Cosmos foi o documentário de maior audiência de sua época, levando a ciência da Astronomia de maneira acessível a milhões de pessoas por todo o mundo. Seu idealizador, o saudoso astrônomo e divulgador científico Carl Sagan, já era uma celebridade antes, mas atingiu o verdadeiro estrelato após sua exibição.
Tanto a série de TV em 13 episódios, quanto o livro de mesmo nome, publicado no Brasil pela Francisco Alves, se mostraram altamente inovadores naquele período, ainda hoje são contemporâneas e consistentes com as mais recentes descobertas científicas. Sagan pagou um alto preço por suas convicções, sendo inclusive preso por duas vezes enquanto defendia o desarmamento nuclear, mas temos atualmente a certeza de que ele estava absolutamente correto em suas afirmações.
Sua maior ousadia, sem a menor sombra de dúvida, foi defender o estudo de outros sistemas solares e a presença de vida através da galáxia e do universo como um todo. Em Cosmos, disse textualmente: “Para mim, parece muito mais provável que o Cosmos esteja repleto de vida“. Isso rendeu ainda uma outra frase, utilizada em seu livro de ficção científica Contato e repetida no filme de mesmo nome: “Se só nós existirmos, o universo é um grande desperdício de espaço“.
Sagan atuou decisivamente nas etapas mais fundamentais do programa espacial dos Estados Unidos, junto a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA). Entre outras missões histórias, participou das expedições das sondas Mariner 4 (1965), e nas duas missões Viking (1976), além de várias outras. As Viking, inclusive, tem seus impressionantes resultados de busca por vida em Marte em debate até hoje na comunidade científica.
Nos tempos de Cosmos, Sagan disse que os resultados dos testes biológicos realizados na superfície de Marte pelas duas sondas foram instigantes, mas inconclusivos, e defendeu em sua obra-prima que se Marte tiver mesmo vida nos dias de hoje, então esse planeta pertence aos marcianos, mesmo que sejam apenas micróbios.
Criticou duramente a NASA por dedicar-se exclusivamente aos vôos em órbita da Terra, afirmando que isso não era a verdadeira exploração espacial. Para Sagan, explorar o espaço é ir a outros mundos e buscar conhecimento. Ao final da vida, em 1996, ainda comentou o espetacular anúncio da descoberta de possíveis fósseis de bactérias marcianas, anunciado em agosto daquele ano pela NASA. Disse que, a se confirmar as informações, seria a maior descoberta de todos os tempos.
O legado de Carl Sagan, neste ano em que Cosmos completa 30 anos, é absolutamente espetacular e inspira cada uma das grandes descobertas da ciência nos últimos anos. Na semana em que é anunciada a descoberta do planeta que reúne as melhores condições de habitabilidade já encontrado, Gliese 581g, a Estação Ciência, em São Paulo, irá realizar em parceria com os grupos Cosmos Legacy, Grupo de Ficção Científica Alpha e o site Aumanack, do qual é co-editor o consultor da Revista UFO Renato Azevedo, um evento no próximo sábado, dia 02 de outubro, para celebrar o legado de Carl Sagan.
Essa herança inspirou o artigo Carl Sagan, O Legado do Cientista Serve de Inspiração e Ponto de Reflexão para os Ufólogos, também de Renato Azevedo, publicado na edição UFO 130. Sagan foi crítico da Ufologia, mas sempre debateu de maneira civilizada com pioneiros como J. Alen Hynek, não podendo, de forma alguma, ser confundido com pseudo-céticos ou pós-pupilos que se pretendem “donos“ de sua biografia e intérpretes do conteúdo.
O legado de Carl Sagan pertence a toda a humanidade, e seguramente não foi por outro motivo que a revista norte-americana Discover, em seu número de março de 2000, estampou em sua capa Carl Sagan was right [Carl Sagan estava certo], quando da publicação de um extenso artigo sobre os exoplanetas. Até mesmo depois de Sagan, muitos cientistas duvidavam da existência de planetas ao redor de outras estrelas.
Agora, as descobertas desses mundos se sucedem quase a cada semana. Está mais próxima a cada dia a confirmação da existência de vida extraterrestre pela própria ciência, em cuja divulgação ninguém superou Carl Sagan. E, mais uma vez, sua herança se mostrará atual, como será exposto neste próximo sábado, na Estação Ciência, em Carl Sagan: Um Legado para a toda a Humanidade.