Geraldo Simão Bichara guardou seu segredo por quase três anos, até que se sentisse à vontade e tivesse certeza de que poderia procurar um ufólogo e receber a devida atenção. Ele vivera uma experiência espantosa, em 1962, então com apenas 18 anos, ao montar guarda na 13ª Circunscrição Militar de Três Corações (MG), na Escola de Sargentos das Armas (ESA). Bichara foi paralisado momentaneamente por um foco de luz que se projetava no chão e nas árvores. Seu depoimento revelou a ocorrência de um contato imediato marcante, com efeitos físicos marcantes, mas desconfiávamos que, ao invés de poucos minutos, um lapso de quase duas horas dera lugar a algum acontecimento que ele desconhecia. Bichara foi então submetido, por livre e espontânea vontade e com excelente disposição, a três sessões hipnóticas.
O soldado fora aparentemente levado para o interior de um UFO e submetido a uma série de estudos. Naquele dia 26 de agosto – data só descoberta com a primeira sessão de hipnose –, às 00h05, a presença próxima de um UFO fez Bichara observar e sentir interessantes efeitos físicos. Na primeira fase de depoimentos conscientes, a testemunha registrou tais efeitos. Ao ser submetido à primeira sessão, não revelando nada de concreto, apenas abrindo-se uma porta para a lembrança de alguns fatos esquecidos, demonstrou vagamente a ocorrência de algo mais: ele tirava serviço de guarda, próximo ao paiol de munições da guarnição, e observou quando a luz da cidade acabou de repente. Onde estava e naquelas localidades, tudo ficou escuro.
Segundo conta, por um minuto ou dois, surgiu acima de sua cabeça uma luminosidade muito forte, uma espécie de farol. Teve então a idéia de dar um tiro de alarme com o fuzil. Quando quis fazê-lo, notou que não tinha forças para se mover. Tentando andar, o corpo não mexia, porém a visão e a audição ficaram normais. “Pensei em gritar mas não teve jeito. Via e ouvia perfeitamente tudo. Por isso notei que as portas de aço da grande garagem da seção de engenharia sofreram uma vibração muito grande, como se estivesse ocorrendo uma ventania forte sobre elas. No outro barracão, que ficava à minha retaguarda, onde estavam umas canoas metálicas, tais objetos vibraram muito, como se um tipo de atrito os fizesse bater uns contra os outros, dentro do barracão. Ouvi os cavalos das baias bufarem, raspando as ferraduras no chão, como se quisessem fugir. Batiam os peitos na madeira, apavorados, relinchando. Todos os animais ficaram assim”, declarou Bichara. Dessa forma, ainda naquele estado, a testemunha notou o foco de luz afastando-se lentamente de cima dela. Seu pescoço estava duro, não podia olhar para o alto.
A luz continuou pelos lados da porteira da seção de veterinária, passando por perto das árvores, indo rumo ao potreiro e à estrumeira, que fica próxima à beira do Rio Verde. Quando parou, quase no leito, apagou-se e imediatamente as luzes da cidade tornaram a acender. Eis que então chegaram os guardas que o renderiam no serviço, pois cada um ficava no posto por duas horas – cada um fazia quatro horas de descanso após prestar serviço por duas horas, e assim por diante. O sargento chegou logo depois ao local, perguntando se tudo estava em ordem.
Foco de luz — O soldado lhe disse que o serviço acusara uma alteração e contou tudo, não recebendo, no entanto, atenção. A testemunha resolveu procurar o oficial no período diurno, às 06h00. Este tratou de atribuir o fato a uma suposta “energia da Terra”. “Acontece que no dia seguinte, alguns soldados descobriram que os cavalos haviam escapado, devido ao fato ocorrido na noite anterior. Vi perfeitamente, de manhã, animais soltos andando perto da enfermaria, do corpo da guarda e, inclusive, próximo ao saguão, sendo que os encarregados, os cavalariços, tiveram que recolhê-los no dia seguinte”, disse Bichara, contrapondo-se ao seu interlocutor.
Bichara ficou em dúvida quanto ao tempo de duração da ocorrência, achando que tudo se passara por cerca de dois minutos apenas. Acreditava que assim que começou a tirar o serviço teve início o incidente, logo aparecendo os dois guardas substitutos. Vê-se, pela lógica, que o fato durou cerca de duas horas, mas a testemunha acha que tudo se dera em poucos minutos. No quartel, não aceitaram o ponto de vista dele, achando que sofrera alucinações. A luz do foco, que era constante, desapareceu sem nenhum ruído e de forma lenta, como uma projeção que caminhava para o lado do rio, apagando-se, tendo então a testemunha recobrado seu controle motor. O objeto possuía circunferência de cerca de 12 m e era bem alvo, de cor azul claro. Insistindo na hipótese de que Bichara recordasse mais suas sensações, colhemos os seguintes sintomas: paralisia, sem perda aparente de consciência, sendo que a visão e a audição permaneceram supostamente normais. Ele não tinha dificuldade em respirar e não foi notada nenhuma alteração de temperatura ou cheiro. Finalmente, a testemunha não se recordava se por acaso o fato havia sido registrado na ESA, nem se a ocorrência chegara ao conhecimento do comandante. Interessante é o fato de que nenhum oficial o procurou para elucidações, nem lhe foi exigido qualquer relatório.
Regressões de memória — A primeira sessão a que Bichara se submeteu foi, a princípio, puramente psicológica. Posteriormente, ao regredir até o dia do acontecido, tornou-se efetiva, mas houve falha no aspecto da canalização inconsciente: somente reviveu aquilo que ainda se lembrava. Notando isso o induzimos no sentido de que, ao voltar ao normal, seu inconsciente continuasse aflorando novas sensações, o que ocorreu com o passar dos dias. Em sonhos posteriores, Bichara regredia periodicamente ao momento do seqüestro e assim nos trazia informações anotadas nas manhãs seguintes. Inclusive voltou a reviver as sensações fisiológicas.
Lembranças chocantes afloravam em sua mente. Ele continuou a anotar os fatos que vinham à tona nos dias posteriores, e nos forneceu por escrito os dados. “A entrada do objeto parece a boca de um caramujo virado para baixo. O lado esquerdo é despontado e o mesmo é bem maior no meio. O direito estava muito escuro. A entrada é mais clara na beirada e mais escura no meio, sendo que a área interna parecia bastante clara e iluminada. O homem da esquerda era bem mais alto e suas costas muito quadradas. Ele estava com a cabeça na entrada da abertura do objeto. Seu macacão, bem melhor do que o do home
m da direita, brilhava mais. Entre todos, este era o único que tinha um uniforme marrom”. A essa altura da pesquisa, fizemos alguns comentários em forma de relatório. Isso, antes das sessões que realmente iriam trazer o depoimento de um seqüestro. Devido à importância das observações, seguem alguns comentários para depois chegarmos ao ponto principal. No dia 30 de janeiro daquele ano, Bichara descreveu: “Senti um cheiro de fumaça e veio à minha cabeça tudo da regressão. À noite, eu voltava do meu trabalho para casa, quando senti um odor de lixo queimando em uma horta. Nesta hora lembrei-me daquele drama da regressão. Então descobri que, perto dali, no dia do acontecimento, tinha um grande gramado, em que um senhor idoso todos os dias queimava lixo. Quando chegava a noite, ficava ainda fumegando”.
As regressões de memória foram induzidas pelo então presidente do Centro Varginhense de Pesquisas Parapsicológicas (Cevappa), professor José Júlio Rodrigues, e conduzidas por este autor. Na época, eram consultores de nosso centro de pesquisas os especialistas: Francisco de Paula V. Pereira, psiquiatra, José Marcos O. Rezende, cardiologista, e Malius de Figueiredo, engenheiro eletricista. Geraldo Bichara apresentou-nos um caso cujos aspectos psicológicos são importantes. Inicialmente, acusou a ocorrência de um encontro de segundo grau, tendo avistado uma intensa luz que o paralisou. No entanto, ao assumir o posto de guarda à meia-noite, ali deveria ficar até o período completo de duas horas, quando seria então substituído. A luz pairou sobre ele uns três ou 4 minutos após ter assumido a guarda. Assim que recobrou as faculdades motoras, tendo o UFO desaparecido, surgiram os guardas substitutos, que deveriam vir somente mais tarde, segundo a concepção de Bichara.
Confusão psíquica — Portanto, a experiência encarada pelo aspecto objetivo deu-se no espaço de duas horas. Naturalmente, a vítima deveria ter presenciado algo mais do que aquilo que se lembrava. Com a regressão, notamos que os fatos canalizados em seu pré-consciente assim ficaram por força de um condicionamento forte, ou talvez em conseqüência do impacto psicológico sofrido. Por isso, a primeira sessão não foi suficiente para fazer aflorar todos os detalhes da ocorrência. Mas nos dias seguintes ele começou a sentir fortes sintomas fisiológicos e ter lembranças melhores de seu drama. A regressão surtira, assim, efeito retardado, coisa muito observada pelos estudiosos, mas de forma gradativa. Na primeira sessão só conseguimos tirar dele a data correta do acontecimento. Tudo está gravado em duas fitas de mais ou menos duas horas de duração cada. Em um certo momento, ele acusa “alguma coisa subindo e descendo, algo marrom”.
Nas declarações posteriores, quando recordava aos poucos a ocorrência, informou que observou um enorme objeto do qual saía luz e por onde subiam em sua direção dois homens de costas, em escadas móveis. Também crê que presenciou as atividades de vários outros seres no solo. Isso pode ter sido conseqüência de uma confusão psíquica, pelo grande número de seres observados, quando não uma realidade. Não podemos descartar coisa alguma. Um exemplo de que a regressão pode ter servido de estopim para as recordações está nas declarações dadas em 30 de janeiro: “Senti um cheiro de fumaça e veio na minha cabeça tudo da regressão”. O odor fez aflorar as lembranças do contato, que para ele foi um verdadeiro drama. Aqui, a ação do inconsciente foi clara.
Fatores psicológicos — Quando o indivíduo vive algo chocante, alguma coisa que caracterizou o local da ocorrência pode fazer aflorar as sensações do inconsciente. Mas, no caso de Bichara, além da presença de fatores psicológicos, como conseqüência da própria experiência, é ainda discutível sob o aspecto do próprio quadro psicológico e psíquico da testemunha, que de extrema honestidade colocou-nos a par de algumas coisas: quatro anos depois de sair do Exército começou a beber até se tornar alcoólatra, o que durou até 1969. Entrou para a instituição militar em 12 de janeiro de 1962, dando baixa em 16 de dezembro do mesmo ano. De 1964 a 1969 ficou dependente da bebida.
Na segunda regressão de memória que realizamos, a testemunha foi mais fortemente induzida ao sono hipnótico. Ao situarmos Bichara no dia 26 de agosto de 1962, fizemos com que nos descrevesse cada minuto de sua missão de guarda, a partir do momento em que saía para o posto. Em certo momento, ele nos narrou que se encontrava próximo da caixa d’água, sozinho, passando por perto da seção de veterinária, quando o incidente começou e a luz de foco intenso se aproximou dele. Passemos à narrativa da própria testemunha, sob hipnose: “Oh! Acabou a luz!” De repente, seu rosto, transtornado, assumiu uma expressão de pavor: “Um clarão azul bem forte. Os cavalos vão escapulir! Ali tem uma coisa escura em cima. É marrom! Parece um caramujo com a boca para baixo e um bico à esquerda. Mais em cima tem uns canos por dentro. Pro lado direito. Estou com o pescoço duro, não consigo andar! Estou meio duro. Ali! Uns homens de roupa cor de abóbora!”
Apesar de havermos notado que Bichara não descrevia a experiência na seqüência correta, pedimos que falasse de tais seres com pormenores. “Tem uma carapuça. Cabelo baixinho, um pouco arrepiado e avermelhado. O rosto é rosado, com um nariz pontudo para baixo, tampando a boca”. Notamos aí que ele descrevia um ser que se encontrava próximo. “Parece um enfermeiro. Não é bom nem mau. Há uma porta pequena do lado esquerdo, igual à porta de geladeira, com um friso em volta. Perto do pé parece vidro”. Ele se cala e volta a falar, sussurrando: “Tem uma outra porta ali na direita, mas não estou escutando nada! Não posso me mexer direito e está muito frio. Minha cabeça está normal. Sinto como se fosse um cheiro de amoníaco, mas não é não”.
E continua dizendo: “Olha lá! Um caramujo com um foco de luz em cima dos eucaliptos!” Assim a luz pára sobre o rio próximo, apagando-se. Bichara percebeu que a energia elétrica voltou ao bairro e todo o barulho cessou. Ainda ouviu gritos de pessoas ao longe, possivelmente em botequins afastados, felizes pela volta da energia elétrica. Gritou então várias vezes pelo nome de um certo cabo. Aqui acaba a segunda narrativa, sob hipnose: “Vou dormir um pouco. Estou com o corpo ruim e com uma moleza. Tirar guarda e depois ferrar cavalo não é fácil. Seis vezes por dia
. Melhor é arrumar jardim”. Anos após o incidente, teve algumas experiências de cunho aparentemente paranormal. A última regressão de memória que efetuamos deu-se no dia 10 de agosto de 1980. No período que sucedeu a primeira sessão, notou que sua vida começou a sofrer influências inconscientes de algo que a primeira sessão desvendara.
Sobre isso, antes um pouco de o submetermos à hipnose pela terceira e última vez, ele disse: “Sofri certas modificações no meu modo de ser. Antes eu gostava de uma série de coisas e de uns tempos pra cá comecei a gostar de outras, quase contrárias àquilo que me atraía. Passei a encarar as condições de vida e a vida por outro ângulo, acreditar em certas coisas e a desacreditar de outras. Então houve uma modificação, mas eu mesmo não sei o porquê”. O seu comportamento passou a ser diferente e hoje, após as sessões, sentia-se sóbrio e tranqüilo. “Parece que está havendo um reflexo das coisas que ocorreram comigo. Tenho tempo suficiente e cabeça fresca para ir refletindo sobre as coisas que estou observando. Por exemplo, no dia de hoje já posso pensar. Em outros aspectos materiais, o problema está na cor de panos! A cortina de minha casa é cor de abóbora, bem como a caneca em que tomo café e a cesta onde coloco o lixo, no meu serviço, além de uma infinidade de outras coisas que fui comprando e cujas cores mais me atraem”.
Examinando a testemunha — Bichara então descreveu, com o maxilar e lábios quase paralisados e falando muito baixo, um aparelho que se aproxima de sua cabeça: “Tem uma coisa mexendo na minha cabeça. Um negócio pra trás. Parece uma caixa de marimbondo. Um ‘chuveiro’ com uma porção de bicos. Estou sentindo um cheiro de folha de café queimada! Parece agora amoníaco. Um aroma de folha de café verde mesmo e está aumentando!” A partir desse momento, ele ficou alguns segundos como se estivesse com náuseas e se contorceu muito. “Minha boca está amargando! Há uma coisa ruim na minha boca. Água! Me dá um gole d’água! Quero lavar a boca. Arrume água! Eles estão chegando de novo. Eu pego a minha baioneta aqui. Estou segurando meu fuzil, deitado no chão, no outro canto. Os três estão pedindo pra eu entregar o fuzil. Estão pedindo com a mão. Batendo nas minhas costas. Espera! E a água? Na hora da água vocês não me deram! O do meio está sem carapuça agora”.
Então Bichara desceu pela mesma escada pela qual entrara no objeto. É devolvido um pouco “abafado”, segundo sua própria expressão, ao posto de guarda. Ainda vê o objeto, em formato de caramujo, que desaparece e dá lugar à mesma luz de antes, que se apaga sobre o rio. Antes disso, lembrou: “Ele é mais inteligente e melhor de tratar. Só pediu o fuzil, sendo que os outros vieram para me tirar a arma duas vezes. Agora ele está conversando com os outros dois. Eu os xinguei porque pedi água pra tirar aquele negócio da minha boca e eles não me deram. É um melado amargo e frio. Nem sei quem colocou aquilo na minha boca. Quando notei, já estava com aquela porcaria. Agora vou deixar ele guardar. Vou dar o fuzil pra vocês, graças àquele ali no meio! Mesmo não podendo me mexer direito, posso fazer bagunça com essa baioneta aqui. Agora estou sentado no chão”.
Com o passar do tempo, empreendemos investigações paralelas, inclusive com oficiais da época que prestaram serviços na ESA. Em contato com alguns deles, o pesquisador e nosso correspondente Luiz Felipe, de Três Corações (MG), obteve depoimentos confirmando que algo parecido com um disco voador causara transtornos e se manifestara no mesmo local citado pela testemunha. No entanto, alguns pontos causam dúvida, por que os oficiais depoentes recordam-se vagamente de que Bichara era um soldado que sempre se alterava. No meio das vagas lembranças surgiu a figura de um tal soldado Moreira, da mesma turma dele e que, pelos depoimentos, os oficiais acabaram por confundir com nosso protagonista. Moreira teria sido encontrado numa manhã próximo ao paiol de munições, em 1962, paralisado no chão, com a língua enrolada e sem marcas de espancamento, pois, segundo ele, avistara uma pequena luz no solo e, ao tentar atingi-la com a baioneta, sofreu um tremendo choque, caindo desacordado. Posteriormente, localizamos o oficial de dia, o mesmo a quem Bichara se refere no depoimento e que preferiu não ser identificado. Reside atualmente em Varginha (MG) e nos informou, com segurança, que os oficiais da época estão confundindo Bichara com outro soldado. Nosso protagonista não dava alterações e, de fato, naquela incrível noite algo estranho ocorreu na Escola de Sargentos. Ele se recorda muito bem do blecaute, que os técnicos não puderam explicar e que causou tensão e grande movimentação naquelas instalações. Talvez receoso ainda, o oficial do dia, hoje civil, mostrou-se visivelmente preocupado e lacônico, sem dúvida, omitindo detalhes mais diretos. Os relatórios do pesquisador Luiz Felipe encontram-se em nosso poder, especificando os nomes dos oficiais consultados. Esta é uma fonte de observações paralelas, interessantes e concisas. Vamos a elas.
Investigações paralelas — Entre os depoimentos que colheu com pessoas que trabalhavam na ESA, na época do ocorrido, ele descobriu com o soldado Bichara um fato interessante e surpreendente, com características altamente ufológicas. As pessoas que depuseram se recordam, com maior vivacidade, de um acontecimento com um outro militar que servia naquele mesmo ano e na mesma turma da testemunha. Coincidentemente, no local do ocorrido – perto da engenharia, do horto e do antigo paiol –, o soldado Moreira, que estava tirando guarda nas imediações, avistou uma pequena luz à altura do chão, pulando de um lugar para outro. Ele se aproximou do objeto e cutucou-o com a ponta do fuzil. Levou um violento choque e foi encontrado depois pelo comandante da guarda, desacordado e com a língua enrolada.
Como se vê, é um fato de características ufológicas. A luzinha que ele viu no chão nos leva à cogitar a hipótese de que seria uma sonda para observação, tão comum nesses tipos de fenômenos. Apresento a seguir os depoimentos e mais alguns dados adicionais, tendo como testemunhas o capitão Roque e os funcionários civis Saturnino, Messias Ângelo, Sebastião Pereira e Mafra, além do subtenente Carvalho e dos sargentos Modesto e Eugênio. O mais importante testemunho foi o do sargento Modesto de Castro, ex-presidente do Clube de Subtenentes e Sargentos do Exército, depois servindo na cidade de Ribeirão Preto (SP). Na época, ele pertenceu à turma de Bichara e a incorporou naquele mesmo ano.
A entrada do objeto parece a boca de um caramujo virado para baixo. O lado esquerdo é despontado e o mesmo é bem maior no meio. O direito estava muito escuro. A entrada é mais clara na beirada e mais escura no meio, sendo que a área interna parecia bastante clara e il
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Modesto se lembra muito bem do colega que, segundo ele, era muito alterado. “Bebia e vivia preso”, recorda-se. Modesto já teve dois avistamentos em sítios localizados nas proximidades das cidades mineiras de Elói Mendes e Três Corações (MG), no Campo de Aviação Atalaia, que também pertence ao Exército. Porém, o surpreendente é que Modesto desconhece que tenha acontecido algum episódio com Bichara. Ele se lembra muito bem do que ocorreu com outro soldado, o Moreira. “Ele estava tirando guarda nas imediações do antigo paiol, perto da lixeira – que naquela época era um lugar sombrio e escuro que todo mundo tinha medo de tirar serviço ali –, quando percebeu uma pequena luz à altura do chão, do tamanho de uma bolinha de tênis, pulando”, afirmou. Já o funcionário civil Mafra, pintor que trabalhava na ESA desde 1951, lembrou-se de que houve um comentário interessante entre as sentinelas sobre o aparecimento de um disco voador nas imediações do paiol. Sebastião Pereira, responsável pelo horto, que na época era um matagal e fazia parte do local mencionado como cenário das aparições, confirmou que realmente escutou um boato a respeito. O subtenente Carvalho, que também servia na ESA naquele período, do mesmo modo ratificou que escutou conversas entre os soldados sobre o aparecimento de um UFO no lugar onde hoje é o horto. Já o sargento Eugênio, enfermeiro desde que incorporou, lembrou com dificuldade do caso, sem saber dar mais detalhes. O nosso investigador procurou outras fontes que pudessem mencionar mais dados. Consultou o arquivo onde estavam os boletins internos – publicações diárias da vida militar –, mas eles eram bastante formais e corriqueiros, não contendo sequer indícios de que alguma coisa pudesse ter acontecido naqueles dias.
A fonte certa seria o livro do oficial do dia, no qual todas as alterações de um serviço devem ser apontadas. Mas as informações registradas são incineradas logo após seu uso. Perguntou ainda a um sargento do serviço de segurança – o chamado S-2 –, se tais fatos não teriam registro ou menção nos arquivos daquela seção, ao que ele respondeu negativamente. Por derradeiro, procurou saber onde seria possível encontrar o soldado Moreira. A informação que obteve, sem muita precisão, é de que ele era de Varginha e talvez já houvesse falecido, vítima de acidente com um trator.
Outras aparições na área — Como quer que seja, as informações de Luiz Felipe são de um valor incalculável. Ao que tudo indica, um fato estranho, envolvendo um fenômeno ufológico, já acontecera nas instalações da ESA, em 1962. Se Moreira realmente já faleceu, jamais poderemos saber o que acontecera com ele na noite em que, procurando curiosamente tocar uma sonda com o fuzil, caiu desmaiado após um violento choque. Teria sido seqüestrado e submetido a um evento semelhante ao narrado por Bichara? Se o vício do álcool, na verdade, já atormentava Bichara na época do serviço militar, será então que tudo não passou de uma informação errada da realidade e do tempo, quando um possível delírio posterior o transpôs a uma época ilusória, elaborando a história do UFO? Difícil saber. Mas não é impossível considerar todas estas hipóteses. É o eterno dilema contido nos casos de abdução, que, se partirmos para os métodos de raciocínio aconselhados pela lógica, somente será decifrado com as conclusões mais racionais. O pesquisador Luiz Felipe achou por bem relacionar outros incidentes que envolveram a Escola de Sargentos das Armas de Três Corações. Uma delas é a Granja Atalaia, localizada a aproximadamente 7 km do quartel. Fica junto ao Campo Atalaia, onde antes funcionava o aeroclube civil da cidade.
Lá, anos atrás, o sargento K foi acordado de madrugada pelos soldados. Estes disseram que alguns veículos estavam vindo pela estrada em direção à granja, com holofotes fortes. O militar constatou que aquilo não poderia ser um carro. Realmente, a luz se desviou da estrada, levantou vôo e foi em direção à cidade. As luzes ainda ficaram por um bom tempo pairando no ar, estacionadas. O sargento passou o serviço ao seu oficial, nervoso, e seu avistamento tornou-se comentado por muitos companheiros. Outra área em que são comuns avistamentos e até perseguições a automóveis é o campo de treinamento do Pico do Gavião, a cerca de 20 km de Três Corações. Fica em uma região de altíssima incidência de fenômenos luminosos, entre os municípios mineiros de São Thomé das Letras e Luminárias, fazendo parte de uma cadeia de montanhas. A cidade de Luminárias, por exemplo, possui este nome sugestivo exatamente porque, segundo algumas versões, focos de luzes costumavam aparecer no céu da região.
Hoje, Geraldo Simão Bichara reside em Varginha. É um barbeiro de boa clientela e estimado por todos. Possui uma bela e saudável família, pertencendo a respeitadas instituições filantrópicas e morais. Um homem sóbrio, de conversa franca, daqueles que não titubeiam em prestar a ajuda que puder a seus semelhantes. Talvez por demonstrar sua feliz realização na vida, emite suas opiniões e enfrenta todas as situações, sejam adversas ou positivamente agradáveis, com um largo e contagioso sorriso. Um sorriso que, ele brinca, é uma “risada de dia de pagamento”.