No início de agosto 1997, quando fui a Cabo Frio junto do editor da Revista UFO, A. J. Gevaerd, para encontrarmos o coronel Uyrangê Hollanda e colhermos seu depoimento sobre UFOs na Amazônia e a Operação Prato, apesar de sabermos da importância de nosso encontro para a Ufologia Brasileira e Mundial, evidentemente não poderíamos, naquele instante, antecipar os inúmeros desdobramentos que nossa ida ao litoral norte do Rio de Janeiro teria, nem quanto àquela nossa reunião marcaria a vida de cada um de nós. Hoje, no momento em que UFO promove uma ampla discussão sobre todos os detalhes da onda ufológica ocorrida na Amazônia, no ano de 1977, que deu origem e foi investigada pela referida missão militar, percebo que este é o momento certo de abordar os fatos mais significativos vividos pelo coronel Hollanda em seus últimos dias, dentro do processo de divulgação da verdade que ele sabia.
Após ter prestado dois depoimentos – o primeiro sendo a histórica entrevista para esta revista e, o segundo, um novo relato para ser utilizado por este autor em uma de suas produções em vídeo –, Hollanda, poucos dias depois da segunda manifestação, aceitou meu convite para proferir aquela que seria sua única conferência pública, que acabou sendo realizada no dia 07 de setembro de 1997, no auditório do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), na cidade do Rio de Janeiro. Há anos mantemos no local, mensalmente, palestras regulares sobre todos os aspectos da Ufologia [Veja detalhes em www.marcopetit.com].
Ainda me lembro perfeitamente que várias pessoas, habituais freqüen-tadores da série de eventos no IBAM, após receberem correspondência com a propaganda para aquela edição em especial, chegaram a telefonar em busca de confirmação se era mesmo verdade que o comandante da Operação Prato faria a palestra anunciada. Algumas delas aventavam a possibilidade de estar havendo alguma interpretação equivocada da propaganda, imaginado que seria apresentado, na verdade, apenas o depoimento em vídeo do coronel Uyrangê Hollanda. Para muitos integrantes de nosso público era difícil imaginar que um militar de alta patente da Força Aérea Brasileira (FAB) seria capaz de tal atitude de desprendimento e coragem. Mas era. E como sabemos, uma das páginas mais importantes de nossa Ufologia estava realmente para ser escrita.
Contatos na selva — Na manhã do dia 07 de setembro, fui buscar o ufólogo hipnólogo Mário Rangel no Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro, que também participaria do evento, proferindo uma das conferências programadas e anunciadas. Em seguida, nos dirigimos de carro até a Rodoviária Novo Rio, para encontrarmos Hollanda, quechegava de ônibus da Região dos Lagos, onde ainda residia. Após o encontrarmos, este autor, Rangel, o também ufólogo Renato Travassos – que já tinha conhecido o comandante da Operação Prato na época em que havia residido em Belém (PA) – e o próprio Hollanda fomos almoçar em um restaurante nas proximidades do local do evento. Foi justamente durante esse nosso almoço, em meio a uma longa conversa, que começamos a suspeitar, a partir de certas declarações do militar, que poderia haver detalhes relativos aos contatos mantidos por ele e seus comandados com seres extraterrestres e suas naves na selva, ainda bloqueados no inconsciente do coronel.
Foi nossa imediata interpretação que tais detalhes poderiam ser “acessados” mediante sessões de hipnose regressiva. Chegamos, inclusive, a deixar planejado um outro encontro com o militar, no Rio de Janeiro, para que Mário Rangel realizasse a primeira delas. Logo após essa definição, encerramos o almoço e fomos finalmente ao auditório do IBAM, onde uma numerosa platéia já aguardava com evidente ansiedade o início do evento. Rangel proferiu uma brilhante palestra sobre a importância da hipnose na Ufologia e, em seguida ao intervalo, iniciei a segunda parte dos trabalhos. Convidei Hollanda para sentar-se ao meu lado na mesa montada no palco, pois havíamos combinado que eu o acompanharia em seu depoimento, intervindo se necessário, para que o militar não deixasse de abordar os pontos mais importantes de suas experiências e das pesquisas realizadas na Amazônia pelos militares do I Comando Aéreo Regional (COMAR I), que criaram a Operação Prato.
Advogado do diabo — Aquela edição de nossa tradicional série de eventos foi verdadeiramente única. Não era difícil perceber, em meio ao respeitoso silêncio da platéia, consciente da importância do momento, que algo muito especial estava realmente começando a acontecer. O homem que havia comandado a referida missão militar, coronel Uyrangê Hollanda, estava firme em seu depoimento e passava cada vez mais credibilidade às suas colocações – se é que isso era possível, uma vez que suas declarações gravadas um mês antes em Cabo Frio eram bombásticas. O coronel começou falando de suas qualificações e dos cargos que ocupou na estrutura do COMAR I, desde a área de Intendência até o setor de Inteligência, detalhando ainda sua experiência de contato com tribos indígenas.
Ao ser questionado por este autor sobre qual a razão dele estar revelando todos aqueles fatos, após mais de uma década de silêncio, Hollanda declarou que, ainda na época dos fatos vividos por ele e seus comandados, não considerava que o assunto devesse ser tratado como uma ameaça à segurança interna da Aeronáutica, nem de segurança nacional ou ainda como segredo de Estado. Para ele, havia uma determinação de seus superiores para que se mantivesse o sigilo aos fatos, o que ele considerava injustificado. “Não havia motivo para o assunto ser tratado de maneira diferente e, diante desta situação, preferi ficar calado durante todo este tempo”, declarou.
Hollanda revelou em seguida como acabou se envolvendo com o assunto. Disse que certa vez, ao retornar de Brasília para Belém, onde estava fazendo um curso, foi chamado pela figura máxima da área de Inteligência do COMAR I, o coronel Camilo Ferraz de Barros, de quem recebeu a missão de comandar as pesquisas que já estavam sendo realizadas por outros militares [Chefiados pelo sargento Nascimento]. Tais atividades tiveram início a partir de um ofício encaminhado por um dos prefeitos da área afetada de maneira mais intensa pelo fenômeno chupa-chupa, onde os moradores estavam vivendo uma situação de crescente perplexidade. Segundo o coronel, o principal objetivo do grupo que ele formara por ordem do coronel Camilo era “olhar o fenômeno”, observá-lo cuidadosamente e, claro, colher depoimentos de testemunhas. Ele disse, inclusive, que mesmo a Força Aérea Norte-Americana (USAF) “nada podia fazer além disso, devido a disparidade tecnológica entre nossa humanidade e a dos planetas de onde vêm os objetos”. Hollanda afirmou aos presentes, de maneira bem objetiva, que tais artefatos eram naves e sondas sob controle de alguma avançada civilização e
xtraterrestre.
Cheguei a discutir o que pensava sobre o fenômeno chupa-chupa com o ufólogo e matemático francês Jacques Valléé, que concordou com muitas de minhas idéias
– Uyrangê Hollanda
Como já foi amplamente divulgado na Revista UFO, inclusive por este autor, e revelado para o público presente ao IBAM pelo próprio coronel Uyrangê Hollanda, ele havia entrado no assunto como uma espécie de “advogado do diabo”, segundo suas próprias palavras. Apesar de acreditar na existência de vida inteligente fora da Terra e de ter avistado um objeto de grandes proporções quando criança, o militar não estava pronto para confirmar a presença de discos voadores na Amazônia para o comandante do COMAR I, o brigadeiro Protázio Lopes de Oliveira. Hollanda só fez isso quando ele próprio, juntamente com seus comandados, esteve frente a frente com naves estruturadas, que algumas vezes chegavam a menos de 100 m de distância de seu ponto de observação e tinham dezenas de metros de diâmetro. Tudo foi devidamente fotografado e filmado.
O coronel ressaltou ainda que a presença do brigadeiro Protázio à frente do COMAR I foi fundamental para o estabelecimento da Operação Prato. “Sem ele no comando, apesar da intensa atividade ufológica no Pará naquela época, provavelmente a missão não teria saído do papel”. Segundo o conferencista daquele memorável dia, o brigadeiro fazia parte daquele grupo de oficiais graduados que acreditava na realidade do Fenômeno UFO e na importância de uma investigação séria a respeito do assunto. Hollanda não estava errado, como se sabe.
Centenas de fotografias e filmes — O conferencista também falou das dificuldades que ele e seus comandados tinham em documentar as manifestações ufológicas no início das investigações, assim como descreveu o convite que fez a um cinegrafista profissional de sua confiança que trabalhava na TV Liberal, o senhor Milton Mendonça, cuja participação foi autorizada pelo próprio comando. Segundo Hollanda, com a participação e orientação de Mendonça, foram finalmente conseguidas centenas de fotografias e vários filmes documentando a presença de UFOs na selva. “A população toda estava vendo aqueles objetos, mas o material conseguido pela Força Aérea iria sofrer um tratamento técnico”, revelou.
Continuando sua narrativa, agora sem a intervenção deste autor, o coronel prendia cada vez mais a atenção dos presentes, passando a relatar os casos mais importantes que viveu e que o convenceram de que estava realmente diante de um fenômeno de alta tecnologia, evidentemente originado de fora do planeta Terra. A esta altura da Operação Prato, alguns de seus comandados já tinham tido experiências suficientes para se convencerem da realidade da presença de uma avançada civilização extraterrestre na área. Muitas vezes, conforme revelou Hollanda ao público presente no IBAM, eram justamente seus comandados que insistiam em dar como certa a natureza exógena daqueles objetos. Mas Hollanda ainda relutava em aceitá-la.
No entanto, sua opinião começou a mudar com uma experiência que teve na Ilha de Colares, quando uma luz muito forte veio da direção da Ilha de Marajó, do outro lado do rio, e deu uma volta por cima do acampamento militar montado em uma das praias do local. Segundo o coronel, os sargentos da Inteligência do COMAR I, que estavam presentes naquela vigília, chegaram “a gozar de seu comandante”. Eles perguntavam “e agora capitão?” [Uyrangê Hollanda tinha o posto de capitão na época]. Bastava olhar para os presentes na conferência daquela tarde para perceber sua importância para a história da Ufologia Brasileira. Eu estava numa posição privilegiada para perceber isso, ao lado de Hollanda e dando, em alguns momentos, uma modesta contribuição para que ressaltasse certos detalhes. A platéia parecia, em alguns momentos, não acreditar no que estava acontecendo. Mas era real!
As declarações de Hollanda, prestadas naquele dia, pertinentes aos procedimentos da pesquisa militar, dos cuidados técnicos relativos ao material fotográfico que estava sendo conseguido e todo o tratamento dado às informações relativas a tais investigações, servem como resposta para as autoridades da Força Aérea Brasileira (FAB). Elas, ao serem questionadas pela produção do Linha Direta Mistério de 25 de agosto [Veja UFO 114], foram responsáveis pela desastrosa nota oficial remetida à redação do programa, que questionava a importância e validade da “chamada” Operação Prato.
Serviço Nacional de Informações — Dando seguimento a sua narrativa, o coronel Uyrangê Hollanda passou a falar dos casos ocorridos na Baía do Sol, uma região belíssima entre as ilhas de Mosqueiro e Colares, ambas à cerca de 90 km de Belém, numa noite no início de dezembro de 1977, em pleno auge da Operação Prato. O primeiro deles aconteceu por volta das 18h30 de determinado dia, quando, segundo Hollanda, foram observados três objetos “passando muito alto e vindo do oeste rumo ao Atlântico, com uma velocidade impossível de ser atingida por qualquer avião, mesmo militar”. Cerca de meia hora depois, mais dois artefatos foram observados com uma trajetória no sentido norte-sul, também a grande altitude e extrema velocidade. Pouco tempo depois, conforme relatou, chegaram a ponto de observação vários militares do antigo e hoje extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), que haviam solicitado ao comandante da missão autorização para participarem das pesquisas daquela noite memorável.
O coronel Uyrangê Hollanda revelou, para surpresa geral, que ele e todos seus comandados, além do pessoal do SNI, acabaram por ficar frente a frente com uma nave em forma de disco, que segundo os cálculos, teria cerca de 30 m de diâmetros e fôra observada a não mais que 200 m de altura, posicionada bem acima do ponto onde se encontravam. Para Hollanda, tratava-se de um disco voador, cuja parte de baixo era negra e tinha uma luz âmbar em seu centro. O UFO começou então a emitir progressivamente uma luz amarela para baixo, exatamente sobre o grupo, transformando em dia a região onde estavam os militares. Aquela luz aumentava e diminuía de tamanho, “como se fosse controlada por um dimer” [Aparelho que gradua a intensidade luminosa de uma lâmpada]. Tal efeito foi produzido cerca de cinco vezes e, em seguida, a luz âmbar se transformou em azul e o aparelho desapareceu em alta velocidade, em sentido leste, deixando todos sobre forte impacto emocional.
Essa foi uma de suas grandes revelações, mas houve outras durante sua palestra. Hollanda falou também de outros casos de contato mantidos por moradores da região que o haviam impressionado, e revelou todos os detalhes da noite em que ele e seus companheiros de investigação estiveram diante de uma nave cuja forma lembrava uma bola de futebol americano, fotografada e filmada a menos de 100 m de distância. Nessa ocasião, os militares estavam numa embarcação no Rio Guajará-Mirim e o objeto, segundo estimativas, tinha 100 m de diâmetro, chegando a distar apenas 70 m do barco. Ainda segundo o relato de Hollanda no IBAM, após permanecer imóvel pairando nas proximidades da embarcação, durante vários minutos, a nave começou a ganhar altura lentamente até atingir uma distância de segurança, para acionar de maneira mais intensa sua propulsão – já a uma altura avaliada em torno de 1.500 m. Para o relator de tais assombrosas ocorrências, “havia uma inteligência ali dentro, controlando tudo e preocupada em não atingi-los ou gerar qualquer tipo de dano a ele e aos membros de sua equipe”.
Processo sorológico — Esse ponto de sua narrativa mereceu atenção especial da platéia. Ele foi, sem dúvidas, um dos momentos mais importantes de toda sua conferência. A forma como a experiência foi descrita nos fez questionar até que ponto o chamado fenômeno chupa-chupa era realmente algo negativo para os seres humanos, expressando uma agressividade gratuita por parte dos responsáveis por aquelas naves e sondas, como algumas das últimas matérias e entrevistas publicadas em UFO – e mesmo no programa Linha Direta Mistério – deu a entender? Hollanda alegou que, com o passar do tempo e uma profunda reflexão, chegou à conclusão de que os responsáveis por tais manifestações estavam de fato extraindo material biológico da população, na forma de amostras de sangue. Para ele, a intenção dos seres extraterrestres seria desenvolver, através de um processo sorológico, algum tipo de proteção ou vacina “para que eles pudessem se proteger das nossas doenças e enfermidades, quando tivessem de conviver com nossa humanidade”.
O militar chegou a conversar sobre o assunto com matemático e ufólogo franco-americano Jacques Vallée, que considerou, segundo o próprio conferencista, “a explicação mais lógica para o que aconteceu naquela região da Amazônia, em tal época”. O coronel Uyrangê Hollanda revelou ainda que a inspiração que tinha para a criação de tais idéias vinha dos próprios cuidados que ele e seus comandados mantinham quando se aproximavam de tribos indígenas, as quais tinham que visitar e tratar eventualmente, como parte de suas funções militares. Sua preocupação era de não passar para aqueles povos quaisquer doenças e patologias, para as quais nós temos resistência e defesa, e eles não.
Visão mais abrangente — Por tudo o que está sendo exposto, não é difícil de perceber – se formos realmente honestos em nossa análise – que a interpretação negativa das ações do chupa-chupa, em seu sentido mais profundo, é insustentável ou no mínimo contraditória. Especialmente se levarmos em consideração certos detalhes do que aconteceu durante a onda de tal fenômeno. Desde que me envolvi com o assunto, tenho conversado com várias pessoas que estiveram na região na época em que os fatos aconteceram e examinado de maneira cuidadosa os documentos militares resultantes da Operação Prato, aos quais tivemos acesso. Evidentemente, ao fazê-lo, procuro dar mais importância aos aspectos documentados e que transcendem os depoimentos referentes a certos detalhes, cujas evidências são apenas depoimentos – que, inclusive, entram em choque com as idéias que parecem emergir de uma visão mais abrangente do problema.
Não há dúvidas de que houve uma situação de perplexidade e mesmo de desespero em razão da presença daquelas naves e sondas de origem não terrestre na Floresta Amazônica. Como é seguro que um número ainda não determinável de pessoas foi realmente atingido e vitimado pelos raios emanados, principalmente, de um tipo específico de objeto aéreo. Um dos documentos militares existentes em nossos arquivos, um relatório de 05 de novembro de 1977, revela a gravidade dos fatos. O documento é assinado pelo então primeiro sargento João Flávio de Freitas Costa, na época chefe de uma equipe da Inteligência do I Comando Aéreo Regional (COMAR I) – a chamada A-2. Esta é a primeira vez que o relatório é transcrito e publicado [A pontuação e redação dos textos foram minimamente alteradas para melhor clareza]:
“A cidade de Colares (PA) vive um estado de ‘histeria coletiva’. Seus moradores, impressionados com o aparecimento das misteriosas luzes de origem desconhecida, não dormem, não pescam e, sobretudo, debilitam-se na bebida, gastando seus parcos recursos em fogos e bebida. Desde o cair da noite ao alvorecer, são acesas fogueiras e fazem procissão (diária). Fogos e tiros são constantemente disparados, como que para assustar um inimigo que não sabem quando e onde vai atacar. Bandos de 20 a 30 pessoas, em sua maioria homens, percorrem a cidade em todos os sentidos. A população vive apavorada. Vez ou outra há gritos de pavor e a notícia, em seguida, de que o aparelho atacou, tal pessoa. As pessoas atingidas sofrem o que podemos classificar de forte crise nervosa (salvo melhor juízo), referindo quase que unânimes à imobilização parcial ou total, perda de voz, calafrios, tonturas, calor intenso, rouquidão, taquicardias, tremores, cefaléia e amortecimento progressivo das partes atingidas (grande maioria)”.
idas pelo sargento Flávio, mostram claramente a situação de pânico que viviam as comunidades ribeirinhas do Pará, em especial Colares. Uyrangê Hollanda teve que lidar com um cenário de grande gravidade, como atesta o relator. Os leitores de UFO podem baixar do site da publicação as páginas conhecidas do documento
“Em se pensar que perdure a atual situação, ou seu agravamento, prevemos problemas de várias ordens, inclusive com possibilidade de auto-eliminação (suicídio) por parte dos mais fracos de espírito e em conseqüência do pavor do desconhecido. Como sugestão, as seguintes medidas preventivas poderiam ser tomadas: proibição da venda de fogos de artifício e bebidas alcoólicas, instruir a população quanto à maneira de manter vigilância, ou seja, de uma forma mais objetiva e racional (com revezamento). Dividir e distribuir grupos de no máximo 10 homens em zonas determinadas, obedecendo a um rodízio”.
Outro relatório militar, datado de poucos dias depois – 09 de novembro – e escrito pelo mesmo militar da área de Inteligência, esclarece os fatos previamente informados ao comandante do COMAR I. Nele, o sargento Flávio, sempre o encarregado da documentação dos fatos, informa que a cidade de Colares apresentava uma “nova atmosfera”, que a grande maioria de seus moradores acabou aprendendo a conviver com o problema e apontava as palestras dos militares à população como responsáveis pelas mudanças. O militar se refere ainda à apresentação de slides sobre o tema, que acredita terem contribuído para a melhoria das condições locais.
Ataques em horários específicos — “As luzes continuam a aparecer e – o que é de se pasmar – obedecendo a um horário. Os populares já não se mostram tão assustados. Porém, ainda permanece a dúvida sobre o ‘monstro’ criado pela imprensa. O ‘chupa’, em sua ação de sugador de sangue, deixou marcado naquelas mentes o pavor e uma imagem distorcida e adversa da realidade”. Essa é parte do segundo relatório militar do sargento Flávio. Como se sabe hoje, ele foi uma espécie de braço direito do coronel Uyrangê Hollanda, que investigava os fenômenos antes de sua chegada a Belém, vindo de Brasília. Apesar de convencido sobre a realidade dos acontecimentos, e de ter mantido vários contatos com naves e sondas, o sargento atribuía à imprensa, pelo menos em parte, a responsabilidade pelo descontrole emocional da população e a visão negativa que passou a existir em relação ao fenômeno.
Para o sargento, foi justamente a chegada dos militares às ilhas fluviais do Pará, em especial Colares, que causou uma diminuição do pânico, levando aos locais uma situação de normalidade. Antes disso, conforme tive conhecimento, existia realmente um processo de histerismo e conseqüente autoflagelação por parte de várias das mulheres supostamente atingidas pela chupa-chupa. Ademais, é sabido que nenhum dos militares que participaram das operações foi atingido pela “luz vampira”, apesar de terem ficado em várias ocasiões frente a frente com as naves e sondas. Por quê? Inclusive, os grupos do A-2, a partir de determinado momento, começaram a ser claramente “procurados pelos tripulantes das naves”, como revelou Hollanda em sua palestra. Onde quer que estivessem os integrantes da Operação Prato, as naves se manifestavam abertamente, se deixando fotografar e filmar. Que fenômeno negativo, gratuitamente agressor, iria procurar e se deixar documentar, justamente pelos representantes de nossas Forças Armadas na região? Com que objetivo?
Até hoje não vi uma única foto, por exemplo, que mostre queimaduras nas vítimas do chupa-chupa com o grau de gravidade estampado, por exemplo, no programa Linha Direta Mistério. O programa, aliás, de maneira surpreendente, resolveu ignorar boa parte do depoimento do coronel Uyrangê Hollanda, justamente aquela que faz menção ao que haveria por trás das manifestações. As fotos das marcas deixadas pelo chupa-chupa, que são conhecidas, mostram uma realidade bem diferente – uma pequena marca circular ou oval, normalmente sobre o seio esquerdo, associada a pequenos furos.
Novo depoente — Há poucos meses, o ex-funcionário da Varig Vitório Peret, que acompanhou de perto vários dos acontecimentos do Pará, quando pesquisava a presença dos UFOs na região nos anos 70 e 80, antes mesmo do início da referida missão militar, prestou interessantes esclarecimentos. Ele aceitou dar um depoimento público numa edição recente de nossos eventos no IBAM, já descritos. Ele conheceu tanto o sargento Flávio como o próprio Hollanda, tendo participado inclusive de algumas vigílias na selva junto deles. Peret também é da opinião de que a interpretação negativa daqueles fenômenos não pode ser levada a sério, se formos realmente procurar a verdade por trás da casuística paraense.
O que o novo depoente revelou em seu depoimento serve para mostrar como as aparências podem ser enganosas. Peret faz menção ao estado de anemia que as pessoas atingidas pelos raios dos aparelhos agressores passavam a apresentar. Segundo ele, entretanto, a maior parte da população daquela região já apresentava tal sintoma previamente aos ataques, independentemente de ter sido ou não atingida pelos raios provenientes dos UFOs. “Devido à malária e por causa de uma alimentação insuficiente”, justificou. Assim, como observamos, é necessário termos mais cuidado ao fazermos certas afirmações. Ainda segundo Peret, “não podemos julgar o nível de agressividade do fenômeno pelo descontrole emocional e o nível de perplexidade vivido pela população, que convivia com o fenômeno”. Essa é uma realidade evidente. Prova disso é que mesmo este autor, em meio a pesquisas na Serra da Beleza, no oeste do Estado do Rio de Janeiro, teve a oportunidade de perceber como é fácil as pessoas reagirem violentamente diante o desconhecido e mergulharem num processo de descontrole emocional.
A população de Colares vive apavorada. Vez ou outra há gritos de pavor e a notícia, em seguida, de que o aparelho atacou tal pessoa
– Flávio Costa
Várias testemunhas dos fenômenos naquela serra, principalmente mulheres, chegaram a dar entrada no hospital local envoltas em crises emocionais por terem tido experiências próximas com UFOs na região. Bastava que seus carros fossem acompanhados por objetos luminosos nas estradas para que isso acontecesse. Tive que desenvolver um trabalho específico junto a alguns moradores, que pretendiam atirar contra os objetos. Esses fatos, como os próprios acontecimentos na Amazônia, servem muito bem para demonstrar que a pior política diante a realidade do Fenômeno UFO é o sigil
o. Em Colares, bastou a Aeronáutica chegar à localidade e começar seu trabalho de esclarecimento e acompanhamento para aquela situação de perplexidade fosse drasticamente reduzida. Temos informações de que militares do A-2, na condução da Operação Prato, chegaram a revelar a verdade a algumas testemunhas da região – ou seja, que por trás daqueles fenômenos estavam seres provenientes de outros mundos, e que não havia nada de demoníaco associado a tais ocorrências, como muitos pensavam.
Grande contribuição — Outro ponto que devemos ressaltar é a dedicação do coronel Uyrangê Hollanda com a divulgação da verdade. Mesmo antes de gravarmos seus depoimentos em vídeo e de sua autorização para divulgação de toda a história, ele, em vários momentos, já tinha contribuído para que as informações sobre as pesquisas confidenciais realizadas na Amazônia encontrassem certa divulgação. Em 1982, por exemplo, Hollanda convidou o comandante Gerson Maciel de Britto – do famoso Caso Vasp Vôo 169 – para conhecer, em uma área de máxima segurança dentro do COMAR I, em Belém, o vasto material obtido durante a missão militar na selva. Naquele encontro, segundo depoimento do próprio comandante Britto, devidamente gravado em vídeo, Hollanda havia lhe dito que se considerava constrangido por não ter podido falar algo antes.
“Foi por causa da farda, mas sou a favor do estabelecimento da verdade em relação ao seu encontro e de seus 150 passageiros com um UFO na madrugada do dia 08 de fevereiro de 1982”, disse o militar ao piloto da Vasp. Como já foi divulgado na época do Caso Vasp Vôo 169, a detecção de um objeto voador não identificado nas telas dos radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) havia sido reportada a Britto pelo próprio órgão, ainda durante o vôo. Mas, em seguida, negada para a imprensa. O comandante do Boeing 727 da extinta companhia aérea paulista pôde ver, numa sala reservada no interior do COMAR I, uma quantidade expressiva de fotos de UFOs, filmes e relatórios, que impressionaram decisivamente o convidado. A atitude de Hollanda mostra não só sua antiga vontade de compartilhar a verdade, como, evidentemente, sua preocupação com aqueles que, por divulgarem suas experiências com o fenômeno, vivem momentos difíceis.
O coronel Uyrangê Hollanda chegou a receber várias vezes, em Belém, ufólogos brasileiros e estrangeiros, para os quais – contra as normas relacionadas ao sigilo na Aeronáutica – passava informações valiosas, ajudando na divulgação dos fatos relacionados à ação daqueles objetos no Pará. Entre os estudiosos recebidos estão o já citado Jacques Vallée e o norte-americano Bob Pratt [Veja texto nesta edição]. Hollanda colaborou também, e diretamente, com o pesquisador Daniel Rebisso Giese, para que este conseguisse escrever seu livro sobre a onda chupa-chupa e a Operação Prato, o único editado até hoje exclusivamente sobre o tema – Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular, 1991].
Independentemente do que se fale ou se escreva hoje, não existe a menor dúvida de que foi a partir dos depoimentos prestados por Hollanda a este autor e ao editor A. J. Gevaerd que a chamada Operação Prato e a onda espetacular ufológica da Amazônia chegou ao conhecimento da sociedade de uma maneira definitiva e com total credibilidade. A coragem e a determinação do militar fizeram a diferença, tornando possível, do ano passado até este, a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. A Ufologia Brasileira deve muito a esse homem e nos cabe reverenciar sua memória, sem questionamento de qualquer detalhe ou particularidade de sua vida pessoal ou militar.
Dever de revelar a verdade — No final do referido evento no IBAM, em 07 de setembro de 1997, já respondendo às perguntas da estupefata platéia, o coronel Uyrangê Hollanda, ao dirigir-se a um dos presentes, que havia pedido a palavra, visivelmente emocionando a todos – inclusive a este autor – declarou que sentia o dever de revelar a verdade. “Independentemente de meus compromissos militares, relacionados à manutenção do sigilo ao assunto, faço estas revelações por lealdade a pesquisadores como a professora Irene Granchi, Marco Petit, A. J. Gevaerd, Mário Rangel, Rafael Sempere Durá e outros, que fazem um trabalho sério”. Finalizando, Hollanda, falando na terceira pessoa, fez menção ao fato de que “amanhã o coronel poderia estar morto”, e que a verdade iria com ele “para baixo da terra”. Menos de um mês depois, ele se suicidou. Mas sua memória e seu lugar na história da Ufologia não foram nem serão esquecidos. E muito menos questionados.