Uma parceria do Governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Lazer (SETUL) e da Fundação Elias Mansour (FEM), com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), possibilitou a produção do livro Geoglifos – Paisagens da Amazônia Ocidental, cujo lançamento foi realizado na noite da quinta-feira, no Theatro Hélio Melo.
A obra traz uma série de imagens que revelam a beleza e os mistérios das gigantescas estruturas feitas no solo acreano há pelo menos mil anos e que receberam o nome de geoglifos. Organizadas por pesquisadores, entre eles Alceu Ranzi e Antônia Damasceno, as fotografias foram tiradas durante os muitos sobrevôos feitos aos quase 300 sítios arqueológicos já descobertos no Acre. São fotografias de Edison Caetano, Diego Gurgel, Sérgio Vale e Maurício de Paiva.
Segundo o geógrafo e paleontólogo Alceu Ranzi, nos últimos cinco anos o conhecimento sobre os geoglifos se aprofundou graças ao entusiasmo da equipe de pesquisadores e ao apoio institucional e financeiro do CNPQ e do Governo do Estado. “Na busca de estudar essas estruturas podemos dizer que, até o momento, temos mais perguntas do que respostas. No entorno dos geoglifos pessoas trabalharam, sonharam, oraram, amaram, constituíram suas famílias e enterraram seus mortos”, supõe Ranzi.
O pesquisador acredita que uma das melhores formas de preservação das estruturas é sua valorização enquanto produto turístico acreano. “Um desafio a ser trabalhado pelo Poder Público será a gerência desse acervo patrimonial. Vários aspectos precisam ser avaliados e levados em conta, a exemplo do uso da terra onde ocorrem os geoglifos, para que os mesmos não sejam vistos como um impedimento ao desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuárias, mas sim como oportunidade de geração de emprego e renda”, defende.
A mesma idéia é compartilhada pelo secretário de Turismo, Cassiano Marques, que acredita que com uma gestão compartilhada (governo, iniciativa privada e comunidade), planejada e orientada, é possível preservar esse importante patrimônio histórico e cultural, bem como promover a geração de renda para a comunidade do entorno.
Torre de 23 metros – Uma experiência única. Observar do alto a magnitude e a grandiosidade dos desenhos geométricos feitos no solo acreano, chamados de geoglifos, leva a imaginação a percorrer caminhos que datam de milênios. Teriam as marcas sido desenhadas na terra por civilizações antepassadas ou por seres do espaço? Se foram homens, como foi possível esculpir figuras gigantescas e tão precisas num tempo onde não havia tecnologia suficiente para tal feito? Essas questões povoam a mente até mesmo dos mais céticos dos homens, quando colocados frente a frente com um dos quase trezentos sítios arqueológicos espalhados pelo Estado do Acre.
Infelizmente, essa experiência singular até o momento só pode ser vivida por poucos. Turistas e pesquisadores que dispõem de recursos para alugar um avião no aeroporto de Rio Branco, capital do Estado, e sobrevoar os locais onde eles se encontram. Entretanto, essa realidade será coisa do passado num futuro bem próximo. O governo do Estado, por meio da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (SETUL), deverá inaugurar até dezembro uma torre de observação com 23 m de altura, o que possibilitará que os visitantes contemplem pelo menos duas dessas figuras geométricas.
O projeto prevê ainda um espaço com museu, lanchonete e lojinha de artesanato, que serão administrados pelos moradores da comunidade das Quatro Bocas, estrada de Boca do Acre, onde esses sítios arqueológicos estão inseridos. “Atualmente, para observação dos geoglifos o turista tem que alugar um avião no aeroporto de Rio Branco. Suponhamos que ele alugue por uma hora, para chegar até esta área vai levar uns quinze minutos para ir e outros quinze para voltar, só lhe restando aproximadamente 30 minutos para sobrevoar as figuras”, explica o secretário de Turismo.
Com a construção da torre, cujo processo licitatório se encontra em fase de homologação pela Comissão Permanente de Licitação do Governo do Estado (CPL), os turistas, visitantes e pesquisadores gastarão bem menos para ter a mesma experiência. “As pessoas poderão vir de carro até a região, o que diminui consideravelmente o valor do passeio”, afirma.
Segundo Cassiano Marques, além do observatório, cuja construção será bancada pelo governo, uma empresa aérea está em processo de legalização de uma pista de pouso a menos de cinco minutos de carro da Fazenda Colorada, local onde se encontram os dois geoglifos a serem observados. “Quem quiser ainda vai poder contratar um vôo e gastar todo o tempo contratado observando as figuras. Além disso, a empresa vai disponibilizar vôos mais curtos, algo entre quinze ou trinta minutos, que é bem mais barato do que o de uma hora, para quem quiser observar melhor os desenhos”, conta.
Conhecendo melhor as formas – Geoglifos são vestígios arqueológicos representados por desenhos geométricos – linhas, quadrados, círculos, octógonos, hexágonos -, zoomorfos (animais) ou antropomorfos (formas humanas), de grandes dimensões e elaborados sobre o solo, que podem ser totalmente e melhor observados se vistos do alto. Essas figuras podem ser encontradas em várias partes do mundo.
Os geoglifos mais conhecidos e estudados estão na América do Sul, principalmente na região andina do Chile, Peru e Bolívia. As linhas e geoglifos de Nazca, no Peru, são os exemplos mais conhecidos desses desenhos. Há pouco mais de trinta anos foram descobertos no Acre. As primeiras ocorrências que foram percebidas datam de 1977, quando Ondemar Dias, do Instituto de Arqueologia Brasileira do Rio de Janeiro, esteve na região localizando e estudando sítios arqueológicos, como parte do inventário nacional que estava sendo realizado pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônia.
Mas foi em 2007, que a SETUL propôs, pela primeira vez, transformar as figuras em produtos turísticos. “Propomos isso porque acreditamos que o turismo vai possibilitar a preservação dos mesmos, a exemplo do que aconteceu com as linhas de Nazca, no Peru. Nós temos no Acre figuras que foram cortadas por estradas, se transformaram em pastos, porque
ninguém dava o mínimo valor para elas. Até mesmo por não saber que as figuras são patrimônio histórico e cultural não apenas nosso, mas da humanidade”, defende Cassiano Marques.
Na época eram conhecidos apenas 47 sítios arqueológicos. Hoje, com os esforços da Secretaria em apoiar a pesquisa sobre os mesmos, esse número chega a quase trezentos. Para mais informações sobre os geoglifos acreanos visite o site exclusivo sobre o assunto.