqueles que não haviam sido infectados antes. Não se estão inventando coisas, isso foi dito em entrevista para os jornais pelo doutor Ricardo Cantaberta, diretor do Hospital San Blas, de Nogoyá, onde os pacientes foram alojados. Esse comportamento seletivo do bacilo é realmente muito estranho, e poderíamos dizer que quase denota algum tipo de inteligência, algo difícil de explicar — ou então demonstra que alguém parece estar experimentando algo em um determinado lugar, com um determinado grupo limitado e específico de cobaias.
O que se quer dizer é que não é apenas incomum que tantas coisas estranhas aconteçam em uma área geográfica tão limitada, mas que, conhecendo as operações clandestinas das forças armadas norte-americanas e de outras organizações em todo o mundo — muitas vezes usando uma capa ufológica para esconder suas ações —, o sequestro de toda uma família no meio do nada pode estar intimamente ligado a isso, caso aquelas pessoas tenham sido testemunhas involuntárias de algo. E incorporar nos bancos de dados das companhias telefônicas chamadas que nunca existiram, mas vindas de telefones celulares existentes, seria, para essas organizações, fácil como brincadeira de criança.
Aqui se está propondo outra linha de raciocínio para o Caso Gill — uma linha que uma região com alta incidência de avistamentos ufológicos, longa presença clandestina de soldados dos Estados Unidos, um caso de abdução, antraz e um embaralhamento de fatos, incluindo coisas como o suposto parentesco entre Goette e o juiz e a ligação entre a farmacêutica Pairalat e o policial González. O tempo há de mostrar a verdade sobre o que aconteceu. Mas o mistério continua.