Muito se tem falado recentemente sobre a Operação Prato, o mais importante conjunto de ocorrências ufológicas do Brasil. Alguns artigos e textos circulam no universo ufológico brasileiro a respeito desse palpitante assunto, especialmente estimulado pela Revista UFO, através de seu espaço Dossiê Amazônia, e a apresentação do programa especial Linha Direta Mistério, de 25 de agosto. Alguns textos trazem entrevistas com o coronel Uyrangê Hollanda, feitas décadas após a referida operação, com importantes informações sobre as atividades militares na selva amazônica, as experiências pessoais de seus integrantes com o Fenômeno UFO etc. O item mais polêmico de todo esse repertório refere-se ao suicídio do ex-comandante da missão militar.
Apesar de ter conhecido o coronel Hollanda muito bem, tendo convivido com ele não só em Belém (PA), como durante os três meses em que residiu em Fortaleza (CE), prefiro não discutir a situação de sua morte. No entanto, não me eximo de reconhecer que Hollanda, nos anos posteriores à Operação Prato, tinha sua personalidade abalada pelos fatos vividos, embora não demonstrasse, na época, uma tendência suicida ou mesmo indícios de já ter tentado algo contra sua vida. Minha intervenção se dá para transmitir informações a que tive acesso logo no início do chamado fenômeno chupa-chupa, que, ao contrário do que todos imaginam, se originou na cidade de Pacajús, Estado do Ceará, em 1975, e não nas ilhas fluviais do Pará, em 1977. Essa pode ser uma estranha revelação, é verdade, mas se verá no texto a seguir que é consistente.
Como tudo começou — Pacajús é uma pacata cidade cearense. Ou era, antes de 1975. Nesse ano, algumas mulheres, em geral lavadeiras, passaram a ser atacadas às margens de açudes ou riachos onde trabalhavam por estranhos objetos voadores. Felizmente, os casos não contaram com óbitos, embora um soldado da Polícia Militar tenha atirado num veículo aéreo na cor alumínio que avançou sobre ele na estrada que liga o município à capital do Ceará, Fortaleza. O UFO tinha várias luzes que piscavam freneticamente e, depois de agredido, as apagou por completo e subiu vertiginosamente sem ruídos. Naquela mesma noite, nas proximidades de onde o soldado havia sido assustando pela nave, um motorista de táxi, conduzindo o veículo de placas AH 7913, foi sobrevoado por outro – ou o mesmo – objeto voador não identificado. Várias são as testemunhas do estado embrionário do chupa-chupa, que acabou culminando, anos depois, no Pará, na deflagração da Operação Prato. Uma delas é a senhora Francisca Pereira Soares, que recebeu um raio de luz oriundo do que chamou de “aparelho”, denominação comum para aquele tipo específico de UFO.
Dona Francisca sentiu-se tonta e, em companhia do filho menor, jogou-se embaixo de um pontilhão, ambos tentando escapar da morte. O episódio, como os anteriores, passou a ser conhecido em toda a região de Pacajús e os casos foram se multiplicando. As descrições que as vítimas davam aos fatos era de que, invariavelmente, tinham seus seios queimados por raios de luz provenientes dos artefatos voadores. Após os incidentes de Pacajús, ainda no Ceará, é que o chupa-chupa passou a se manifestar também no Estado do Maranhão, especialmente nas localidades de Tutóia, Barreirinhas, Pinheiros, Ilha do Caranguejo e São Luis, a capital. Até então, tínhamos como certo que o fenômeno se desenvolvera a partir da Baixada Maranhense, dirigindo-se para Belém e de lá para o Baixo Amazonas. No Maranhão, onde de fato houve grande intensidade de casos, o ápice da onda chupa-chupa durou de 1975 a 1976, período em que muitos ataques e algumas mortes foram registrados – um caso é o rapto de Antônio Alves Ferreira, em plena capital maranhense [Veja UFO 70].
A situação em Colares — No mês de julho de 1977, recebemos na sede do Centro de Pesquisas Ufológicas (CPU), em Fortaleza, a visita de um taifeiro do navio salineiro Scorpion, que trouxe boas informações sobre o assunto. O cidadão, um caboclo encorpado e de feições grosseiras, mas muito educado, declarou ter feito inúmeros avistamentos de objetos voadores não identificados em viagens entre Macau e Manaus, e resolveu relatar os fatos de que tinha conhecimento, ocorridos nas ilhas do Marajó, Mosqueiro e Colares, no epicentro do fenômeno chupa-chupa no Pará. Eleutério Silva, vulgo Pará, detalhou vários acontecimentos ao CPU, relatando inclusive que, nos dias de picos de manifestação de luzes, eram notadas com freqüência lanchas da Marinha Brasileira conduzindo militares às áreas atingidas – sem falar em dois hidroaviões, que sempre desciam nas imediações de Colares.
Naquela época, este autor exercia o cargo de Gerente Regional da empresa multinacional Mead Johnson e constantemente viaja a Belém, para estadas por períodos que às vezes permitiam contatos com testemunhas ufológicas. Numa ocasião, foi possível encontrar o prático de navios Manoel Silva Silveira, o Neo, um paraibano residente há alguns anos na capital paraense, que tinha muitas informações adicionais. Na ocasião, em agosto de 1977, Neo se prontificou a usar sua lancha para junto colhermos informações sobre as inquietantes luzes vampiras que assustavam os moradores. Ele já havia tido contato com elas na Ilha de Marajó, durante uma caçada. Com sua boa vontade e interesse, trabalhamos dois dias inteiros na empreitada e estivemos em Mosqueiro e Colares. Na primeira ilha nada encontramos de significativo. Mas em Colares a situação era outra.
Tivemos oportunidade de conversar com dezenas de moradores e todos, praticamente, informaram ter assistido evoluções de estranhos objetos prateados ou luzes misteriosas que cortavam os céus escuros da região, ora muito visíveis, ora apenas distantes pontos de luzes que amedrontavam os ribeirinhos. Era auge do fenômeno chupa-chupa. Na ocasião, colhemos excelentes informações e, pelo que continham, não havia nenhuma dúvida de que estávamos diante de uma impressionante onda ufológica – a mais importante de todas que já registramos, sabemos hoje.
Dificuldades na investigação — Em setembro, 30 dias após os primeiros casos, tivemos novas informações sobre as crescentes manifestações exógenas no Pará. Recortes de jornal davam conta de que havia uma situação de extrema gravidade na área, mas, infelizmente, nenhum ufólogo para analisar os casos. Na época, o biomédico Daniel Rebisso Giese, entrevistado da edição 114 da Revista UFO, ainda não residia em Belém. O único ufólogo que havia na região era Antonio Jorge Thor, um homem misterioso, que não dava endereço nem telefone, e não procurava contato com a mídia. Começavam então as dificulda
des para se estabelecer um padrão de coleta e investigação dos abundantes casos.
A muito custo, por intermédio da imprensa, localizamos três pessoas que alegavam ter sido perseguidas ou atacadas por tais luzes. Entre elas estava o senhor Francisco Vasconcelos, que declarou ter visto duas esferas não identificadas que rodopiaram no ar a média altitude e, numa dessas evoluções, ambas dirigiram-se ao mesmo ponto no espaço e se chocaram, explodindo sem estrondo ou ruído, deixando cair inúmeros “pedacinhos de luz”, segundo a testemunha. Tais pedacinhos, ao tocarem o solo, ferviam e evaporaram soltando uma fumaça esverdeada, sem deixar qualquer marca. O fato foi presenciado por centenas de pessoas e publicado nos jornais O Imparcial e O Estado. Casos como esse estavam ocorrendo em plena área mais habitada da cidade, e não apenas na floresta ou nas ilhas distantes.
Outro relato interessante partiu dos senhores Roberto Vasconcelos e José Lima, que informaram ter visto, nas imediações da casa de um deles, às 19h30 de determinada noite, um objeto em forma de peão que lentamente desceu sobre um terreno baldio. Dentro dele, através de uma janela oval, via-se um complexo de luzes multicoloridas piscantes e três seres, dois deles parecendo segurar “manivelas” e, o terceiro, observando-os por trás. O objeto estava baixo, suspenso a aproximadamente 3 m do solo. Vasconcelos e Lima chamaram outras pessoas para observarem o fato, num total de 13. Vendo o estranho corpo mover-se para o lado do alpendre da casa, as testemunhas entraram e fecharam a porta, observando os movimentos do UFO pelas frestas das janelas e portas. Depois de quase 10 minutos, o objeto silenciosamente subiu e desapareceu.
UFOs discóides, cilíndricos e quadrados — Conseguimos na época uma grande documentação sobre os primórdios da ação do chupa-chupa, que foi enviada pelo Centro de Pesquisas Ufológicas (CPU) a vários estudiosos do sul do país. No entanto, a comunicação com os mesmos era difícil ou impossível e não havendo na ocasião a indispensável Revista UFO para aproximar a Comunidade Ufológica Brasileira, muitas oportunidades de pesquisa se perderam. De qualquer forma, a entidade cearense manteve-se em sua rotina de coleta e análise dos casos, sendo o CPU, legitimamente, o primeiro centro de pesquisas ufológicas do país a conhecer de frente o fenômeno chupa-chupa.
Quando residindo em Fortaleza, o coronel Uyrangê Hollanda passou a ser freqüentador habitual do escritório do CPU, onde gentilmente concedeu-nos entrevistas e detalhou os casos por ele vividos apenas poucos meses ou anos antes, durante a Operação Prato. Foi somente após quase duas décadas que o militar viria a se aposentar da Força Aérea Brasileira (FAB) e, em 1977, conceder sua espantosa entrevista à Revista UFO. Os diálogos que mantínhamos com ele eram fascinantes e sempre ofereciam oportunidade para Hollanda ter por nós mais confiança e liberdade para fazer suas revelações. Várias das que nos descreveu não saem da lembrança, de tão espetaculares.
Numa certa ocasião, Uyrangê Hollanda, ainda reticente e procurando evitar respostas diretas, confirmou ser a Operação Prato uma realidade, mas que ele era “proibido de expor toda a verdade”, devido ao seu compromisso com a Aeronáutica. Ele confirmou que cedera a Daniel Rebisso Giese algumas informações sobre a missão militar, permitindo que fossem publicadas, pois a imprensa paraense já havia descrito muitos casos ao pesquisador, que passara na época a residir em Belém. Com uma certa instabilidade emocional e alguns tiques nervosos, o militar nos mostrou 19 filmes em formato super-8 mm, alguns mudos, apresentando evoluções de estranhos objetos discóides, em forma de charuto ou quadrados, todos sobre a Região Amazônica. Assistimos a cinco dos 19 filmes e vimos ainda muitas fotos que Hollanda possuía. Sua advertência era para que nada comentássemos sobre que estávamos vendo, pois aqueles eram segredos da Força Aérea Brasileira (FAB) e nada poderíamos divulgar até que estivessem liberados ao público.
O coronel, entretanto, consentiu que tirássemos fotos daquela documentação e do relatório final da Operação Prato. Algumas das imagens eram as mesmas publicadas pela imprensa paraense ou constantes do livro de Giese, Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular, 1991. A Revista UFO planeja republicar a obra brevemente, após uma atualização dos dados e incorporação de novos fatos pelo autor]. Uyrangê Hollanda confirmou estar escrevendo um manuscrito que, na época, já tinha mais de 250 páginas, contando tudo o que acontecera na missão militar que conduziu, mas se negava a apresentar tais fatos à imprensa.
“Quando terminar meu livro contarei tudo o que sei. Mas não agora, para não sofrer conseqüências”. Ele informou também que recorrentemente era proibido por seus superiores de revelar o que sabia, uma vez que, como militar na ativa, sofreria punições, “embora duvidasse muito” que isso acontecesse, em suas próprias palavras. “Na prisão, eu poderia contar coisas que os militares não gostariam que fossem divulgadas”. Não se tem notícia de que as ameaças de seus superiores tenham se concretizado. O coronel confirmou aos integrantes do CPU a existência de sondas ufológicas que, segundo ele, bisbilhotavam toda a região onde o chupa-chupa se manifestava. Descreveu UFOs em formato de deltas, cilindros e discóides, outros semelhantes a geladeiras e até um monstrengo do tamanho aproximado de um edifício de 30 andares. “Apesar do tamanho, aquilo era ágil e realizava manobras impossíveis para nossos aviões mais velozes”. Quanto ao procedimento que o chupa-chupa demonstrava, o de extrair sangue dos moradores, o militar alegava não entender sua razão. “Para que servia aquilo? Desconhecemos! Entretanto, era uma realidade que nos obrigou a levar médicos para tratar as pessoas anêmicas. E eles nada sabiam explicar”. Um desses profissionais era o doutor Orlando Zoghbi.
Hollanda, nos anos posteriores à Operação Prato, tinha sua personalidade visivelmente abalada pelos fatos que viveu
– Reginaldo de Athayde
Peregrinação — Num de nossos últimos encontros, Uyrangê Hollanda afirmou que se mudaria para Natal (RN), e que de lá, sem falta, nos remeteria notícias regularmente. E assim o fez, enviando-nos um cartão postal meses depois. Mas quando pensávamos que ainda estava na capital do Rio Grande do Norte, eis que na verdade já estava morando no Rio de Janeiro. Nessa época, tivemos conhecimento de que o militar havia entrado em profunda depressão, usando produtos químicos para sair de tal estado, sem resultado. Talvez isso explique seu gesto desesperado, enforcando-se em seu próprio apartamento e deixando, assim, um vazio na Ufologia Brasileira, que ainda tinha muito a aprender sobre os alienígenas na Amazônia.
Com sua morte surgiram algumas indagações óbvias. O
nde estão as 19 fitas em formato super-8 mm que assistimos certa vez? E o manuscrito bastante extenso que ele estava redigindo para compor seu livro? E as fotos, dezenas delas, que ele nos mostrou? Parece que todas essas evidências da ação extraterrestre em nossa selva se foram junto do grande amigo.