Uma pesquisa, publicada no Icarus, do Centro de Astrobiologia de Madrid, que colabora com a Agência Espacial Norte-Americana (NASA), demonstrou que as bactérias que vivem no Rio Tinto, em Huelva, sudoeste espanhol, são capazes de viver em Marte. “Não esperávamos que sobrevivesse nem uma”, afirma Felipe Gómez, que liderou a investigação. “Os resultados mostram que a vida em Marte é mais viável do que se pensava”, realça. As margens do Rio Tinto são um dos lugares na Terra mais parecidos com o planeta vermelho. Os cientistas recolheram do solo bactérias quimiolitotróficas [resumindo, que utilizam de compostos inorgânicos como fonte de energia, consideradas também como organismos extremófilos], que se alimentam da oxidação dos minerais e, até agora, acreditava-se que eram incapazes de sobreviver fora do seu ambiente.
A equipe de Gómez as introduziu em cilindros da altura de uma pessoa e, dentro desses tubos, simulou Marte: baixou a pressão a sete milibares, aumentou a radiação ultravioleta e desceu a temperatura até os -120ºC. “Dependendo do lugar e da época do ano, a temperatura do planeta oscila entre -170º e os 25ºC”, comenta Gómez. “Queríamos testar uma das piores situações possíveis para observar se seriam ou não capazes de resistir”, acrescenta. Cobriu-se cada população com um capa fina mineral de dois milímetros, e outra de cinco, mantiveram-nas fechadas por 24 horas. “A estas condições, o volume de radiação que recebem equivale há vários dias marcianos”, explica o investigador. Nas populações mais fortes, até 50% das bactérias sobreviveriam um dia por lá.
Pode existir vida em Marte? Com isto, levanta-se a questão sobre a possibilidade de reprodução destas bactérias ou outras, semelhantes, para que haja uma forma de vida contínua. Tudo depende se, como já confirmaram vários estudos, exista água na superfície do planeta vermelho. “Se houver água, poderia haver reprodução”, afirma Gómez. Este trabalho é parte dos preparativos do Mars Science Laboratory da NASA. Em 2011, uma sonda vai levar o veículo de exploração Curiosity, com o objetivo de procurar vida em todo o planeta.
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